Agrupamento de Escolas de Mértola EB 2,3/ ES. Sebastião de Mértola Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial-3ºano Ano Letivo 2013/14 Disciplina de Psicopatologia Geral Módulo 6 – Nosologia Psíquica Trabalho realizado pelas alunas: Ana Carrilho, nº3 Dalila Santos nº 5 Jéssica Costa, nº 8 Neste trabalho iremos analisar em termos gerais a esquizofrenia: definir a patologia, os seus vários tipos, sintomas, quando se manifesta, as suas causas, fatores de influência, o impacto da doença na relação familiar, alguns casos clínicos e até uma entrevista sobre uma pessoa esquizofrénica. Os casos clínicos são também uma boa forma de compreendermos o impacto desta patologia, numa perspectiva mais pessoal. A influência socioeconómica é um assunto com um maior nível de relevância, sendo que um esquizofrénico sem apoio familiar, poderá acabar sozinho, sem dinheiro e sem casa. Também iremos abordar o impacto na relação familiar, por exemplo na vida das crianças e dos pais. Por fim, apresentamos as diferentes formas de controlar/tratar esta perturbação e de evitar o pior. Esperemos que o trabalho seja claro e ajude na compreensão desta patologia cada vez mais frequente na sociedade e nas camas de hospitais. Definição de Esquizofrenia Tipos de Esquizofrenia Sintomas\Sinais de esquizofrenia de acordo com o DSM-IV Sugestões de orientação para o diagnóstico de esquizofrenia Quando se manifesta a esquizofrenia- Influência socioeconómica A esquizofrenia é uma perturbação mental grave caraterizada por uma perda de contacto com a realidade (psicose), alucinações, delírios (crenças falsas), pensamento anormal e alteração do funcionamento social e laboral. A esquizofrenia é um problema de saúde pública de primeira grandeza em todo o mundo. A prevalência da esquizofrenia no mundo parece ser algo inferior a 1%, embora se tenham identificado zonas de maior ou de menor prevalência. Em alguns países as pessoas com esquizofrenia ocupam cerca de 25% das camas dos hospitais. A esquizofrenia tem maior prevalência do que a doença de Alzheimer, a diabetes ou a esclerose múltipla. Pouco menos de 1% da população é hospitalizado uma vez na vida por causa da esquizofrenia. Embora os esquizofrénicos representem apenas cerca de metade das novas admissões nos hospitais psiquiátricos, ocupam cerca de dois terços das camas por causa do internamento mais longo, em relação aos doentes das outras categorias diagnósticas. Os esquizofrénicos apresentam um declínio no nível de funcionamento, pois o individuo deixa de conseguir levar a cabo atividades que outrora realizava. Verificam-se distúrbios de pensamento e de linguagem: utilizam a lógica e a linguagem de uma forma peculiar. O seu pensamento muitas vezes não faz sentido, e o seu processamento de informação é frequentemente imperfeito. Também não seguem regras linguísticas convencionais. Esquizofrenia Paranoide: Os delírios primários associados a ideias delirantes secundárias e as alucinações podem constituir os primeiros e únicos sintomas. As alterações características do pensamento e da vontade, a desorganização do discurso e do comportamento e o afeto embotado (dificuldade em expressar emoções e sentimentos) ou inapropriado não são proeminentes. Nas fases iniciais o doente pode conseguir adaptar-se à vida diária, dissimulando ideias e sentimentos absurdos, mas à medida que a psicose avança, referências e explicações delirantes para o que acontece, invadem o “EU”, tornando o quadro clinico evidente, observando-se, contudo, uma relativa preservação do afeto e das funções cognitivas, embora a doença evolua para uma deterioração da personalidade. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia Paranoide Os doentes são reservados, circunspectos, desconfiados e hostis. Suspeitam que lhes querem fazer mal e relacionam acontecimentos do dia-a-dia como dirigidos para si próprios. Apresentam tipicamente ideias delirantes de perseguição e de grandeza ou outras (ciúmes, místicas ou somáticas), acompanhadas de alucinação acústico-verbais (por exemplo, vozes acusatórias, que lhe dão ordens, comentam a sua vida e entram na intimidade). Delírios e alucinações de perseguição ou de grandeza; Perda de julgamento; Comportamento errático e imprevisível. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia Hebefrénica (hebefrenia significa perturbação psicológica na adolescência): É mais frequente entre os jovens (15-25 anos), apresentando um prognóstico mais reservado do que a esquizofrenia paranoide. Começa, em regra, insidiosamente, sob a forma de queixas depressivas (frequentes como o 1º. sinal), introversão e ansiedade (donde a designação tradicional de “disfarces comuns da hebefrenia” ou “formas pseudo-neuróticas”) mas vivências de estranheza e sentimentos de perplexidade podem também surgir nesta fase. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia Hebefrénica (hebefrenia significa perturbação psicológica na adolescência): Dificuldades de concentração e adaptação ao trabalho ou fracasso escolar repetido, podem levar inadvertidamente ao diagnóstico de debilidade mental. Manifestam profunda alteração no cuidado pessoal (apresentação, vestuário e alimentação) e intensa perturbação nas áreas impulsiva e afetiva, com comportamento marcadamente regredido, desinibido e desorganizado e contacto pobre e inadequado com a realidade e com as outras pessoas, não sendo raro as atitudes primárias do afeto com eventual passagem ao ato (acting out). Gargalhadas e risos inapropriados Parvoíce Discurso incoerente Comportamento infantil Comportamento estranho e algumas vezes obsceno. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia catatónica É a menos comum das cinco formas indicadas, pelo menos nos países desenvolvidos e industrializados, ainda que se mantenha frequente noutras populações como as africanas. Manifesta-se clinicamente por, pelo menos, dois dos seguintes sintomas psicomotores característicos: acinésia (catalepsia ou estupor); agitação extrema; negativismo intenso ou mutismo; peculiaridades dos movimentos voluntários (por exemplo, estereotipias, maneirismos, caretas); ecolália ou ecopraxia; e por perturbações da vontade e da esfera emocional, exigindose a presença concomitante de sintomas típicos da esquizofrenia. Ecolália: repetição automáica de palavras ou sons ouvidos. Ecopraxia: repetição involuntária ou a imitação dos movimentos de outras pessoas. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia catatónica Em lugar de mostrar fexibilitas cerea (estado em que o doente permanece na posição em que é colocado), alguns catatónicos resistem ativamente a qualquer mudança de posição. Com grande resistência, um braço pode ser esticado pelo médico, mas imediatamente a seguir é solto e volta à posição primitiva. O paciente em estupor catatónico parece não ter consciência do que está a passar-se à sua volta. No entanto, às vezes pode vir a recordar tudo o que se passou enquanto estava nessa posição. Maiores distúrbios no movimento; em algumas fases, perda de todo o movimento, com o paciente imóvel numa posição única, permanecendo dessa forma durante horas e algumas vezes mesmo dias; Noutras fases hiperatividade e algumas vezes movimentos violentos. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia simples Começa habitualmente no fim da adolescência sendo menos comum após a puberdade. É um quadro relativamente raro, que se desenvolve insidiosamente, nalguns casos após um breve sobressalto psicótico, sem sintomatologia evidente, estabelecendo a transição entre a personalidade esquizoide ou a esquizotímica e a esquizofrenia com predomínio de sintomas negativos desde o inicio do quadro. É uma forma semelhante ao tipo residual mas sem a existência prévia de sintomas psicóticos positivos e com a evolução para uma deterioração funcional grave. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia simples O quadro clinico progride muito lentamente, revelando o doente, desde início, um comportamento intolerante e irresponsável com desprezo pelas obrigações sociais e desinteresse inexplicável pelos pais, familiares e amigos íntimos. Permanecem isolados, abúlicos e incapazes de tomar decisões, mantendo um contacto social fraco e um relacionamento superficial com o sexo oposto. Raramente veem ao médico, deambulam habitualmente pelas ruas podendo ser “aproveitados” por grupos marginais cometendo pequenos crimes, burlas, etc… Episódios irracionais de fúria podem surgir, levando-os a executarem crimes extremamente brutais, consumados fria e isoladamente. Abúlico: ausência mórbida de vontade Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia indiferenciada Entidade clinica na qual os sintomas específicos do critério 1 da esquizofrenia estão preenchidos mas que não satisfazem os critérios para os tipos paranoide, hebefrénico (desorganizado) ou catatónico. A experiência clinica atual tem demonstrado que as formas indiferenciadas e paranoides tem vindo aumentar sobretudo nos países desenvolvidos. Mistura variada dos principais sintomas da esquizofrenia; Classificação utilizada para pacientes que não podem ser incluídos em qualquer das categorias mais específicas. Tipos de Esquizofrenia Esquizofrenia residual Manifesta-se pela existência no quadro clínico atual de sintomas negativos (que são comuns) podendo o doente encontrar-se em remissão da sintomatologia psicótica positiva proeminente- como por exemplo, delírios, alucinações, discurso ou comportamento desorganizado- ou apresentar 2 ou mais dos sintomas do critério 1 da esquizofrenia mas de forma atenuada tais como crenças estranhas, leve afrouxamento da associação das ideias, pensamento ilógico e comportamento estranho. Esta forma clinica exige a presença de pelo menos um episódio de esquizofrenia anterior à fase residual. Sinais menores de esquizofrenia seguidos de episódios mais sérios. A. Sintomas característicos: 2 (ou mais) dos seguintes, cada um presente por um porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos se tratados com êxito): Ideias delirantes; Alucinações; Discurso desorganizado (por exemplo, descarrilamento ou incoerência frequente); Comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico; Sintomas negativos, isto é, embotamento efetivo, alogia ou avaliação. Nota: Só é necessário 1 sintoma de critério A, caso as ideias delirantes possuam caráter bizarro ou as alucinações consistam numa voz comentando o comportamento ou pensamento da pessoa ou 2 ou mais vozes conversando entre elas. B. Disfunção social/ocupacional: desde o início da perturbação por um período significativo de tempo uma ou mais áreas major do funcionamento tal como trabalho, relacionamento interpessoal ou cuidado com o próprio, estejam marcadamente abaixo do nível atingindo antes do início (ou quando se inicia na infância ou na adolescência a incapacidade para atingir o nível interpessoal, académico ou ocupacional esperado). C. Duração: Os sinais contínuos da perturbação persistem pelo menos durante 6 meses. Neste período de 6 meses devem estar incluídos pelo menos 1 mês de sintomas (ou menos, se tratados com êxito) que preencham o critério A (isto é, sintomas de fase ativa) e podem estar incluídos períodos de sintomas prodrómicos (indicativos de patologia) ou residuais. Durante estes períodos prodrómicos ou residuais os sinais da perturbação podem manifestar-se apenas por sintomas negativos ou 2 ou mais dos sintomas apresentados de forma atenuada enumerados no Critério A (por exemplo, crenças estranhas, experiências percetivas pouco habituais.) D. Exclusão de Perturbação Esquizoafetiva ou do Humor: a Perturbação Esquizoafetiva ou a Perturbação do Humor com Características Psicóticas tenham sido excluídas devido a (1) não tenham ocorrido simultaneamente com os sintomas de fase ativa os Episódios de Depressão Major, Maníacos ou Mistos; ou (2) caso os episódios de alteração do humor tenham ocorrido durante os sintomas de fase ativa mas a sua duração total tenha sido mais curta do que a duração dos períodos ativos e residuais. E. Exclusão de perturbações relacionadas com ingestão de substâncias ou perturbações físicas: a perturbação não seja devida aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo, abuso de drogas ou medicamentos) ou a um estado físico geral. F. Relação com a Perturbação Global do Desenvolvimento: caso exista história de Perturbação Autística ou de outra Perturbação Global do Desenvolvimento, o diagnóstico adicional de Esquizofrenia só é realizado se estiverem presentes ideias delirantes ou alucinações dominantes pelo período mínimo de 1 mês (ou menos, se tratadas com êxito). As manifestações clinicas da esquizofrenia surgem mais frequentemente na adolescência tardia ou no início da idade adulta. A idade média do começo da perturbação é mais baixa nos homens (18-25 anos) do que nas mulheres (25-35 anos), mas pode ocorrer em qualquer altura da vida, sendo rara antes dos 10 anos e depois dos 50 anos. A doença começa de forma insidiosa ou aguda, sendo habitualmente procedida por uma fase de pródromos que podem ser breves (horas ou dias) ou mais longos (meses ou vários anos), verificando-se nestas circunstâncias uma evolução gradual por uma fase de deterioração, sendo o prognóstico muito desfavorável. O diagnóstico de esquizofrenia é bastante linear nos indivíduos que manifestam as formas crónicas e clássicas. Na fase inicial da sua evolução, porém, o diagnóstico é muito mais difícil. Antes de diagnosticar esquizofrenia em indivíduos mais jovens que tiveram um primeiro episódio de sintomas psicóticos, é especialmente importante excluir a perturbação psicótica induzida por substâncias, a Perturbação do Humor com características psicóticas ou uma das outras perturbações psicóticas incluídas no presente capítulo. O primeiro aparecimento de sintomas psicóticos no individuo mais idoso pode indicar algumas vezes a esquizofrenia com inicio tardio, mas é mais provável que seja devido á demência ou delirium, a uma perturbação psicótica secundária a um estado físico geral, aos efeitos secundários dos medicamentos, a uma perturbação do humor com características psicóticas ou a perturbação delirante. Os sintomas depressivos são frequentemente associados e tem muitas vezes importantes implicações no tratamento. Os indivíduos com a esquizofrenia apresentam uma taxa de suicídio mais elevada (a risco de 10% a 20%). Nos adolescentes e nos adultos pode mostrar-se difícil distinguir entre o tipo residual da esquizofrenia e uma perturbação global do desenvolvimento como a perturbação autística ou a perturbação de Asperger. Para traçar esta distinção com rigor o médico deve recolher uma história completa, normalmente a partir de pessoas que convivam com o doente, para determinar se os sintomas apareceram na 1ª infância – facto que apontará para um diagnóstico de perturbação global do desenvolvimento. Os indivíduos com esta perturbação não se manifestam habitualmente de ideias delirantes alucinações notórias. Se estas ocorrerem mais tarde algum e assumirem alguma proeminência na apresentação podem ser feitos os dois diagnósticos (perturbação global do desenvolvimento e esquizofrenia). Os índices mais altos de esquizofrenia surgem nas classes socioeconómicas ou mais baixas. Não é claro se esta relação é devida ao facto de os esquizofrénicos tenderem a descer na hierarquia socioeconómica porque a sua perturbação de personalidade interfere com o rendimento profissional, ou se o ambiente socioeconómico mais baixo provoca maior tensão e, portanto, fomenta a esquizofrenia. Um dado sugestivo é que índices mais altos de esquizofrenia correlacionados com o status socioeconómico baixo ocorrem em grandes cidades mas desaparecem em comunidades de menor população. Uma análise (Kohn, 1968) indica que certos fatores ambientais inerentes às áreas mais pobres de grandes cidades estão relacionados com a ocorrência de esquizofrenia. As tensões devidas ao isolamento social e as dificuldades encontradas no satisfazer as exigências da vida do dia-a-dia podem ser fatores importantes para um individuo vulnerável à esquizofrenia. O facto de existirem componentes genéticos na esquizofrenia levanta imediatamente problemas a respeito da natureza do mecanismo fisiológico envolvido na transmissão hereditária. Tem-se apresentado muitas especulações interessantes. Todas elas sugerem que alguns processos bioquímicos, que em certos casos interagem com reações de tensão, podem produzir a esquizofrenia. A compreensão destas teorias exige um conhecimento intrincado de bioquímico e neuro-anatomia. É trinta e cinco vezes mais provável que se torne esquizofrénica uma criança com ambos os pais esquizofrénicos, que uma criança com os dois progenitores normais. Além disso, uma criança com pai e mãe esquizofrénicos tem mais do dobro das probabilidades de contrair a doença, que uma criança com apenas um dos pais esquizofrénico (Rosenthal, 1966). Tais dados poderiam confirmar a ideia de que a esquizofrenia vem da família, de que é herdada. No entanto, poderia argumentar-se, como já sucedeu, que estes dados podem refletir apenas os efeitos psicológicos perturbadores de um meio familiar deficiente. No fim de contas, uma correlação positiva entre as características possuídas por parentes próximos não reflete necessariamente casualidade genética (consideremos o caso de ser rico ou pobre). Se um gémeo é esquizofrénico então, segundo a hipótese genética, a proporção da doença no outro gémeo deveria ser maior entre os gémeos idênticos do que entre os fraternos. A proporção de concordância é aproximadamente de 50% para os gémeos idênticos e apenas cerca de 10% para os fraternos. A taxa de esquizofrenia entre irmãos criados por familiares e não familiares, não esquizofrénicos, não era significativamente diferente da mesma taxa entre irmãos criados na casa paterna, o que sugere que, nestes casos, o ser criado por um pai esquizofrénico não é fator decisivo na contração da esquizofrenia. Fez-se igualmente uma comparação entre irmãos biológicos (verdadeiros) e irmãos adotivos de esquizofrénicos, adotados antes do seu primeiro aniversário. Entre os irmãos biológicos, seis dos vinte e nove eram esquizofrénicos, enquanto nenhum dos vinte e oito irmãos adotivos o era. Todos estes dados confirmam a hipótese de a esquizofrenia ser resultado de uma predisposição geneticamente determinada. A consequência desta predisposição não se limita apenas à esquizofrenia. As pesquisas sobre fatores de risco do ambiente na esquizofrenia são muito difíceis de serem realizadas, pela alta complexidade metodológica. O ambiente pode influenciar a doença nas etapas mais precoces do desenvolvimento cerebral, da gestação à primeira infância. É nesse período que o cérebro é mais sensível, por estar crescendo com rapidez e depender do ambiente para o aperfeiçoamento de suas funções. Esta etapa também é aquela em que os genes de regulação do desenvolvimento estão mais ativos e que, na presença de variáveis genéticas da esquizofrenia, podem interferir em processos naturais do desenvolvimento. A adolescência é um outro momento delicado, pois o cérebro começa a moldar-se para a vida adulta. A esquizofrenia pode estar relacionada com conexões “erradas” entre os neurônios. Fatores ambientais na adolescência podem influenciar esse processo, desencadeando o primeiro surto da doença. As crianças que mais tarde são vítimas de esquizofrenia conhecidas como pré-esquizofrénicas, tem uma relação inadequada com um ou ambos os pais. Por um lado, é mais alta do que a média a frequência de perturbações na personalidade entre os pais das crianças pré-esquizofrénicas. Além disso, surgem frequentemente conflitos entre os pais, ao educar o filho préesquizofrénico. Cada pai tende a educar e a disciplinar o filho de maneira diferente da do outro, colocando assim a criança em conflito contínuo relativamente ao modo como deve comportar-se e apresentando-lhe um quadro desorientador de conduta socialmente aprovada. A mãe e o pai lutam muitas vezes pela afeição do filho pré-esquizofrénico, procurando nele a simpatia e o calor que não existem no cônjuge. Noutros casos, um dos pais, em geral a mãe, tem papel dominante na educação da criança, enquanto o outro se retira apaticamente (Lidz, Fleck e Cornelison, 1965). Muitas mães de esquizofrénicos são conhecidas esquizofrenogénicas: alimentam a esquizofrenia nos filhos. Tais mães foram descritas como “frias, perfeccionistas, ansiosas, hiperdominantes, restritivas… Um tipo de pessoa incapaz de oferecer à criança amor espontâneo e aceitação” (Clausen e Kohn, 1968). Quando tal mãe cuida da educação da criança pré-esquizofrénica, o pai demite-se das responsabilidades paternas. Outros investigadores (Hillgard e Newman, 1963; Wahl, 1956) notaram que as crianças pré-esquizofrénicas perderam um ou os dois pais, por falecimento, numa idade relativamente mais tenra que os meninos normais. Se a esquizofrenia é função das perturbações familiares, como pode ela ser relacionada com a ausência de um ou de ambos os pais? A resposta é que a criança vive num meio em grande parte formado pelas suas interações com os pais. As suas conceções do bem ou do mal, as suas previsões a respeito do tipo de comportamento que será recompensando ou punido e as reações a si mesma são moldadas pelo comportamento dos pais e pelas comunicações entre estes e a criança. Pais psicologicamente perturbados e em desacordo um com o outro ou a morte de um de ambos podem dar origem a um ambiente mutável e incoerente, caso se não disponha de substitutos dos mesmos. As medidas de caráter profilático para as esquizofrenias devem incidir na diminuição ou supressão dos possíveis fatores patogénicos: genéticos e ambientais. As investigações mais atuais de cariz etiológico têm-se orientado para a tensão de situações de risco, tentando identificar quais os indivíduos que apresentam possibilidades de desenvolverem a doença. Os principais fatores de risco tem sido identificados nesta área são os seguintes: História familiar de esquizofrenia; Nível de funcionamento pré-mórbido deficiente; Má adaptação escolar e nível de escolaridade pobre; Complicações fetais e no parto; Época do nascimento; Anormalidades psicomotoras e défices cognitivos (atenção, neuro integrativo). A identificação destas situações tomará possível uma intervenção preventiva precoce a nível primário, nos prováveis fatores de risco psicossociais e biológicos. A prevenção secundária e terciária articula-se com a própria intervenção terapêutica. Nas fases de psicose em atividade impõe-se um diagnóstico e tratamento corretos e precoces, podendo levar, eventualmente, a internamento hospitalar. Os medicamentos anti psicóticos típicos (risperidona, olanzapina, clozapina), com atividade anti psicótica organizadora (sintomas positivos) e eficácia na sintomatologia negativa e do humor e com um perfil de efeitos secundários reduzidos, principalmente a nível extrapiramidal, são as medidas mais recomendáveis recaindo a sua escolha nas particularidades do quadro clinico. Nalguns doentes ambulatórios que cooperam mal com o tratamento um suporte familiar deficiente, as formas neurolépticas de ação prolongada poderão ser úteis. O estabelecimento de uma relação de confiança, ajudando o doente e a sua família a compreender e aceitar a enfermidade; medidas de carater psicopedagógico explicando a necessidade contínua da medicação; um ambiente familiar realista e agradável e as tentativas de melhorar a capacidade dos doentes em resolver os seus problemas, com consequente redução dos níveis de stress tao prejudiciais para estas pessoas e para os seus familiares, são atitudes que deverão ser tomadas desde início. A nível terciário, conjuntamente com os tratamentos biológicos que poderão ser úteis (sobretudo os anti psicóticos a típicos que facilitam a reintegração e melhoram a sua qualidade de vida; a colaboração de equipas multidisciplinar é primordial, visando, por exemplo, o treino das aptidões sociais, as técnicas de resolução de problemas e outras, com objetivo de contribuir para a reintegração do doente no seu ambiente familiar e socio profissional. A psicoterapia é outro aspeto importante do tratamento. Geralmente, o objetivo da psicoterapia é estabelecer uma relação de colaboração entre o doente, a família e o médico. Desse modo o doente pode compreender e aprender a manejar a sua doença, a tomar medicamentos anti-psicóticos como lhe foram prescritos e a tratar as situações stressantes que possam agravar a doença. Jovem de 30 anos- advogado; B. advogado de 30 anos de idade, foi trazido algemado a urgência. Apresenta-se um desalinho, grita e estrebucha com os polícias que o trouxeram. O doente esta obviamente a ouvir vozes, porque lhe dirige réplicas aos gritos e em tom beligerante («Afastem-se de mim – não o farei»), embora negue ouvi-las. Tem um olhar hipervigilante e é sobressaltado mesmo por sons débeis provenientes do exterior da sala de observações. Admite francamente que espera ser assassinado a todo o instante e implora desesperadamente que o deixem fugir. B. encontrou-se bem até há 3 meses atrás. Depois de se ter licenciado em direito, obteve um emprego rendoso numa prestigiada sociedade de advogados e estava para se casar. O doente poderia ser descrito como uma pessoa um pouco conflituosa e quezilenta, mas estas características não incapacitaram a sua vida social nem profissional. Mas um dia, o céu desabou sobre ele, sem prever, a noiva abandonou o apartamento que ambos habitavam. O doente ficou espantado e ultrajado, sentindo grande autocomiseração. Decidiu que podia reconquista-la e começou a engendrar «encontros acidentais» à porta da nova habitação da ex-namorada e da empresa onde ela trabalhava. Quando ela lhe pediu que respeita-se a sua privacidade, B. começou a ficar preocupado com a ideia que ela o trocara por outro homem e passou a segui-la, a fim de a surpreender neste ato de traição. Pouco tempo passou antes que a nova atividade profissional se começasse a ressentir com esta situação. Poucas semanas depois foi severamente repreendido e admoestado para que cumprisse os seus deveres de assiduidade, pontualidade e produtividade. Daqui resultou que B. se sentisse muito ressentido com o patrão. Ficou cada vez mais revoltado com a forma como tinha sido criticado e humilhado. Não conseguia abstrairse do rosto zombeteiro do seu superior. No espaço de uma semana, juntou diversas pistas e sinais e concluiu que o seu supervisor e a antiga namorada tinham um caso amoroso A sua suposição foi confirmada por uma voz masculina provavelmente a do seu supervisor, que escarnecia por ser «maricas» e «simplório». A voz ordenava-lhe que se despedisse do emprego e esquecesse a namorada. B. sentiu-se determinado em não dar tal prazer ao seu supervisor. Continuo a trabalhar e, de noite, a seguir a namorada. Convenceu-se que as secretarias do escritório conspiravam contra ele quando se juntavam nas pausas do trabalho. Toda a empresa parecia estar corrente da sua situação e a intrigar contra ele. Começou a suspeitar que a sua vida se encontrava em perigo e acreditava que precisava de proteção da polícia. Pensou também em comprar uma arma e atacar intempestivamente aqueles que o atormentavam. Considerava-se uma vítima inocente em todo este episódio. O sono era interrompido por pesadelos, embora conseguisse habitualmente voltar a dormir sem dificuldades. Não perdeu peso nem teve outros sintomas vegetativos. O seu afeto alternava entre a raiva e o terror. A sua mente estava invulgarmente alerta e ativa, mas não se encontrava qualquer outro modo imperativo, excessivamente energético ou expansivo. Não manifestou qualquer perturbação dos aspetos formais do seu pensamento. O doente foi hospitalizado e tratado com medicação antipsicótica. Após algumas semanas de melhoras graduais, os seus sintomas psicóticos remitiram e ele conseguiu voltar a trabalhar pouco tempo depois. 61 anos Masculino Aos 22 anos, depois do serviço militar. Agressividade, insónias, alucinações visuais (afirmava que lhe queriam fazer mal). Outras hipóteses, uma delas a separação dos pais ou o serviço militar em África. Não foi realizado nenhum diagnóstico ou exame, o individuo foi logo dirigido aos psicólogos e psiquiatras. Foi prescrita medicação para dormir e acalmar (calmantes), psicoterapia não. O individuo só tomava quando lhe apetecia pensando ser para aliviar uma dor no peito e ainda hoje não reconhece o seu problema. Rejeita comida com medo de morrer, de ser enganado ou envenenado, porém ao pé do psiquiatra age normalmente porque sabe que está a ser avaliado. Inicialmente, na escola, não queria seguir os estudos por achar que era “doutor”. Apesar de ser inteligente e de ter notas altas, a sua relação com os professores não era a melhor. Também têm tendência a inferiorizar as mulheres, chegando mesmo a bater na sua esposa. Não são pessoas fáceis de aceitar conselhos ou ajudas, são desconfiadas portanto quando está a ser medicado não sabe que é para a sua doença mas para aliviar uma dor no peito. O conselho seria aceitar a ajuda proposta. Paciência, muito amor, não se deixar ir a baixo, procurar ajuda o mais breve possível, nem que os levem enganados. Sim, qualquer pessoa com doença mental é considerada maluca. Os doentes que eu conheço são medicados e escondem essa confissão para evitar que as pessoas saibam e os ponham de parte (sejam afastados). Sessões de esclarecimento dadas por técnicos especializados (psicólogos, psiquiatras) e testemunhos de casos. Informar que com medicação o problema é controlável e que os familiares e doentes reconheçam que tem a doença e precisam de ajuda. Informação retirada de vários livros entregues pela professora onde se encontram os autores: Kendler, Feldman e a “Esquizofrenia e Outras Perturbações Psicóticas” Enciclopédia Médica.