O homem é uma interseção entre dois mundos: o real e o ideal. Pela liberdade humana, os valores do mundo ideal podem atuar sobre o mundo real.(Nicolai Hartmann) No nosso dia-a-dia, encontramo-nos frequentemente diante de situações nas quais a nossa decisão depende daquilo que consideramos bom, justo ou moralmente correto. Toda vez que isso ocorre, estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral, a partir do qual vamos orientar nossa ação. A característica específica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades. (Aristóteles. Política, p.15) O ser humano age de acordo c0m VALORES, compartilhados por um grupo de pessoas num determinado momento. O HOMEM É UM SER MORAL: um ser que avalia sua conduta a partir de valores morais. A palavra moral vem do latim, morus (costumes), e refere- se ao conjunto de normas que orientam o comportamento humano tendo como base valores próprios a uma dada comunidade e cultura. A palavra ética, vem do grego ethikos (modo de ser, comportamento), e se aplica á disciplina filosófica que investiga os diversos sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender a fundamentação das normas e proibições, assim explicitar os pressupostos do ser humano e a existência humana. A ética analisa o comportamento moral. Como filosofia prática, a ética orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer, isto é, busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. E, para isso, é indispensável uma boa parcela de conhecimento teórico. Qual a diferença entre normas morais e normas jurídicas, uma vez que ambas destinam a regulamentar as relações humanas de um determinado grupo? Aspectos comuns Imperativos Valores culturais próprios Melhor convivência caráter histórico Aspectos diferentes Jurídicas Morais -Relação estreita com o Estado -Convicção pessoal -A punição está prevista na legislação -Código formal -Coerção Estatal -Punição depende da consciência moral -A esfera moral é mais ampla -Aceitação O ser humano, além de consciência lógica tem consciência moral. Ou seja, faculdade de observar a própria conduta e formular juízos sobre os atos (passados, presentes e futuros) Depois de julgar, o homem tem condições de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. O que é virtude? No contexto moral, significa a qualidade ou ação que dignifica o homem. Sendo a prática constante do bem ao uso da liberdade com responsabilidade moral Há responsabilidade moral, quando existe liberdade pessoal. A ênfase no determinismo, seja biologicamente, ou natureza histórico social. A ênfase na liberdade, o homem é sempre livre. A dialética entre liberdade e determinismo; o homem é determinado e livre ao mesmo tempo. As condutas dos indivíduos podem variar entre dois extremos, o do consentimento e o da negação da moral vigente. Na escolha moral estão em jogo tanto fatores objetivos como subjetivos. CONFLITO ÉTICO: quando o indivíduo recusa conscientemente uma norma moral por entendê-la inadequada ou ilegítima. NIILISMO ÉTICO: se caracteriza pela negação radical de todo e qualquer valor moral. PERMISSIVISMO MORAL: uma versão deteriorada e individualista do niilismo, por trás da negação dos valores vigentes, se escondem interesses particulares. Concepções filosóficas entre o bem e o mal A preocupação com os problemas éticos teve início de uma forma mais sistematizada na época de Sócrates, filósofo conhecido como pai da moral. Os SOFISTAS afirmavam que não existem normas e verdades universalmente válidas. Tinhas uma concepção ética relativista ou subjetivista. Sócrates sustentou que existe um saber universalmente válido, que decorre do conhecimento da essência humana, na qual se pode conceber a fundamentação de uma moral universal. E o que é essencial ao humano? O homem é essencialmente razão, e é na razão que se devem, fundamentar as normas e costumes morais. A ética socrática é RACIONALISTA. Platão, desenvolveu o racionalismo ético, aprofundando a diferença entre corpo e alma. Argumentava que o corpo , por ser a sede dos desejos e paixões, muitas vezes desvia o homem de seu caminho para o bem. Defendeu, a necessidade de purificação do mundo material, para se alcançar o Ideia de Bem. O homem, não consegue caminhar em busca da perfeição agindo sozinho, necessita da sociedade, da polis. No plano ético, um homem bom é também um bom cidadão. O Estoicismo, desenvolveu uma ética baseada na procura da paz interior e no autocontrole individual, fora dos contornos da vida política. O princípio é a apathéia: atitude de aceitação de tudo que acontece, porque tudo faria parte de um plano superior guiado por uma razão universal que a tudo abrangeria. Epicurismo: esta ética, tinha como princípio a ataraxia: a atitude de desvio da dor e procura do prazer espiritual, que contribui para a paz de espírito e o autodomínio. “o essencial para nossa felicidade é a nossa condição íntima e dela somos senhores”. (Epicuro) Aristóteles, desenvolveu uma ética racionalista, mas sem dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma ética mais realista, mas próximo do homem concreto. Perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para quê tendemos? FELICIDADE. Para ele felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e conforto material. A felicidade maior se encontraria na vida teórica que promove o que há de mais especificamente humano: A RAZÃO. O homem “teórico” seria o que teria essa capacidade, o homem comum aprenderia pelo hábito. Para Aristóteles, agir corretamente seria praticar virtudes. E o que seria virtude? EQUILÍBRIO A coragem por ex. seria a virtude situada entre a covardia e a temeridade. Assim, propôs a ética do meio-termo, a virtude seria encontrar o equilíbrio. É importante ressaltar que tanto em Aristóteles como em Platão, a ética estava vinculada à vida política. Dois pontos diferencia radicalmente da ética grega: O abandono do racionalismo, a busca da perfeição moral no amor a Deus e na boa vontade. A emergência da subjetividade, tratou a moral desde um ponto de vista pessoal, uma relação entre cada indivíduo e Deus. Santo Tomás de Aquino (sec XIII), recuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade como fim último, mas cristianizou essa noção quando identificou Deus como a fonte dessa felicidade. Santo Agostinho (sec. III), e a ética do livre-arbítrio. Transformou a ideia de purificação da alma da filosofia de Platão, na ideia da necessidade de elevação ascética para se compreender os desígnios de Deus. Também a ideia de imortalidade da alma presente em Platão, foi retrabalhada por Agostinho. Introduziu a ideia de liberdade como livre-arbítrio, ou seja a noção de que cada indivíduo pode escolher livremente entre aproximar-se de Deus ou afastar-se Dele. É no mal uso do livre-arbítrio que estaria a origem de todo mal. Para Nietzsche a moral cristã é uma moral de rebanho, de vencidos que perderam a vontade de potência. Noções como pecado, culpa e inferno seriam apenas formas de dominação da força vital individual. Com o final da Idade Média, marcado pelo renascimento, há uma retomada ao humanismo, orientou uma nova concepção de moral, centrada na autonomia humana. Os valores devem ser fundamentada não mais nos valores religiosos, mas oriundos da compreensão da natureza humana. Kant, expressa esse período caracterizando uma natureza racional ao ser humano. A ética do dever de kant: Aponta para a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas universais, uma vez que a razão é predicado universal dos homens. As normas morais devem ser obedecidas como deveres, a noção kantiana de dever se confunde com a própria noção de liberdade, pois o indivíduo obedece a uma norma moral que atende à liberdade da razão. Kant reforça essa ideia ao dizer que só pode ser considerado um ato moral aquele ato praticado de forma autônoma e por dever. Age apenas segundo uma máxima (um princípio) tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. (KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 59. Imperativo categórico: uma determinação imperativa que ser observada sempre, em qualquer decisão que venhamos a tomar. Ideia de UNIVERSALIZAÇÃO Ética formal, ou formalista. Por quê nós realizamos atos contrários ao dever, portanto contrárias à razão? Nossa vontade é afetada pelas inclinações, que são desejos, as paixões, os medos e, não apenas pela razão. Apesar de haver desdobramentos diferentes, o ponto em comum entre os pensadores é a recusa de uma fundamentação exterior, transcendental para a moralidade, centrando no homem concreto a origem dos valores e das normas morais. Fundamentação histórico social de Hegel: Questionou o formalismo kantiano. Ao não levar em consideração a história e a relação do indivíduo com a sociedade, a ética de Kant, não apreende os conflitos reais existentes nas decisões morais. Hegel, apregoa que a moralidade assume conteúdos diferenciados ao longo da história das sociedades. A moral seria o resultado da relação entre o indivíduo e o conjunto social. A fundamentação ideológica de Marx: Entendia a moral como uma produção social que atende a determinada demanda da sociedade. E essa demanda deve contribuir para regulação das relações sociais. Uma vez que as relações sociais se transformam ao longo da história, transformam-se também os indivíduos e as moralidades que regulam essas relações. Marx compreende a moral como forma de consciência própria a cada momento do desenvolvimento da existência social, portanto não são absolutos. A moral, seria uma das formas assumidas pela IDEOLOGIA dominante em sociedade, pois difunde determinados valores que são necessários à manutenção dessa sociedade. É a fundamentação ideológica da moral. A ética discursiva de Habermas: Outra busca de respostas e fundamentação para uma ética contemporânea se desenvolveu no campo da análise da linguagem. Habermas, com sua ética discursiva, ou seja uma ética fundada no diálogo e no consenso. A razão para ele é uma razão comunicativa, construída através da argumentação que leva a um entendimento entre os indivíduos. É uma razão interpessoal e não subjetiva; é uma razão processual e não definitiva acabada. É uma aposta na linguagem e na capacidade de entendimento entre as pessoas na busca de uma ética democrática e não autoritária, baseada em valeres validade e aceitos consensualmente. A grande questão que permanece em relação a essa proposta ética é quanto às condições de realização de um diálogo livre e igualitário na sociedade de hoje, marcada pela desigualdade e pelo constrangimento.