Sebastião Soares O Governo Dilma reduziu de 39 para 31 o número de ministérios, através de fusão, extinção, além de reduzir em 10% o salário da presidente, do vice e dos ministros. De R$ 30.934,70 desceu para R$ 27.841,23. Dos ministérios existentes, 23 são controlados por nove partidos; PT tem 9, PMDB 7, PTB, PR, PSD, PDT, PCdoB e PRB têm 1 ministério, respectivamente. O “mercado”, também, tem o seus, os ministérios da Fazenda e do Planejamento, além da quota dos partidos. A reforma ministerial e as demais medidas trariam economia de R$ 200 milhões nas despesas do governo A reforma e a pretensa contenção de custos tem apenas efeito simbólico junto ao “mercado”: indústrias, bancos, produtores de commodities primárias , credores da dívida pública etc. Mesmo a fusão dos ministérios do Trabalho e da Previdência Social tem essa característica, pois, há muito tempo deixaram de ser, efetivamente, instrumentos de justiça social para atuarem conforme os interesses e as demandas do “mercado”. De fato, a lógica que preside as políticas de governos, em nosso País, tem por matriz o “austericídio”. Austeridade para cumprir metas fiscais, produzir superávit primário para alimentar a insaciável voracidade dos credores internacionais. Rolar e engordar uma pesada dívida que já alcançava o volume de R$ 2,49 trilhões, no mês de maio deste ano. Em 12 meses, a dívida pública cresceu 17,28%, segundo dados do Tesouro. Em 2015, os vencimentos de títulos públicos previstos somam R$ 571 bilhões, ao mesmo tempo em que os encargos da dívida pública totalizam R$ 63 bilhões. O governo prevê o uso de R$ 147,1 bilhões em recursos orçamentários para pagar os vencimentos neste ano. Para este ano, está reservado no orçamento da União o montante de R$ 1,356 trilhão para os gastos com a dívida pública, o que corresponde a 47% de tudo que o país vai arrecadar com tributos, privatizações e emissão de novos títulos, entre outras rendas. No início deste ano, todas as áreas sofreram um corte linear preliminar . Através de decreto foram bloqueados R$ 22,7 bilhões para os ministérios e secretarias especiais. O MEC perdeu R$ 7 bilhões anuais, o que corresponde a 31% do total de cortes. Em 2014, o governo federal gastou R$ 978 bilhões com juros e amortizações da dívida pública. Foram 45,11% de todo o Orçamento executado no ano. O enxugamento de ministérios e de cargos têm a finalidade de sinalizar para o “mercado” que o governo está fazendo o “dever de casa”. Cortando na carne para alimentar os abutres financeiros. Essas práticas levam a uma reflexão necessária: a ausência do governo das políticas de justiça social. Uma ausência que compromete a possibilidade de implementação de um projeto nacional de desenvolvimento, soberano e agregador. Um novo pacto desenvolvimentista, socialmente justo e inclusivo, é a única alternativa possível para o País atravessar a crise mundial do capitalismo em situação menos devastadora. Para isto a opção adequada só pode ser mais estado. O austericídio do governo Dilma é a mesma via que está destruindo economias e nações em várias regiões do Planeta. Rever o caminho e construir outras saídas: passar a limpo o estado brasileiro, frente ao abismo que nos ameaça e perceber: no background da apropriação do Estado pelo Mercado, há uma direção intencionada, a revogação de conquistas inseridas na Constituição de 1988. Mais além do desmonte do governo Dilma, o alvo dos “golpichment” são as promessas incorporadas à Carta de 88 e tolhidas na sua execução pelas forças políticas a serviço do capital e pelo atraso conservador do judiciário nacional. Questões centrais das nossas esperanças por uma País mais justo, menos desigual, estão no texto constitucional: Reforma Agrária ( Capítulo III - Da política agrícola e fundiária e da reforma agrária), Reforma Urbana (Capítulo II – Da Reforma Urbana), Função Social da Propriedade (Artigo 5., Inciso XXIII) etc., além da ampliação de direitos sociais e individuais. A mobilização dos setores conservadores do “mercado” atuam no Congresso e no Governo para reduzir ou extinguir esses direitos sociais. Prosperam no obscuro e conturbado momento político do Congresso Nacional a redução da maioridade penal, flexibilização do desarmamento, estatuto da família e dos direitos sexuais e reprodutivos, a demarcação de terras indígenas, o código de mineração, a terceirização e outras Há alvoroço entre economistas de encomenda, profissionais orgânicos dos bancos e grandes conglomerados, atribuindo o desajuste fiscal do País a defeitos estruturais do orçamento nacional, decorrentes de disposições da Constituição de 1988. A imposição de gastos obrigatórios com direitos sociais de seguridade social, educação, proteção social etc. seria a origem dos problemas, daí a receita da austeridade com a necessidade de cortes orçamentários e a revisão da Constituição. Direitos básicos de cidadania estão ameaçados pela visão mercantil e financeira destes setores. A reação a estes ataques requer a garantia de um estado garantidor do bem estar social, capaz de induzir mudanças estruturais com vistas ao desenvolvimento econômico, com distribuição de renda e valorização do trabalho. A inclusão de camadas mais pobres no consumo, por si só, não atenua as desigualdades. Em 2013, 52 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de dificuldade para comprar alimentos. Segundo dados do PNAD, entre 2009 e 2013, a quantidade de casas com insegurança alimentar caiu de 30,2% para 22,6%. No entanto, 7 milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil. Os dados são do levantamento suplementar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2013 sobre segurança alimentar que foi realizado pelo IBGE em convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O Brasil é o quarto mercado mundial de automóveis, mas, milhões de brasileiros não têm condições de ter um carro. De acordo com estudos do IPEA, 54% das famílias brasileiras têm carro ou moto. Com relação ao consumo, a prioridade das políticas públicas deveria destinar-se ao consumo de bens coletivos, com maiores investimentos do Estado, para permanecer, apenas, na lógica do consumo meramente individual. Neste aspecto, um novo modelo de desenvolvimento nacional deveria concentrar-se nos setores produtivos com mais resultados tecnológicos. Economistas que se situam no campo desenvolvimentista, como André Furtado, Márcio Chapman, apontam que poderia ser estruturada combinação com prioridade para alguns setores, mas tendo políticas para os demais. Eles concordam que a concentração em setores chamados campeões não assegura o futuro do País. Uma economia centrada em produtos primários poderá sofrer o efeito da “doença holandesa”, comprometendo o desenvolvimento nacional, posto que a concentração da economia na exportação de recursos naturais fica vulneráverl e depende. Em crises como a atual, acaba por provar o declínio do setor manufatureiro. A concentração das exportações brasileiras no complexo soja, minério de ferro e petróleo bruto não sustenta um processo de renovação industrial e de desenvolvimento econômico. No primeiro semestre de 2015, a participação do agronegócio nas vendas externas foi de 46%. Sendo que 6 dos 10 principais produtos de exportação são agropecuários, conforme dados do Ministério da Agricultura Portanto, um novo ciclo de desenvolvimento depende do aparelhamento do Estado para este objetivo. Os princípios da ordem econômica previstos na Constituição de 1988 exigem um Estado suficientemente ajustado para garantir a função social da propriedade e a distribuição mais justa da riqueza nacional. Na encruzilhada política e econômica em que se encontra o País, a ação indutora do Estado torna-se imprescindível, para assegurar desenvolvimento, justiça social e geração de emprego. Pode ser que nos vejamos - em condições históricas distintas -, diante dos enigmas dos anos 40 e início dos 50, sobre qual deve ser a melhor forma de desenvolver o País. Deixar tudo por conta do mercado, como querem os conservadores neoliberais, ou instituir uma política de Estado voltada para um novo ciclo desenvolvimentista, inclusiva e mais homogênea. Em 1973, Celso Furtado afirmou: “A resposta a essa questão, tanto no época como hoje, não é independente de se estabelecer quais as forças sociais que comandam as decisões econômicas estratégicas.” (FURTADO, 2002: 73). Não basta apenas ter política de desenvolvimento nacional estabelecida e implementada com participação do Estado, é preciso determinar a quem se destina o resultado desse processo. Os governos militares implementaram política com forte crescimento da economia do país, entre 1968 a 1973, período denominado de “milagre econômico” , com altos índices do PIB. O investimento público em infraestrutura foi retomado, com apoio ao processo de industrialização, combinado muitas vezes com restrições ao crescimento do salário, especialmente do salário mínimo. A indústria de transformação cresceu quase 25%. Houve aumento da receita do Estado, aumento da receita do capital e uma queda na receita do trabalho, segundo confirma estudos do DIEESE. Os setores de bens duráveis - geladeiras, televisores – cresceram; os bens de capital - máquinas e equipamentos e de bens intermediários também cresceram, contribuindo para a criação de um mercado interno forte. Mas, enquanto o país ficava mais rico, boa parte da população se empobrecia ou não era beneficiada na mesma proporção. A riqueza gerada não foi distribuída igualmente entre os setores da economia. Para aqueles que viviam de salário mínimo, por exemplo, o período representou um impiedoso retrocesso. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1960, 20% dos brasileiros mais pobres detinham 3,9% do total da renda nacional. Vinte anos depois, em 1980, 20% da população mais pobre concentravam apenas 2,8% da renda produzida no país. Assim, é fundamental para o movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras se apropriar desse debate. Intervir de forma objetiva na vida do País para reverter a direção da pirâmide da concentração da renda. Entender que a crise brasileira tem várias faces, sendo as mais visíveis e determinantes as de natureza política e econômica. São fenômenos que se articulam e se entrelaçam na tecitura de tramas muito bem urdidas sempre em desfavor das camadas operárias e do conjunto de trabalhadores. Há, por um lado, o ataque das forças do capital, que se expressam no Congresso Nacional, no Judiciário e no Governo, decididas a cortar direitos e conquistas. No formato de um governo frágil e de coalisão a presença conservadora tem mais peso, o que requer maior capacidade de atuação dos sindicatos. A ofensiva patronal contra as conquistas sociais se dá, também, pela submissão do governo federal às políticas destrutivas do superávit primário. O Poder Judiciário, pelo seu conteúdo de classe, toma partido e intervém contrariamente aos interesses dos trabalhadores. Não se caracteriza por defesas sociais. Nestas c0ndições, mais do que, nunca exige-se do movimento sindical capacidade para reforçar suas trincheiras. Atualizar as suas praticas, assumir a ofensiva diante da onda conservadora, pugnando por nenhum direito a menos. Muito obrigado. Sebastião Soares 61 9277 3844 [email protected]