O SOFÁ LYGIA BOJUNGA NUNES Alessandra Jonathan José Ricardo O SOFÁ TEXTO DE APOIO: Os lugares vazios no sofá: leituras e releituras da obra lygiana MARTA YUMI ANDO (Universidade Estadual de Maringá) Índice: A autora A obra O enredo A questão do cavar A futilidade e o mundo de aparências Crítica ao capitalismo A vó do Vítor A personificação da mala e do sofá O inventor Pulsão de vida e pulsão de morte A mulher e o lenço O monsenhor A volta pra casa ● Lygia Bojunga Nunes (1932, Pelotas - Rio Grande do Sul) ● Lygia Bojunga Nunes (1932, Pelotas - Rio Grande do Sul) ● Principais obras: Os colegas (1972); Angélica (1975); A bolsa amarela (1976); A casa da madrinha (1978); Corda bamba (1979); O sofá estampado (1980). ● Lygia Bojunga Nunes (1932, Pelotas - Rio Grande do Sul) ● Principais obras: Os colegas (1972); Angélica (1975); A bolsa amarela (1976); A casa da madrinha (1978); Corda bamba (1979); O sofá estampado (1980). ● Reconhecida nacional e internacionalmente, conquistou o Prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e o Grande Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, além do Prêmio Hans Christian Andersen – tido como o Nobel da Literatura Infantil e Juvenil. ● Consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, a obra de Lygia já foi publicada em mais de treze línguas. ● Consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, a obra de Lygia já foi publicada em mais de treze línguas. ● Um dos livros mais premiados de Lygia, O sofá estampado conta uma história aparentemente singela (a paixão de um tatu por uma gata angorá), abrindo em suas páginas um leque de personagens pitorescos, que pincelam com suas ações e diálogos um quadro divertido e emocionante de crítica social. ● Consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, a obra de Lygia já foi publicada em mais de treze línguas. ● Um dos livros mais premiados de Lygia, O sofá estampado conta uma história aparentemente singela (a paixão de um tatu por uma gata angorá), abrindo em suas páginas um leque de personagens pitorescos, que pincelam com suas ações e diálogos um quadro divertido e emocionante de crítica social. ● Narrativa não linear, com dois planos: o interior e a superfície do sofá ● Consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, a obra de Lygia já foi publicada em mais de treze línguas. ● Em O sofá estampado, a autora alia-se a uma visão questionadora de falsos valores e comportamentos da sociedade contemporânea. Ela trata da futilidade, do consumismo, da desumanização do homem, da superação dos conflitos internos, da busca pelo autoconhecimento, pela identidade. ▪ 32ª edição, 8ª reimpressão (atualmente) VÓ DO VÍTOR MÃE DO VÍTOR PAI DO VÍTOR VÍTOR VÓ DO VÍTOR MÃE DO VÍTOR PAI DO VÍTOR VÍTOR DONA-DA-CASA DALVA VÓ DO VÍTOR MÃE DO VÍTOR PAI DO VÍTOR VÍTOR DONA POPÔ DR. IPO O INVENTOR A MULHER DONA-DA-CASA DALVA ● O “cavar” e suas simbologias: ▪ O hábito de cavar ▪ Introspecção ▪ Relação com o leitor ● O “cavar” e suas simbologias: “De repente, a unha do Vítor desatou a cavar tão depressa que num instantinho unha, focinho, rabo, o Vítor sumiu no buraco, fazendo pela primeira vez o que a Dalva tinha explicado pra Dona-dacasa: bateu o nervoso ele cava.” (p. 35) ▪ O hábito de cavar ▪ Introspecção ▪ Relação com o leitor ● Personagens envolvidos: Dalva e a Dona-da-casa (p. 16) ● Personagens envolvidos: Dalva e a Dona-da-casa ● Dalva era a namorada do Vítor, uma gatinha alienada que passa “12 horas” por dia vendo TV, ganhando até medalha por isso. → falta de diálogo ● Personagens envolvidos: Dalva e a Dona-da-casa ● Dalva era a namorada do Vítor, uma gatinha alienada que passa “12 horas” por dia vendo TV, ganhando até medalha por isso. → falta de diálogo ● A gata recebe cartas de amor do Vítor e sua reação é a seguinte: “Não tem figura. Não tem anúncio. Não toca música. Só tem letra, que troço difícil!”. (p. 16) (p. 14) “Olha a casa dele que bacana. Nossa, quanto empregado! Olha o carro dele, olha, olha. Ah, e o Vítor que não fuma! Ele nunca vai ter uma casa assim, nem um carro assim...”. (p. 14) “Olha a casa dele que bacana. Nossa, quanto empregado! Olha o carro dele, olha, olha. Ah, e o Vítor que não fuma! Ele nunca vai ter uma casa assim, nem um carro assim...”. ● A Dona-da-casa mostra-se fútil e consumista: “A dona-da-casa tinha a mania do combina: o sapato precisava combinar com o vestido, ‘ih, que horror, esse vestido não combina com a poltrona, deixa eu ir lá trocar de roupa...’”. “O Vítor não combinava com a Dalva e nem com o sofá”. (p. 15) ● Personagens envolvidos: o pai do Vítor, a Dona Popô e o Dr. Ipo. (p. 26) ● Personagens envolvidos: o pai do Vítor, (p. 26) a Dona Popô e o Dr. Ipo. “Era só a mãe mandar ele pedir uma informação na rua: ‘Vítor, pergunta pr’aquele moço se ele acha que vai chover.’ Ou o pai chamar pra apresentar ele ao sócio: ‘Nós somos muitos amigos, viu, Vitor? De modo que você agora também tem que ser muito amigo do filho dele”. (p. 26) ● Personagens envolvidos: o pai do Vítor, (p. 26) a Dona Popô e o Dr. Ipo. “Era só a mãe mandar ele pedir uma informação na rua: ‘Vítor, pergunta pr’aquele moço se ele acha que vai chover.’ Ou o pai chamar pra apresentar ele ao sócio: ‘Nós somos muitos amigos, viu, Vitor? De modo que você agora também tem que ser muito amigo do filho dele”. “– Sabe, Vitor, já que você vai viajar, eu achei que era uma boa oportunidade pra você começar a vender nossa carapaça lá fora. (p. 55) – Mas, papai, essa viagem é pra ver o mar, pra passear... – Claro, claro! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Depois de passear bastante você procura essa pessoal aqui, olha, toma esses endereços, guarda aí na mala. Eu já escrevi pra eles todos dizendo que você é meu filho, trabalha na minha indústria e está levando uma das carapaças que eu fabrico...” “– Mas, papai... Escuta... Eu... já tinha dito que eu não queria ser vendedor de carapaça... – Você não vai ser vendedor de carapaça, você vai trabalhar na minha indústria, é diferente. Você vai começar vendendo, depois vai se encarregar da fabricação...” “– Mas, papai... Escuta... Eu... já tinha dito que eu não queria ser vendedor de carapaça... – Você não vai ser vendedor de carapaça, você vai trabalhar na minha indústria, é diferente. Você vai começar vendendo, depois vai se encarregar da fabricação...” “– E explica bem pra eles tudo que é vantagem da carapaça de plástico: quebrou? Joga fora e compra outra; rachou? Joga fora e compra outra; sujou? Joga fora e compra outra.” “– Mas, papai... Escuta... Eu... já tinha dito que eu não queria ser vendedor de carapaça... – Você não vai ser vendedor de carapaça, você vai trabalhar na minha indústria, é diferente. Você vai começar vendendo, depois vai se encarregar da fabricação...” “– E explica bem pra eles tudo que é vantagem da carapaça de plástico: quebrou? Joga fora e compra outra; rachou? Joga fora e compra outra; sujou? Joga fora e compra outra.” “– A minha indústria está indo às mil maravilhas e o meu único filho não quer saber do negócio? Que é isso?! O que que você quer fazer então? – Eu... eu ainda não sei direito, mas... – Pois se não sabe, vai vender carapaça! – Mas eu não gosto de carapaça de plástico... – Não tem que gostar, tem que vender.” (p. 56) (p. 73) “O Ipo chegou num carro imenso; o motorista abriu a porta pra ele saltar.” (p. 77) (p. 73) “O Ipo chegou num carro imenso; o motorista abriu a porta pra ele saltar.” “– Quer dizer que a gente não precisa ficar aqui? – É só pagar pra sair. (p. 74) – Falaram que só fugindo... – Bom, se o bicho é pobre e só conhecer gente pobre, o jeito é mesmo fugir...” (p. 73) “O Ipo chegou num carro imenso; o motorista abriu a porta pra ele saltar.” “– Quer dizer que a gente não precisa ficar aqui? – É só pagar pra sair. (p. 74) – Falaram que só fugindo... – Bom, se o bicho é pobre e só conhecer gente pobre, o jeito é mesmo fugir...” “– Mas não pode, Dr. Ipo, bicho nenhum pode sair daqui sem fiança. O Ipo puxou livro de cheque, rabiscou número e letra, jogou o papel pro ar: – Levo elefante, levo essa aqui, levo quem eu quiser, taí o dinheiro.” (p. 77) (p. 78) “Ela custou a acreditar na vida que o Ipo e os amigos dele viviam: cada casa que não tinha mais tamanho, empregado por todo o lado, carro, barco, avião particular.” (p. 78) “Ela custou a acreditar na vida que o Ipo e os amigos dele viviam: cada casa que não tinha mais tamanho, empregado por todo o lado, carro, barco, avião particular.” “– Muito bem, vamos lá: a senhora quer transformar a sua mágoa em quê? – Dinheiro. – Dinheiro pra quem? – Pra mim, é claro! O senhor quer que eu faça dinheiro pros outros, é? – Mas, Dona Popô, a senhora já tem tanto dinheiro. – Bota essa geringonça pra funcionar! Não é da sua conta o dinheiro que eu tenho...” (p. 88) ● Arqueóloga, ambientalista, luta pelo seu povo e pelo seu lar. ● Personagem politizada, preocupada com o meio ambiente. Opõe-se à futilidade e ao capitalismo. ● Arqueóloga, ambientalista, luta pelo seu povo e pelo seu lar. ● Personagem politizada, preocupada com o meio ambiente. Opõe-se à futilidade e ao capitalismo. ● Comportamento e pensamento em comum entre Vítor e sua vó; ela era o seu porto seguro. As visitas eram esperadas com muita ansiedade. ● Arqueóloga, ambientalista, luta pelo seu povo e pelo seu lar. ● Personagem politizada, preocupada com o meio ambiente. Opõe-se à futilidade e ao capitalismo. ● Comportamento e pensamento em comum entre Vítor e sua vó; ela era o seu porto seguro. As visitas eram esperadas com muita ansiedade. “– Você viaja sozinha, Vó? - E ficava encantado: a pergunta podia sair baixinho toda vida, e não é que a Vó sempre escutava?” (p. 39) (p. 41) “Pela primeira vez o Vítor contou tempo. Contou dia, contou mês, contou semana, contou até hora passando, esperando a Vó voltar.” (p. 41) “Pela primeira vez o Vítor contou tempo. Contou dia, contou mês, contou semana, contou até hora passando, esperando a Vó voltar.” ● Valoriza seu trabalho como meio de própria realização pessoal, pois é pelo seu fazer que ela consegue ser. Estimula seu neto a pensar assim. “– Vó? (p. 43) – Hmm. – Você nunca vai deixar de viajar, não? – No dia que eu morrer. – E de trabalhar? Você não vai parar? – Vou, sim: no dia que eu largar de viajar.” ● Personificação ● Coisificação ▪ A Vó do Vítor e sua mala ▪ Dalva e o sofá: uma coisa só. ▪ Contrastes ● Personificação ● Coisificação ▪ A Vó do Vítor e sua mala ▪ Dalva e o sofá: uma coisa só. ▪ Contrastes “Vítor ficou olhando uma marca nova que tinha aparecido na mala, bem perto da alça. Era um arranhão curto. Mas bem fundo. E quanto mais ele olhava, mais ele ia achando o arranhão parecido com a tal ruga da Vó. [...] E depois, nas outras vezes que a Vó voltou, o Vítor não cansava de procurar no couro da mala as rugas que ele via na cara da Vó; pra ele as duas foram virando uma só.” (p. 56) ● Personificação ● Coisificação ▪ A Vó do Vítor e sua mala ▪ Dalva e o sofá: uma coisa só. ▪ Contrastes “A cabeça bateu no sofá; a Dalva gemeu. O Vítor começou a ficar impressionado: a Dalva não podia ir na porta porque estava no sofá estampado; a Dalva estendia a pata e a pata não saía do estampado; ele batia com a cabeça no sofá e era a Dalva que gemia; será que a Dalva e o sofá eram um só?” (p. 88) ● Contraste com o pensamento capitalista: simplicidade e contribuição (p. 83) ● Contraste com o pensamento capitalista: simplicidade e contribuição “Ele era magrinho, já meio velho, casaco do tempo de estudante, calça pedindo uma passada-a-ferro-pelo-amor-de-deus.” (p. 83) ● Contraste com o pensamento capitalista: simplicidade e contribuição “Ele era magrinho, já meio velho, casaco do tempo de estudante, calça pedindo uma passada-a-ferro-pelo-amor-de-deus.” ● Representa o cientista que cria a favor da humanidade, a favor de um mundo melhor. Pensa, preocupa-se com o próximo. (p. 85) “– Faz de conta que a senhora é feito eu, se magoa à toa. Aí a senhora deita na banheira. Se concentra. Resolve que vai transformar a sua mágoa numa pesquisa científica, ou num belo livro, ou numa descoberta médica. Imagina a senhora usando aquela força toda da sua mágoa pra querer acabar com o câncer? Ou pra acabar com a fome que vai pelo mundo?” ● Para Freud, a pulsão de vida seria representada pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. ● Para Freud, a pulsão de vida seria representada pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. ● A pulsão de morte, além de ser caracterizada pela agressividade, traz a marca da compulsão à repetição, do movimento de retorno à inércia pela morte também. ”Foi só o Vítor ficar escondido e sozinho lá dentro do túnel que a tosse foi melhorando; depois de um tempo passou. E aí o Vítor se encolheu pra dentro da carapaça até ficar feito uma bola. Foi assim, todo metido dentro dele, que ele ficou sofrendo fundo de terem matado a Vó.” (p. 63) “O medo do Vítor virou desespero quando a Mulher veio chegando; ele nem aguentou olhar Ela passando: baixou a cara. Ela passou. A ponta do lenço voou pra trás. E aí o Vítor juntou um resto de coragem, se agarrou no lenço (ai! que frio que ele era) e emparelhou com a Mulher. Ela pareceu que não tinha visto, e os dois foram descendo a rua juntos, de pata e mão dada no lenço.” (p. 65) “O Vítor quis chamar, quis correr. Mas parecia que o empurrão ainda estava empurrando ele; ficou. Muito tempo ali parado. Só lembrando o lenço de seda e a mão da Mulher (também tão fria) empurrando ele pra trás. Só lembrando. E querendo inventar o rosto que Ela ia ter: a Mulher que não quis levar o Vitor com ela tinha descido a rua sem rosto nenhum.” (p. 66) “Aí apareceu uma coisa de cor voando no fim da rua. Voou. Parou. Voou de novo feito coisa que estava se mostrando, voou pra trás, sumiu, apareceu logo outra vez na mão da Mulher. Era um lenço. De seda tão fina que mesmo quando o vento parava ele ficava brincando no ar. Amarelo bem clarinho, todo salpicado de flor; ora era violeta, ora era margarida, e lá uma vez que outra também tinha um monsenhor.” (p. 64) “O sofá estampado é uma graça. Gorducho. Braço redondo. Fazenda bem esticada. Mais pra baixo que pra alto. Mas o melhor de tudo – longe, nem se discute – é o estampado que ele tem: amarelo bem clarinho, todo salpicado de flor; ora é violeta, ora é margarida, e lá uma vez que outra também tem um monsenhor.” (p. 10) ● Busca pela identidade ● Renascimento ● Maturidade ● Busca pela identidade ● Renascimento ● Maturidade “Lá pelas tantas o Vítor pensou: quem sabe voltando pra casa ele esquecia da Dalva? quem sabe voltando pra floresta dele [...] o engasgo passava, e a tristeza também. A unha riscou o chão pensativa. É... quem sabe tinha chegado a hora de voltar? E sem saber muito bem se tinha ou não tinha, o Vítor foi indo embora, atravessando a rua, dobrando esquina, deixando a cidade pra trás.” (p. 138) NUNES, Lygia Bojunga. O sofá estampado. 8ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1988. ANDO, Marta Yumi. Os lugares vazios no sofá: leituras e releituras da obra lygiana. Universidade Estadual de Maringá, 2005. Informações sobre a autora, suas obras e prêmios. Disponível em: <http://www.casalygiabojunga.com.br>. Acessado em: 17 de julho.