SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PORTUGUESA COMPARAÇÃO COM OUTROS CASOS E EXPERIÊNCIAS DE QUE DÍVIDA ESTAMOS A FALAR? PÚBLICA, PRIVADA? INTERNA E EXTERNA? DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA 131% DO PIB: 243 000 000 000 USD 212 000 000 000 € DÍVIDA EXTERNA (PÚBLICA + PRIVADA) 274% DO PIB 508 000 000 000 USD DÍVIDA PRIVADA PORTUGUESA Se os privados tivessem uma Dívida baixa estaríamos numa situação bem mais favorável Dívida das Famílias Portuguesas: 100% do PIB 219.000.000.000 USD cerca de (30% menos que a Dívida pública) Dívida das Empresas Portuguesas: cerca de 150% do PIB 263.000.000.000 USD (20% mais do que a Dívida pública) Porque é que estaríamos bem melhor? O endividamento das famílias e das empresas portuguesas impede ou limita bastante… - o crescimento da procura interna - a transferência da dívida pública externa para interna - os níveis de investimento presentes e futuros - inviabiliza, ou torna mais difíceis, as políticas keynesianas de combate à crise E tudo isto é gerador de… - baixo crescimento económico - desemprego - impossibilidade de redução substancial da dívida pública DÍVIDA PÚBLICA + PRIVADA Pública: 243 000 000 000 USD Privada 219.000.000.000 USD (famílias) 263.000.000.000 USD (empresas) Total 725.000.000.000 USD 131+100+150 = 381% do PIB DÍVIDA PÚBLICA INTERNA E EXTERNA Estaríamos bem melhor se a dívida pública fosse basicamente interna É o caso da Itália e Japão Não mexe com os mercados externos, as agências de rating, os grandes especuladores e os grandes interesses. Os credores internos aceitam mais facilmente a reestruturação (nomeadamente a nível de prazos) O Estado controla mais facilmente os níveis das taxas de juros e o montante dos juros que paga (que podem envolver taxas reais negativas, em situações de inflação) O Estado pode mais facilmente “eliminar” a dívida interna (por via da inflação ou do incumprimento). OS DETENTORES DA DÍVIDA Que dizer sobre a nossa situação em termos de detentores da Dívida Pública? 3/4 da dívida: Troika e credores nacionais Bancos e fundos estrangeiros venderam grande parte das suas posições Isso pode ser bom em termos de margem de manobra para discutir a reestruturação da dívida. É bom observar o que está a acontecer neste momento com a Grécia, que está numa situação muito semelhante à Portuguesa, em termos de detentores da dívida pública. A evolução mais recente vai no sentido de substituir a dívida ao FMI por outros credores Juros da dívida pública Muito altos, pouco altos ou… assimassim? SUSTENTÁVEL OU NÃO? OS JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA 2014 7.098.000.000 € 2013 7.010.140.000 € 4% - 4,5% do PIB para pagamento de juros 17% das receitas do Estado Referência: Equivalente às despesas anuais totais em Educação Se não tivéssemos de pagar os juros que estamos a pagar… Como é que ficavam as contas públicas? E como é que ficava a economia? E seria possível pagar menos impostos? Resposta: Ficaríamos com um défice nulo a nível das finanças públicas, isto é, as receitas atuais dariam mais ou menos para cobrir o nível atual das despesas públicas. não haveria verbas para o pagamento de qualquer parte da dívida Mesmo assim, sem crescimento económico, Sem crescimento económico também não haveria grande margem para abaixamento de impostos, a não ser que voltássemos a contrair mais dívida AMORTIZAÇÕES DA DÍVIDA Não tem havido qualquer amortização da dívida, em termos líquidos A dívida tem aumentado; não tem diminuído. POR QUE É QUE A DÍVIDA PÚBLICA TEM AUMENTADO, APESAR DA AUSTERIDADE? Culpa do governo e da austeridade? Dívida escondida herdada do governo anterior? Empréstimos à Troika? Ajudas à Banca? Abaixamento do PIB? Falta de crescimento da economia? Aumento de despesas? Cortes? ENTÃO E O ANUNCIADO PAGAMENTO DA DÍVIDA AO FMI? O eventual pagamento da dívida ao FMI, não é mais do que uma substituição dessa dívida por outra dívida. Mudam apenas os credores. As vantagens de tal? Juros mais baixos (algumas décimas) Substituir dívida a uns credores por dívida a outros credores: Faz parte da política de gestão da dívida pública; Aproveitamento das condições do mercado; “Pagar dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei” Afirmação do ex-primeiro Ministro José Sócrates, em 7 de Dezembro de 2011, depois de ter saído do governo. Será? SERÁ QUE O ANTIGO PRIMEIRO MINISTRO TEM RAZÃO? É óbvia que, se fosse possível, seria de toda a vantagem pagar a dívida pública portuguesa, ou uma parte substancial da mesma. O que Sócrates disse só é válido enquanto o nível dos juros se mantiver relativamente baixo e em economias sem grandes problemas económicos. SERÁ QUE A DÍVIDA PORTUGUESA É SUSTENTÁVEL? Será que vamos alguma vez pagar a dívida? Será que a dívida é excessiva e que nunca a pagaremos? Será que vamos “abrir falência”? O exemplo de outros países SUSTENTABILIDADE ECONÓMICA NÃO SIGNIFICA SUSTENTABILIDADE SOCIAL E POLÍTICA Cortes na educação e na saúde, altos níveis de impostos AUSTERIDADE, recessão económica Altos sacrifícios, abaixamento do poder de compra e PIB Mal-estar e revolta social Ascensão de partidos muito à direita ou à esquerda que recusam a assunção da dívida Insustentabilidade política e social SERÁ QUE A DÍVIDA PORTUGUESA É SUSTENTÁVEL ECONOMICAMENTE? Sem crescimento económico significativo (taxas de crescimento de 3% ou mais ao ano), Sem Sem Sem moeda própria, ajudas ao investimento da União Europeia, uma política monetária europeia apropriada… mais tarde ou mais cedo – 2, 3, 4, 5, 10 anos… - acontecerá muito provavelmente aquilo que está a acontecer na Grécia: A dívida torna-se social e politicamente insustentável SUSTENTABILIDADE E INSUSTENTABILIDADE ECONÓMICA Alguns cenários possíveis Cenário 1, altamente improvável Pagamento da dívida por via de mais cortes nas áreas sociais (educação, saúde, pensões), com taxas de crescimento económico ao nível dos últimos anos Possível… mas insustentável política e socialmente Exigiria… - Cortes de mais de 7 mil milhões de Euros por ano - Manutenção dos altos níveis de impostos e de desemprego - Desmantelamento do Estado Social Cenário 2, 20 anos Sem reestruturação da dívida Crescimento de 2% ao ano Poderia tornar sustentável a dívida Evolução difícil e conturbada Alguma criação de emprego Nível da dívida em 2034: 212 B€ (roulement) 212/258 = 82% Ano 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033 2034 PIB Tx cresc. 2% 173 177 180 184 188 191 195 199 203 207 211 22% 216 220 224 229 233 238 243 248 253 258 52% Cenário 3, 20 anos: Sem reestruturação da dívida Crescimento de 4% ao ano A dívida tornava-se sustentável Haveria criação significativa de emprego Mantendo a dívida por roulement em 212 B€ ela passaria para… 212/377 = 66% do PIB em 2034 Face ao aumento do PIB e da riqueza do país o nível relativo de juros baixaria para menos de metade (Muito improvável) Ano 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033 2034 PIB Tx cresc. 4% 177 184 191 199 207 215 224 233 242 252 262 48% 272 283 294 306 318 331 344 358 372 387 128% Cenário 4 (o melhor dos cenários) Quantitative Easing e ajudas Europeias O Banco Central Europeu compra parte significativa da dívida pública portuguesa (Quantitative Easing) Inflação da ordem dos 2-4% na Europa Expansão económica Europeia Programa de investimento europeu forte para Portugal Crescimento económico em Portugal Dívida tornava-se sustentável (Seria bom, mas é um cenário otimista face às recentes posições alemães/europeias) Cenário 5 – Saída à Japonesa Os Japoneses têm uma dívida enorme (a maior do mundo) há dezenas de anos: 226% do PIB Difícil… - A dívida pública Japonesa é basicamente interna, ao contrário da portuguesa: são as famílias japoneses (sobretudo a população mais velha) que empresta ao Estado - Os Japoneses têm um nível de desenvolvimento tecnológico e uma capacidade exportadora que nós não temos - Os Japoneses têm uma disciplina e uma coesão social que Portugal não tem - Os Japoneses têm moeda própria, e não estão obrigados a regras restritivas como os portugueses o estão, no quadro europeu Cenário 6: Saída à Irlandesa: a Irlanda é frequentemente citada como um caso de sucesso e passou por uma situação relativamente similar à portuguesa Há diferenças significativas - A Irlanda é uma economia bem mais pequena, extremamente ligada à Economia inglesa e à sua dinâmica - A Irlanda não está propriamente a salvo Sobretudo a Irlanda é um paraíso fiscal para as grandes empresas, que são uma fonte de emprego, exportações e receitas fiscais Amazon Apple Inc Cisco DCC Dell Dropbox eBay EMC Facebook Dimplex Google Hewlett-Packard Kildare IBM Intel LinkedIn Logitech Microsoft NewBay Openet Oracle PayPal SAP AG Symantec Tata Twitter e centenas de outras- Saída por via da agenda elaborada pelos 12 economistas próximos do PS Plano essencialmente centrado na política de rendimentos e no relançamento da Produção e do Emprego por via do aumento da procura Muito dependente da conjuntura internacional (taxas de juro, preços da energia, boa vontade dos parceiros europeus, situação noutros países) Sucesso muito duvidoso: não se apresenta como uma política geradora de emprego, investimento e crescimento. Na melhor das hipóteses, por si só, iria desembocar no Cenário 2 Cenário 7: Saída por via de um plano de investimentos, de emprego e de crescimento ambicioso? Atração de grandes investimentos por via de créditos fiscais à maneira irlandesa (e como aconteceu com a Auto-Europa)? O atual governo fala em fundos comunitários António Costa fala em fundos comunitários e circunstancialmente num plano de renovação urbana e… Henrique Neto (candidato a PR) fala num plano logístico, no papel do futuro Banco de Fomento, em planos para pequenas empresas em setores estratégicos Sócrates falava num plano envolvendo o setor dos transportes elétricos e…. Juntando tudo, e combinando com eficiência energética em edifícios e Edifícios Energia Zero (EU 2018-2020) – de modo a envolver a construção civil, os transportes elétricos e todo o setor energético? Cenário 8 (pessimista) Desmembramento do Euro e da União Monetária Europeia A austeridade e o desentendimento entre países europeus leva à ascensão de movimentos políticos extremistas em vários países da europa A saída do Euro - forçada ou voluntária - de alguns países precipita o desmoronamento da zona euro Criação de uma moeda portuguesa Desvalorização fortíssima dessa moeda, face ao anterior Euro Forte quebra do poder de compra, mas aumento da competitividade externa Reestruturação forçada da Dívida (perdão parcial significativo) Crescimento económico e crescimento significativo do emprego, ao fim de 1 ou 2 anos Cenário 9 Saída da Alemanha e seus satélites da Zona Euro O Euro desvalorizar-se-ia fortemente A saída da Alemanha seria acompanhada por uma inevitável mutualização e perdão de dívida Inflação Forte perda de poder de compra (primeiros 1-2 anos) Criação de emprego e crescimento económico CENÁRIO PROVÁVEL OU IMPROVÁVEL? Saída da Alemanha da Zona Euro? Fácil em termos operacionais; sem os sobressaltos e o descalabro de uma saída dos mais fracos Mas…. não interessa à Alemanha; a nova moeda Alemã valorizar-se-ia fortemente. A forte valorização levaria a uma quebra de muitos biliões de euros nas exportações alemãs; a Alemanha entraria em recessão Objetivamente os Alemães (e as economias europeias mais fortes) estão a ser altamente beneficiados com os problemas no sul da Europa (depois de estas já terem sido uma bênção para outras economias endividadas da Europa (Bélgica, França, Itália…) Sem os meios de desvalorização do Dólar americano e do Renminbi, este é o “little dirty secret” dos alemães. Os países não são como as empresas; os países não abrem falência O que é que pode acontecer à Grécia, ou a Portugal, ou outro país da Europa em casa de declaração de incumprimento? Como mais de metade da dívida é detida pela Troika… haveria sobretudo que lidar como o recurso, represálias e os problemas que essa mesma Troika – e os países associados - poderiam levantar Recursos judiciais internacionais Possíveis problemas bancários Represálias por parte de alguns meios financeiros A PNÚLTIMA INTERVENÇÃO DO FMI EM PORTUGAL: GOVERNO MÁRIO SOARES/HERNÂNI LOPES - 1983 – 1984 - Sem divisas para comprar ao exterior -> recurso forçado ao FMI - Desvalorização do escudo em 13% - Inflação de 30%, “Printing Money” - Forte redução dos salários reais - A resolução da crise foi rapidíssima, graças em grande parte à habilidade do ministro das Finanças, e às medidas anteriores - Ao fim de dois anos a economia estava a crescer fortemente (sobretudo por via das exportações…). CONCLUSÕES Sem reestruturação e envolvimento da Europa, será muito difícil evitar o incumprimento e o “default” Portugal está atado de “pés e mãos”, com dívida excessiva (pública, privada e externa) e sem meios de combater a crise. Sem moeda própria Sem possibilidades de desvalorização monetária Sem possibilidade de emitir moeda (Printing Money e Quantitative Easing) Sem possibilidade de gerar inflação e aumentar os níveis de crédito bancário e os níveis de investimentos. Conclusões (continuação) Há múltiplas saídas possíveis O mais provável é que a saída não tenha muito a ver com o que está a passar no nosso país, ou com o que se vier a passar nos próximos tempos em Portugal TUDO DEPENDE BASICAMENTE: Da política do BCE Das decisões tomadas na Europa Dos desenvolvimento políticos na Grécia ou noutros países Do que se passar com o Euro….