Interpretativismo (Clifford Geertz).
Profª Karina Bezerra
Aula 11
Interpretativismo (Clifford Geertz 1926-2006)
• Seu trabalho no "Institute for Advanced Study" de
Princeton se destacou pela análise da prática simbólica no
fato antropológico. Foi considerado, por três décadas, o
antropólogo mais influente nos Estados Unidos.
• Antropologia Hermenêutica ou Simbólica ou Interpretativa.
• Uma das metáforas preferidas, para Geertz, para definir o
que faz a Antropologia Interpretativa é a da leitura das
sociedades como textos ou como análogas a textos. Geertz
parte do pressuposto que as culturas devem ser
observadas como “textos”, afinal, Geertz foi deveras
influenciado semiótica.
A Cultura como texto
• Por exemplo, Spinoza procurava ler a natureza como uma Escritura.
• A interpretação se dá em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto"
cheio de significados que é a sociedade à escritura do texto/ensaio do
antropólogo, interpretado, por sua vez, por aqueles que não passaram pelas
experiências do autor do texto escrito. Todos os elementos da cultura analisada
devem ser entendidos, portanto, à luz desta textualidade imanente à realidade
cultural.
• A Antropologia Interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados,
pretendendo que a etnografia seja uma "descrição densa", de interpretação
escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. É
crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura.
• Em seu trabalho Deep Play: Notes on the Balinese Cockfight (1973), desenvolve a ideia
da leitura da prática cultural como texto. Examina a rinha de galo de Bali a partir do
uso da emoção em sua finalidade cognitiva
• Sobre seu objeto, mais especificamente sobre a rinha de galos, ao tratá-la como texto
afirma: "tratar a rinha de galo como texto é trazer à tona a questão central deste
fenômeno", para além de tratá-la como um passatempo ou um rito, as duas alternativas
mais óbvias, mas que estas tenderiam a obscurecer seu uso fundamental como
"finalidade cognitiva e emocional". E segue, numa importante definição prática sobre
como entender a cultura como texto:
• O que a briga de galos diz que diz, em um vocabulário de sentimentos - é a emoção do
risco, o desespero da perda, o prazer do triunfo. Assim, o que diz não é apenas que o
risco é excitante, a perda deprimente, ou o triunfo gratificantes, mas que é destas
emoções, assim exemplificadas, que a sociedade é construída e indivíduos são colocado
juntos.
• Ir às brigas de galos e participar delas é, para o balinês, uma
espécie de educação sentimental.
• Assim, a presença na rinha de galos torna-se uma forma de
educação emocional para o balinês - ensina e reforça as emoções
e reações dos seus participantes num texto exterior.
Teias de significados
• A Cultura é formada por teias de significados tecidas pelo
homem. Significados estes que os homens dão às suas ações e
a si mesmos.
• Assim a etnografia, para conhecer a cultura, mais que registrar
os fatos, deve analisar, interpretar e buscar os significados
contidos nos atos, ritos, performances humanas e não apenas
descrevê-los.
• O conceito de cultura que eu defendo (...) é essencialmente
semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um
animal amarrado a teia de significados que ele mesmo teceu,
assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise;
portanto, não como uma ciência experimental em busca de
leis, mas como uma ciência interpretativa à procura do
significado (Geertz, 1978: 15).
• O registro antropológico não deve tratar de buscar leis intrínsecas que
transpassam a cultura. Tampouco se trata do analista se tornar um "nativo" para o
entendimento do objeto em foco, pois ele nunca o conseguirá. Identificar certas
dinâmicas sociais e seus significados não é o suficiente para que se possa
compreender uma comunidade, pois estas dinâmicas sociais e seus significados
estão dentro de um determinado "universo imaginativo" simbólico. Essas ações
são determinadas e fazem sentido para os que dela participam, mas no qual não
estamos inseridos, cabe assim ao analista interpretar.
• O que o etnógrafo enfrenta, de fato (...) é uma multiplicidade de estruturas
conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras,
que são simultaneamente estranhas, irregulares e inexplícitas, e que ele tem que,
de alguma forma, primeiro apreender depois apresentar. (...) Fazer etnografia é
como tentar ler (no sentido de "construir uma leitura de") um manuscrito
estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e
comentários tendenciosos, escrito não como os sinais convencionais do som, mas
com exemplos transitórios de comportamento modelado. (Geertz, 1978: 20)
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