Capítulo X Barroco
Êxtase de Santa Teresa, Bernini
Origem do termo
Barroco – Broatki – pérola irregular com coloração mesclada em tons de
branco e escuros.
Na arte, o termo foi incorporado porque o estilo Barroco privilegia a
riqueza de detalhes e de ornatos.
Na pintura caracteriza-se pela arte do claro e escuro, predominância de
linhas curvas, sugerindo movimento. Aparências irreais e excesso de
filigranas estão constantemente presentes.
Contexto histórico

O desequilíbrio, em oposição ao Classicismo, que o
Barroco apresenta se deve em parte pelo espelhamento
das reações da Igreja e das monarquias absolutistas ao
processo revolucionário instalado pelo Renascimento e
pela Reforma.
Exemplo – trecho de Lutero e Rainha Margot

Contrarreforma (Concílio de Trento)

Reativação do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição);

Instituição do Index Libro Improbium ou Index Librorum Proibitorum
(1571);

Fundação da Companhia de Jesus;

O Barroco foi, nos países católicos, a arte da Contrarreforma.
Dualismo existencial

Homem dividido entre a Contrarreforma e a liberdade de perspectiva
que veio com o Renascimento;

Atitudes e posturas contraditórias e duplas;

Procura conciliar o antropocentrismo renascentista e o teocentrismo
medieval/contrarreformista.
FUSIONISMO/HIBRIDISMO
Exemplificando o dualismo
Delírios da Natureza
Em um ponto me alegro, e me entristeço,
Choro, e rio, ouso, e temo, vivo, e morro,
Caio, e grito, contemplo, e não discorro,
Parto, e fico, não vou e me despeço.
Lembrando-me de mim, de mim me esqueço.
Ora fujo, ora torno, paro e corro,
Já atado, já solto, preso, e forro,
Lince, e cego, me ignoro, e me conheço.
Eu mesmo me acredito, e me desminto,
Eu mesmo agravo o mal, e peço a cura,
Eu mesmo me consolo e me ressinto.
Saiba, pois, toda a humana criatura,
Que, para escapar deste labirinto,
Há de fugir às mãos da formosura.
(Francisco De Pina e Melo)

Texto barroco
intensa elaboração de
metáforas, antíteses,
hipérboles e hipérbatos

Traço característico – linguagem conceptual, carregada de pensamentos
tão singulares quanto sutis;

Raciocínio em forma de espiral/labiríntico.
Dualidade estilística

Revezamento do cultismo (predominante na poesia) e do conceptismo
(prosa); Quando fundidas de modo inseparável – hibridismo

Cultismo/Gongorismo – estímulo sensorial gerado pelo cruzamento da
fônica (sonoro) e cromática (cor).
Exemplificando...
A minha bela ingrata
Cabelo de ouro tem, fronte de prata,
De bronze o coração, de aço o peito;
São os olhos reluzentes
Por quem choro e suspiro,
Desfeito em cinza, em lágrimas desfeito;
Celestial safira,
Os beiços são rubis, perlas os dentes;
A lustrosa garganta
De mármore polido;
A mão de jaspe, de alabastro a planta.
Que muito, pois, Cupido,
Que tenha tal rigor tanta lindeza,
As feições milagrosas,
- Para igualar desdéns a formosuras De preciosos metais, pedras preciosas,
E de duros metais, de pedras duras?
Frei Jerônimo Baía

Conceptismo – Ênfase no intelectualismo, de modo que as palavras se
fixem na esfera argumentativa.
Exemplificando
Uma das grandes coisas que se vê hoje no Mundo, e nós pelo costume de cada dia
não admiramos, é a transmigração imensa de gentes e nações etíopes, que da
África continuamente estão passando a esta América.
(...) Os Israelitas atravessaram o mar Vermelho e passaram da África à Ásia,
fugindo do cativeiro; estes atravessam o mar Oceano na sua maior largura, e
passam da mesma África à América para viver e morrer cativos (...). Os outros
nascem para viver, estes para servir. Nas outras terras, do que aram os homens, e
do que fiam e tecem as mulheres, se fazem os comércios; naquela, o que geram os
pais e o que criam a seus peitos as mães, é o que se vende e se compra. Oh trato
desumano, em que a mercancia são homens! Oh mercancia diabólica, em que os
interesses se tiram das almas alheias, e os riscos das próprias!
Já se, depois de chegados, olharmos para estes miseráveis e para os que se
chamam seus senhores, o que se viu nos dois estados de Jó é o que aqui representa
a fortuna, pondo juntas a felicidade e a miséria no mesmo teatro. Os senhores
poucos, e os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e
nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome; os senhores
nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferro; os senhores tratando-os
como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em
pé, apontando para o açoite, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos
prostrados com as mãos atadas atrás como imagens vilíssimas da servidão e
espetáculos de extrema miséria.
Padre Antônio Vieira
Barroco em Portugal

Desde o fim do século XVI até o início do XVIII;

Crise política de sucessão – D. Sebastião;

Sebastianismo;
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Perde autonomia – 1580 – domínio espanhol;

Restauração – consolidada por 1706/1750;
Autores de destaque
Padre Antônio Vieira
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Sermões seguiam o padrão retórico dos cinco passos:
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Tema – evocação de uma passagem bíblica que sustentava a tese do
discurso;
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Introito – exposição do plano geral do sermão;

Invocação – pedido de inspiração, geralmente feito à Nossa Senhora;

Argumentação – corpo do texto desenvolvido conforme o plano
previamente concebido. Exemplos extraídos da Bíblia.

Peroração – conclusão, momento em que se reafirmam as verdades
morais do sermão.
Sermão da sexagésima
Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais
antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? -- O mais antigo pregador
que houve no Mundo foi o céu. Coeli enarrant gloriam Dei et opera manuum ejus
annuntiat Firmamentum -- diz David. Suposto que o céu é pregador, deve de ter
sermões e deve de ter palavras. Sim, tem, diz o mesmo David; tem palavras e
tem sermões; e mais, muito bem ouvidos. Non sunt loquellae, nec sermones,
quorum non audiantur voces eorum. E quais são estes sermões e estas palavras
do céu? -- As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a
harmonia e o curso delas.
Vede como diz o estilo de pregar do céu, com o estilo que Cristo ensinou na
terra. Um e outro é semear; a terra semeada de trigo, o céu semeado de
estrelas. O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou
azuleja. Ordenado, mas como as estrelas: Stellae manentes in ordine suo.
Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é
ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os
pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte há-de
estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte dizem luz, da outra
hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer
subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas
hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o
estilo da disposição, e também o das palavras.
As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há-de ser o estilo
da pregação; muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que
pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras, e
altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o
entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que
entender os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para
sua lavoura e o mareante para sua navegação e o matemático para as
suas observações e para os seus juízos. De maneira que o rústico e o
mareante, que não sabem ler nem escrever entendem as estrelas; e o
matemático, que tem lido quantos escreveram, não alcança a
entender quanto nelas há. Tal pode ser o sermão: -- estrelas que todos
vêem, e muito poucos as medem.
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que “saiu o pregador
evangélico a semear” a palavra divina. Bem parece este texto
dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também
faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir
a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que
lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga
o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até
o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre
os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que
semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão
pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são
os que se contentam com pregar na Pátria
Sermão da Sexagésima

Teorização sobre a arte de pregar
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Sermão sobre o sermão

Semen est verbum Dei


“A semente é a palavra de Deus”
Ecce exiit quit seminat, seminare
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“Saiu aquele que semeia, a semear”
Metalinguagem
Sermão de Santo Antônio aos
Peixes
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Alegoria  Compara os homens aos peixes

Alvo: os colonos do Maranhão
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Há peixes grandes que vivem do sacrifício de muitos pequenos  os
“engolem” e “devoram”
Sermão da Primeira Dominga
da Quaresma

Também chamado de “Sermão do Cativo”

Objetivo: convencer os colonos a libertarem os indígenas, que compara
aos hebreus cativos do faraó.

Recurso retórico: se coloca no lugar dos indígenas
Sermão XIV do Rosário

BA, para uma comunidade de negros

Repulsa ao preconceito de cor e ao tratamento cruel a que eram
submetidos os escravos.
Sermão pelo Bom Sucesso das
Armas de Portugal contra as de
Holanda

BA, 1640.

Objetivo: chama baianos e portugueses a defenderem a Bahia da invasão
holandesa.
Barroco no Brasil
A ideologia barroca encaixou-se perfeitamente ao Brasil
(paraíso x violência de domínio);
Barroco do Açúcar – Literatura como principal atividade
artística
Barroco do Ouro (Minas Gerais) – manifestado na
arquitetura, artes plásticas e música.
Início em 1601 – publicação de Prosopopeia (Bento Teixeira)
Autores

Gregório de Matos (Boca do Inferno)

Tomou por modelos Camões, Gôngora e Quevedo;

Destacou-se por textos satíricos, mas também escreveu
líricas amorosas, eróticas e religiosas.
Soneto - Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
Epílogos
Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, numa
cidade, onde falta Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.
Notável desventura de um povo néscio, e sandeu, que não sabe, que o
perdeu Negócio, Ambição, Usura.
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Capítulo X