SÍNDROMES PSICÓTICAS (QUADROS DO ESPECTRO DA ESQUIZOFRENIA E OUTRAS PSICOSES) Profª. Melissa Rodrigues de Almeida Psicopatologia II Referências utilizadas Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais (Capítulo 30, Síndromes psicóticas) Paulo Dalgalarrondo Manual de Psiquiatria (Capítulo 9, Esquizofrenia) Osvaldo P. de Almeida; Luiz Dratcu; Ronaldo Laranjeira Síndromes psicóticas Caracterizam-se por sintomas típicos como alucinações e delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente bizarro (fala e risos imotivados, p. ex.) São comuns sintomas paranóides: idéias delirantes e alucinações auditivas de conteúdo persecutório Tem insight prejudicado em relação aos seus sintomas e à sua condição clínica geral Para psicodinâmica: característica é a perda de contato com a realidade Esquizofrenia Adolescentes ou adultos jovens Homens: entre 17 e 27 anos Mulheres: entre 17 e 37 anos Prevalência: cerca de 1% na população geral Índice de suicídio de 10% Apresentações muito variáveis Esquizofrenia Critérios para diagnóstico de esquizofrenia Schneider (sintomas de 1a. ordem): percepção delirante; alucinações auditivas que comentam e/ou comandam a ação da pessoa; eco ou sonorização; difusão do pensamento; roubo do pensamento; vivências de influência corporal ou ideativa Sintomas de 2ª ordem:perplexidade, influência no campo dos sentimentos, embotamento afetivo, intuição delirante, alterações depressivas ou maníacas Tipos de Esquizofrenia CID-10 e DSM IV: Paranóide: alucinações e idéias delirantes principalmente de conteúdo persecutório Hebefrênica (desorganizada): pensamento desorganizado, comportamento bizarro e afeto pueril Catatônica: alterações motoras, hipertonia, flexibilidade cerácea, alterações da vontade (negativismo, mutismo, impulsividade) Simples: lento e progressivo empobrecimento psíquico e comportamental, negligência nos cuidados de si, embotamento afetivo e distanciamento social Indiferenciada e Residual Tipos de Esquizofrenia Três sub-tipos (Andreasen) Síndrome negativa distanciamento afetivo, retração social, empobrecimento da linguagem e pensamento, diminuição da fluência verbal, diminuição da vontade, negligência quanto a si mesmo, lentificação e empobrecimento psicomotor Síndrome positiva alucinações, idéias delirantes, comportamento bizarro, agitação psicomotora, idéias bizarras, neologismos e parafasias Síndrome desorganizada Pensamento e comportamento progressivamente desorganizado, afeto inadequado e pueril Critérios Quadro 30.1 (p. 330) CID-10 Distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e afetos inapropriados ou embotados Eco, imposição, roubo ou divulgação do pensamento Idéias delirantes de controle, influência ou passividade e percepção delirante Vozes alucinatórias que comentam ou discutem Sintomas negativos DSM-IV 2 ou + por pelo menos 1 mês Delírios Alucinações Discurso desorganizado Comportamento desorganizado ou catatônico Sintomas negativos Disfunções sociais (por pelo menos 6 meses) Outras psicoses Transtorno delirante (paranóia) Quadro psicótico caracterizado principalmente por delírios organizados e sistematizados, com temas complexos e uma razoável adaptação social (pós 40 anos) Há diversos tipos de delírio: persecutórios, grandiosos, de ciúmes, erotomania, somático etc. Esquizofrenia tardia (parafrenia) Psicose esquizofreniforme, de aparecimento tardio, com delírios em geral acompanhados de alucinações, com relativa preservação da personalidade (pós 40 ou 50 anos) Outras psicoses Psicoses breves, reativas ou psicogênicas Transtorno psicótico breve Quadro psicótico indiferenciado de surgimento agudo e remissão rápida, ou quadro esquizofreniforme sem tempo de evolução para diagnóstico de esquizofrenia Sintomas floridos, alucinações visuais e/ou auditivas, intensa perplexidade, confusão mental, ansiedade acentuada, medos difusos Transtorno esquizoafetivo Quadros com apresentação concomitante de esquizofrenia e sintomas afetivos (depressão, hipomania, mania) Em geral, evolução melhor que a da esquizofrenia e pior do que do transtorno bipolar Outras psicoses Transtorno esquizotípico Caracterizado por comportamento excêntrico e anomalias do pensamento e afeto semelhantes a esquizofrenia, mas não há qualquer anomalia esquizofrênica manifesta ou característica. Afeto frio ou inapropriado, anedonia; comportamento estranho ou excêntrico; tendência ao retraimento social; idéias paranóides ou bizarras sem que se apresentem idéias delirantes autênticas; ruminações obsessivas; transtornos do curso do pensamento e perturbações das percepções; períodos transitórios ocasionais quase psicóticos com ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e idéias pseudodelirantes, ocorrendo em geral sem fator desencadeante exterior. Podem ocorrer sintomas psicóticos Transtorno afetivo bipolar – T.A.B. (“psicose maníaco-depressiva”) Depressão Autismo (depressão psicótica, ou “melancolia”) (“psicoses infantis”) Não ocorrem sintomas psicóticos Ciclotimia Esquizotipia Esquizoidia Farmacológico: Antipsicóticos típicos: haloperidol, clorpromazina, tioridazina Antipsicóticos atípicos: risperidona, olanzapina, clozapina Questões importantes na anamnese Você tem sentido como se as pessoas ou as coisas ao seu redor lhe parecessem estranhas, ou que tivessem intenções hostis ou ameaçadoras em relação a você? Você tem percebido (escutado, visto, sentido) coisas que as outras pessoas parecem não perceber? Você tem sentido como se não controlasse seus pensamentos, como se eles fossem ditos em voz alta e outras pessoas pudessem escutá-los ou interferir sobre eles? Você se sente desconfiado, achando que as pessoas na rua o observam, o perseguem ou fazem gozação de você? Escuta vozes que comentam o que você está fazendo ou que falam sobre você? Será que você não está enganado quanto a essas coisas e sensações? Seria possível que você estivesse imaginando isso? Caso clínico Um homem de 21 anos é trazido ao setor de emergência pela polícia depois de ter sido encontrado sentado no meio de uma rua de grande movimento. À guisa de explicação, o paciente fala: “As vozes me disseram para fazer isso”. Relata que no último ano sentiu que ”as pessoas não são quem elas dizem ser”. Começou a se isolar em seu quarto e largou a escola. Afirma que ouve vozes lhe dizendo para fazer “coisas más”. Geralmente existem duas ou três vozes falando, e muitas vezes comentam entre si o seu comportamento. Nega estar usando drogas ou álcool, embora relate ter fumado maconha ocasionalmente no passado. Diz que interrompeu essa prática nos últimos seis meses porque “deixa as vozes mais altas”. Nega qualquer problema médico e não está tomando medicamento. Em um exame de estado mental, percebeu-se que o paciente está sujo e desalinhado, com má higiene. Parece um pouco nervoso no ambiente e caminha em torno da sala de exame , sempre com as costas para uma parede. Afirma que seu humor está “OK”. Seu afeto é congruente, apesar de embotado. Sua fala tem velocidade, ritmo e tons normais. Seus processos de pensamento são tangenciais, e ocasionalmente se notam associações desorganizadas. Seu conteúdo de pensamento é positivo para delírios e alucinações auditivas. Ele nega qualquer ideação suicida ou homicida.