Imagem crítica da Filosofia Situação filosófica O médico e o índio Conta-se a seguinte experiência, vivida anos atrás por um grande médico paulista, filho de imigrantes italianos, enquanto trabalhava entre os índios Xavantes, no Mato Grosso: . Era uma tarde tórrida dessa região central do Brasil, o médico saiu para caminhar com um dos indígenas, Rupawe, e decidiram refrescarse no rio das Garças. Depois de nadarem por quase uma hora, sentaram-se para descansar e apreciar a paisagem à sua volta. A agradável sensação da brisa pareceu despertar no médico pensamentos sutis, resultando neste curto diálogo: . - Você é feliz, Rupawe? - Sim – respondeu prontamente o índio. - E você sabe o que é felicidade? - Não. Experiência filosófica A análise sobre a situação anterior têm como propósito destacar dois processos básicos que marcam, de modo geral, a experiência filosófica: o estranhamento e o questionamento. Estranhamento ou deslocamento Trata-se do primeiro passo da experiência filosófica. Quando uma pessoa vive uma circunstância de deslocamento ou estranhamento, experimenta uma quebra ou interrupção no fluir normal de sua vida. Detémse, então, para pensar ou observar algo que antes não via, ou que vivia de forma automática, sem se dar conta, sem atenção, sem se questionar. . Foi isso que ocorreu com o médico durante sua permanência com os Xavantes. Tal circunstância permitiu-lhe um distanciamento em relação à sua vida na cidade e, provavelmente, um contato com algumas de suas próprias crenças sobre a felicidade. Questionamento ou indagação Trata-se do segundo passo da experiência filosófica. Após viver o estranhamento, a pessoa inicia um processo de questionamento (interno e externo) sobre o tema que lhe chamou a atenção. . Foi o que expressou o médico, em suas perguntas ao índio: a primeira, com enfoque particular (“você é feliz?), cuja resposta corresponde apenas a esse indivíduo; a segunda, de enfoque geral ou universal (“o que é felicidade ou ser feliz?”), cuja resposta deveria valer para todas as experiências de felicidade dos seres humanos, ou até mesmo independentemente destes (a felicidade em si). Resposta filosófica Falta-nos, porém, um terceiro passo para que haja a experiência filosófica completa. Após uma reflexão serena e profunda, a resposta a ser elaborada deverá constituir um discurso, isto é, a enunciação de um raciocínio, no qual as ideias estarão ordenadas de maneira lógica no sentido de expressar um entendimento sobre o problema e, na medida do possível, encontrar uma “solução” para ele. . O discurso deverá ter um caráter universal, isto é, pode ser aplicado a todos os casos ou pessoas. Essas são características importantes de uma resposta filosófica. Isso quer dizer que as respostas filosóficas não são “qualquer” resposta, pois filosofar não é pensar de qualquer maneira, seja quando se pergunta ou quando se responde, mas segue um método sistemático de ordenação das ideias. Conexões 1. Recorde um momento de sua vida que fez você parar para pensar. Depois elabore um texto sobre essa situação que contenha estes elementos: a) lugar onde ocorreu a situação, data, pessoas . envolvidas, diálogos, sensações, emoções; b) problema (dúvidas ou perguntas que essa situação despertou em você à época); c) respostas a que chegou então (se chegou a alguma); d) crítica: em que sua reflexão pode ser melhorada hoje, no sentido de torna-la uma resposta mais filosófica?