Pe. Antonio Vieira Pe. Antonio Vieira "Nem português, nem brasileiro; Vieira era inteiramente jesuíta," já disse um autor. O Pe. Antônio Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608, em uma casa pobre na Rua do Cônego, em Lisboa, tendo sido um dos mais influentes homens de seu século em termos de política portuguesa. Pe. Antonio Vieira Sermão da Sexagésima O Sermão da Sexagésima versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus (e que muito bem caberia em políticos atuais), que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus. Pe. Antonio Vieira – Sermão da Sexagésima Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11. E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe. O SERMÃO da SEXAGÉSIMA foi “pregado na Capela Real, no ano de 1655”. O autor voltou a Portugal para tentar conseguir as providências governativas que lhe possibilitassem defender os Índios com maior facilidade. Por isso, Vieira promete voltar para o Brasil logo que tiver “os instrumentos com que a limpar a terra das pedras e dos espinhos.” As tentativas dele não resultam sem êxito, por exemplo proibe-se lutar ofensivamente contra os indígenas sem ordem régia. As suas tentativas missionárias expressa o autor logo no princípio deste sermão quando diz : “Ecce exiit, qui seminat, seminare. (Saiu a semear aquele que semeia), citando antes S. Lucas, VIII, 11. “Semen est verbum Dei. (A semente é a palavra de Deus). Segundo o Pe Ant. Vieira espalham a fé cristã tanto os que vão cristianizar para os países distantes, como os que ficam a pregar na pátria. Todos contribuem para a divulgação do cristianismo.“Ecce exiit qui seminat, seminare.” Diz Cristo que “saiu o pregador evangélico a semear” a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus, até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar a Índia, a China, ao Japão, os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura, aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá achar-vos-eis com mais paço, os de lá, com mais passos: Exiit seminare.” Pe. Antonio Vieira – Sermão de Santo Antonio aos Peixes O SERMÃO do SANTO ANTÓNIO aos PEIXES foi “pregado em São Luís de Maranhão três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino” em 1654. Trata-se do texto alegórico onde o autor critica os colonos que não foram capazes de apoiar as tentativas missionárias dele. Aparecem as expressões como: “o roncador” – o orgulhoso, “o voador” – o ambicioso, “o pegador” – o parasita, “o polvo” – o traidor. O texto deste sermão passou a ser muito conhecido, por isso lembremo-nos neste lugar o fragmento inicial da primeira parte, demonstrando assim não só o jeito especial do autor para criar um “discurso engenhoso”, mas também a coragem dele para criticar abertamente os seus contemporâneos. “Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que tem ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isso verdade? Ainda mal!”