A PREFERÊNCIA LATERAL INFLUENCIA A PERCEPÇÃO CORPORAL
Renan C. da Silva, Tâmara R. Brozinga, Patrícia Consolo e Sérgio S. Fukusima
Laboratório de Percepção e Psicofísica, Departamento de Psicologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto - USP
INTRODUÇÃO
RESULTADOS
5
A percepção que um indivíduo tem do próprio corpo envolve aspectos
relacionados à estrutura (tamanho e dimensões), à aparência física (forma
e aspecto) e a representação neural do corpo no córtex (Linkenauger; Bakdash;
Estudos de neuroimagem têm mostrado assimetrias hemisféricas em
áreas corticais associadas à representação do corpo em indivíduos
destros, mas não em canhotos. Os destros apresentam maior área de
superfície cortical em seu córtex sensorial esquerdo, e maior ativação nos
córtices sensorial e motor para os movimentos contralaterais do que nas
áreas correspondentes no hemisfério direito. Diversamente, indivíduos
canhotos têm áreas de superfície e ativação quase simétricas (Amunts et
al.,1996; Kawashima, Kentaro, Kazunori, & Hiroshi, 1997; Kim et al., 1993).
Estudos de eletroencefalograma (Buchner, Ludwig, Waberski, Wilmes, & Ferbert, 1995;
Jung et al., 2003) têm
revelado que destros exibem maior atividade cerebral na
parte esquerda do cérebro (responsável pela atualização da representação
corporal), sugerindo que a preferência manual direita altera a auto
percepção.
Em função dessas diferenças que ocorrem naturalmente, o presente
estudo examinou a influência do índice declarado de preferência manual,
determinado por inventário, na percepção de tamanho de estruturas
corporais (mãos e braços).
MÉTODO
Participantes: 10 destros, 10 canhotos (n=20), de ambos os sexos, com
idade média de 23,9 anos (± 3,71). Todos os participantes apresentavam
visão normal ou corrigida. Para determinação do índice de preferência
lateral foi empregado o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo
(Oldfield, 1971).
braço direito
Erros(cm)
Stefanucci, & Proffitt, 2009).
0
braço esquerdo
-5
destros
canhotos
-10
-15
-20
-25
Figura 2. Desempenho dos participantes no experimento. As colunas
representam os erros absolutos das estimativas (em cm) de cada grupo
(destros e canhotos) em função do comprimento percebido do braço/mão
direita e esquerdo (em cm) e, as barras verticais, o desvio padrão da
média.
Encontraram-se efeitos estatisticamente significativos dos fatores grupos
[F(1,58)=8,248;p=0,006]; braços/mãos [F(1,58)=5,435;p=0,023], e da interação entre
eles [F(1,58)=5,900;p=0,018] . A comparação por pares mostrou diferenças entre
as estimativas do braço esquerdo e direito entre os participantes destros
(p=0,001). Os participantes destros emitiram, em média, estimativas maiores
para a mão e braço direito comparativamente a mão e braço esquerdo (i.e.,
menor subestimação em relação ao padrão), enquanto que os participantes
canhotos perceberam ambos os braços da mesma amplitude.
DISCUSSÃO
Os resultados confirmam estudo anterior (Linkenauger et al, 2009), e sugerem
que as estruturas corporais mais frequentemente engajadas no
desempenho de tarefas motoras, necessitam de maior representação
somatosensorial no cérebro, pois a retroalimentação sensorial é maior
para essas partes do corpo. Ademais, tais representações podem ser
modificadas através da plasticidade neural a partir de alterações
adaptativas por estímulos sensoriais, experiência e aprendizado, tendo em
vista que os canhotos tem que se adaptarem ao longo da vida às
situações favoráveis aos destros, o que pode implicar em diferença no
desenvolvimento de áreas corticais cerebrais entre destros (assimétricos)
e canhotos (simétricos).
Referências
Figura 1. Fotografia de um participante estimando o comprimento de seu braço direito. O participante
foi instruído a ficar em pé e estender o seu braço direito ou esquerdo perpendicular ao seu corpo. A
partir disso, sua tarefa era ajustar numa trena retrátil o comprimento percebido do seu braço
estendido: a distância entre o ombro e a ponta do dedo médio de sua mão. Ao final do experimento, o
experimentador mensurava o comprimento de cada um dos braços do participante.
Análise: a média do erro absoluto do comprimento estimado (em cm) na
trena pelos participantes foram registrados e posteriormente submetidos à
ANOVA mista de modelo: 2 grupos (destros e canhotos) x [2 braços/mãos
(direito e esquerdo)], seguido de Teste de Bonferroni (p<0,05).
Apoio: CAPES
Amunts, K., Schlaug, G., Schleicher, A., Steinmetz, H., Dabringhaus, A., Roland, P. E., & Zilles, K. (1996).
Asymmetry in the human motor cortex and handedness. Neuroimage, 4(3), 216-222.
Buchner, H., Ludwig, I., Waberski, T., Wilmes, K., & Ferbert, A. (1995). Hemispheric asymmetries of early cortical
somatosensory evoked potentials revealed by topographic analysis. Electromyography and clinical
neurophysiology, 35(4), 207.
Jung, P., Baumgärtner, U., Bauermann, T., Magerl, W., Gawehn, J., Stoeter, P., & Treede, R. D. (2003).
Asymmetry in the human primary somatosensory cortex and handedness. Neuroimage, 19(3), 913-923.
Kawashima, R., Inoue, K., Sato, K., & Fukuda, H. (1997). Functional asymmetry of cortical motor control in lefthanded subjects. Neuroreport, 8(7), 1729-1732.
Linkenauger, S. A., Witt, J. K., Bakdash, J. Z., Stefanucci, J. K., & Proffitt, D. R.(2009) Asymmetrical Body
Perception A Possible Role for Neural Body Representations. Psychological Science, 2009. 20(11), 13731380.
Kim, S.G., Ashe,J., Hendrich, K., Ellerman, J.M., Merkle, H., Ugurbil, K.(1993). Functional magnetic resonance
imaging of motor cortex: Hemispheric asymmetry and handedness. Science.
Oldfield, R. C. The assessment and analysis of handedness: the Edinburgh Inventory. Neuropsychologia,
1971,9(1),97-113.
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