Faculdade de Medicina 5º período Disciplina de Saúde Mental Prof.: Daniel Bosi Semiologia e psicopatologia: Memória A Memória Capacidade de registrar, manter e evocar fatos já ocorridos Depende do nível de consciência, da atenção e interesse afetivo Composta de 3 fases ou elementos básicos: Fase de percepção, registro e fixação Fase de retenção e conservação Fase de reprodução e evocação Substrato anatomofuncional da memória Memória curto a médio prazo: Estruturas límbicas temporomediais (hipocampo-mamilares) Formação de unidades de memória Consolidação dos registros Mecanismos bioquímicos Memória de longo prazo: Registros antigos bem consolidados Córtex cerebral (principalmente frontais) Mecanismos neurais tipo “brotamento” (sprouting) e remodelagens neuronais Processo de memorização Fixação: Nível de consciência e estado geral Capacidade de manutenção da atenção Sensopercepção preservada (quanto + canais melhor) Interesse emocional e empenho individual relacionado ao conteúdo Conhecimento anterior Capacidade de compreensão Organização temporal das repetições Conservação: Repetição Associação com outros elementos Classificação de memória quanto ao tempo: Memória imediata ou de curtíssimo prazo: Confunde-se com a própria atenção Capacidade reter o conteúdo logo após ser percebido Memória recente ou de curto prazo: Capacidade de reter a informação por um período curto de tempo Poucos minutos a uma hora Memória remota ou de longo prazo: Capacidade de evocação de informações meses ou anos Relaciona-se a amplas áreas corticais (frontais e temporais) Processos de esquecimento Lei da regressão mnêmica de Ribot: Após lesão cerebral indivíduo tende a perder os conteúdos de memória na ordem inversa que os adquiriu: ○ Perde primeiro elementos recentemente adquiridos, e depois os elementos antigos ○ Perde primeiro elementos mais complexos, e depois os mais simples ○ Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos habituais, e depois os mais familiares Tipos de memória Memória explícita ou declarante: Processo de registrar e evocar de forma consciente e voluntária informações referentes a pessoas e eventos autobiográficos Exemplo: “o mês passado fui ao cinema com meu primo em São Paulo” Aborda conhecimentos fatuais (“o ferro é mais duro que a madeira”) Tipos de memória Memória implícita, não-declarante ou de procedimento: Memória automática ou reflexa Não depende de fatores voluntários Ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltipla tentativas Manifesta-se por ações motoras e desempenho de atividades Não pode ser expressa por palavras Exemplos: andar de bicicleta, datilografar, aprendizado de regras (gramaticais, conjugação de verbos) Não fica gravemente prejudicada na doença de Azheimer Prejudicada em outras doenças degenerativas, como Coréia de Huntington Tipos de memória Memória de trabalho: Processo que permite que memórias novas e antigas sejam mantidas ativas (on-line) Permite manipular estas informações afim de realizar uma tarefa específica Importante no aprendizado, na realização de funções executivas e no raciocínio Tipos de memória Memória episódica x memória semântica Episódica: eventos específicos da experiência pessoal Semântica: aprendizado das palavras e seu significado Podem ser prejudicados de forma diferente nas diversas patologias Exemplo: síndrome de Wernicke-Korsakoff que causa grave déficit de memória episódica e preserva memória semântica Alterações patológicas de memória Alterações quantitativas: Hiperminésia: as recordações fluem rapidamente, em grande quantidade, mas perdendo a clareza e precisão Amnésia: perda da capacidade de fixar, ou de manter e evocar elementos mnêmicos Amnésia psicogênica: Amnésia orgânica: • perda de elementos focais •Menos seletiva •Esquece evento que teve significado especial em sua vida •Primeiramente perde-se a capacidade de fixação (imediatas e recentes) •Pode ser superada em estado hipnótico •Segue a lei de Ribot Alterações patológicas de memória Amnésia anterógrada: Não consegue fixar elementos a partir do momento em que ocorreu o dano cerebral Freqüente nos transtornos neurocognitivos Amnésia retrógada: Perde a memória para fatos ocorridos antes do início da doença ou trauma Observada em quadros dissociativos Amnésia retro-anterógrada: Comum em casos de TCE Alterações qualitativas da memória (paramnésias) Fabulações: Elementos da imaginação completam lacunas de memória Não reconhece como falsas Sem intenção de mentir ou enganar Pode-se estimulá-las fazendo perguntas Causas: síndrome de Korsakoff, alcoolismo crônico, TCE, encefalite herpética, doença de Alzheimer Criptomnésias: Lembranças aparecem como fatos novos Parece uma descoberta nova Causas: doença de Azheimer Alterações do reconhecimento associado a transtornos psiquiátricos Falso reconhecimento: identifica médico ou enfermeira como pessoa de sua família ou velhos conhecidos Exemplo: síndrome de Frégoli (esquizofrenia) Falso desconhecimento: não-reconhecimento de pessoas muito familiares (como mãe, esposa, filho, etc) Exemplo: síndrome de Capgras – pessoas próximas são “na realidade” sósias idênticos (esquizofrenia) Exemplo: síndrome do duplo subjetivo – o sósia neste caso, é idêntico ao próprio paciente Alterações do reconhecimento associado a transtornos psiquiátricos Fenômeno do já visto, já ouvido, já pensado, já vivido (Déjà-vú, - entendu, - pensé, - vecú) Impressão de que algo que está vendo, ouvindo, pensando ou vivenciando no momento já foi experimentado no passado Fenômeno do jamais visto (jamais-vú): Apesar de estar familiarizado com a experiência, tem a nítida sensação de que nunca viu, ouviu, pensou ou viveu aquela experiência Ocorrem em estados de esgotamento, nas psicoses tóxicas, na epilepsia parcial-complexa, etc Semiotécnica da memória Memória recente: Há quanto tempo está internado? Cite uma atividade que realizou ontem. O que comeu ontem? Memória remota: Com que idade se casou? Tem filhos? Qual o nome deles? Qual a idade deles? Onde nasceu? Em qual atividade trabalhava? Em qual local trabalhava? Teste de memória verbal simples: Pedir para que paciente registre 3 palavras e repita depois.