PORTUGUÊS - 2o ANO MÓDULO 29 PRODUÇÃO DE TEXTO: ANÁLISE E PRODUÇÃO DE CRÔNICA Proposta de redação Noite de autógrafos A leitora, vistosa, usando óculos escuros num ambiente em que não eram necessários, se posta diante do autor sentado do outro lado da mesa de autógrafos e estende-lhe o livro, junto com uma pergunta: — O que é crônica? O escritor considera responder com a célebre tirada de Rubem Braga, “se não é aguda, é crônica”, mas se contém, temendo que ela não goste da brincadeira. (...) Responde com aquele jeito de quem falou disso algumas vezes: — É um texto de escritor, necessariamente de escritor, não de jornalista, que a imprensa usa para pôr um pouco de lirismo, de leveza e de emoção no meio daquelas páginas e páginas de dados objetivos, informações, gráficos, notícias... É coisa efêmera: jornal dura um dia, revista dura uma semana. Já se prepara para escrever a dedicatória e ela volta a perguntar: — E o livro de crônicas, então? Ele olha a fila, constrangido. Escreve algo brevíssimo, assina e devolve o livro à leitora (...). Ela recebe o volume e não se vai, esperando a resposta. Ele abrevia, irônico: — É a crônica tentando escapar da reciclagem do papel. Ela fica com ambição de estante, pretensiosa, quer status literário. Ou então pretensioso é o autor, que acha que ela merece ser salva e promovida. (...) — Mais respeito. A crônica é a nossa última reserva de estilo. (Ivan Ângelo. Veja São Paulo, São Paulo, 25/07/2012, p. 170.) Glossário: • efêmero: de pouca duração; passageiro, transitório. 1) Redija uma crônica contando uma situação embaraçosa que pode ter acontecido com você ou com alguém que conheça. Se não souber de algum caso, use sua imaginação e crie uma situação. Proposta de redação Texto I Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado; é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível. (CAMPOS, Paulo Mendes. Ser brotinho. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos [Org.]. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 91.) Texto II Ser gagá não é viver apenas nos idos do passado: é muito mais! É saber que todos os amigos já morreram e os que teimam em viver são entrevados. É sorrir, interminavelmente, não por necessidade interior, mas porque a boca não fecha ou a dentadura é maior que a arcada. (FERNANDES, Millôr. Ser gagá. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos [Org.]. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 225.) 2) Os textos utilizam os mesmos recursos expressivos para definir as fases da vida. Agora é a sua vez. Escreva uma crônica contando sobre a experiência de ter a idade que se tem. Proposta de redação Se é que existiu algum dia, o espírito olímpico há anos não comparece às Olimpíadas, cujo lema não declarado tem sido que o importante não é ganhar, é ganhar muito. Os atletas competem pelas suas bandeiras nacionais e as nações competem entre si para provar qual é a mais forte, bem nutrida e abençoada. O ideal do congraçamento universal para festejar os feitos de superação da raça humana não conseguiu vencer a ideia mais simples e realista da competição tribal.[...] (Luis Fernando Verissimo. O Globo, agosto de 2008) s3) No fragmento de texto acima, retirado de crônica de L. F. Veríssimo, o autor usa os Jogos oOlímpicos para comentar sobre a questão da competição entre os agrupamentos humanos e as sociedades da era contemporânea. Escreva uma crônica usando o tema da competição. Proposta de redação 4) Escreva uma crônica sobre ser “herói” na contemporaneidade. Herói na contemporaneidade Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga) e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman. Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heróicos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero dos quadrinhos. Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o TochaHumana ou o Capitão América. Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi. Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio. (FERNANDO CHUÍ, Adaptado de http://fernandochui.blogspot.com)