Agrupamento de Escolas de Mértola
EB 2,3/ ES. Sebastião de Mértola
Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial-3ºano
Ano Letivo 2013/14
Disciplina de Psicopatologia Geral
Módulo 6 – Nosologia Psíquica
Trabalho realizado pelas alunas:
Ana Carrilho, nº3
Dalila Santos nº 5
Jéssica Costa, nº 8
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Neste trabalho iremos analisar em termos gerais a esquizofrenia: definir a
patologia, os seus vários tipos, sintomas, quando se manifesta, as suas
causas, fatores de influência, o impacto da doença na relação familiar,
alguns casos clínicos e até uma entrevista sobre uma pessoa esquizofrénica.
Os casos clínicos são também uma boa forma de compreendermos o
impacto desta patologia, numa perspectiva mais pessoal. A influência
socioeconómica é um assunto com um maior nível de relevância, sendo que
um esquizofrénico sem apoio familiar, poderá acabar sozinho, sem dinheiro
e sem casa.
Também iremos abordar o impacto na relação familiar, por exemplo na vida
das crianças e dos pais. Por fim, apresentamos as diferentes formas de
controlar/tratar esta perturbação e de evitar o pior.
Esperemos que o trabalho seja claro e ajude na compreensão desta patologia
cada vez mais frequente na sociedade e nas camas de hospitais.
Definição de Esquizofrenia
Tipos de Esquizofrenia
Sintomas\Sinais de esquizofrenia de acordo com o DSM-IV
Sugestões de orientação para o diagnóstico de esquizofrenia
Quando se manifesta a esquizofrenia- Influência socioeconómica
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A esquizofrenia é uma perturbação mental grave caraterizada por uma perda
de contacto com a realidade (psicose), alucinações, delírios (crenças falsas),
pensamento anormal e alteração do funcionamento social e laboral.
A esquizofrenia é um problema de saúde pública de primeira grandeza em
todo o mundo. A prevalência da esquizofrenia no mundo parece ser algo
inferior a 1%, embora se tenham identificado zonas de maior ou de menor
prevalência.
Em alguns países as pessoas com esquizofrenia ocupam cerca de 25% das
camas dos hospitais.
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A esquizofrenia tem maior prevalência do que a doença de Alzheimer, a
diabetes ou a esclerose múltipla.
Pouco menos de 1% da população é hospitalizado uma vez na vida por causa
da esquizofrenia. Embora os esquizofrénicos representem apenas cerca de
metade das novas admissões nos hospitais psiquiátricos, ocupam cerca de
dois terços das camas por causa do internamento mais longo, em relação
aos doentes das outras categorias diagnósticas.
Os esquizofrénicos apresentam um declínio no nível de funcionamento, pois
o individuo deixa de conseguir levar a cabo atividades que outrora realizava.
Verificam-se distúrbios de pensamento e de linguagem: utilizam a lógica e a
linguagem de uma forma peculiar. O seu pensamento muitas vezes não faz
sentido, e o seu processamento de informação é frequentemente imperfeito.
Também não seguem regras linguísticas convencionais.
Esquizofrenia Paranoide:
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Os delírios primários associados a ideias delirantes secundárias e as
alucinações podem constituir os primeiros e únicos sintomas. As alterações
características do pensamento e da vontade, a desorganização do discurso e
do comportamento e o afeto embotado (dificuldade em expressar emoções e
sentimentos) ou inapropriado não são proeminentes.
Nas fases iniciais o doente pode conseguir adaptar-se à vida diária,
dissimulando ideias e sentimentos absurdos, mas à medida que a psicose
avança, referências e explicações delirantes para o que acontece, invadem o
“EU”, tornando o quadro clinico evidente, observando-se, contudo, uma
relativa preservação do afeto e das funções cognitivas, embora a doença
evolua para uma deterioração da personalidade.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia Paranoide
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Os doentes são reservados, circunspectos, desconfiados e hostis. Suspeitam
que lhes querem fazer mal e relacionam acontecimentos do dia-a-dia como
dirigidos para si próprios.
Apresentam tipicamente ideias delirantes de perseguição e de grandeza ou
outras (ciúmes, místicas ou somáticas), acompanhadas de alucinação
acústico-verbais (por exemplo, vozes acusatórias, que lhe dão ordens,
comentam a sua vida e entram na intimidade).
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Delírios e alucinações de perseguição ou de grandeza;
Perda de julgamento;
Comportamento errático e imprevisível.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia Hebefrénica (hebefrenia significa perturbação psicológica na
adolescência):
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É mais frequente entre os jovens (15-25 anos), apresentando um
prognóstico mais reservado do que a esquizofrenia paranoide. Começa, em
regra, insidiosamente, sob a forma de queixas depressivas (frequentes como
o 1º. sinal), introversão e ansiedade (donde a designação tradicional de
“disfarces comuns da hebefrenia” ou “formas pseudo-neuróticas”) mas
vivências de estranheza e sentimentos de perplexidade podem também
surgir nesta fase.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia Hebefrénica (hebefrenia significa perturbação psicológica na
adolescência):
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Dificuldades de concentração e adaptação ao trabalho ou fracasso escolar
repetido, podem levar inadvertidamente ao diagnóstico de debilidade
mental.
Manifestam profunda alteração no cuidado pessoal (apresentação,
vestuário e alimentação) e intensa perturbação nas áreas impulsiva e
afetiva, com comportamento marcadamente regredido, desinibido e
desorganizado e contacto pobre e inadequado com a realidade e com as
outras pessoas, não sendo raro as atitudes primárias do afeto com eventual
passagem ao ato (acting out).
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Gargalhadas e risos inapropriados
Parvoíce
Discurso incoerente
Comportamento infantil
Comportamento estranho e algumas vezes obsceno.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia catatónica
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É a menos comum das cinco formas indicadas, pelo menos nos países
desenvolvidos e industrializados, ainda que se mantenha frequente noutras
populações como as africanas.
Manifesta-se clinicamente por, pelo menos, dois dos seguintes sintomas
psicomotores característicos: acinésia (catalepsia ou estupor); agitação
extrema; negativismo intenso ou mutismo; peculiaridades dos movimentos
voluntários (por exemplo, estereotipias, maneirismos, caretas); ecolália ou
ecopraxia; e por perturbações da vontade e da esfera emocional, exigindose a presença concomitante de sintomas típicos da esquizofrenia.
Ecolália: repetição automáica de palavras ou sons ouvidos.
Ecopraxia: repetição involuntária ou a imitação dos movimentos de outras pessoas.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia catatónica
 Em lugar de mostrar fexibilitas cerea (estado em que o doente permanece na
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posição em que é colocado), alguns catatónicos resistem ativamente a
qualquer mudança de posição. Com grande resistência, um braço pode ser
esticado pelo médico, mas imediatamente a seguir é solto e volta à posição
primitiva.
O paciente em estupor catatónico parece não ter consciência do que está a
passar-se à sua volta. No entanto, às vezes pode vir a recordar tudo o que se
passou enquanto estava nessa posição.
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Maiores distúrbios no movimento; em algumas fases, perda de todo o
movimento, com o paciente imóvel numa posição única, permanecendo
dessa forma durante horas e algumas vezes mesmo dias;
Noutras fases hiperatividade e algumas vezes movimentos violentos.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia simples
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Começa habitualmente no fim da adolescência sendo menos comum após a
puberdade. É um quadro relativamente raro, que se desenvolve
insidiosamente, nalguns casos após um breve sobressalto psicótico, sem
sintomatologia evidente, estabelecendo a transição entre a personalidade
esquizoide ou a esquizotímica e a esquizofrenia com predomínio de
sintomas negativos desde o inicio do quadro.
É uma forma semelhante ao tipo residual mas sem a existência prévia de
sintomas psicóticos positivos e com a evolução para uma deterioração
funcional grave.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia simples
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O quadro clinico progride muito lentamente, revelando o doente, desde
início, um comportamento intolerante e irresponsável com desprezo pelas
obrigações sociais e desinteresse inexplicável pelos pais, familiares e amigos
íntimos.
Permanecem isolados, abúlicos e incapazes de tomar decisões, mantendo
um contacto social fraco e um relacionamento superficial com o sexo
oposto. Raramente veem ao médico, deambulam habitualmente pelas ruas
podendo ser “aproveitados” por grupos marginais cometendo pequenos
crimes, burlas, etc… Episódios irracionais de fúria podem surgir, levando-os
a executarem crimes extremamente brutais, consumados fria e
isoladamente.
Abúlico: ausência mórbida de vontade
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia indiferenciada
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Entidade clinica na qual os sintomas específicos do critério 1 da
esquizofrenia estão preenchidos mas que não satisfazem os critérios para os
tipos paranoide, hebefrénico (desorganizado) ou catatónico.
A experiência clinica atual tem demonstrado que as formas indiferenciadas e
paranoides tem vindo aumentar sobretudo nos países desenvolvidos.
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Mistura variada dos principais sintomas da esquizofrenia;
Classificação utilizada para pacientes que não podem ser incluídos em
qualquer das categorias mais específicas.
Tipos de Esquizofrenia
Esquizofrenia residual
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Manifesta-se pela existência no quadro clínico atual de sintomas negativos
(que são comuns) podendo o doente encontrar-se em remissão da
sintomatologia psicótica positiva proeminente- como por exemplo, delírios,
alucinações, discurso ou comportamento desorganizado- ou apresentar 2 ou
mais dos sintomas do critério 1 da esquizofrenia mas de forma atenuada tais
como crenças estranhas, leve afrouxamento da associação das ideias,
pensamento ilógico e comportamento estranho.
Esta forma clinica exige a presença de pelo menos um episódio de
esquizofrenia anterior à fase residual.
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Sinais menores de esquizofrenia seguidos de episódios mais sérios.
A. Sintomas característicos: 2 (ou mais) dos seguintes, cada um presente por
um porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos se
tratados com êxito):
 Ideias delirantes;
 Alucinações;
 Discurso desorganizado (por exemplo, descarrilamento ou incoerência
frequente);
 Comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico;
 Sintomas negativos, isto é, embotamento efetivo, alogia ou avaliação.
Nota: Só é necessário 1 sintoma de critério A, caso as ideias delirantes
possuam caráter bizarro ou as alucinações consistam numa voz comentando
o comportamento ou pensamento da pessoa ou 2 ou mais vozes
conversando entre elas.
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B. Disfunção social/ocupacional: desde o início da perturbação por um
período significativo de tempo uma ou mais áreas major do funcionamento
tal como trabalho, relacionamento interpessoal ou cuidado com o próprio,
estejam marcadamente abaixo do nível atingindo antes do início (ou quando
se inicia na infância ou na adolescência a incapacidade para atingir o nível
interpessoal, académico ou ocupacional esperado).
C. Duração: Os sinais contínuos da perturbação persistem pelo menos
durante 6 meses. Neste período de 6 meses devem estar incluídos pelo
menos 1 mês de sintomas (ou menos, se tratados com êxito) que preencham
o critério A (isto é, sintomas de fase ativa) e podem estar incluídos períodos
de sintomas prodrómicos (indicativos de patologia) ou residuais.
Durante estes períodos prodrómicos ou residuais os sinais da perturbação
podem manifestar-se apenas por sintomas negativos ou 2 ou mais dos
sintomas apresentados de forma atenuada enumerados no Critério A (por
exemplo, crenças estranhas, experiências percetivas pouco habituais.)
D. Exclusão de Perturbação Esquizoafetiva ou do Humor: a Perturbação
Esquizoafetiva ou a Perturbação do Humor com Características Psicóticas
tenham sido excluídas devido a (1) não tenham ocorrido simultaneamente com
os sintomas de fase ativa os Episódios de Depressão Major, Maníacos ou
Mistos; ou (2) caso os episódios de alteração do humor tenham ocorrido
durante os sintomas de fase ativa mas a sua duração total tenha sido mais
curta do que a duração dos períodos ativos e residuais.
E. Exclusão de perturbações relacionadas com ingestão de substâncias ou
perturbações físicas: a perturbação não seja devida aos efeitos fisiológicos
diretos de uma substância (por exemplo, abuso de drogas ou medicamentos)
ou a um estado físico geral.
F. Relação com a Perturbação Global do Desenvolvimento: caso exista história
de Perturbação Autística ou de outra Perturbação Global do Desenvolvimento, o
diagnóstico adicional de Esquizofrenia só é realizado se estiverem presentes
ideias delirantes ou alucinações dominantes pelo período mínimo de 1 mês (ou
menos, se tratadas com êxito).
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As manifestações clinicas da esquizofrenia surgem mais frequentemente na
adolescência tardia ou no início da idade adulta. A idade média do começo
da perturbação é mais baixa nos homens (18-25 anos) do que nas mulheres
(25-35 anos), mas pode ocorrer em qualquer altura da vida, sendo rara antes
dos 10 anos e depois dos 50 anos.
A doença começa de forma insidiosa ou aguda, sendo habitualmente
procedida por uma fase de pródromos que podem ser breves (horas ou dias)
ou mais longos (meses ou vários anos), verificando-se nestas circunstâncias
uma evolução gradual por uma fase de deterioração, sendo o prognóstico
muito desfavorável.
O diagnóstico de esquizofrenia é bastante linear nos indivíduos que
manifestam as formas crónicas e clássicas.
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Na fase inicial da sua evolução, porém, o diagnóstico é muito mais difícil.
Antes de diagnosticar esquizofrenia em indivíduos mais jovens que tiveram
um primeiro episódio de sintomas psicóticos, é especialmente importante
excluir a perturbação psicótica induzida por substâncias, a Perturbação do
Humor com características psicóticas ou uma das outras perturbações
psicóticas incluídas no presente capítulo.
O primeiro aparecimento de sintomas psicóticos no individuo mais idoso
pode indicar algumas vezes a esquizofrenia com inicio tardio, mas é mais
provável que seja devido á demência ou delirium, a uma perturbação
psicótica secundária a um estado físico geral, aos efeitos secundários dos
medicamentos, a uma perturbação do humor com características psicóticas
ou a perturbação delirante.
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Os sintomas depressivos são frequentemente associados e tem muitas vezes
importantes implicações no tratamento. Os indivíduos com a esquizofrenia
apresentam uma taxa de suicídio mais elevada (a risco de 10% a 20%).
Nos adolescentes e nos adultos pode mostrar-se difícil distinguir entre o
tipo residual da esquizofrenia e uma perturbação global do desenvolvimento
como a perturbação autística ou a perturbação de Asperger. Para traçar esta
distinção com rigor o médico deve recolher uma história completa,
normalmente a partir de pessoas que convivam com o doente, para
determinar se os sintomas apareceram na 1ª infância – facto que apontará
para um diagnóstico de perturbação global do desenvolvimento.
Os indivíduos com esta perturbação não se manifestam habitualmente de
ideias delirantes alucinações notórias. Se estas ocorrerem mais tarde algum e
assumirem alguma proeminência na apresentação podem ser feitos os dois
diagnósticos (perturbação global do desenvolvimento e esquizofrenia).
Os índices mais altos de esquizofrenia surgem nas classes socioeconómicas
ou mais baixas. Não é claro se esta relação é devida ao facto de os
esquizofrénicos tenderem a descer na hierarquia socioeconómica porque a
sua perturbação de personalidade interfere com o rendimento profissional,
ou se o ambiente socioeconómico mais baixo provoca maior tensão e,
portanto, fomenta a esquizofrenia.
 Um dado sugestivo é que índices mais altos de esquizofrenia correlacionados
com o status socioeconómico baixo ocorrem em grandes cidades mas
desaparecem em comunidades de menor população.
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Uma análise (Kohn, 1968) indica que certos fatores ambientais inerentes às
áreas mais pobres de grandes cidades estão relacionados com a ocorrência
de esquizofrenia.
As tensões devidas ao isolamento social e as dificuldades encontradas no
satisfazer as exigências da vida do dia-a-dia podem ser fatores importantes
para um individuo vulnerável à esquizofrenia.
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O facto de existirem componentes genéticos na esquizofrenia levanta
imediatamente problemas a respeito da natureza do mecanismo fisiológico
envolvido na transmissão hereditária. Tem-se apresentado muitas
especulações interessantes.
Todas elas sugerem que alguns processos bioquímicos, que em certos casos
interagem com reações de tensão, podem produzir a esquizofrenia. A
compreensão destas teorias exige um conhecimento intrincado de
bioquímico e neuro-anatomia.
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É trinta e cinco vezes mais provável que se torne esquizofrénica uma criança
com ambos os pais esquizofrénicos, que uma criança com os dois
progenitores normais. Além disso, uma criança com pai e mãe
esquizofrénicos tem mais do dobro das probabilidades de contrair a doença,
que uma criança com apenas um dos pais esquizofrénico (Rosenthal, 1966).
Tais dados poderiam confirmar a ideia de que a esquizofrenia vem da
família, de que é herdada.
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No entanto, poderia argumentar-se, como já sucedeu, que estes dados
podem refletir apenas os efeitos psicológicos perturbadores de um meio
familiar deficiente. No fim de contas, uma correlação positiva entre as
características possuídas por parentes próximos não reflete necessariamente
casualidade genética (consideremos o caso de ser rico ou pobre).
Se um gémeo é esquizofrénico então, segundo a hipótese genética, a
proporção da doença no outro gémeo deveria ser maior entre os gémeos
idênticos do que entre os fraternos.
A proporção de concordância é aproximadamente de 50% para os gémeos
idênticos e apenas cerca de 10% para os fraternos.
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A taxa de esquizofrenia entre irmãos criados por familiares e não familiares,
não esquizofrénicos, não era significativamente diferente da mesma taxa
entre irmãos criados na casa paterna, o que sugere que, nestes casos, o ser
criado por um pai esquizofrénico não é fator decisivo na contração da
esquizofrenia.
Fez-se igualmente uma comparação entre irmãos biológicos (verdadeiros) e
irmãos adotivos de esquizofrénicos, adotados antes do seu primeiro
aniversário.
Entre os irmãos biológicos, seis dos vinte e nove eram esquizofrénicos,
enquanto nenhum dos vinte e oito irmãos adotivos o era.
Todos estes dados confirmam a hipótese de a esquizofrenia ser resultado de
uma predisposição geneticamente determinada. A consequência desta
predisposição não se limita apenas à esquizofrenia.
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As pesquisas sobre fatores de risco do ambiente na esquizofrenia são muito
difíceis de serem realizadas, pela alta complexidade metodológica.
O ambiente pode influenciar a doença nas etapas mais precoces do
desenvolvimento cerebral, da gestação à primeira infância. É nesse período
que o cérebro é mais sensível, por estar crescendo com rapidez e depender
do ambiente para o aperfeiçoamento de suas funções. Esta etapa também é
aquela em que os genes de regulação do desenvolvimento estão mais ativos
e que, na presença de variáveis genéticas da esquizofrenia, podem interferir
em processos naturais do desenvolvimento.
A adolescência é um outro momento delicado, pois o cérebro começa a
moldar-se para a vida adulta. A esquizofrenia pode estar relacionada com
conexões “erradas” entre os neurônios. Fatores ambientais na adolescência
podem influenciar esse processo, desencadeando o primeiro surto da
doença.
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As crianças que mais tarde são vítimas de esquizofrenia conhecidas como
pré-esquizofrénicas, tem uma relação inadequada com um ou ambos os
pais. Por um lado, é mais alta do que a média a frequência de perturbações
na personalidade entre os pais das crianças pré-esquizofrénicas. Além disso,
surgem frequentemente conflitos entre os pais, ao educar o filho préesquizofrénico.
Cada pai tende a educar e a disciplinar o filho de maneira diferente da do
outro, colocando assim a criança em conflito contínuo relativamente ao
modo como deve comportar-se e apresentando-lhe um quadro
desorientador de conduta socialmente aprovada.
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A mãe e o pai lutam muitas vezes pela afeição do filho pré-esquizofrénico,
procurando nele a simpatia e o calor que não existem no cônjuge. Noutros
casos, um dos pais, em geral a mãe, tem papel dominante na educação da
criança, enquanto o outro se retira apaticamente (Lidz, Fleck e Cornelison,
1965).
Muitas mães de esquizofrénicos são conhecidas esquizofrenogénicas:
alimentam a esquizofrenia nos filhos.
Tais mães foram descritas como “frias, perfeccionistas, ansiosas,
hiperdominantes, restritivas… Um tipo de pessoa incapaz de oferecer à
criança amor espontâneo e aceitação” (Clausen e Kohn, 1968). Quando tal
mãe cuida da educação da criança pré-esquizofrénica, o pai demite-se das
responsabilidades paternas.
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Outros investigadores (Hillgard e Newman, 1963; Wahl, 1956) notaram que
as crianças pré-esquizofrénicas perderam um ou os dois pais, por
falecimento, numa idade relativamente mais tenra que os meninos normais.
Se a esquizofrenia é função das perturbações familiares, como pode ela ser
relacionada com a ausência de um ou de ambos os pais? A resposta é que a
criança vive num meio em grande parte formado pelas suas interações com
os pais.
As suas conceções do bem ou do mal, as suas previsões a respeito do tipo
de comportamento que será recompensando ou punido e as reações a si
mesma são moldadas pelo comportamento dos pais e pelas comunicações
entre estes e a criança. Pais psicologicamente perturbados e em desacordo
um com o outro ou a morte de um de ambos podem dar origem a um
ambiente mutável e incoerente, caso se não disponha de substitutos dos
mesmos.
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As medidas de caráter profilático para as esquizofrenias devem incidir na
diminuição ou supressão dos possíveis fatores patogénicos: genéticos e
ambientais.
As investigações mais atuais de cariz etiológico têm-se orientado para a
tensão de situações de risco, tentando identificar quais os indivíduos que
apresentam possibilidades de desenvolverem a doença. Os principais fatores
de risco tem sido identificados nesta área são os seguintes: História familiar
de esquizofrenia; Nível de funcionamento pré-mórbido deficiente; Má
adaptação escolar e nível de escolaridade pobre; Complicações fetais e no
parto; Época do nascimento; Anormalidades psicomotoras e défices
cognitivos (atenção, neuro integrativo). A identificação destas situações
tomará possível uma intervenção preventiva precoce a nível primário, nos
prováveis fatores de risco psicossociais e biológicos.
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A prevenção secundária e terciária articula-se com a própria intervenção
terapêutica.
Nas fases de psicose em atividade impõe-se um diagnóstico e tratamento
corretos e precoces, podendo levar, eventualmente, a internamento
hospitalar.
Os medicamentos anti psicóticos típicos (risperidona, olanzapina, clozapina),
com atividade anti psicótica organizadora (sintomas positivos) e eficácia na
sintomatologia negativa e do humor e com um perfil de efeitos secundários
reduzidos, principalmente a nível extrapiramidal, são as medidas mais
recomendáveis recaindo a sua escolha nas particularidades do quadro
clinico.
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Nalguns doentes ambulatórios que cooperam mal com o tratamento um
suporte familiar deficiente, as formas neurolépticas de ação prolongada
poderão ser úteis.
O estabelecimento de uma relação de confiança, ajudando o doente e a sua
família a compreender e aceitar a enfermidade; medidas de carater
psicopedagógico explicando a necessidade contínua da medicação; um
ambiente familiar realista e agradável e as tentativas de melhorar a
capacidade dos doentes em resolver os seus problemas, com consequente
redução dos níveis de stress tao prejudiciais para estas pessoas e para os
seus familiares, são atitudes que deverão ser tomadas desde início.
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
A nível terciário, conjuntamente com os tratamentos biológicos que poderão
ser úteis (sobretudo os anti psicóticos a típicos que facilitam a reintegração e
melhoram a sua qualidade de vida; a colaboração de equipas multidisciplinar
é primordial, visando, por exemplo, o treino das aptidões sociais, as técnicas
de resolução de problemas e outras, com objetivo de contribuir para a
reintegração do doente no seu ambiente familiar e socio profissional.
A psicoterapia é outro aspeto importante do tratamento. Geralmente, o
objetivo da psicoterapia é estabelecer uma relação de colaboração entre o
doente, a família e o médico. Desse modo o doente pode compreender e
aprender a manejar a sua doença, a tomar medicamentos anti-psicóticos
como lhe foram prescritos e a tratar as situações stressantes que possam
agravar a doença.
Jovem de 30 anos- advogado;
B. advogado de 30 anos de idade, foi
trazido
algemado
a
urgência.
Apresenta-se um desalinho, grita e
estrebucha com os polícias que o
trouxeram. O doente esta obviamente
a ouvir vozes, porque lhe dirige
réplicas aos gritos e em tom
beligerante («Afastem-se de mim – não
o farei»), embora negue ouvi-las. Tem
um
olhar
hipervigilante
e
é
sobressaltado mesmo por sons débeis
provenientes do exterior da sala de
observações.
Admite francamente que espera ser
assassinado a todo o instante e
implora desesperadamente que o
deixem fugir.
B. encontrou-se bem até há 3 meses
atrás. Depois de se ter licenciado em
direito, obteve um emprego rendoso
numa
prestigiada
sociedade
de
advogados e estava para se casar. O
doente poderia ser descrito como uma
pessoa um pouco conflituosa e
quezilenta, mas estas características
não incapacitaram a sua vida social
nem profissional.
Mas um dia, o céu desabou sobre ele,
sem prever, a noiva abandonou o
apartamento que ambos habitavam.
O doente ficou espantado e ultrajado,
sentindo grande autocomiseração.
Decidiu que podia reconquista-la e
começou a engendrar «encontros
acidentais» à porta da nova habitação
da ex-namorada e da empresa onde
ela trabalhava. Quando ela lhe pediu
que respeita-se a sua privacidade, B.
começou a ficar preocupado com a
ideia que ela o trocara por outro
homem e passou a segui-la, a fim de a
surpreender neste ato de traição.
Pouco tempo passou antes que a nova
atividade profissional se começasse a
ressentir com esta situação. Poucas
semanas depois foi severamente
repreendido e admoestado para que
cumprisse
os seus deveres de
assiduidade,
pontualidade
e
produtividade. Daqui resultou que B.
se sentisse muito ressentido com o
patrão. Ficou cada vez mais revoltado
com a forma como tinha sido criticado
e humilhado. Não conseguia abstrairse do rosto zombeteiro do seu
superior. No espaço de uma semana,
juntou diversas pistas e sinais e
concluiu que o seu supervisor e a
antiga namorada tinham um caso
amoroso
A sua suposição foi confirmada por uma voz
masculina
provavelmente
a
do
seu
supervisor, que escarnecia por ser «maricas»
e «simplório». A voz ordenava-lhe que se
despedisse do emprego e esquecesse a
namorada. B. sentiu-se determinado em não
dar tal prazer ao seu supervisor.
Continuo a trabalhar e, de noite, a seguir a
namorada. Convenceu-se que as secretarias
do escritório conspiravam contra ele quando
se juntavam nas pausas do trabalho. Toda a
empresa parecia estar corrente da sua
situação e a intrigar contra ele. Começou a
suspeitar que a sua vida se encontrava em
perigo e acreditava que precisava de
proteção da polícia.
Pensou também em comprar uma arma e
atacar intempestivamente aqueles que o
atormentavam.
Considerava-se uma vítima inocente em todo
este episódio. O sono era interrompido por
pesadelos, embora conseguisse habitualmente
voltar a dormir sem dificuldades. Não perdeu
peso nem teve outros sintomas vegetativos. O
seu afeto alternava entre a raiva e o terror. A
sua mente estava invulgarmente alerta e ativa,
mas não se encontrava qualquer outro modo
imperativo, excessivamente energético ou
expansivo.
Não manifestou qualquer perturbação dos
aspetos formais do seu pensamento.
O doente foi hospitalizado e tratado com
medicação antipsicótica.
Após algumas semanas de melhoras graduais,
os seus sintomas psicóticos remitiram e ele
conseguiu voltar a trabalhar pouco tempo
depois.
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61 anos
Masculino
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Aos 22 anos, depois do serviço militar.
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Agressividade, insónias, alucinações visuais (afirmava que lhe
queriam fazer mal).
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Outras hipóteses, uma delas a separação dos pais ou o serviço
militar em África.
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Não foi realizado nenhum diagnóstico ou exame, o individuo foi
logo dirigido aos psicólogos e psiquiatras.
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Foi prescrita medicação para dormir e acalmar (calmantes),
psicoterapia não.
O individuo só tomava quando lhe apetecia pensando ser para aliviar
uma dor no peito e ainda hoje não reconhece o seu problema.

Rejeita comida com medo de morrer, de ser enganado ou
envenenado, porém ao pé do psiquiatra age normalmente porque
sabe que está a ser avaliado.


Inicialmente, na escola, não queria seguir os estudos por achar que
era “doutor”. Apesar de ser inteligente e de ter notas altas, a sua
relação com os professores não era a melhor.
Também têm tendência a inferiorizar as mulheres, chegando mesmo
a bater na sua esposa.


Não são pessoas fáceis de aceitar conselhos ou ajudas, são
desconfiadas portanto quando está a ser medicado não sabe que é
para a sua doença mas para aliviar uma dor no peito.
O conselho seria aceitar a ajuda proposta.
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Paciência, muito amor, não se deixar ir a baixo, procurar ajuda o
mais breve possível, nem que os levem enganados.


Sim, qualquer pessoa com doença mental é considerada maluca.
Os doentes que eu conheço são medicados e escondem essa
confissão para evitar que as pessoas saibam e os ponham de parte
(sejam afastados).
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
Sessões de esclarecimento dadas por técnicos especializados
(psicólogos, psiquiatras) e testemunhos de casos.
Informar que com medicação o problema é controlável e que os
familiares e doentes reconheçam que tem a doença e precisam de
ajuda.
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Informação retirada de vários livros entregues pela professora onde
se encontram os autores: Kendler, Feldman e a “Esquizofrenia e
Outras Perturbações Psicóticas”
Enciclopédia Médica.
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Esquizofrenia - Psicopatologia