FLARE DE HEPATITE B APÓS QUIMIOTERAPIA EM PACIENTE COM LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA Nayara de arruda Cáceres¹; Vanessa Figueiredo Monteleone²; Ana Paula Rondina Correia³; Lucas Dias de Oliveira4, , Luiz Jorge Moreira Neto5, Simone Bonafé 6 1,²,3,4 5 Acadêmica do curso de medicina do Unicesumar., Maringá-Paraná MédicO infectologista e professor adjuntodo curso de medicina da Unicesumar 6 Médica infectologista e professora adjunta do curso de medicina da Unicesumar INTRODUÇÃO O flare de hepatite B (FHB) é definido como um evento com aumento abrupto dos níveis de ALT superior a 5 vezes o limite normal em casos de hepatite B ( HBV) crônica. Pode ocorrer de maneira espontânea, durante terapia antiviral, em imunossuprimidos ou em pacientes em tratamento quimioterápico (LIAW, 2003). Os pacientes que podem desenvolver flare são principalmente aqueles que apresentam hepate B crônica ( HBsAg +) ( HOOFNAGLE et al., 1978). Os principais fatores de risco associados à reativação do HBV são gênero masculino, idade mais jovem, soropositividade HBeAg, carga víiral elevada e, especialmente, o diagnóstico de linfoma (LAU, 2008). doenças hematológicas, principalmente linfoma e leucemia; tumores sólidos, principalmente o câncer de mama com uma taxa de reativação de 25-40%; ou indivíduos submetidos a transplante de células do tronco ou da medula óssea são as condições subjacentes mais fortemente relacionada com a reativação do HVB (HOOFNAGLE, 2009; HWANG , LOK, 2013). As 3 fases de um quadro típico de FHB, que podem ou não ocorrer, são: aumento na replicação viral, aparecimento de lesão hepática e resolução.A primeira fase ocorre logo após o início da imunossupressão ou quimioterapia. A replicação viral é quantificada através do aumento sérico do DNA viral. A segunda fase ocorre quando há diminuição da imunossupressão, caracterizada pela injuria hepatocelular com ou sem a ocorrência de hepatite demonstrada pelo aumento dos níveis séricos de aminotranferases e em casos mais severos o aparecimento de sintomas e icterícia. Durante essa fase os níveis séricos de DNA viral podem diminuir. E por último, a terceira fase é caracterizada pela resolução da injúria hepática e os marcadores virais voltam aos níveis basais. Nem todos os pacientes passam obrigatoriamente pelas 3 fases.. O FHB pode ocorrer de maneira espontânea, durante terapia antiviral, em imunossuprimidos ou em pacientes em tratamento quimioterápico (HOOFNAGLE,2008; ONOZAWA et al., 2005). Portanto, todos os candidatos a quimioterapia e a terapêutica imunossupressora devem ser rastreados para AgHBs e o anti-HBc antes do início do tratamento , e se estes forem positivos, realizar tratamento profilático com lamivudina ou entecavir (ESTEVE et al., 2004; MINDIKOGLU , REGEV, SCHIFF, 2006; EASL,2012). OBJETIVOS Descrever relato de caso com manifestações clínicas, achados laboratoriais compatíveis com Flare de Hepatite B (FHB) após quimioterapia em paciente com leucemia linfocítica crônica. RELATO DE CASO S.B.A.M, masculino, casado, 47 anos, proveniente da cidade de Carambei, Paraná. Após histórico de fadiga crônica por um ano, paciente foi diagnosticado com leucemia linfocítica crônica. Foi submetido a 10 sessões de quimioterapia com CVP e 3 sessões com Doxerrubicina , sem apresentar resposta ao tratamento. No dia 02/02/15, após décima sessão de CVP paciente referiu colúria e inapetência. No dia 10/02 fez coleta de urina. No dia 17/02 notou icterícia ocular. Foi internado no dia 20/02. Foram coletados líquor, sangue e urina para exames complementares. Nega cirurgias prévias, nega diabetes e HAS. Pai e mãe hígidos, sem história de CA na família. Ao exame físico, o paciente apresentava-se em regular estado geral, orientado no tempo e espaço, comunicativo, corado, hidratado, e acianótico. A pele e esclera ocular apresentava-se levemente ictéricos e nódulos profundos foram palpáveis na região cervical posterior. Na ausculta pulmonar foram detectáveis murmúrio vesicular sem ruídos adventíceos e ao exame do aparelho cardiovascular encontrou-se bulhas normofonéticas rítmicas sem sopro. RESULTADOS Os exames laboratoriais iniciais mostraram AST: 1.470 U/L, ALT: 2.760 U/L, bilirrubina total: 5.94 (BD: 4.37 e BI: 1.57), gama-GT: 384 U/L. Sorologia positiva para Hepatite B (HbsAg+, AntiHbc + e AntiHbe +) com carga viral 34.412 V/nl log4,54 e sorologia com IgG +, IgM - para Hepatite A, Citomegalovírus e Epstein Barr. O paciente foi diagnosticado com flare de Hepatite B, além de apresentar imunidade para Hepatite B, Hepatite A, CMV e Epstein Barr. Nos dias subsequentes houve redução progressiva desses valores, atingindo AST: 89 U/L; ALT: 280 U/L, bilirrubina total: 4.53 (BD: 2,85 e BI: 1,68) nos último exames colhidos. No dia 27/02 iniciou tratamento com Entecavir como profilaxia para dar seguimento ao tratamento quimioterápico. DISCUSSÃO A aplicação do screening para hepatite B antes da realização da terapia quimioterápica ou imunossupressora é mandatória e importante para a detecção de pacientes com risco de desenvolver FHB (ESTEVE et al., 2004; MINDIKOGLU, REGEV, SCHIFF, 2006). Dessa forma, a não realização do screening no caso relatado acima levou a ocorrência do FHB sintomático colocando o paciente em risco de injúria hepática permanente. A terapia antiviral após o início do quadro de FHB não altera o curso clínico da reativação do HBV, portanto não há indicação terapêutica para seu uso durante a fase aguda do quadro (HSU et al., 2008). Por este motivo, neste caso, a terapia antiviral foi realizada apenas após a resolução da fase aguda FHB para normalização do quadro e prevenção de futuras reativações. A profilaxia deve ser realizada antes do início da terapia imunossupressora e ser mantida por até 1 ano de seu término (EASL,2012; REDDY et al.,2015). Além disso, os consensos Europeu ( EASL,2012) e Americano (REDDY et al.,2015) sugerem fortemente o tratamento para indidíduos Anti-HBs e Anti-HBc positivos. CONCLUSÃO A incidência aumentada de casos de flare de hepatite B em pacientes imunossuprimidos ou tratados com quimioterápicos demonstra a necessidade e a importância clínica do screening antes da quimioterapia e a necessidade da terapia com antiviral para prevenção da reativação da Hepatite B em casos HBSAg positivos . REFERÊNCIAS ESTEVE, M. et al. Chronic hepatitis B reactivation following infliximab therapy in Crohn’s disease patients: need for primary prophylaxis. Gut, v.53, p.1363-1365. 2004. European Association For The Study Of The, L., EASL clinical practice guidelines: Management of chronic hepatitis B virus infection. J Hepatol, 2012. 57(1): p. 167-85. HOOFNAGLE, J.H. et al. Type B hepatitis after transfusion with blood containing antibody to hepatitis B core antigen. N Engl J Med, v.298, p.1379-1383.1978. HOOFNAGLE, Jay H. Reactivation of hepatitis B. Hepatology, [S.l.], v. 49, n. 5, p.156-165. Maio, 2009. HSU, C. et al. A revisit for prophylactic lamivudine for chemotherapy-associated hepatitis B reactivation in non-Hodgkin’s lymphoma: a randomized trial. HEPATOLOGY, v.47, p.844853.2008. HWANG , J.P., LOK, A.S.F. Management of patients with hepatitis B who require immunosuppressive therapy. Nat Rev Gastroenterol Hepatol, 2013. LAU, G.K. Hepatitis B reactivation after chemotherapy: two decades of clinical research. Hepatol Int, v.2, n.2, p. 152-62.2008. LIAW, Y.F. Hepatitis flares and hepatitis B e antigen seroconversion: implication in antihepatitis B virus therapy. J Gastroenterol Hepatol, v.18,p.246–252.2003. MINDIKOGLU, A.L., REGEV, A., SCHIFF, E.R. Hepatitis B virus reactivation after cytotoxic chemotherapy: the disease and its prevention. Clin Gastroenterol Hepatol, v.4, p.10761081.2006. ONOZAWA, M. et al. Progressive disappearance of anti-hepatitis B surface antigen antibody and reverse seroconversion after allogeneic hematopoietic stem cell transplantation in patients with previous hepatitis B virus infection. Transplantation, v.79, p.616-619. 2005. REDDY, K.R. et al. American Gastroenterological Association Institute Guideline on the Prevention and Treatment of Hepatitis B Virus Reactivation During Immunosuppressive Drug Therapy. Gastroenterology, Bethesda, Maryland, v. 148, n. 1, p.215-219, jan. 2015. Disponível em: <http://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(14)01331-6/fulltext>. Acesso em: 26 set. 2015.