O URAGUAI BASÍLIO DA GAMA O Uraguai Basílio da Gama “Pobre Basílio! Tinhas contra ti o assunto estreito e a língua escusa.” Machado de Assis BASILIO DA GAMA 1741 - 1795 José Basílio da Gama nasceu em oito de abril, de 1741, no então arraial de São José do Rio das Mortes, hoje cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. Biografia de Basílio da Gama • Aos 16 anos, Basílio ingressa no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Concluiu o noviciado e fez os primeiros votos para ser padre jesuíta e pertencer ao quadro da Companhia de Jesus. Pertencer a tal Ordem significava fazer parte de uma elite intelectual e política, visto que os jesuítas dominavam a educação em Portugal. Biografia de Basílio da Gama • Em 1759, os jesuítas foram expulsos da pátria portuguesa, como parte de um processo de modernização do país protagonizado por Sebastião José de Carvalho e Melo (o Marquês do Pombal), e Basílio pode ter-se desligado da Companhia para evitar problemas. Biografia de Basílio da Gama • Entre 1762 e 1764 passa a viver na Itália (Roma), onde frequentou os mais sofisticados círculos literários. É admitido, como único brasileiro, na prestigiosa Arcádia Romana e adota o pseudônimo pastoril de Termindo Sipílio. Biografia de Basílio da Gama • Em 1768, por decreto, vai para Portugal, onde é preso, sob a ameaça de exílio em Angola, por suas antigas ligações com os jesuítas. Para escapar de tal infortúnio, escreve um poema (Epitalâmio da excelentíssima senhora dona Maria Amália), em louvor ao casamento da filha do todo-poderoso Marquês do Pombal (primeiro-ministro português entre 1750-1777), mas com um comentário positivo das virtudes do pai da noiva e de sua ação renovadora em Portugal. Biografia de Basílio da Gama • Basílio cai nas graças de Pombal e sai da cadeia. Em 1769 sai à luz seu livro mais famoso, O Uraguai, poema que tem em suas entranhas um discurso e uma visão de mundo totalmente afinados com as diretrizes da política pombalina.Em 1774, começa a trabalhar diretamente com o Marquês de Pombal, na condição de seu secretário e interlocutor privilegiado. Biografia de Basílio da Gama • Mesmo depois da queda de Pombal, em 1777, Basílio continuou servindo aos principais círculos de poder em Portugal. Produziu bastante no campo da literatura e veio a falecer em 1795 em Lisboa. O Uraguai = o tema histórico • A região dos Sete Povos das Missões Orientais foi colocada em pauta nas disposições do Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, em 1750, o qual determinava nova demarcação das fronteiras de suas colônias na América do Sul. O Uraguai = o tema histórico • A colônia portuguesa do Santíssimo Sacramento (no sul do atual Uruguai) ficaria sob os domínios da Espanha e os Sete Povos das Missões Jesuíticas, os povoados guaranis catequizados por jesuítas espanhóis, seriam entregues aos portugueses. O Uraguai = o tema histórico • As fronteiras entre os dois impérios ibéricos na América: • Portugal: queria expandir sua fronteira sul ao máximo, de preferência até o rio da Prata. • Espanha: queria empurrar Portugal para o norte, preservando para si o domínio daquele rio fundamental (O Uruguai). O Uraguai = o tema histórico • Missões: reduções (na margem esquerda do rio Uruguai) que se espraiaram pelo miolo do território sul-americano e consolidaram-se como uma verdadeira civilização, organizada, produtiva, próspera, integrada aos mercados. Pagavam tributos à Espanha e, embora não tivessem autonomia política, eram comandadas por padres jesuítas espanhóis. O Uraguai = o tema histórico • Os padres jesuítas das Missões foram acusados de, a partir da expansão e da consolidação de suas reduções, querer fundar um império próprio, independente tanto da Espanha quanto de Portugal. • População das Missões: na altura de 1740 = mais de 95 mil pessoas, cada aldeia = entre mil e seis mil habitantes. O Uraguai = o tema histórico • Feito o Tratado de Madri = ordem: • Os índios guaranis e os padres jesuítas deveriam abandonar as Missões à margem esquerda do rio Uruguai. • Agravante = A Ordem dos jesuítas estava passando por uma conjuntura especial na Europa: acusações de conspirações contra governos = alvo dos iluministas. O Uraguai = o tema histórico • TENSÃO = guerra e chacina: • Lideranças indígenas e padres jesuítas consideraram um absurdo tal determinação (via Tratado de Madri), porque implicava abandonar verdadeiras cidades com toda uma organização econômica próspera, obtida com o trabalho de várias gerações. A guerra guaranítica A guerra guaranítica • O espaço missioneiro deveria integrar-se ao espaço colonial português, não obstante a demarcação dos limites desse tratado foi interrompida várias vezes pela recusa dos índios missioneiros em entregar as terras, culminando na Guerra Guaranítica. O Uraguai = o tema histórico • Conflito = da parte dos impérios ibéricos: • 1751: expedição conjunta dos dois exércitos para demarcação das fronteiras acertadas no Tratado; • Líder português: Antônio Gomes Freire de Andrada (então governador de MG e RJ) • Desfecho: a expedição luso-espanhola é barrada pelos índios. O Uraguai = o tema histórico • 1754: novamente são enviados exércitos à região dos Sete Povos, para evacuar aldeias, desta vez com forte espírito de guerra. • Dificuldades: atrasos do exército espanhol que enfrentou uma terrível enchente e muitas baixas em uma batalha com os índios. O Uraguai = o tema histórico • 1755: Nova tentativa de cumprimento do Tratado: • Exército português = bem organizado (1.600 militares e uns 200 aventureiros/bandeirantes) em armas, mais de 6 mil cavalos e grande poder de fogo, além de 200 escravos; O Uraguai = o tema histórico • Exército espanhol = números parecidos com o exército luso = aspecto diverso: dois terços de seus 2 mil homens era de “gaúchos” (homens livres = sem organização militar regular) = mostraram uma face sanguinária (direito ao saque) no combate (final) de Caiboaté. O Uraguai = o tema histórico • Horizonte complicado dos índios = a resistência em desvantagem: • Não tinham muita capacidade guerreira (nunca haviam se preparado para agredir outros povos) e uma grande parte, ilusoriamente, tinha esperança que a diplomacia dos jesuítas, na Europa, conseguisse reverter as cláusulas do Tratado. O Uraguai = o tema histórico • Janeiro de 1756: as tropas luso-espanholas encontram-se no atual município de Bagé e começam a marcha em direção aos Sete Povos (rumo a batalha de final de Caiboaté). O Uraguai = o tema histórico • Reação dos índios: alguns líderes deliberaram fugir para o outro lado do rio, queimando os campos e as plantações, mas outras lideranças indígenas, como Sepé Tiaraju, o maior líder guerreiro dos guaranis, tentaram articular resistência e decidiram combater, à moda guerrilheira, as tropas ibéricas. SEPÉ TIARAJU SEPE TIARAJU • Sepé Tiaraju nasceu entre a segunda e terceira década do século XVIII, na sociedade missioneira composta dos trinta povos guaranis. Foi educado com esmero pelos espanhóis, principalmente no que se refere ao uso das armas, tornando-se alferes real e corregedor do povo de São Miguel, o que lhe foi de muita valia na Guerra Guaranítica pelas suas grandes habilidades como estrategista, planejando e executando os movimentos e operações da tropa missioneira. Comandou o exército guarani de, aproximadamente, dois mil e quinhentos índios. SEPÉ TIARAJU • Depois de muitos atos de bravura, e de insucessos nos confrontos, no dia 7 de fevereiro de 1756 Sepé foi morto, na sanga da Bica, atualmente parte urbana da cidade de São Gabriel (RS): primeiro, seu cavalo rodou e o guerreiro guarani foi lanceado por um soldado português; depois, segundo testemunho de um padre, foi baleado pelo governador de Montevidéu, José Joaquim Viana, que ainda mandou cortar a cabeça ao cadáver. SEPÉ TIARAJU • Com a morte heróica foi elevado à condição de mito fundador do povo missioneiro e gaúcho. Qualidade consolidada após duzentos e cinqüenta anos, através do imaginário popular, sendo mais conhecido como “São Sepé Tiaraju, o mártir da terra sem males, o santo protetor de todos os povos que lutam pela • terra” . O Uraguai = o tema histórico • FIM DA GUERRA: • Os índios que bravamente resistiram foram derrotados; • O exército luso adotou a prática de prender os inimigos vivos e o exército espanhol preferiu matá-los. • Em maio de 1756, o exército luso entrou triunfante nas Missões. O Uraguai = o tema histórico • Números da tragédia: • • • • Para os exércitos ibéricos: 1.723 índios mortos; 127 prisioneiros; 326 sobreviventes que fugiram. O Uraguai = o tema histórico • Registro demográfico feito pelos jesuítas acerca dos Sete Povos das Missões em 1753, antes do processo de expulsão, morte e fuga: • População: 6.144 famílias, num total de 29.052; • Menor povoado: São Lourenço: 1.838 pessoas; • O mais populoso: São Miguel: 6.898 pessoas; • Em 1780 a mais antiga cidade sulina, Rio Grande, contava 2.421 habitantes e a aldeia de Porto Alegre contava 1.312 habitantes. O URAGUAI (1769) O URAGUAI (1769) • Do título: O título do livro de Basílio da Gama é o nome do rio (o Uruguai) que faz limite entre o atual noroeste do Rio Grande do Sul, no Brasil, e o nordeste da Argentina, rio a cuja margem esquerda se localizavam os Sete Povos. O nome desse rio era grafado com “a” e com “u” na segunda sílaba; Basílio optou pela forma que está consagrada no título. O URAGUAI (1769) • Estrutura da obra: Estruturalmente, O Uraguai quebra com o padrão épico, nos moldes de A Ilíada, A Odisséia e de Os Lusíadas. O poema, escrito em decassílabos, possui apenas 1377 versos brancos (sem rima), sem divisão regular de estrofes. Embora flexíveis, é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. O URAGUAI (1769) • Estrutura da obra: Embora Basílio aborde a temática de uma guerra e de heróis em combate, conforme a tradição épica, não há um indivíduo heróico português que assuma um valor grandioso. É, pois, o índio que se torna valoroso, apesar de encontrar a morte. Além, disso a caricaturização satírica dos padres jesuítas também é um fator dissonante do épico. O URAGUAI (1769) • Uma obra que bajula o poder? • O poema é dedicado ao irmão de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, e oferecido ao próprio Sebastião José de Carvalho e Melo, então Conde de Oeiras, depois Marquês do Pombal (título de 1769). Além disso o herói nominal do poema é Gomes Freire de Andrada, o executor da política pombalina na campanha contra os Sete Povos. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Curiosamente, embora o autor tenha composto sua obra para ser um hino laudatório ao feito militar de portugueses, e de seus aliados espanhóis, na figura de Gomes Freire de Andrade, o que de fato se lê nos cinco cantos de seu poema é uma louvação ao índio do novo mundo com suas virtudes naturais intrínsecas. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • O índio acaba superando, no seu espírito, o guerreiro português, que era preciso exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como filho da “simples natureza”, ele aparece como um elemento esteticamente mais sugestivo. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Assim, enquanto o herói europeu busca cumprir a ordem que lhe foi dada, se possível sem que haja conflito, o herói indígena contrapõe-se não por um caráter maldoso ou vil. Sepé quer apenas ficar em sua terra, reivindicando o direito natural de nativo da terra, e manter ali as reduções e os padres que as administram juntamente com os índios. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Basílio não ignora a legitimidade dos motivos de Sepé, apenas atribui estes motivos à manipulação dos jesuítas, estes sim, os verdadeiros vilões da história. Estes vilões, porém, são elementos menores dentro da narrativa, e são quase totalmente reduzidos a uma figura, a do padre Balda. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Toda a corrupção e maldade dos jesuítas resume-se às atitudes do pérfido padre, o que pessoaliza o pólo negativo tornando-o, assim, pouco representativo. Mais do que uma batalha entre heróis e vilões, o que temos no poema é o embate e o questionamento dos valores civilizados e primitivos, um choque entre a cultura européia e a cultura primitiva e autêntica dos reais “donos” do território. O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Segundo Sergius Gonzaga, “o choque entre a visão racionalista européia e o primitivismo americano torna-se melancólico – e, portanto, não-épico – quando o general Gomes Freire dialoga com os chefes indígenas, Cacambo e Sepé”. O ponto de vista de Basílio da Gama diante da conversa entre os inimigos revela-se, conforme o crítico, paradoxal: “em termos ideológicos, ele é favorável aos europeus, mas, em termos sentimentais, simpatiza com os índios.” O Indianismo & o heroísmo em O Uraguai • Enfim, para perceber tal ambigüidade, basta que se observe a hipocrisia do discurso imperialista do general português em confronto com as razões muitos mais convincentes e naturais do discurso do chefe indígena Cacambo. Assim, a contradição de Basílio da Gama que pretende, por força de suas conveniências políticas, glorificar tanto o conquistador quanto o índio missioneiro, é equacionada pela crítica feroz a um terceiro elemento: os jesuítas. RESUMO DOS CANTOS CANTO I • Nos primeiros versos do poema, o leitor é colocado diante dos campos devastados e cheios de cadáveres onde se deu a batalha entre os exércitos português e espanhol e o dos índios guaranis. CANTO I • Conta Gomes Freire que depois de firmado o “Tratado de Madri”, por D. João V (de Portugal) e D. Fernando VI (da Espanha), a fim de resolver os problemas de limites territoriais entre os dois impérios, foram enviados para a região das Missões o exército espanhol e o exército português a fim de juntos demarcarem as terras, para garantir o acordo entre os países, já que o cumprimento do tratado interessava a ambos os estados. CANTO I • Porém, antes da união dos exércitos, os jesuítas induziram os índios a atacar um forte lusitano em Rio Pardo. Houve luta, os índios perdem o combate e alguns são feitos prisioneiros. Depois disso, o general português parte em busca dos Sete Povos, sempre na espera da junção com o aliado (Espanha). CANTO I • Depois de caminhar muitos dias, o exército português enfrenta a travessia do rio Jacuí. Nessa altura, Gomes Freire recebe a notícia de que o general espanhol não viria mais, porque os índios tinham esterilizado os campos dos quais se alimentariam os seus cavalos e o gado. CANTO I • O general espanhol, então, aconselha que Gomes Freire também se retire. Mas, Andrade, indignado, não aceita “dar passos para trás, retirando-se do campo de batalha”, e dispõese a esperar o aliado às margens do Jacuí. Ocorre, então, uma enchente tão grande que deixa alagada toda a região. Contudo, o general não abandonou o local, instalando o seu exército por dois meses no alto das árvores. CANTO I • Finalmente, obrigado pelas dificuldades, impostas pela natureza, e pela demora do aliado, o general teve de abandonar o ponto a que chegara e retirar-se. Destaca-se, portanto, neste episódio, o caráter oportunista dos jesuítas, a bravura dos índios, a perseverança do general português, que não resultou quase em nada, devido enchente do rio Jacuí. Canto II • No canto II, enfim, as tropas lusoespanholas começam a marchar rumo ao Sete Povos das Missões. Depois de muitos dias andando, chegam a um lugar onde está o exército guarani. Canto II • Gomes Freire de Andrade lamenta a grande probabilidade de um conflito e, a fim de tentar uma saída diplomática, manda soltar os índios prisioneiros, que, pelo bom tratamento recebido no cárcere, despende-se calorosamente do general e depois, já entre os seus, falam sobre a nobreza de Andrade. Canto II • Com a chegada de dois embaixadores índios, o general tenta negociar uma solução pacífica com os dois líderes, Sepé e seu companheiro Cacambo. No diálogo, são apresentados fortes argumentos das duas partes. Não há julgamento de valor por parte do narrador: as razões do general e dos índios são colocadas em pé de igualdade. Sepé é o mais inflexível, não quer negociação, não reconhece o poder do rei português nem aceita seu domínio sobre o território. Canto II • O discurso de Cacambo denuncia a crueldade do branco em sua invasão ao índio. Apesar disso, ele acredita que a paz seja possível, desde que a razão supere o braço armado, pensamento típico do ideário iluminista. Dizendo que se o rei de Espanha desejasse dar terras a Portugal, que desse outras (as Buenos Aires ou Corrientes), pois aquelas tinham dono. Além disso, Sacramento, em termos estratégicos, era mais importante do que as Missões e os portugueses estavam prestes a fazer um péssimo negócio. Canto II • Cacambo demonstra que possui plena consciência do destino de seu povo, que é ser talvez destruído, pela astúcia da política européia. A razão de seu argumento pode demonstrar, também, que os aliados ainda são verdadeiros inimigos entre si, e que os índios não passam de vítimas de um conflito mal resolvido entre eles. Assim, a sua fala parece indicar a superação de seu estado natural, porque representa a conquista de uma abstração lógica ou pensamento civilizado - capaz, em princípio, de reacender a discórdia entre os aliados e evitar, com isso, o massacre de seu povo. Canto II • Percebe-se, portanto, a diferença do caráter de Cacambo e a do seu companheiro, Sepé, que é menos racional e mais agressivo. Poderíamos dizer que Cacambo foi um diplomata e Cepé foi um guerreiro, tanto que tiveram mortes “diferentes”. Sepé na batalha e Cacambo através das mãos vis do egoísta padre Balda. Canto II • Também nesse canto, nos deparamos com o discurso persuasivo e hipócrita do general Andrade tentando convencer os índios de que estavam sendo explorados pelos jesuítas, que haviam construído um “império tirânico”, e que a sua missão ali era de libertá-los e torná-los felizes como ele. Canto II • A fala de Sepé, mais curta e agressiva, salienta o direito natural dos índios pelas terras onde vivem, pois como herança de seus antepassados, deveriam ofertá-las aos seus descendentes. Trata-se, pois, de uma lamentação em reação a invasão dos europeus ao continente americano. Invasão essa que pretende desalojá-los e apoderar-se de forma bárbara de seus recursos naturais. Canto II • E o bravo guerreiro encerra seu curto discurso esclarecendo que se os europeus queriam a guerra, então a teriam. O general português também acaba por admitir que a guerra era inevitável e permite a partida dos dois embaixadores índios, depois de presenteá-los. Então, depois de fracassada a tentativa diplomática de um acordo de paz, todos começam a preparar-se para o confronto. Canto II • Apesar da valentia do índio, o poderio bélico do europeu impera, sem contudo desmerecer o índio. Visto que, apesar da adversidade, o índio não se intimidou, lutando até não poder mais. Sepé, depois de lutar como um bravo, e de matar inúmeros brancos, acaba ferido mortalmente com um tiro no peito e tomba morto. Então, na ausência do grande comandante e guerreiro, Cacambo, ao lado de Caitutu e Tatu-Guaçu, reúne os índios restantes e foge. CANTO III • O terceiro canto inicia-se com uma imagem alegórica de uma povoação destruída pela ambição do injusto império europeu. Contudo, o general desta investida não se rejubila com a vitória. Pelo contrário, ele se compadece dos habitantes daquele chão. CANTO III • Depois de vencida a batalha, o general luso conduz suas tropas para as Missões. Depois de dias caminhando pelos campos, acampam às margens do Rio Uruguai, próximo ao território a ser ocupado. Cacambo dormia na margem oposta do rio a espreita dos europeus, e, sem conseguir dormir, vê a imagem fantástica (ou talvez ilusória) e triste de Sepé, exortando-o vingar a sua morte e defender a pátria: CANTO III • Cacambo tenta incendiar o acampamento europeu e consegue atravessar o profundo e irado rio sem, no entanto, provocar algum barulho que pudesse acordar o exército de Andrade. Conseguindo, assim, “concretizar” a missão a ele incumbida por Sepé: incendiar o acampamento português, voltando, em seguida, para as Missões para dar a notícia ao padre Balda. Porém, essa empreitada foi debalde, visto que não provocou grandes problemas ao exército de Gomes. Já que o fogo foi rapidamente controlado, sob a autoridade do general. CANTO III • O narrador, então, lamenta o destino que aguarda Cacambo nas Missões. O heróico índio era o cacique da tribo e havia casado com Lindóia, também altiva e nobre. E, voltando de forma antecipada para o seu povo, é preso, numa escura prisão, como traidor e envenenado pelo padre Balda, sem receber as honras fúnebres com pouca terra cobrindo seus nobres ossos, e sem ter visto novamente sua amada esposa antes de seu injusto fim. CANTO III • O padre Balda, jesuíta e grande vilão da história, pretendia com o assassinato de Cacambo, colocar seu filho bastardo, Baldetta, no comando da tribo. E obrigar a esposa e precoce viúva do generoso índio a se casar com seu “afilhado”. CANTO III • Assassinado Cacambo, Lindóia decide se matar ao em vez de se entregar ao Baldetta, o filho do padre assassino. Recorre, então, à velha feiticeira Tanajura na esperança de ela pudesse fazer alguma magia que a fizesse encontrar Cacambo. A velha leva a jovem viúva à gruta e lá elabora um feitiço. E num pote ferrugento com água da fonte, a feiticeira fez a nobre índia ver a vingança do assassinato de Cacambo, a destruição de Portugal por um terremoto (1755), a expulsão dos jesuítas e a reconstrução de Portugal pelo Marquês de Pombal. Canto IV • Sempre lamentando a devastação que vê diante de si, Gomes Freire aproxima-se, com seu exército, da missão jesuítica. E depois de vencer a última resistência nos grandes montes da serra, enfim alcança o cimo da montanha, de onde pode ver toda a beleza da região: as longas campinas, os riachos e fontes claras, os arvoredos frondosos, as plantações e o vagaroso gado do território das Missões. Enquanto isso, o pérfido padre Balda prepara o casamento de Lindóia e Baldetta com um curioso desfile militar. Canto IV • Para que se iniciasse a estranha festa de casamento, no meio de uma guerra e ignorando totalmente o luto pela morte de Cacambo, faltava a noiva: a mísera Lindóia. Tanajura, um tanto irritada, informa a todos que resolveram procurar por Lindóia que a tinha visto entrar sozinha no jardim, triste e chorosa, sem deixar que ninguém fosse com ela. Canto IV • Caitutu, irmão da índia, parte a sua procura e entra, enfim, na mais remota e interna parte de antigo bosque, escuro e negro, onde ao pé de uma lapa (gruta) cavernosa, havia uma rouca fonte que murmurava, coberta por uma melancólica parreira de jasmins e rosas. Este lugar delicioso e triste, cansada de viver, tinha escolhido para morrer a mísera Lindóia. A encontra adormecida e enrolada em seu corpo, uma serpente. Caitutu consegue matar a cobra, mas já era tarde: Lindóia havia sido picada e morre nos braços do irmão que contempla a morte que se faz bela em seu rosto (MORTE = ROMÂNTICA) Canto IV • A MORTE DE LINDÓIA: Esta passagem, certamente a mais famosa do poema, conhecida como “a morte de Lindóia” é uma das mais belas do texto, denunciando o lirismo indianista e pré-romântico de Basílio da Gama, através da atitude heróica da índia que prefere a morte em vez de trair a memória de seu marido, revelando, assim, altivez e nobreza de caráter. Canto IV • Ao ver frustrados seus planos maquiavélicos, com o suicídio de Lindóia, o padre Balda proíbe os ritos fúnebres e manda deixar seu corpo exposto às feras. Em seguida, culpa a feiticeira Tanajura e incita os índios a matá-la, condenando-a em um auto de fé. Neste momento, chega um mensageiro avisando que o exército ibérico se aproxima. Balda manda incendiar a redução, amarra Tanajura em um tronco e começa por ela o fogo. Os jesuítas – além de Balda, há mais dois, pouco expressivos: Tedeu e Patusca – fogem para uma redução vizinha. Canto IV • Gomes Freire de Andrade entra, triunfalmente, na redução, contém o incêndio iniciado por Balda, e mais uma vez lamenta toda aquela destruição. Os soldados se impressionam com o tamanho e a riqueza do lugar, que ainda pode ser percebido em meio às ruínas. Andrade indigna-se com a atitude dos padres de não pouparem sequer o altar e os símbolos sacros destruídos pelo incêndio. A sugestão é de que são justamente aqueles que deveriam representar a igreja os seus corruptores, que não respeitam os símbolos máximos da fé que deveriam pregar. CANTO V • No início do quinto canto o narrador descreve o teto da catedral, onde os jesuítas tinham feito pintar vilas, cidades, províncias e reinos. Tais pinturas ostentavam a representação do poder da Companhia de Jesus, seus planos de conquista do mundo e as ações já realizadas, incluindo uma série de atentados e assassinatos, heresias e práticas de corrupção. CANTO V • O canto quinto, que é mais político, apresenta algumas insinuações de Basílio da Gama sobre a “mão suja” dos jesuítas na morte de alguns reis na Europa, tais como as mortes de Henrique III e Henrique IV, da França. Mostrando assim o grande poder que a Companhia exercia não só no Brasil, mas também na Europa. CANTO V • Enfim, o general Andrade, depois de contemplar todas as pinturas, enquanto os seus soldados ainda admiravam embevecidos o grandioso afresco, decide, meditando consigo mesmo, uma estratégia inédita de guerra. Assim, espera o cair da noite e volta a marchar com seu exército, a fim de surpreender os índios e jesuítas em outra aldeia. CANTO V • Então, quando o exército de Andrade chega ao local destinado, surpreende os padres abandonando os índios à própria sorte, depois de tê-los exposto à guerra. Mas, os soldados prendem os padres, divertindo-se com o guloso Patusca que tentava fugir com presuntos europeus e lingüiças saborosas. O general português se mostra benevolente para com os índios vencidos. Rendidos, os nativos se colocam de joelhos frente à Andrade e, humilhados com a derrota, adoram a imagem de seu rei que lhe apresentam. CANTO V • Enfim, o poeta encerra obra prometendo que sua obra terá o reconhecimento da Arcádia Romana, o que equivaleria a garantir a posteridade do poema. Sugestão: ver o filme A Missão de Rolland Joffé