RELATO DE CASO:
Dor na cabeça e pescoço
15/09/09
Elda A Botelho
Relato de Caso
• CA, homem, 45 anos, branco
• QP: dor do pescoço a cabeça
• HDA: Dor aguda que inicia no pescoço à esquerda e irradia na direção do
ouvido, face e têmpora do mesmo lado. Teve o primeiro episódio há 15
dias com recorrência em dias seguintes, o que o motivou a procurar um
serviço ambulatorial e posteriormente a emergência HCML. A dor é
refratária ao uso de medicamentos analgésicos comuns e incapacitante.
Nega história de dor semelhante anteriormente, sinais premonitórios ou
deflagradores da dor. Nega disfagia ou odinofagia. Refere que por vezes
observou sensação de pressão em ambos os ouvidos quando a dor tivera
início pela manhã ao levantar. Observada hiperemia em hemiface (E), sem
lacrimejamento, hiperemia ocular ou alteração visual.
• HPP: História de sinusopatia com indicação cirúrgica no ultimo ano, porém
não realizada (SIC). Sem outras informações relevantes.
Relato de Caso
• Ao exame físico: dor deflagrada com a palpação submandibular profunda
à esquerda, com a mesma irradiação informada anteriormente, porém em
intensidade menor (em vigência de analgesia contínua). Isocoria, com
reflexos fotomotores preservados bilateralmente. Pares cranianos
testados, sem alteração.
• Exames laboratoriais: glicemia alterada em pelo menos 2 exames (superior
a 150mg/dl)
• TCC: processo estilóide “aumentado”?
• HD: Síndrome de Reader X Síndrome de Eagle
(neuralgia glossofaríngea)
Síndrome de Reader
• Síndrome paratrigeminal oculossimpática
• Rara, menos frequente que a Sd Horner
• Queimação hemifacial, no território de V1, ao redor do olho,
hipestesia ou disestesia local, ptose, miose, enoftalmia, hiperemia
conjuntival, lacrimejamento .
• Sudorese facial preservada
• Acomete fibras oculossimpáticas do trigêmio
• Causa: trauma, massa em fossa craniana medial ou parasselar,
compressão medial ao gânglio trigeminal, sífilis, sinusite, vasculite,
migrânea, dissecção cartídea...
• Homens na meia idade e idade avançada.
• Tempo limitado, remitindo em 2-3 meses, podendo ser intermitente.
• DD: Sd. Horner (anidrose)
Cervical sympathetic pathway including
oculosympathetic fibers. A lesion at A would
produce a complete Horner syndrome with
ipsilateral loss of facial sweating; a lesion at B
would produce oculosympathetic paresis, but
with preserved facial sweating.
Neuralgia Glossofaríngea
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Dor paroxística na região inervada pelo IX e X nervos cranianos.
Pode acometer ramo auricular e faríngeo do nervo vago.
Pode coexistir com a trigeminalgia, mas é menos comum.
Dor aguda envolvendo ouvido, base da língua, fossa tonsilar e ângulo da
mandíbula associada a dor de base de menor intensidade.
Outros sintomas: vertigem, cefaléia, tosse e rouquidão.
Bradicardia, assistolia e síncope podem ocorrer devido ao estímulo do IX
no trato solitário e efeito através do núcleo dorsal motor do X.
Bilateral em 12% dos casos
Fatores precipitantes: tossir, mastigar, engolir, bocejar, falar, palpação do
pescoço e canal auditivo externo, determinados sabores...
Duração: segundos a minutos, podendo acordar o paciente e ficar vários
meses a anos sem recorrer.
Neuralgia Glossofaríngea
• Idiopática X secundária (lesões desmielinizantes, TU no ângulo ponto
cerebelar, abscesso periamigdaliano, aneurisma carotídeo e síndrome de
Eagle)
• Compressão vascular do X e XI pela artéria vertebral ou PICA.
TU no ângulo pontocerebelar
Síndrome de Eagle
• Compressão lateral do IX contra o processo estilóide aumentado ou
ligamento estilo-hióideo ossificado.
• Anamnese (evolução), RM crânio (massas) e TC crânio (calcificação)
Síndrome de Eagle
• O processo estilóide do osso temporal corresponde a uma delgada
projeção óssea de aproximadamente 25 mm de comprimento.
• Tem sua localização entre as artérias carótidas interna e externa,
posteriormente à faringe, onde se inserem os músculo estilo-hióideo,
estiloglosso e estilofaríngeo os quais são inervados, respectivamente,
pelos nervos facial, hipoglosso e glossofaríngeo.
• O diagnóstico diferencial da síndrome de Eagle inclui nevralgias
glossofaríngea e trigeminal, arterite temporal, enxaqueca, cefaléia
• histamínica, síndrome da disfunção- dor miofacial, dor secundária a
terceiros molares não irrompidos ou impactados, artrite cervical, tumores
e próteses dentais ausentes.
• Normal (até 2,5cm) e alongado (>4 cm)
• A maioria dos pacientes com processo estilóide alongado é assintomática.
Síndrome de Eagle
• Inversamente, muitos pacientes com
sinais e sintomas sugestivos da síndrome
de Eagle não apresentam evidências
radiográficas de um processo alongado,
fato verificado por Steimann, que relatou
30 pacientes com quadro clínico positivo,
dos quais 26 não apresentavam
alongamento do processo estilóide ou
calcificação do ligamento estilo-hióideo.
• RX face em perfil, AP e oblíqua
• TC é o método mais sensível
• RX panorâmica.
Síndrome de Eagle
• Possíveis motivos da dor:
– Secundário à irritação mecânica da mucosa faríngea
– Estiraento das terminações nervosas do V, VII, IX e X produzido pela
fibrose pós-tonsilectomia
– Fratura mo ligamento estilo-hióideo ossificado após trauma ou
movimentação brusca do pescoço, com consequente formação de
tecido de granulação que pressionará estruturas adjacentes do
complexo estilo-hióideo.
– Pressão sobre a artéria carótida com estimulação da cadeia simpática
que envolve a bainha carotídea
– Alterações degenerativas do tendão de inserção o músculo
estilohióideo ou tendinite de inserção.
TU no ângulo ponto cerebelar
Síndrome de Eagle
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Tratamento:
Carbamazepina (200-1600mg/dia em 2x) melhora >50-100%
Oxcarbazepina (600-1800mg/dia em 2x) melhora >50-100%
Baclofen ( 15-60mg/dia em 3x)
Lamotrigina (25-400mg/dia em 2x) – isolada ou associada
Pimozide (arritmia cardíaca, efeitos anticolinérgicos, parkinsonismo)
Outras: Tizanidina, Tocainida, Fenitoína, Fosfenitoína, Ác. Valpróico,
Gabapentina, Pregabalina, Clonazepan, Topiramato, Misoprostol.
• Morfina, Isomorfina, Oxicodona, Lidocaína (IV)
Síndrome de Eagle
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Tratamento cirúrgico: (refratária)
Ressecção cirúrgica da apófise estilóide (via externa ou intra-oral)
Descompressão microvascular
Risotomia
Radiocirurgia com gama knife
Neurectomia periférica
Referências
• Up To Date - Overview of craniofacial pain
• Sá ACD, Zarto M, Paes AJN et al. Alongamento do processo estilóide
(Síndrome de Eagle): Relato de dois casos. Radiol Bras 2004; 37(5):385-387
• Tiago RSL, Marques MF, Maia CAS et al. Síndrome de Eagle: avaliação do
tratamento cirúrgico. Ver Bras Otorrinonaringol. V.68, n.2, 196-201,
mar/abr, 2002.
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