Atenção Psicossocial e Uso de Álcool e outras Drogas FRANCISCO CORDEIRO Políticas de álcool e drogas no SUS (breve histórico) • Tema esteve associado à segurança pública e instituições filantrópicas (geralmente com vinculação religiosa). Lacuna da saúde pública • 2003: consumo de álcool e outras drogas como questão de saúde pública. MS como responsável pelas diretrizes de tratamento e cuidados à saúde desenvolvidas no SUS • “assume de modo integral e articulado o desafio de prevenir, tratar e reabilitar os usuários de álcool e outras drogas como um problema de saúde pública” (trecho da Política do MS para AD) Quino (2003) Políticas de álcool e drogas no SUS (breve histórico) • Influência da reforma psiquiátrica, cuidados territoriais, mais perto, conflito de modelo – centrado ou não internação – talvez por ser um modelo hegemônico à época. Cuidado e enfrentamento do estigma e preconceito • Mudança do modelo assistencial – de instituições fechadas, baseadas na abstinência para uma rede de atenção integral que reduza a exclusão e a falta de cuidados, evitando internações desnecessárias PRINCÍPIO GERAL • COMPLEXIDADE DO PROBLEMA DA DROGA EXIGE RESPOSTAS COMPLEXAS E ARTICULADAS. • Trata-se de um marco teórico-político que rompe com abordagens reducionistas e considera a presença das drogas nas sociedades contemporâneas como um fenômeno complexo, com implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas; e que, portanto,não pode ser objeto apenas das intervenções psiquiátricas e jurídicas – como ocorreu historicamente no Brasil – nem tampouco de ações exclusivas da saúde pública. (Ana Regina Machado) PRINCÍPIO GERAL • Esta mudança não se dá da noite para o dia por conta de diversos aspectos estruturais e de experiências pessoais – cultura hegemônica da exclusão/internação/medicalização entranhada em profissionais, usuários e familiares – Ex: “eu venho pra cá terça-feira e se a médica disser ‘ele (o marido de quem fala) não precisa tomar medicação’, eu pego o nome dela todinho e vou no Conselho Regional de Medicina e denuncio” – Não ter direito à saúde gratuita (ausência da percepção de cidadania) – ter medo de procurar tratamento por achar que apanharia Epidemiologia Álcool: Grave Problema de Saúde Pública mundial • 2 bilhões de consumidores no mundo todo • 76,3 milhões de pessoas com algum agravo relativo ao uso de álcool • 1,8 milhões de mortes relacionadas ao consumo de álcool por ano • Aproximadamente 4% das mortes em todo o mundo estão associadas ao consumo de álcool (Global Status Report, Alcohol Policy, OMS, 2004) Epidemiologia Faixa etária Uso na vida (%) Dependência (%) Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total 12–17 anos 52,8 50,8 54,3 7,3 6 7 18–24 anos 83,2 72,6 78,6 27,4 12,1 19,2 25–34 anos 85,1 73 79,5 23,2 7,7 14,7 > 35 anos 86,1 67,6 75 17,3 5,4 10,4 Total 83,5 68,3 74,6 19,5 6,9 12,3 Fonte: II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, CEBRID, 2007. Epidemiologia • VIGITEL 2008 (Ministério da Saúde) • - Consumo excessivo de álcool (4 doses para mulheres e 5 para homens) Total Fem. Masc. Geral 19% 10,5% 29% - Evolução do consumo excessivo de álcool 18-24 anos 21,4% 2006 14,3% 2007 29,1% 2008 Masc. 25,3% 27,2% 29% Fem. 8,1% 9,3% 10,5% Epidemiologia - Dados de Pesquisa de padrões de consumo de álcool (UNIFESP/SENAD, 2007) - ADULTOS: acima de 18 anos (4 doses para mulheres e 5 doses para homens em uma mesma ocasião no último ano) Total Homens Mulhere s Não bebeu 48% 35% 59% Bebeu sem risco 24% 25% 23% Bebeu excessivamente 28% 40% 18% Epidemiologia - Dados de Pesquisa de padrões de consumo de álcool (UNIFESP/SENAD, 2007) - ADOLESCENTES de 14 a 17 anos (4 doses para mulheres e 5 doses para homens em uma mesma ocasião no último ano) Total Homens Mulhere s Não bebeu 66% 64% 68% Bebeu sem risco 17% 15% 20% Bebeu excessivamente 16% 21% 12% Epidemiologia • Padrão de consumo de álcool e outras drogas (CEBRID, 2005) Vida Álcool Ano Mês Dependência 74,6% 49,8% 38,3% 12,3% Maconha 8,8% 2,6% 1,9% 1,2% Solventes 6,1% 1,2% 0,4% 0,2% Epidemiologia Padrão de consumo de álcool e outras drogas entre estudantes das 27 capitais brasileiras * Uso na Vida Uso no ano Uso no Mês Uso Frequente (6x no mês) Uso Pesado (20x no mês) Álcool 74,6% 49,8% 38,3% 11,7% 6,7% Maconha 8,8% 2,6% 1,9% 0,7% 0,5% Solventes 6,1% 1,2% 0,4% 1,5% 0,9% *Fonte: CEBRID (2004) Cocaína 2,9% 0,7% 0,4% 0,2% 0,1% Crack 0,7% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% Epidemiologia Prevalência do uso de derivados de cocaína entre meninas/meninos de rua* Derivados da cocaína 1 vez no último ano 18,5% * Fonte: CEBRID (2003) ** No percentual de uso do mês, o consumo de crack responde 1 vez no último mês 12,6%** por 5,5%. Padrões de consumo • • • • Uso recreativo ou esporádico Uso nocivo Dependência Não é tudo a mesma coisa? “Na trajetória da pesquisa, com observação direta nos serviços de atenção ao usuário de crack e a partir das entrevistas com os profissionais, com gestores e com os pacientes é possível certificar, com muita segurança, que é equivoco, quase que imperdoável, determinar um perfil único e absoluto para o paciente de crack, certamente se passa igual para aqueles que utilizam outras drogas”. (Pesquisa PUCMINAS sobre crack, 2010) Padrões de consumo • Uso pesado de drogas leves? • Uso leve de drogas pesadas? • Isto é possível? • Como classificar as drogas a partir dos danos causados? Avaliação do consumo de drogas • ASSIST – Nos últimos 3 meses • com que freqüência você teve um forte desejo ou urgência em consumir? • com que freqüência o seu consumo de droga resultou em problema de saúde, social, legal ou financeiro? • com que freqüência, por causa do seu uso de droga, você deixou de fazer coisas que eram normalmente esperadas de você? • Há amigos, parentes ou outra pessoa que tenha demonstrado preocupação com seu uso de drogas • AUDIT (álcool – referência: 12 meses) Drogas e saúde pública: magnitude • Uso nocivo e dependência do álcool: cada vez mais precoce, agravamento dos padrões de risco, feminização do consumo de risco • Calmantes e inibidores do apetite: drogas legais e prescritas, consumidas abusivamente, especialmente por mulheres • Cocaína • Crack: mudança do padrão de consumo, alta vulnerabilidade, crianças e adolescentes, começando a invadir classes médias e faixas etárias maiores, “pânico social” • Outras drogas: maconha, inalantes, drogas tipo-anfetamina (êxtase), anabolizantes Princípios gerais da Política de AD (MS) - Direito ao tratamento - acolhimento - Respeito aos Direitos Humanos e promoção da inclusão social - Combate ao estigma “exemplo: moça de 19 anos, que mora na rua, que era dependente de crack e que salvou uma criança de 4 anos de ser estuprada. A pergunta que fica é: FARÍAMOS A MESMA COISA POR ELA? ALIÁS, NOS QUEREMOS SABER ALGUMA COISA SOBRE A VIDA DELA? SEUS DESEJOS?” - Tratamento de eficácia comprovada - Intersetorialidade (afinal, é tudo responsabilidade da saúde?) Redução de danos • Redução de danos: ações de saúde dirigidas a usuários e a dependentes que não podem, não conseguem ou não querem interromper o referido uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, visando reduzir riscos e danos sociais e à saúde, sem, necessariamente, intervir na oferta ou no consumo. • Defender a vida! • Foco no aumento do acesso a ações e serviços de saúde (na maioria dos casos, a única possibilidade de cuidar da saúde) • Abordagem intersetorial (saúde, assistência social, etc) • Ex: Consultório de rua, potencialidade das equipes de saúde da família, redutores de danos, etc... ABORDAGENS TERAPÊUTICAS • • • • • • ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INTERVENÇÃO BREVE TCCOMPORTAMENTAL AA Internação MEDICAMENTOSA • O FUTURO: TERAPIA SEM TERAPEUTA? BARREIRAS AO ACESSO - Estigma - Lógica pouco flexível do serviço - Restrição do horário de funcionamento - Confidencialidade e confiabilidade - Diagnóstico (ex: crack, comorbidade) - Localização ACESSIBILIDADE DIFÍCIL DE ACHAR X FÁCIL DE IGNORAR? Desenhos: Mike Linnell Algumas perguntas • “Só tem quando ele vem na unidade, a gente não vai, não faz aquele trabalho como a gente faz, tipo hipertensão...” • “O atendimento na área de saúde mental feito na unidade acaba se restringindo à medicalização...” • “é obrigado a cuidar... é... eu morro é de medo...” • “... que tinha que ter um psicólogo pra estar orientando... tinha que ter um profissional aqui... De apoio … Algumas respostas • “Porque a gente consegue ver o doente como um todo, aborda toda a família e vê de forma holística, então é mais eficiente o trabalho na recuperação e manutenção da saúde... Eles acham que só o especialista que sabe”. • “E aí você começa a observar ela mais, conversar mais, ver o porquê disso... você tem que observar!”. • “A gente tem que compreender eles. Procurar ouvir e não só ficar falando... tá outras respostas • • • • CAPS regional Leitos regionalizados em HG Formação de profissionais (em parceria com SES, municípios e MS) Articulações intersetoriais