Eritema anular centrífugo
no local de
infusão de dalteparina
Thales Pereira de Azevedo, Celso Tavares Sodré, Gustavo Moreira Amorim,
Mariana Martins de Mello, Camila de Melo Marçal Pinto, Tullia Cuzzi
Serviço de Dermatologia, Curso de Graduação e Pós-Graduação HUCFF-UFRJ,
Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ausência de conflito de interesse
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
INTRODUÇÃO
• O eritema anular centrífugo (EAC) faz parte do grupo dos eritemas
figurados, sendo caracterizado por uma ou mais lesões anulares ou
serpiginosas de borda eritematosa, elevada e infiltrada, muitas vezes
descamativas, de crescimento lento e centrífugo, com posterior
clareamento central, tendendo a se localizar nas coxas e quadris
• Podem chegar a 10 cm ou mais de diâmetro, acompanhadas
eventualmente de prurido
• O diagnóstico de EAC é de exclusão, após serem descartados outros
eritemas figurados e outras condições que cursam com lesões
eritematosas anulares
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
INTRODUÇÃO
• Como tem sido relacionado a causas diversas e em muitos casos
considerado idiopático, tem sido considerado, por muitos, mais um
padrão reacional que uma entidade clinicopatológica específica
• Seria um padrão de reação de hipersensibilidade a um ou mais
antígenos, de agentes infecciosos como fungos (principalmente
dermatófitos), vírus (poxvírus, EBV, VZV, HIV), parasitas e ectoparasitas
(phthirus pubis)
• Também é associado menos frequentemente a drogas (diuréticos, antiinflamatórios não esteroidais, antimaláricos, finasterida, amitriptilina),
gravidez, alguns alimentos, endocrinopatias autoimunes, síndromes
hipereosinofílicas e ocasionalmente neoplasias
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
INTRODUÇÃO
• Os achados histopatológicos incluem um infiltrado linfohistiocitário
perivascular superficial, podendo haver leve espongiose e
microvesiculação, além de paraceratose focal
• As heparinas são potentes anticoagulantes usados na prevenção e
tratamento de doenças tromboembólicas
• Diversos efeitos colaterais estão descritos, muitos deles relacionados a
reações de hipersensibilidade, dentre elas, as de hipersensibilidade
tardia são as comuns, se apresentando inicialmente com edema
subcutâneo que evolui para uma lesão eritematosa e depois eczematosa
e pruriginosa, com espongiose e riqueza de eosinófilos na histologia
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
INTRODUÇÃO
• As heparinas são mucopolissacarídeos com um forte potencial de ligação
proteica, o qual tem um papel importante no mecanismo de alergia
• O potencial alérgico não é perdido processando a heparina não
fracionada (HNF) para obter as heparinas de baixo peso molecular
(HBPM - grupo a que pertence a dalteparina), sendo as últimas capazes
de produzir todo o espectro de reações alérgicas observado com a HNF
• Na literatura consultada, não encontramos relato de EAC associado à
injeção de heparinas
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
RELATO DA COMUNICAÇÃO
• Paciente do sexo feminino, 40 anos, portadora de síndrome do anticorpo
antifosfolipídeo (SAAF), internada devido a um quadro de insuficiência
respiratória e sepse
• Apresentava no local de infusão de dalteparina na coxa, uma placa
eritemato-edematosa, de 15 cm no maior diâmetro, pouco pruriginosa,
com crescimento progressivo há uma semana e involução central,
sugestiva de EAC
Placa eritemato-edematosa, pouco pruriginosa
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
RELATO DA COMUNICAÇÃO
• Vinha fazendo uso de dalteparina há 20 dias, sem nenhuma reação
adversa prévia. Já havia feito uso de heparina e dalteparina em
internações prévias, sem relato de reação semelhante
• Foi realizada biópsia em fuso, incluindo a borda da lesão e a área
perilesional, com histopatológico demonstrando dermatite perivascular e
intersticial discreta, com infiltrado linfocitário, compatível com a hipótese
clínica de EAC
• A lesão sofreu remissão completa após 2 semanas, com o uso de
dexametasona creme 0,1%
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
DISCUSSÃO
• O surgimento da lesão apenas no local da aplicação da dalteparina,
implicou na hipótese da relação causal
• As características clínicas da lesão como seu aspecto anular
eritematoso, com crescimento centrífugo progressivo e clareamento
central, nos levaram a ter como principal hipótese o EAC
• O achado histopatológico de dermatite perivascular é justificado pelo
agregado linfocitário que se forma ao redor dos vasos, descrito como “em
manguito”
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
DISCUSSÃO
Excluímos os seguintes diagnósticos diferenciais:
1. Urticária vasculite: o infiltrado é perivascular e intersticial, neutrofílico, com
extravasamento de hemácias e leucocitoclasia, além de necrose fibrinoide
dos vasos
2. Lupus: apesar de portadora de SAAF e a histopatologia compatível, a lesão é
única e faltam critérios clínico/laboratoriais para este diagnóstico. Foram
negativos: o fator antinuclear, anti-DNAdh, anti-Sm, anti-histonas, anti-SSA e
anti-SSB
3. Reação de hipersensibilidade tardia à dalteparina: clinicamente seria
inicialmente uma placa infiltrada e a seguir apresentaria aspectos
eczematosos, na histopatologia observa-se dermatite espongiótica e denso
infiltrado de linfócitos e eosinófilos
4. Dermatofitose: Exame micológico direto e cultura foram negativos
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
DISCUSSÃO
• Concluirmos portanto, tratar-se de um EAC no local de infusão de
dalteparina
• Não há relato na literatura de reação tipo EAC a heparina ou seus
derivados
• Embora não tenhamos podido realizar o teste subcutâneo para
reproduzir a reação, acreditamos se tratar de um novo padrão clinicohistológico de reação às heparinas de baixo peso molecular ainda não
registrado na literatura
• Consideramos importante alertar sobre esta condição, principalmente
pela indicação cada dia mais frequente do uso dessas drogas
Eritema anular centrífugo no local de infusão de dalteparina
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Azulay RD, Azulay DR, Azulay LA. Dermatologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013.
2. Bolognia JL, Jorizzo JL, Schaffer JV. Dermatology. 3 ed. New York: Elsevier; 2012.
3. Ziemer M, Eisendle K, Zelger B. New concepts on erythema annulare centrifugum: a clinical reaction
pattern that does not represent a specific clinicopathological entity. Br J Dermatol. 2009 Jan;160(1):119-26.
4. Jappe U. Allergy to heparins and anticoagulants with a similar pharmacological profile: an update. Blood
Coagul Fibrinolysis. 2006 Nov;17(8):605-13.
5. Mehregan DR, Hall MJ, Gibson LE. Urticarial vasculitis: a histopathologic and clinical review of 72 cases. J
Am Acad Dermatol. 1992 Mar;26(3 Pt 2):441-8.
Download

UFRJ - Dermato.med