Os Estados nos regimes federativos Marta Arretche e Rogerio Schlegel Centro de Estudos da Metrópole Universidade de São Paulo Seminário “O Estado e a Federação: Crise e Reformas” Senado/IDP/BID Brasília, 27 de novembro de 2013 Esta apresentação • Questão central: qual a referência para afirmar que os Estados perdem espaço na Federação Brasileira? 1. Outros países: Estados brasileiros têm menos poder de decidir do que unidades similares 2. Trajetória histórica: descentralização da autoridade avança na redemocratização e tem relativa estabilidade desde 1988 3. Opinião do cidadão: brasileiro parece satisfeito com desenho da federação e não há consenso sobre mudanças Medindo a descentralização Índice de Autoridade Regional (RAI - Regional Authority Index) • Foco na autoridade (“right to decide”/“policy decisionmaking”) • Observação do nível subnacional intermediário • Superação de indicadores exclusivamente fiscais • Medida abrangente e replicável • HOOGHE, Lisbet; MARKS, Gary; SCHAKEL, Arjan H. The rise of regional authority: a comparative study of 42 democracies, 2010 • Especificidade: não avalia autoridade dos municípios Medindo a descentralização Dimensões do índice RAI Self-rule Shared rule Profundidade institucional – medida em que Participação o governo regional é autônomo mais do que medida em que os representantes regionais desconcentrado co-determinam a legislação nacional Amplitude de políticas – de políticas pelas Controle do Executivo – medida em que o quais o governo regional é responsável governo regional co-determina as políticas no processo legislativo – nacionais em reuniões intergovernamentais Autonomia fiscal - medida em que o governo Controle fiscal – medida em que os regional pode taxar sua população de forma representantes regionais co-determinam a independente distribuição da arrecadação nacional Representação – medida em que o governo Reforma constitucional – medida em que os regional é dotado de câmara legislativa e representantes Executivo mudanças constitucionais regionais co-determinam Exemplo dos critérios Amplitude de políticas 0 O governo regional não tem competência para decidir sobre políticas econômicas, culturais e educacionais ou sociais. 1 O governo regional tem competência para decidir em uma das três áreas de políticas (econômicas, culturais e educacionais ou sociais) 2 O governo regional tem competência para decidir sobre ao menos duas das Brasil três áreas de política (econômicas, culturais e educacionais ou sociais) 3 O governo regional atende aos critérios para os 2 pontos e ainda possui ao menos 2 dos seguintes: . poderes residuais . força policial regional . autoridade sobre seu próprio desenho institucional . autoridade sobre o governo local 4 O governo regional atende os critérios para os 3 pontos e ainda tem autoridade sobre imigração e cidadania Pontuação geral do Brasil Escores do RAI para Estados e DF TOTAL Self-rule Profundidade Amplitude Autonomia Representaç institucional políticas fiscal ão Estados 3 3 3 2+2 13 DF 3 2 3 2+2 12 TOTAL Shared rule Poder Controle Controle Reforma legislativo Executivo fiscal constit. Estados 1,5 1 0 1 3,5 DF 1,5 1 0 1 3,5 TOTAL GERAL PARA OS ESTADOS BRASILEIROS 16,5 (15,5) Bosnia-Herzegovina Alemanha Bélgica Sérvia-Montenegro Estados Unidos Itália Canadá Espanha Austrália Áustria BRASIL Rússia França Holanda Dinamarca Suíça Suécia Romênia Noruega Japão Hungria Grécia Reino Unido Nova Zelândia Croácia Polônia Finlândia República Tcheca Irlanda Eslováquia Turquia Lituânia Portugal Albania Bulgária Malta Macedônia Luxemburgo Latvia Islândia Estônia Eslovênia Chipre Comparando o Brasil de hoje 35 30 25 20 15 10 5 0 Governo compartilhado RAI de diferentes “Estados” Auto-governo Comparando o Brasil no tempo RAI de 8 latinos desde 1950 Fonte: Chapman, Niedzwiecki, Marks e Hooghe, 2012 RAI de 5 asiáticos desde 1950 Fonte: Shair-Rosenfield, Hooghe, Marks, 2012 Imagens da federação • Pesquisa de opinião com 2.285 entrevistados representando a população brasileira adulta • Estratos: + Brasil + Macro-regiões (N, NE, CO, SE, S) + Oversampling em 3 Estados (BA, CE, SP) • Equipe: Marta Arretche, Rogerio Schlegel, Diogo Ferrari • Financiamento: Fapesp via CEM Decisão mais importante (por macro-região) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Decisão mais importante (por Estados selecionados) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Eleição mais importante (por macro-região) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Eleição mais importante (por Estados selecionados) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Quem deveria ter mais poder (por macro-regiões) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Quem deveria ter menos poder (por macro-regiões) Fonte: Survey Imagens da Federação (Arretche, Schlegel, Ferrari, 2013) Reflexões finais • País NÃO é caso extremo de descentralização de autoridade em favor dos Estados na comparação global • Na América Latina, outros países tiveram mais avanços recentes em descentralização, como Colômbia e México • Unidades subnacionais com status similar detêm maior poder de decidir que Estados brasileiros. Isso se deve sobretudo à maior influência nas arenas centrais • Cidadão brasileiro percebe os Estados como menos importantes do que os municípios, a despeito de suas atribuições e status constitucional • Parte substancial do eleitorado brasileiro está satisfeito com o formato da federação; havendo mudança, Sul fortaleceria prefeitos, Norte e Nordeste dariam mais poder ao presidente Obrigado! Contribuições e informações: [email protected]