A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE APRENDIZAGEM DO PROFESSOR Introdução à Gestão da Educação Silvia Leite A Escola Estudos recentes indicam a escola como unidade básica e espaço de realização dos objetivos e metas do sistema educativo. A escola como objeto de estudo não é devido somente à sua importância cultural, mas também, pelas estratégias de modernização e de busca de eficácia do sistema educativo. A Escola Estudos realizados, sobretudo por Antonio Nóvoa, nos anos de 1960/1970, indicam a relação entre o funcionamento dos sistemas escolares e as desigualdades sociais. Na década de 1980, a escola volta a ter sua importância social reconhecida. A Escola Se, por um lado, a escola poderia ser culpabilizada pela discriminação e exclusão de alunos provenientes das camadas populares, Por outro, poderia ser um meio indispensável de elevação do nível cultural, de formação para a cidadania e de desenvolvimento de conhecimentos e capacidades para enfrentamento das condições adversas de vida. A gestão centrada na escola Há pelo ao menos duas maneiras de gestão centrada na escola. 1. Conforme o ideário neoliberal, que coloca a escola como centro das políticas, o que significa liberar boa parte das responsabilidades do Estado, dentro da lógica do mercado, deixando às comunidades e às escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. A gestão centrada na escola 2. Na perspectiva sociocrítica significa valorizar as ações concretas dos profissionais na escola, decorrentes de sua iniciativa, de seus interesses, de sua participação, dentro do contexto sociocultural da escola, em função do interesse público dos serviços educacionais prestados sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. A gestão sociocrítica A escola é vista como um espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída pelos seus componentes, um lugar em que os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender mais sobre sua profissão. A organização da escola como prática educativa O estilo de gestão adotado pela direção influencia as interações entre as pessoas, determinando as mais variadas práticas e formas de relacionamento. O atendimento que a secretaria da escola dá aos pais pode ser atencioso ou mal-educado, grosseiro ou delicado, respeitoso ou desreipeitoso. A organização da escola como prática educativa A preparação e distribuição da merenda pelas merendeiras envolvem atitudes e modos de agir que podem influenciar a educação das crianças de forma positiva ou negativa. As reuniões pedagógicas coordenadas pelo diretor ou pelo coordenador pedagógico podem ser um espaço de participação de professores e pedagogos ou de manifestação do poder pessoal do diretor ou coordenador. A organização da escola como prática educativa A escola pode ser organizada para funcionar “cada um por si”, estimulando o isolamento, a solidão e a falta de comunicação ou pode estimular o trabalho coletivo, solidário, negociado, compartilhado. As formas de funcionamento, as características de relacionamento entre as pessoas, as decisões tomadas em reuniões, a cultura, os modos de pensar e agir que se desenvolvem no cotidiano da escola entre professores, alunos e funcionários expressam práticas grupais que afetam o trabalho na sala de aula. A organização da escola como prática educativa A percepção e as atitudes da direção e dos professores em relação aos alunos são importantes fatores de sucesso ou insucesso escolar. O comportamento dos alunos, suas atitudes, sues modos de agir dependem, em boa parte, daquilo que presenciam e vivenciam no dia-a-dia da escola. A presença ou ausência de certas características organizacionais da escola – tais como o estilo de direção, o grau de responsabilidade dos seus profissionais, a liderança organizacional compartilhada, a participação coletiva, o currículo, a estabilidade profissional, o nível de preparo profissional dos professores, etc. – são determinantes da sua eficácia e do nível de aproveitamento escolar dos alunos. Tem sido cada vez mais importante compreender a escola como lugar de construção e reconstrução da cultura, não apenas a cultura científica mas a cultura social, a cultura das mídias, a cultura dos alunos, a cultura da escola. A cultura da escola Refere-se àqueles significados, modos de pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionamento que, de certa forma, mostram a identidade, os traços característicos, da escola e das pessoas que nela trabalham. Não conhecemos uma escola apena pelo que se vê, pelo que aparece mais diretamente à nossa observação. É preciso captar aqueles significados, valores, atitudes, modos de convivência, formas de agir e de resolver problemas, frequentemente ocultos, invisíveis, que vão definindo uma cultura própria de cada escola. Há uma relação entre a organização da escola, a cultura organizacional e a sala de aula? Os fatores que produzem a cultura organizacional possui como um dos elementos o papel acentuado do sistema de ensino, da estrutura hierárquica e das várias instâncias e formas de exercício do poder, das normas oficiais, dos regulamentos, dos modos de agor já consolidadas, etc.. Mas há, também, o papel da subjetividade das pessoas, dos modos como as pessoas pesam e agem, das crenças e valores que elas vão formando ao longo de suas vidas, na família, nas relações sociais, na formação escolar. Por uma lado, a organização educa os indivíduos que a compõem; por outro, os próprios indivíduos educam a organização, à medida que são eles que a constituem e que a definem com base nos seus valores, práticas, procedimentos, usos e costumes. A participação do professor na organização e gestão da escola Aprendizagem de: tomada de decisões coletivamente (quando não há histórico de militância política), formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas as preocupações, desenvolver o espírito de solidariedade, assumir coletivamente a responsabilidade pela escola, investir no seu desenvolvimento profissional. Mas sobretudo, aprendem sua profissão. Colocar a escola como local de aprendizagem da profissão de professor significa entender que é na escola que o professor desenvolve os saberes e as competências de ensino, mediante um processo ao mesmo tempo individual e coletivo. Lugar para internalizar saberes e competências, aliada a sua qualificação. Qualificações Referem-se à aquisição de saberes requeridos para o exercício de uma profissão e à confirmação legal dessa aquisição mediante diplomas, certificados, etc. Competências Referem-se a conhecimentos, habilidades e atitudes obtidas nas situações de trabalho, no confronto de experiências, no contexto do exercício profissional. Competência profissional É a qualificação em ação, são formas de desempenho profissional em que a qualificação se torna eficiente e atualizada nas situações concretas de trabalho. O sentido de saberes e competências profissionais não pode ser reduzido a habilidades e destrezas técnicas, isto é, ao saber fazer. A internalização de saberes e competências profissionais supõe conhecimentos científicos e uma valorização de elementos criativos voltados para a arte do ensino, dentro de uma perspectiva críticoreflexiva. Papel do professor Uma das funções profissionais básicas do professor é participar ativamente na gestão e organização da escola, contribuindo nas decisões de cunho organizativo, administrativo e pedagógico-didático. Para isso, ele precisa conhecer bem os objetivos e o funcionamento de uma escola, dominar e exercer competentemente sua profissão de professor, trabalhar em equipe e cooperar com os outros profissionais. O desenvolvimento pessoal e profissional do professor para participar da gestão da escola requer os seguintes saberes e competências, entre outros: Elaboração execução do planejamento escolar: projeto pedagógico-curricular, planos de ensino, planos de aula. Organização e distribuição do espaço físico, qualidade e adequação dos equipamentos da escola e das demais condições materiais e didáticas. Estrutura organizacional e norma regimentais e disciplinares. Habilidades de participação e intervenção em reuniões de professores, conselho de classe, encontros, e em outras ações de formação continuada no trabalho. Atitudes necessárias à participação solidária e responsável na gestão da escola como cooperação, solidariedade, respeito mútuo, diálogo. Habilidades para obter informação em várias fontes, inclusive nos meios de comunicação e informática. Elaboração e desenvolvimento de projetos de investigação. Princípios e práticas de avaliação institucional e avaliação da aprendizagem dos alunos. Noções sobre financiamento da educação e controles contábeis, assim como formas de participação na utilização e controle dos recursos financeiros recebidos pela escola. Enfrentando a mudança O ensino tem sido afetado por uma série de fatores: mudanças nos currículos, na organização das escolas (formas de gestão, ciclos de escolarização, concepção de avaliação), introdução de novos recursos didáticos, desvalorização da profissão docente. Isso leva a mudanças na organização escolar e na identidade profissional de professor, que é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem a especificidade do trabalho de professor. Os dirigentes da escola precisam ajudar os professores, a partir da reflexão sobre a prática, a examinar suas opiniões atuais e os valores que as sustentam, a colaborar na modificação dessas opiniões e valores tendo como referência as necessidades dos alunos e da sociedade e os processos de ensino aprendizagem. ATIVIDADES Façam um mapa/organograma da estrutura administrativa/organizacional da escola em que vocês trabalham ou conhecem. Quais são as qualificações e competências necessárias ao educador do campo? Quais as mudanças que a educação no campo impõem na organização da escola? Quais foram as mudanças ocorridas na sua prática pedagógica a partir deste curso (Licenciatura)? São decorrentes da mudança de valores e percepções ou das mudanças técnicas/metodológicas? Explique. REFERÊNCIA LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5. ed. rev. e ampl., Goiânia: Editora Alternativa, 2004.