Biologia do Desenvolvimento A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Filipe Alfaiate, 25967 ; Susana Cecílio, 26007 Docente: Paulo de Oliveira Biologia Humana Ano Lectivo: 2010/2011 TALIDOMIDA A talidomida foi criada na Alemanha em 1953 Substância usualmente utilizada como medicamento sedativo, antiinflamatório e hipnótico. É responsável por efeitos teratogénicos, causando malformações, entre as quais, a ausência de membros no feto, durante a gravidez. Utilizado por mulheres grávidas no combate às insónias e ansiedade, e também no alívio dos enjoos matinais. TALIDOMIDA Ausência Total de Membros Amélia Encurtamento de Membros Focomélia Perda de Dedos TALIDOMIDA TALIDOMIDA Retirada do mercado em 1961 Autorizada em patologias e complicações associadas à lepra, HIV, doença de Crohn, lúpus, mieloma múltiplo e úlceras A ciência tem-se dedicado nos últimos anos a criar compostos sintéticos que tenham as funções da talidomida mas que não possuam os seus efeitos nocivos TALIDOMIDA Teratogénese da Talidomida Replicação ou transcrição do DNA; Síntese ou função de factores de crescimento; Síntese ou função de integrinas; Angiogénese; Condrogénese; Proliferação celular TALIDOMIDA • • • • • • • Ligação ao Cereblon Pró-Apoptose Anti-proliferação Anti-angiogénese HIF1 NF-kB Via WNT - PPAR EFEITOS DA TALIDOMIDA A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Ligação ao Cereblon Cereblon • É uma proteína presente em humanos codificada pelo gene CRBN, onde participa na formação da ubiquitina ligase E3. Com a ubiquitinização, há um aumento dos níveis de FGF8 e BMPs, essenciais em processos de embriogénese. • Alvo primário da talidomida A talidomida liga-se ao cereblon, tornando-o inactivo Efeito de inibição de desenvolvimento dos membros A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Ligação ao Cereblon [ UBIQUITINA LIGASE E3 Cereblon DDB1 CUL4 A ROC 1 Desenvolvimento dos membros A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Ligação ao Cereblon [ UBIQUITINA LIGASE E3 Talidomida Cereblon Inibição da acção Ubiquitina ligase DDB1 CUL4 A ROC 1 Não há desenvolvimento de membros Acumulação de substratos que irão inibir a acção dos FGFs e BMPs A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Pró- apoptose/Anti-proliferação A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Pró- apoptose/Anti-proliferação Morte Celular aumentada Stress oxidativo da Talidomida Protege PTEN activo da degradação Malformações nos membros Supressão da sinalização Akt Células sem protecção de apoptose (mediada por caspases) Sinalização de proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs) Estímulo de morte celular (Apoptose) A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Pró- apoptose/Anti-proliferação Com mecanismos de apoptose, morte celular, não haverá proliferação celular. A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Anti-angiogénese Os primórdios dos membros são fornecidos por ramos das artérias intersegmentares que surgem a partir da aorta, formando uma rede capilar fina em todo o mesênquima. Os primórdios dos membros superiores desenvolvem-se cerca de 2 dias antes dos primórdios dos membros inferiores. Membros inferiores menos afectados se o fármaco for tomado numa altura mais precoce A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Anti-angiogénese A talidomida destrói vasos sanguíneos imaturos e impede a extensão de vasos já formados Impede a sua irrigação sanguínea para nutrir as células em mitose. Maioria dos tecidos do organismo apresenta vasos sanguíneos mais maduros , comparativamente aos tecidos dos membros em desenvolvimento São menos afetados pela acção desse fármaco A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Anti-angiogénese Para estimular a angiogénese nos membros que se desenvolvem, o FGF2 e o IGF-1 ligam-se a receptores proteicos nas células epiteliais dos vasos sanguíneos, ocorrendo uma cascata de reacções, das quais resultam a formação das integrinas av e ß3, que por sua vez estimulam a angiogénese A capacidade de se intercalar em zonas do DNA ricas em G, permite à talidomida bloquear os genes que codificam para o IGF-1 e para o FGF2, já que se intercala nas regiões promotoras destes genes bloqueando o acesso do factor Sp1 e a consequente transcrição dos genes A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Anti-angiogénese Mecanismos que inibem a angiogénese: 1. Presença de endostatina e succinato (pode inibir a prolil-hidroxilase) 2. Metabolitos formados in vivo, efeito sobre o factor de crescimento endotélio vascular (VEGF) e sobre o factor básico dos fibroblastos (bFGF, nomeadamente FGF 8 e FGF 10) 3. Efeitos da Talidomida no HIF-1 4. Bloqueio na actividade do factor nuclear NF-kB 5. Inibição do TNF-α. A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA HIF-1 Hypoxia-Inducible Factor (HIF) são factores de transcrição que reagem as mudanças na concentração de oxigénio nos tecidos. Em situações de Hipóxia HIF-1 alfa HIF-1 HIF-1 beta A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA HIF-1 Em situação de Hipóxia Formação complexo HIF-1 alfa estável + HIF-1 beta Complexo liga-se ao "hypoxiaresponse element” Formação dos membros Activação de vias Regulação de processos como angiogénese, proliferação, etc A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA HIF-1 HIF-1alfa em Normóxia • Hidroxilação • Ubiquitinização • Rápida degradação em proteossomas A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA HIF-1 A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Inibição do NF-kB CYP2C19 (local de hidroxilação) Formação de metabolitos de talidomida Interferência com a activação do NF-kB Inactivação da regulação de expressão de genes TALIDOMIDA Inibição do NF-kB Metabolitos Hidroxilados de Talidomida IKK cinase NF-kB Núcleo NF-kB + IKB Citoplasma Regulação Angiogénese Proliferação celular Inibição da apoptose Inibição TNF-α Wnt A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Via Wnt - PPAR ◦ A via de sinalização Wnt é uma via de proteínas envolvida na embriogénese e no cancro. ◦ No caso da Talidomida, esta tem acção sobre a PPAR (peroxisome proliferator-activated receptor-delta ou nuclear hormone receptor 1), fazendo com que a jusante da cascata haja um aumento da concentração da PPAR, havendo assim um feedback negativo. Deste modo não haverá acção da PPAR, pelo que o ciclo celular será inibido, não havendo mais mitoses celulares. Ciclo Celular Frizzled GSK3 P βCat βCat LEF TCF PPAR [PPAR] Talidomida A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário Na espécie humana, o desenvolvimento dos membros estende-se entre a 4ª (dia 23) e a 9ª semanas (dia 55) após a fertilização e ocorre das regiões proximais (úmero e fémur) para as porções distais (dígitos). Defeitos nos membros são verificados em mães expostas à talidomida, em fases em que, geralmente, não sabem que estão grávidas, entre o 20º e o 36º dias após a fertilização (ou entre o 34º e o 50º dias após o último ciclo menstrual) A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário O período mais crítico do desenvolvimento do membro dá-se entre o 24º e o 36º dias após a fertilização. Exposição antes do dia 33 Exposição até ao dia 36 (final do período crítico dos membros) Defeitos graves (Amélia) Amélia ou defeitos apenas em parte dos membros A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário Talidomida Desenvolvimento membros Efeitos Talidomida 0 Período Crítico 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 Dias após fertilização A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário Defeitos e manifestações clínicas observadas: Oculares: anoftalmia, microftalmia, coloboma, oftalmoplegia Auditivas: anotia, microtia, surdez; Neurológicas: dislexia, autismo, epilepsia; Internas: laringe, traquéia, coração, trato alimentar, rins e órgãos sexuais; A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário Outras anomalias induzidas pela ingestão de talidomida incluem defeitos no coração, ausência de ouvidos externos e intestinos malformados. A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Janelas de Desenvolvimento Embrionário Taxa de mortalidade das crianças expostas à talidomida superior a 40% antes do primeiro ano de vida devido, principalmente, a defeitos no coração e rins. Cerca de 90% das crianças sobreviventes apresentam defeitos no desenvolvimento de seus membros. A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Tratamento do Cancro Um tumor necessita de novos vasos sanguíneos para crescer . Talidomida Angiogénese Induzem a actividade antitumoral Inibição do crescimento de tumores A VIDA SECRETA DA TALIDOMIDA Mas por que a talidomida afecta apenas a formação dos membros e alguns órgãos específicos e não apresenta uma acção mais disseminada sobre o organismo? E por que esse fármaco é efectivo apenas durante uma etapa do desenvolvimento embrionário? Referências Bibliográficas Ando, Y., Fuse, E. & Figg, W.D. (2002). Thalidomide Metabolism by the CYP2C Subfamily. Clinical Cancer Research 8: 1964–1973. Dimopoulos, M.A. & Eleutherakis-Papaiakovou, V. (2004). 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