Simpósio Da formação à prática profissional dos profissionais de saúde Coordenação: Ana Monteiro Grilo FORMAR PARA… A EMPATIA Estudo transversal nas tecnologias da saúde Artemisa R. Dores, Ana Salgado, Andreia Magalhães, Helena Martins, Paula Lopes & Irene P. Carvalho [email protected] 16 de abril, 2015 Agenda Introdução - Objetivos Metodologia - Participantes - Instrumentos - Procedimentos Resultados Discussão Considerações finais A comunicação e a relação terapêutica são reconhecidamente domínios de competência de todos os profissionais de saúde cujas funções impliquem o contacto com doentes. (Corney, 2000; Grilo & Pedro, 2005; Pio Abreu, 1998) Introdução Experimentar o que o outro está a sentir “como se” estivesse no lugar dele, vendo através da perspetiva do cliente… Carl Rogers Introdução Profissionais de Saúde Empatia Pacientes Adesão Resultados Clínicos Satisfação dos Pacientes Beneficíos para os médicos (Kim et al., 2004; Squier, 1990; Hojat et al., 2011; Del Canale, 2012; Roter et al., 1997; Larson et al., 2005;Shapiro, 2002) Introdução O que acontece à empatia durante a formação médica? Aumenta? Mantém-se? (Quince et al., 2011;) (Kataoka et al., 2009; Magalhães et al., 2011) (Newton et al., 2008; Hojat et al., 2009; Bellini et al., 2002) Introdução O que acontece à empatia durante a formação em tecnologias da saúde? Introdução O que acontece à empatia durante a formação em tecnologias da saúde? UNIDADE CURRICULAR COMPETÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO CURSO/ANO Licenciatura em Terapia da Fala/3.º NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS PSICOLOGIA RELACIONAL EM Licenciatura em Radioterapia/1.º RADIOTERAPIA PSICOLOGIA DA SAÚDE (Só um módulo de comunicação) Audiologia/1.º Tabela 1 Unidades curriculares que abordam a comunicação (por curso). Objetivos Comparar a empatia em estudantes de diferentes cursos das Tecnologias da Saúde a frequentarem diferentes anos curriculares. Métodos Participantes 138 estudantes dos 1.º e 3.º anos, 1.º ciclo da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto – Instituto Politécnico do Porto (ESTSP-IPP). Idades: M=20,97; DP=2,88 [Min=18; Max=39] Género: F=121; M=16 (1 missing) Cursos: Terapia da Fala (n=85), Audiologia (n=30) e Radioterapia (n=23), da ESTSP-IPP Instrumentos Interpersonal Reactivity Index (IRI; Alves, 2010) Jefferson Scale of Physician Empathy - students version (JSPE-S; Magalhães, DeChamplain, Salgueira & Costa, 2010) Métodos Instrumentos Interpersonal Reactivity Index (IRI; Alves, 2010) ◦ Instrumento de auto-relato com 24 itens e escala tipo Likert de 5 pontos (entre 0 e 4) ◦ 4 subescalas/dimensões: ◦ ◦ ◦ ◦ Tomada de Perspetiva: tendência para adotar o ponto de vista de outros. Preocupação Empática: tendência para experimentar sentimentos de compaixão e preocupação por outros. Desconforto Pessoal: sentimentos de desconforto e ansiedade quando na presença de experiências negativas. Fantasia: tendência para se identificar com personagens fictícias de livros, filmes ou peças de teatro. Métodos Instrumentos Jefferson Scale of Physician Empathy - student version (JSPE-S; Magalhães, DeChamplain, Salgueira & Costa, 2010). ◦ Instrumento de auto-relato, com 20 itens e escala de Likert de 7 pontos (entre 1 e 7) ◦ 3 subescalas/dimensões: ◦ Tomada de Perspetiva: Ingrediente cognitivo nuclear da empatia (Davis, 1994; Spiro et al., 1993). Corresponde à “visão do médico quanto à perspetiva do doente”. ◦ Compaixão: Corresponde a “emoções no cuidado ao doente” e “compreensão das experiências, sentimentos e pistas do doente”. ◦ Colocar-se no lugar do doente: Corresponde a “pensar como o doente”. Método Procedimentos Estudo Transversal Aplicação dos instrumentos no início do ano letivo Projeto aprovado pela Comissão de Ética Local e de acordo com a Declaração de Helsínquia Análises estatísticas Testes de Normalidade T-Test (Amostras Independentes) Anova Resultados Diferenças entre 1º e 3º anos (t-test) são significativas em: IRI Tomada de Perspetiva: para o curso de Radioterapia - diminui t(21) = 2,237; p = 0,036 IRI Desconforto Pessoal: para o curso de Terapia da Fala - aumenta t(83) = -2,759; p = 0,007 Resultados Audiologia Radioterapia Terapia da Fala Anos - M (DP) Diferença Anos - M (DP) Diferença Anos - M (DP) Diferença 1º 3ª média [IC] 1º 3ª média [IC] 1º 3ª média [IC] 3,7 3,6 ,07 4,1 3,5 ,57* 3,9 3,9 ,01 (,55) (,42) [-,30-,45] (,61) (,61) [,04-1,10] (,49) (,50) [-,21-,22] 3,8 3,9 -,04 4,3 4,1 ,13 4,1 4,1 ,01 (,45) (,42) [-,37-,29] (,34) (,65) [,32-,58] (,50) (,45) [-,20-,21] 2,8 2,5 ,26 2,7 2,9 -,16 2,8 3,3 -,41* (,52) (,66) [-,18-,70] (,56) (,85) [-,77-,46] (,78) (,58) [-,71- -,11] 3,2 3,6 -,39 3,7 3,3 ,33 3,6 3,4 ,19 (,82) (,80) [-1,00-,22] (,76) (,62) [-,27-,94] (,63) (,84) [-,13-,50] 5,7 6,1 -,38 6,4 6,1 ,22 6,2 6,3 -,17 (,70) (,56) [-,86-,11] (,45) (,66) [-,26-,71] (,57) (,49) [-,40-,06] 2,8 2,5 ,36 2,4 2,6 -,22 2,3 2,4 -,08 (,99) (,36) [-,23-,95] (,78) (,61) [-,83-,40] (,72) (,63) [-,37-,21] 4,1 3,7 ,37 3,8 3,8 -,02 3,7 3,8 -,14 (1,42) (1,39) [-,70-1,43] (1,23) (1,68) [-1,29-1,25] (1,38) (1,36) [-,73-,46] IRI Tomada Perspetiva Preocupação empática Desconforto Pessoal Fantasia Tabela 2 Diferenças em empatia entre estudantes do 1º ano e alunos do 3º ano por curso, nas dimensões do Interpersonal Reactivity Index (IRI) e do Jefferson. Jefferson Tomada perspetiva Compaixão Colocar lugar do outro * p < 0,05. M: média. DP: desvio-padrão. IC: intervalo de confiança. Resultados Diferenças entre cursos (ANOVA) são significativas apenas para: IRI Desconforto Pessoal entre AU (3º ano) e TF (3º ano) – superior em TF F(2,62) = 7,171; p = 0,002 p = 0,002 Jefferson Tomada de Perspetiva entre AU (1º ano) e TF (1º ano) – superior em TF entre AU (1º ano) e Rt (1º ano) – superior em Rt F(2,70) = 4,565; p = 0,014 p = 0,044 p = 0,021 Resultados Empatia IRI Tomada Perspetiva Audiologia Radioterapia Terapia da (AU) (Rt) Fala (TF) Anos M (DP) M (DP) M (DP) AU/Rt AU/TF Rt/TF 1º ano 3,7 (,55) 3,6 (,42) 3,8 (,45) 3,9 (,42) 2,8 (,52) 2,5 (,66) 3,2 (,82) 3,6 (,80) 4,1 (,61) 3,5 (,61) 4,3 (,34) 4,1 (,65) 2,7 (,56) 2,9 (,85) 3,7 (,76) 3,3 (,62) 3,9 (,49) 3,9 (,50) 4,1 (,50) 4,1 (,45) 2,8 (,78) 3,3 (,58) 3,6 (,63) 3,4 (,84) -,37 -,20 ,17 ,13 -,27 -,39 -,41 -,29 ,12 -,24 -,24 -,00 ,07 -,07 -,14 -,35 -,75** -,40 -,46 -,44 ,02 .27 ,14 -,13 5,7 (,70) 6,1 (,56) 2,8 (,99) 2,5 (,36) 4,1 (1,42) 3,7 (1,39) 6,4 (,45) 6,1 (,66) 2,4 (,78) 2,6 (,61) 3,8 (1,23) 3,8 (1,68) 6,2 (,57) 6,3 (,49) 2,3 (,72) 2,4 (,63) 3,7 (1,38) 3,8 (1,36) -,62* -,42 ,20 -,02 -,22 -,20 ,45 -,51 ,06 -,12 ,07 ,20 ,31 ,37 ,06 -,08 -,13 -,06 3º ano Preocupação Empática 1º ano 3º ano Desconforto Pessoal 1º ano 3º ano Fantasia 1º ano 3º ano Jefferson Tomada Perspetiva 1º ano 3º ano Compaixão 1º ano 3º ano Colocar lugar do outro 1º ano 3º ano Diferença média Tabela 3 Diferenças em empatia entre alunos de diferentes cursos, nas dimensões do Interpersonal Reactivity Index (IRI) e do Jefferson. * p < 0,05, ** p < 0,001. M: média. DP: desvio-padrão. Discussão Os resultados mostram diferenças em empatia entre estudantes de anos diferentes: ◦ numa das dimensões cognitivas do IRI e ◦ numa das dimensões afetivas do IRI. Estudantes mais avançados de Radioterapia têm menor pontuação na Tomada de Perspetiva do Outro do que estudantes no início deste curso. Este resultado espelha o de outros estudos que também registam menores níveis de empatia em anos mais avançados do curso (Stratton, Saunders, & Elam, 2008). Estudantes mais avançados de Terapia da Fala sentem maior Desconforto Pessoal quando na presença de experiências negativas do que estudantes no início deste curso. Outros estudos também registam maiores níveis de empatia em anos mais avançados do curso e especificamente nesta dimensão do IRI (Stratton, Saunders, & Elam, 2008). Não foram registadas diferenças entre os 1º e 3º anos na empatia de estudantes de Audiologia. Não foram registadas diferenças nas dimensões de empatia da escala de Jefferson. Discussão Os resultados também sugerem que estudantes em cursos mais vocacionados para o atendimento/relação mostram maior empatia, pelo menos em algumas dimensões, do que estudantes em cursos sem este tipo de atendimento/relação. Estudantes de Audiologia tiveram menor pontuação no IRI (Desconforto Pessoal) e no Jefferson (Tomada de Perspetiva) do que estudantes de Terapia da Fala e de Radioterapia. Apesar de todos frequentarem unidades curriculares que abordam a comunicação Mas a abordagem deste tópico é mais limitada em Audiologia Discussão Trabalhos Futuros Este trabalho faz parte de um projeto mais abrangente. Está previsto o estudo longitudinal para avaliar o efeito da formação ao longo do tempo. Está prevista a realização nos 4.os anos., ainda este ano. Considerações Finais Estes resultados são importantes para a caracterização do perfil de comunicação dos estudantes de Tecnologias da Saúde e para o estudo dos efeitos da formação na empatia. É possível que estudantes dos três cursos, sobretudo de Audiologia e Radioterapia, beneficiem de uma formação mais focalizada e mais aprofundada nesta área. Referências Interpersonal Reactivity Index (IRI; Alves, 2010) Jefferson Scale of Physician Empathy - students version (JSPE-S; Magalhães, DeChamplain, Salgueira & Costa, 2010) Kim SS, Kaplowitz S, Johnston MV. The effects of physician empathy on patient satisfaction and compliance. Eval Health Prof. 2004;27:237–251. Squier RW. A model of empathic understanding and adherence to treatment regimens in practitioner–patient relationships. Soc Sci Med. 1990;30:325–339. Hojat M, Louis DZ, Markham FW, Wender R, Rabinowitz C, Gonnella JS. Physicians’ empathy and clinical outcomes for diabetic patients. Acad Med. 2011;86:359–364. Del Canale S, Louis DZ, Maio V, et al. The relationship between physician empathy and disease complications: An empirical study of primary care physicians and their diabetic patients in Parma, Italy. Acad Med. 2012;87:1243–1249. Roter DL, Stewart M, Putnam SM, Lipkin M Jr, Stiles W, Inui TS. Communication patterns of primary care physicians. JAMA. 1997;277:350–356. Larson EB, Yao X. Clinical empathy as emotional labor in the patient–physician relationship. JAMA. 2005;293:1100–1106. Quince TA, Parker RA, WoodDF, Benson JA. Stability of empathy among undergraduate medical students: A longitudinal study at one UK school. BMC Med Educ. 2011;11:90. Kataoka HU, Koide N, Ochi K, Hojat M, Gonnella JS. Measurement of empathy among Japanese medical students: Psychometrics and score differences by gender and level of medical education. Acad Med. 2009;84:1192–1197 Roh MS, Hahm BJ, Lee DH, Suh DH. Evaluation of empathy among Korean medical students: A cross-sectional study using the Korean Version of the Jefferson Scale of Physician Empathy. Teach Learn Med. 2010;22:167–171. Magalhães E, Salgueira AP, Costa P, Costa MJ. Empathy in senior year and first year medical students: A cross-sectional study. BMC Med Educ. 2011;11:52. … Artemisa Rocha Dores ESTSP-IPP [email protected] Standing in the Patient’s Shoes. Carl Rogers