UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE Puerpério Christian Mestriner Lorena Domênica Cristina Silva Oliveira Gisele A. M de Oliveira Suellen Moreira Alves DEFINIÇÃO Puerpério é o nome dado ao período pós-parto, após a expulsão da placenta e anexos, que se prolonga por seis a oito semanas. Quando todos os órgãos da reprodução retornam ao estado não gravídico, dá-se o término do puerpério. 2 O PERÍODO PUERPERAL É DIVIDIDO EM TRÊS ESTÁGIOS: Pós-Parto Imediato: 1º ao 10º dia Prevalecem os fenômenos catabólicos e involutivos das estruturas hipertrofiadas ou hiperplasiadas durante a gravidez. Pós-Parto Tardio: 11º ao 45º dia Todas as funções começam a ser influenciadas pela lactação. Pós-Parto Remoto: além do 45º dia Duração imprecisa, já que nas mulheres que não amamentam ele é breve. 3 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Endócrinas; Útero; Períneo; Musculoesquelético; Vagina e Vulva; Diástase do reto do Abdome; Trato Urinário; Trato Gastrintestinal ; Circulação; Emocionais; Lactação. 4 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Endócrinas Os hormônios regridem: Prolactina responsável pela lactação (produção de leite). É produzida pelo lobo anterior da hipófise em resposta à diminuição do nível de estrógeno. Ocitocina é responsável pela contração do útero e galactocinese. Útero Dimensões : 15 cm de comprimento, 12 cm de largura, 8 a 10 cm de espessura e pesando 1.000g; A atividade contrátil uterina é permanente; Lóquia - corrimento vaginal após o parto, que sofrerá alterações durante as 4 – 6 semanas seguintes; lóquia rubra, lóquia serosa 5 e lóquia branco-amarelada. ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Períneo O períneo fica dolorido devido ao alongamento, mesmo quando não se faz episiotomia. Musculoesquelético Tônus muscular abdominal fraco; A influência hormonal continua a afetar os ligamentos. Vagina e Vulva Apresenta-se superdistendida, edemaciada e hiperemiada em razão das lacerações; A regeneração acontece rapidamente no prazo de 3 a 4 semanas. 6 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Diástase do reto do Abdome A linha alba se torna alongada e amolecida; Ocorre a separação do músculo reto do abdome da linha alba. Trato Urinário Trauma na uretra e bexiga. A parede da bexiga pode ficar edemaciada e hiperêmica; O uso de anestesia no trabalho de parto pode aumentar a insensibilidade. 7 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Trato Gastrintestinal Diminuição da motilidade intestinal que intensificada quando a mãe recebe anestesia; Hemorróidas, devido à pressão aumentada sobre as veias retais. Circulação Perda de calor devido a expulsão do bebê e placenta e perda de líquido aminiótico; Débito cardíaco depois do primeiro minuto pós-parto pode aumentar até 40% a 50%, mas volta aos valores não-gravidez em 2 a 3 semanas; Devido à diminuição do tamanho do útero e descida do diafragma a pressão sanguínea sofre alteração. 8 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS NO PARTO Emocionais No terceiro dia pós-parto, 70% a 80% das mulheres entram em depressão pós-parto, que em poucos dias Deve voltar à normalidade. Lactação Lactagênese é a preparação da lactação; Galactogênese é o início da lactação; Galactopoiese é a manutenção da lactação. 9 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Hemorragia Pós-Parto (HPP) Perda sanguínea pós-parto superior a 500 – 1.000 ml. Ocorre nas primeiras 24 horas do puerpério. A incidência é de 1-2%, responsável por mais de 75% das complicações puerperais graves encontradas nas primeiras 24 horas. 90% das causas de HPP são uterinas. As complicações mais importantes da HPP são: choque hipovolêmico, coagulação intravascular disseminada (CID), insuficiência renal, hepática e respiratória e anemia. O tratamento da HPP visa controlar a hemorragia. 10 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Infecção Puerperal O Comitê de Saúde Materna define a febre puerperal quando presentes dois registros de temperatura oral igual a 38°C, em quatro medidas diárias entre o primeiro e o décimo dia pós-parto, excluindo as 24 primeiras horas. Causas: Fatores anteparto: baixo nível sócio-econômico, anemia, má nutrição, higiene precária, diabetes, infecções dos aparelhos urinário e pulmonar, entre outros. Fatores intraparto: contaminação bacteriana, traumatismos, sangramento, hematomas, parto prolongado e cesarianas. Fatores pós-parto imediato: contaminação da ferida cirúrgica e hemorragias significantes. 11 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Endometrite Infecção polibacteriana com presença de febre maior ou igual a 38°C, taquicardia, mal-estar, dor à mobilização uterina, subinvolução uterina e secreção vaginal fétida e purulenta. Incidência de 13 a 50% nas cesarianas e de 1 a 3% nos partos vaginais. Fatores de risco: cesariana, a carga bacteriana do trato genital inferior, o diabetes mellitus, infecções urinárias, anemia, obesidade e má técnica operatória. 12 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Parametrite e Anexite É o envolvimento infeccioso dos ligamentos e anexos uterinos. Caracteriza-se pela persistência da febre, da secreção purulenta e fétida e do aumento volumétrico do útero e pelo aparecimento da dor à palpação dos anexos. O tratamento consiste em antibioticoterapia e drenagem cirúrgica. 13 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Choque Séptico Agravamento do quadro clínico anterior. Pelviperitonite aguda e consequente choque séptico. Comprometimento do estado geral da puérpera. Taxa de mortalidade é de aproximadamente 50% dos casos Tratamento Cirúrgico. Retirada do foco infeccioso e antibioticoterapia venosa. Suporte básico de vida: Ventilação Perfusão Pressão arterial Diurese 14 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Insurgimento Mamário Ocorre nas primeiras 24-72 horas. As mamas se tornam firmes, nodulares, distendidas e sem hiperemia; A temperatura axilar eleva-se até 39°C. O tratamento consiste na retirada do leite, aplicação de compressa de gelo, enfaixamento mamário e uso de antitérmicos e analgésicos, se necessário. 15 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Mastite Ocorre em cerca de 10% das puérperas com insurgimento mamário. Aparece na segunda ou terceira semana de pós-parto ou mais, geralmente unilateral. Sintomas: dor, rubor, calor local, febre (≥ 38°C), calafrios, tremores, taquicardia e mal-estar. O tratamento inclui, além de agentes antibacterianos, medidas como suporte mamário, compressa de calor úmido, drenagem mamária e analgésicos. 16 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Doença Tromboembólica Importante causa de morte materna durante a gravidez e o puerpério. Sua incidência tem diminuído no puerpério pela instituição da deambulação precoce. São fatores de risco: Idade, paridade, história prévia de tromboembolismo, deficiência isolada de proteínas relacionadas à inibição da coagulação sanguínea, o acamamento prolongado entre outros fatores. O tratamento é feito à base de anticoagulantes. A heparina é a droga de escolha. 17 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Distúrbios Emocionais O puerpério é um período de significantes transformações intra e interpessoais. Neste período a puérpera encontra-se debilitada, cansada, excitada pelo nascimento do filho e com uma grande labilidade emocional. 18 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Melancolia da Maternidade Sua incidência afeta 50-80% das mães no puerpério imediato, estando resolvido ao término da 2ª semana de pós-parto. Os sintomas incluem surtos de choro, irritabilidade e labilidade afetiva e de humor. Fatores de risco: primiparidade e história pregressa de tensão préMenstrual. Obs.: Alguns autores consideram a melancolia da maternidade como uma resposta normal às flutuações hormonais (estrogênio, 19 progesterona, triptofano, etc.), haja vista sua curta duração e sua alta incidência e COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Depressão Pós-Parto Sua incidência afeta 7-10% das puérperas nos diversos países. Os sintomas incluem distúrbio de sono, agitação psicomotora, choro fácil, cansaço extremo, falta de libido, autocensura, depressão do humor, ansiedade intensa, agorafobia e intenção ou planos para suicídio. Fatores de risco incluem problemas conjugais, sintomas depressivos antes da gravidez, problemas sócio-econômicos, intercorrências obstétricas dramáticas (óbito fetal, má formação) e acontecimentos traumáticos pós-parto. Mulheres que tiveram depressão pós-parto apresentam taxa de 30 à 70% de recorrência em futuras gestações. 20 COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO Psicose Pós-Parto É mais rara e a mais severa das aterações psiquiátricas Sua incidência afeta 1-2 mães por 1.000 nascimentos. É uma emergência psiquiátrica caracterizada pela incapacidade da puérpera de diferenciar o real do irreal, apesar de alternar com períodos de comportamento normal. Os sintomas têm pico entre o 10º e o 14º dia pós-parto. A intervenção psiquiátrica e medicamentosa é imperativa pelo 21 risco de suicídio e infaticídio. O risco de recorrência da psicose pós-parto varia de 70 a 90%. ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO A atuação fisioterapêutica durante o puerpério pode ser iniciada logo após o parto, respeitando apenas um período de repouso de seis horas para o parto normal e doze horas para o parto cesárea. 22 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO No puerpério imediato, a intervenção fisioterapêutica tem como objetivos: 1. Proporcionar e orientar quanto ao posicionamento no leito; 2. Reeducar a função respiratória; Reeducação diafragmática, através da propriocepção. 23 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO 3. Estimular o sistema circulatório: Exercícios metabólicos de extremidades e drenagem linfática manual. 4. Restabelecer a função intestinal: Exercícios de mobilização da pelve 5. Reeducar os músculos abdominais: Atividade proprioceptiva e contração isométrica principalmente do transverso abdominal 24 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO 6. Reeducar a musculatura de assoalho pélvico; 7. Promover analgesia no local da incisão perineal ou da cesárea: TENS 25 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO Promover orientações gerais quanto às posturas assumidas durante o cuidado com o bebê e da necessidade de continuar o acompanhamento fisioterápico em nível ambulatorial: Durante a amamentação, a mãe deve-se sentar em uma cadeira, pode usar um travesseiro para apoiar a coluna lombar, e outro sobre o seu colo para elevar o bebê e os pés devem estar bem apoiados no chão ou sobre um banco. 26 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO O bebê deve ser trocado em superfície que tenha altura próxima da cintura da mãe, para evitar a flexão de tronco. Em relação ao banho do bebê, deve-se evitar encher a banheira por meio de vasilhas ou pegá-la enquanto cheia, para isso a banheira pode ficar dentro do banheiro de modo que a mãe possa ajoelhar-se ao seu lado, para ser cheia e esvaziada sem esforços. 27 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO O carrinho deve ter a altura da cintura da mulher, para evitar a má postura e assim desconfortos na coluna. Neste período a mulher deve ser orientada e conscientizada da importância de continuar o acompanhamento fisioterapêutico nas outras fases do puerpério. 28 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO TARDIO Objetivos: 1. Reeducação da função respiratória; 2. Tratamento de possíveis complicações e desconfortos músculo-esqueléticos: Tenossinovite: Crioterapia, ultrassom, alongamento e fortalecimento. Cervicalgias: Orientações posturais, alongamentos, massagem, liberação miofascial. Incontinência Urinária: Treinamento da musculatura do assoalho pélvico. 29 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO TARDIO 3. Reeducação e ganho de força da musculatura de assoalho pélvico: Bola suíça 4. Reeducação dos músculos abdominais: exercícios isométricos e exercícios de mobilização pélvica. 30 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO TARDIO 5. Recuperação Física em Geral: exercícios aeróbicos; terapia aquática; 31 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO REMOTO Objetivos: 1. Ganho de força da musculatura de assoalho pévilco; 2. O assoalho pélvico deve continuar a ser fortalecido em todas as posições. 3. Reeducação e ganho de força dos músculos abdominais: contração isométrica do transverso abdominal realizada em todas as posições. 32 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO REMOTO 4. Reeducação postural, condicionamento físico e relaxamento: avaliação e reeducação postural método Isostretching; bola suíça; alongamentos musculares; condicionamento fisíco. 33 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baracho, E.; Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia, Uroginecologia e Aspectos de Mastologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan.; 2007 Beleza, A. C.; Carvalho, G. P.; Atuação Fisioterapêutica No Puerpério. “PhysicalTherapeutic Action In The Puerperium”, Faculdades Integradas Fafibe Bebedouro/SP Google Imagens Hempcher, U. Fisioterapia em Ginecologia. Ed. Santos.; 2007 Rett, M. T.; Bernardes, N. O.; Santos, A. M.; Oliveira, M. R.; Andrade, S.C.; Atendimento de puérperas pela fisioterapia em uma maternidade pública humanizada, Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.361-6, out./dez. 2008 Stephenson, R. G.; O`Connor, L. J. Fisioterapia Aplicada em Ginecologia e Obstetrícia. 2ª ed. São Paulo: Ed. Manole.; 2004 35