Doenças Vasculares Encefálicas Hemorrágicas Prof. Edison Matos Nóvak Disciplina de Neurologia Departamento de Clínica Médica Introdução ● BLT, 50 anos, feminino, previamente hígida, tabagista, foi à UPA após ter tido forte cefaléia holocraniana súbita, associada a vômitos e evoluindo com síncope. Ao exame físico, está lúcida e orientada em tempo e espaço, sem déficit neurológico focal, mas com cefaléia e rigidez de nuca. Foi solicitado uma TAC de crânio. Qual a principal hipótese diagnóstica? DVE Hemorrágica • Frequência menor que as DVEi • Mortalidade > morbidade em relação a DVEi • Incidência em todas as faixas etárias Duas apresentações: • Hemorragia subaracnoidea (HSA) • Hemorragia intraparenquimatosa (HIP) DVE Hemorrágica Hemorragia Subaracnoidea DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Incidência maior: mulheres e raça negra Fatores de risco: - tabagismo - alcoolismo - abuso de drogas (estimulantes) - hipertensão arterial sistêmica DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Prevalência de aneurismas congênitos: 0,5 -1% da população Risco de ruptura de aneurisma: * mínimo: aneurisma com diâmetro até 3mm * expressivo: aneurisma com diâmetro > 5 mm * muito alto: aneurisma > 10 mm DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Quadro clínico: - Instalação súbita de: * cefaléia / nucalgia * náuseas / vômitos * redução do nível da consciência * sinais focais eventuais (hemiparesia, paralisia de III par e outros) * sinais de irritação meníngea * hipertermia de origem central DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Índice de mortalidade: 25% Causas: - ruptura de aneurisma=>75% ruptura de MAV=10% traumatismo craniano hipertensão arterial grave distúrbios de coagulação (incluindo toxinas exógenas) DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Síndrome de Hemorragia subaracnoidea (SHSA): - Considerar fusão da Síndrome de Hipertensão intracraniana aguda e síndrome meníngea - Síndrome de Hipertensão intracraniana aguda: cefaléia, alteração da consciência, náuseas/vômitos - Síndrome meningea: cefaléia e rigidez de nuca DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Sinais clínicos auxiliares para localização de aneurismas: •SHSA + Paralisia de III par: artéria comunicante posterior •SHSA + paraparesia: artéria comunicante anterior •SHSA + hemiplegia e afasia: artéria cerebral média •SHSA + ataxia inicial: território arterial posterior DVEh – Hemorragia Subaracnoidea DVEh – Hemorragia Subaracnoidea - Investigação de indivíduos assintomáticos se: - 2 ou mais casos de aneurisma em parentes de 1º grau - Rim policístico - Síndrome de Marfan - Síndrome de Ehlers-Danlos - Atenção para cefaléia tipo enxaqueca exclusivamente unilateral e com sintomas focais - Cefaléia satélite “thunderclap” DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Escala de HUNT & HESS I. assintomático, cefaléia discreta, rigidez de nuca leve II.cefaléia moderada a grave, rigidez de nuca, sem déficit exceto paresia de nervos cranianos III. sonolência, confusão mental, sinais focais leves IV.torpor, hemiparesia alterações vegetativas moderada a V. coma profundo, rigidez de decerebração severa, DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Exames Complementares: Tomografia computadorizada do crânio: - alta sensibilidade na fase aguda: 95% no 1º dia, 85 % no 3º dia, 50 % no 7º dia e 30 % no 14º dia) - rapidez de realização - maior disponibilidade do equipamento DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Exame do líquido cefalorraqueano: - dúvida na TAC - sintomas por vários dias ( redução progressiva da sensibilidade da TAC ) - quadro clínico pouco expressivo Achados: aumento da pressão liquórica, presença de eritrócitos crenados e xantocromia no sobrenadante. DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Da esquerda para direita: - LCR normal - LCR vermelho por hemorragia recente - LCR xantocrômico - LCR vermelho por punção traumática DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Angiografia digital encefálica (questão: Angiotomografia x angioressonância arteriais cranianas) Doppler transcraniano especialmente na HSA por ruptura de aneurisma Laboratório: hemograma, coagulograma, provas de função hepática Eventuais: outros conforme análise clínica inicial e evolutiva DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Escala de Fisher 1.Tomografia normal 2.Sangramento difuso ou espessura <1mm 3.Coágulo localizado ou espessura >1mm 4.Sangue intraventricular DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Conduta - monitoramento multiparamétrico - repouso com cabeceira do leito a 30º - emolientes fecais e antitussígenos - analgésicos: paracetamol ou tramadol - sedação com alprazolam ou clonazepam - nimodipina até 96 horas do ictus: 60mg de 4/4h VO por 21 dias (hipotensão arterial) - heparina profilática 5.000UI SC 8/8h DVEh – Hemorragia Subaracnoidea Conduta - hipertensão arterial: - enalapril 10mg 12/12h ou captopril 12,5mg 8/8h. - se PAM > de 130 mm Hg ou PAS > 180 mm Hg: nitroprussiato de sódio EV 0,5 – 10 mg/kg/min - angiografia cerebral o mais precoce possível - procedimento neurocirúrgico ou neuroradiológico endovascular conforme achados DVE Hemorrágica Hemorragia Intraparenquimatosa HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa LOCALIZAÇÃO A – Ganglios da base B – Tálamo C – Lobar D – Ponte E – Cerebelo DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa → Maior relação com hipertensão arterial crônica Quadro clínico Instalação súbita de: * cefaléia intensa, relacionada com esforço físico * náuseas / vômitos * perda de consciência e com recuperação DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa Sinais focais: - Cápsula interna: hemiplegia / paresia, hemianopsia, disfasia / afasia (hemisfério dominante), desvio conjugado do olhar - Tronco cerebral: torpor ou coma, tetraplegia / paresia, oftalmoplegia ou desvio conjugado do olhar, alterações respiratórias - Cerebelo: ataxia grave; progressão com paralisia facial, nistagmo, alterações no olhar conjugado, alterações respiratória e de consciência. (EMERGÊNCIA CIRÚRGICA) DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa Exames Complementares - Tomografia computadorizada do crânio - Ressonância magnética? - Angiotomografia, angioressonância ou angiografia digital? DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa Exames Complementares - Laboratório: hemograma, uréia, creatinina, sódio, potássio, glicose - Outros exames conforme avaliação clínica inicial e evolutiva DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa Escore de Hemorragia Intraparenquimatosa Componente (escore de 0-6) Pontos Glasgow 3-4 5-12 13-15 2 1 0 Volume (cm3) >=30 <30 1 0 Inundação ventricular SIM NÃO 1 0 Infratentorial SIM NÃO 1 0 Idade >=80 anos <80 anos 1 0 Escores de 0 a 2 associam-se a baixa mortalidade Escores >= 3 alto índice de mortalidade, sendo de cerca de 100% nos escores de 5 e 6 Stroke 2001; 32: 891-97 DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa Conduta - monitoramento multiparamétrico - sedação: clonazepam ou alprazolam - cabeceira do leito a 30º - 45º - emolientes fecais e antitussígenos - diuréticos osmóticos (manitol) - evitar agentes hiposmolares - considerar tratamento neurocirúrgico - hematomas supratentoriais: Glasgow 6 a 12, lesões lobares, entre 30 e 80 cm3 - hematomas cerebelares = drenagem cirúrgica DVEh – Hemorragia Intraparenquimatosa 34