Trabalho de Filosofia A Verdade Orientador: Prof. Maigon Pontuschka Presidente Médici-RO Março de 2012 Lu-Ruama Sulamita Galdino dos Santos [email protected] Maurício Schons [email protected] Rafael Silva [email protected] Wender Lopes Vitorino da Silva [email protected] Não se aprende Filosofia, mas a filosofar. Immanuel Kant A Filosofia não é um conjunto de idéias e de sistemas que possamos aprender automaticamente, mas uma decisão ou deliberação orientada por um valor: a verdade. Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer a percebemos, isto é, não sabemos que não sabemos. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo que durante muito tempo nos serviu. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança. Nossa idéia da verdade foi construída ao longo dos séculos, com base em três concepções diferentes, vindas da língua grega, da latina e da hebraica. Em grego, verdade se diz alétheia, que significa “não esquecido” e justamente por isso, no Mito de Er, Platão fala da verdade como o que é lembrado ou não esquecido. Em latim,verdade se diz veritas e se refere à precisão,ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e fidelidade o que realmente aconteceu. Em hebraico verdade se diz emunah e significa “confiança”. Agora são as pessoas e Deus quem são verdadeiros. A verdade é uma crença fundada na esperança e na confiança de uma promessa, e refere-se ao futuro, ao que será ou virá. Existem diferentes concepções filosóficas sobre a natureza do conhecimento verdadeiro que dependem da idéia original da que predomina no pensamento de um ou de alguns filósofos. Quando prevalece alétheia, considera-se que a verdade está nas próprias coisas ou na própria realidade, e o conhecimento verdadeiro é a apreensão intelectual e racional dessa verdade. A marca principal do conhecimento é a evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade. A marca da verdade é, portanto, o consenso e a confiança recíprocos entre os membros de uma comunidade. Quando prestamos atenção em Sócrates ou Descartes, notamos que ambos, por motivos diferentes e usando procedimentos diferentes, fazem a mesma coisa: desconfiam das opiniões e crenças estabelecidas em suas sociedades, mas também desconfiam das próprias idéias e opiniões. Do que desconfiam eles, afinal? Desconfiam do dogmatismo. E o que é Dogmatismo? É uma atitude natural e espontânea que temos desde crianças. É nossa crença de que o mundo existe e que é exatamente da forma como o percebemos. Temos essa crença porque somos seres práticos, nos relacionamos com a realidade como se ela fosse um conjunto de coisas, fatos e pessoas que são úteis ou inúteis para nossa sobrevivência. Na atitude dogmática, tomamos o mundo como já dado, já feito, já pensado, já transformado. Na atitude dogmática ou natural, aceitamos sem nenhum problema que há uma realidade exterior a nós e que, embora externa e diferente de nós pode ser conhecida tecnicamente transformada por nós. A atitude dogmática ou natural se rompe quando somos capazes de uma atitude de estranhamento diante das coisas que nos pareciam familiares. É a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. É a narrativa de origem dos Deuses, a partir de seus pais e antepassados. A Filosofia, torna-se uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem ao mundo e sobre as causas das transformações e repetição das coisas. As viagens marítimas; • A invenção do calendário; • A invenção da moeda; • O surgimento da vida urbana; A invenção da escrita alfabética; • A invenção da política. • • A mesma estranheza pode ser encontrada nos versos de Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega fingir que é dor, A dor que deveras sente. A palavra tem esse poder misterioso de transformar o que não existe em realidade e te dar a aparência de irrealidade ao que realmente existe. Como é possível que as palavras tenham o poder para tornar verdadeiro, falso,e fazer do falso, verdadeiro? Como seria uma sociedade na qual a mentira fosse regra? Como é possível que a linguagem tenha tamanho poder mistificador? É que os seres humanos, desde as culturas mais antigas, sempre acreditaram que certas palavras podem ter força para fazer acontecer ou não as coisas acontecerem, pois têm poderes mágicos. Como é possível que a linguagem seja capaz de produzir coisas ou fatos? Como uma mesma coisa – a palavra, o discurso – pode ser origem,ao mesmo tempo, da verdade e da falsidade? Como essa duplicidade misteriosa da linguagem podem servir para manter o dogmatismo? Mas também, como pode despertar o desejo da verdade? A atitude dogmática é conservadora, isto é, sente receio das novidades, do inesperado, do desconhecido e de tudo o que possa desequilibrar as crenças e opiniões já constituídas. Esse conservadorismo pode aumentar ainda mais quando o dogmatismo estiver convencido de que várias de suas opiniões e crenças vieram de uma fonte sagrada, de uma revelação divina incontestável e incontestada. Aqueles que ousam enfrentar essas crenças e opiniões são tidos como criminosos, blasfemadores e heréticos. Esse conflito entre verdades reveladas e verdades alcançadas pelos humanos por meio do exercício da inteligência e da razão tem sido também uma questão que preocupa a Filosofia, desde o surgimento do cristianismo. Em nossa sociedade é muito difícil despertar o desejo de buscar a verdade. Pode parecer paradoxal que assim seja, pois parecemos viver numa sociedade que acredita nas ciências, que luta por escolas, que recebe durante 24 horas diárias informações vindas de jornais, rádios e televisões, que possui editoras, livrarias, bibliotecas, museus, salas de cinema e de teatro, vídeos, fotografias e computadores. Pois é justamente essa enorme quantidade de veículos e formas de informação que acaba tornando tão difícil a busca da verdade, pois todo mundo acredita no que está recebendo e, por isso não tem meios de avaliar o que recebem. Uma outra dificuldade para fazer surgir o desejo da busca da verdade, em nossa sociedade, vem da propaganda. A propaganda trata as pessoas – crianças, jovens, adultos, idosos – como crianças extremamente ingênuas e crédulas. Para essas pessoas, surge o desejo e a necessidade da busca da verdade. Essa busca nasce não só da dúvida e da incerteza, nasce também da ação deliberada contra os preconceitos, contra as idéias e as opiniões estabelecidas, contra as crenças que paralisam a capacidade de pensar e agir livremente. Não somos nós que criamos a verdade, que a dominamos e a fazemos valer. É a verdade que nos possui. Alejandro Llano Chauí, Marilena-Filosofia: Ensino Médio, volume único São Paulo – Ática, 2005 (Série Brasil) http://www.citador.pt/ http://www.filosofarte.hpg.com.br