Karina Anhezini [email protected] DIEHL, Astor Antonio. Herder. In: LOPES, Marcos Antonio (org.). Ideias de história: tradição e inovação de Maquiavel a Herder. Londrina: Eduel, 2007, p. 303-324. Astor Antônio Diehl – professor da Universidade Passo Fundo – Rio Grande do Sul Professor de Teoria da História e pesquisador da Historiografia Brasileira LOPES, Marcos Antonio (org.). Ideias de história: tradição e inovação de Maquiavel a Herder. Londrina: Eduel, 2007. Reúne trabalhos a respeito de autores que produziram história nos séculos XVI, XVII e XVIII. MARTINS, Estevão de Rezende. Historicismo: o útil e o desagradável. In: ARAUJO, Valdei Lopes de, MOLLO, Helena Miranda, VARELLA, Flávia Florentino, MATA, Sérgio Ricardo da (orgs.). A dinâmica do historicismo: revisitando a historiografia moderna. Belo Horizonte, MG: Agvmentvm, 2008, p. 15-48. BARROS, José D’ Assunção. Teoria da História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. (volume 2) Afastamento das concepções alemãs por muito tempo – questões históricas/predomínio da influência francesa no Brasil; Herança do pensamento histórico ocidental da crença iluminista nas potencialidades da razão; As obras de Vico e Herder divergem da concepção racionalista quanto às formas de como os homens, as sociedades e a natureza deveriam ser estudados; Destaques para a especificidade da disciplina HISTÓRIA. “apresentar o pensamento histórico de Johann Gottfried Herder (1744-1803), mostrando nele a possibilidade bem característica de que a história é constituída pela variedade e individualidade, especialmente aquelas especificidades alusivas ao desenvolvimento das nações, das culturas, e dos modos de constituir e ser das culturas” (p. 307). 1) Atitude crítica à razão instrumental ou nomológica – séculos XVIII e XIX – quanto ao desenvolvimento das sociedades; 2) esquecimento da obra de Herder – pela proximidade com o Romantismo; 3) individualidade histórica – necessidade de novas formas para a observação dos fenômenos culturais – o particular e o específico. “Suas obras estabelecem o início das concepções de pensamento sobre a compreensão histórica da humanidade, numa espécie de descontinuidade, em relação à autoconsciência iluminista” (p. 309). Fim do pensamento jusnaturalista – (Direto Natural – Universal, Imutável, Conhecido por meio da razão); Viagens de navio – Nantes (1769) – multiplicidade dos desenvolvimentos das culturas histórico-regionais. Cria-se a tradição de pensamento que será aprofundada por Dilthey, Max Weber e atualmente está presente no debate do multiculturalismo. O pensamento de Herder pode ser localizado na encruzilhada do Iluminismo e do Romantismo Johann Gottfried HERDER (1744-1803). Nasceu em Nohrungen na Prússia Oriental. Cresceu em um círculo luterano e freqüentou a Universidade de Könisberg, onde assistiu as lições de Kant. Foi pastor, passou algum tempo na França e conviveu com o escritor Goethe (1749-1832 um dos líderes do movimento literário romântico alemão). 1) Explicar o passado a partir de leis exclusivas da razão esclarecedora; 2) Conceito de perfeição iluminista que preside a crença de uma continuidade qualitativa da ideia de progresso humano. Herder cultivou as artes por intermédio dos sentimentos intuitivos para alcançar a compreensão da individualidade histórica. Ao invés da perfeição que leva ao progresso – aparece em Herder a concepção de crescer e de um “vir a ser” orgânicos. Essa perspectiva representa uma infinidade de destinos em processos de realização histórica de indivíduos sobre os quais, em última instância, parece ainda atuar a mão de Deus. Ideia de Providência. Essa concepção de “desenvolvimento” como a caracterização de um ponto inicial interno que prevê um ser de incomparáveis individualidades é o que levará a Escola Histórica alemã a se preocupar com a força de indivíduos particulares. No lugar de leis naturais universais regidas por um fio condutor a priori, Herder propõe o estudo das singularidades, do particular, realidades historicamente localizadas – este movimento terá o nome de HISTORISMO. A sua ênfase acerca das subjetividades dos indivíduos, sobre as especificidades culturais, bem como a perspectiva de “povo” ou mais especificamente de “espírito do povo” como as individualidades históricas, as quais permitiriam formar em primeiro plano uma identidade social, denunciam a grande influência de seu pensamento. O Romantismo passou a ser a expressão e o indicador de seus sofrimentos em relação à alienação social e aos elementos imperativos da sociedade, da economia e da política modernas. (processos de constituição dos Estados Modernos, Revolução Industrial). Tentativa de criar uma identidade com o passado, um lastro de sentido do presente buscado no passado – povo e espírito do povo são categorias fundamentais – tradições populares, canções, anedotas, literaturas infantis abastecem a identidade política – ex.: Irmãos Grimm (Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, A Bela Adormecida, dentre outros). A constituição da História como disciplina possui dois projetos orientados em direções opostas: um prospectivo, direcionado para o futuro; e outro retrospectivo, dirigido para o passado. As características da História como disciplina moderna constituem-se exatamente no ponto de intersecção desses dois projetos como se a história fosse o elo de ligação entre dois sentidos opostos: o passado e o futuro. O presente é representado como o espaço de experiências e do tempo comprimido. Herder percebeu essas diferentes forças na medida em que o seu ponto de partida foi a observação das diferenças do e no tempo presente – relação entre tradição e inovação. Herder viajou e observou a diversidade humana – concluiu: a tarefa de compreender depende não da extração de um conjunto abstrato de princípios, e muito menos da aplicação de um modelo teórico, mas sim de um encontro com o singular, o específico, o individual. “A lei fundamental da História” (GARDINER, p. 43) – lemos nesta lei a variedade. Cada circunstância determina uma história, portanto a história é relativa. Herder - convicto de que a característica histórica mais marcante é a variedade e a individualidade das culturas e das nações, colocadas sob o prisma do “espírito do povo”. A história se constituiria por duas forças: as forças externas resultantes do ambiente humano e as forças internas as quais só poderiam ser descritas como o espírito dos vários povos em que a espécie humana homogênea se decompôs. Para compreendermos a história de uma nação seria necessário entendermos a sua situação geográfica e o seu clima. No entanto, isto seria insuficiente. Seria necessário reconhecer o espírito que se faz presente e se revela naquilo que os seus membros fazem. 1) preocupação de restituir a particularidade de cada sociedade que só o percurso histórico pode conseguir apreender; 2) uma vontade de unificação da pluralidade nos quadros da Providência. A distinção entre os homens seria verificada a partir da diferença entre civilizado e bárbaro. Herder se afasta da ideia de que seria possível interpretar o comportamento dos homens como se tal comportamento possuísse um padrão ao longo dos períodos históricos. Ou seja, contrário ao que Kant afirmava, Herder acreditava que não se deveria tentar reduzir a variedade e a capacidade de adaptações humanas a uma única forma que triunfaria no futuro. Nessa mesma perspectiva, torna-se difícil comparar povos e culturas, pois cada nação teria seu próprio centro e encontro com a felicidade. Insiste na possibilidade de ser imparcial na compreensão dos fenômenos da cultura; mas, existiriam limites a considerar para a conquista dos objetivos dos homens e das nações; “esses limites estariam vinculados às especificidades históricas das culturas e ao fato de que, na história, tudo seria transitório. Essa transitoriedade representaria não a insegurança, mas antes de tudo um princípio de esperança (p. 321).