O gargalo e as alternativas para o Ensino Médio Simon Schwartzman Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade [email protected] Sonhos e realidade para os jovens brasileiros • Sonho: – Todos os jovens terão educação média completa até os 17 anos (Emenda Constitucional 59 de 11 de novembro de 2009) – 33% (trinta e três por cento) da população de 18 a 24 anos no Ensino Superior (meta 12 do PNE) • Realidade: – Em 2015, só 60% dos jovens de 15 a 17 estavam no ensino médio, e 16.7% já não estudavam; – Dos 18 a 24 anos, 20% estavam em cursos superiores, e 69% já não estudavam – A qualidade do ensino superior é extremamente desigual – O ensino nem prepara bem para a universidade, nem para o mercado de trabalho A crise e as alternativas ao ensino médio • Crise: – má qualidade – Incapacidade de lidar com a massificação e estrangulamento do ensino técnico de nível médio – Excesso de conteúdos obrigatórios, que pode piorar com a Base Nacional Curricular em discussão • O que fazer: – Lidar com os problemas gerais da educação que afetam o ensino médio (má formação de professores, problemas de gerenciamento, escolas noturnas, etc) – Reduzir o peso das disciplinas, colocando ênfase em competências; – Permitir que os alunos optem por diferentes áreas de formação e aprofundamento – Tratar o ensino técnico e profissional como uma das alternativas de formação aprofundamento, e não como capacitação adicional. Tendência: as matrículas no ensino médio aumentam 4 Tendência: os governos gastam cada vez mais em educação Inves mentos Diretos em Educação como % do PIB, 2000-2013 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Básica Média Superior Em termos internacionais, o desempenho escolar brasileiro é extremamente crítico Apesar dos investimentos, a qualidade é péssima: a educação inicial tem melhorado um pouco, mas a média não sai do lugar O Ensino médio no Brasil: muitos estudam à noite, e muitos trabalham Matriculas no Ensino Médio geral e técnico, por idade e turno escolar 7,000,000 6,000,000 5,000,000 4,000,000 3,000,000 2,000,000 1,000,000 0 15 a 17 18 a 24 25 e mais outros 4,981,772 1,041,040 351,769 Noturno 1,306,348 1,644,902 961,556 O Funil do ENEM: democratização ou cristalização de desigualdades? O Funil do ENEM Notas obtidas no ENEM 2013 • Nota de corte para a UFRJ – 800 e mais para medicina e economia – 750 ou mais para odontologia e engenharia – 700 ou mais para história e pedagogia • No ENEM de 2013: – 5.6 milhões eram candidatos ao ensino superior – 3.6 milhões não atingem o mínimo de 500 na redação e média 450 na prova objetiva – Só 150 mil atingem 650 pontos ou mais Quem passa no ENEM? (700 pontos ou mais para a UFRJ) Qual a alternativa? • Investir o maximo na qualidade da educação fundamental • Admitir que, mesmo nos melhores sistemas de educação, as pessoas chegam ao ensino médio com diferentes condições de aprendizado, interesses e capacidades • O Brasil é o único país que não oferece alterantivas de formação de nível médio • Oferecer ensino técnico, prático e aplicado como uma das alternativas de formação O Ensino técnico médio no Brasil hoje Como o ensino médio está organizado em outros países? • Todos os países reconhecem que os alunos são muito diferentes, e precisam ter alternativas de estudo e formação • Os cursos são organizados casda vez mais função de competências, e não de disciplinas acadêmicas • O ensino técnico profissional se dá seja no interior de escolas inclusivas (como a high school americana) ou em escolas técnicas especializadas (como na Europa) • O ensino técnico se desenvolve em forte parceria com o setor produtivo • A formação geral em raciocínio matemático e uso de linguagem é enfatizada em todas as modalidades • Os cursos técnicos equivalem aos de ensino médio para efeitos legais A proposta de reformulação do ensino médio e profissional Organização do curriculo • Divisão do currículo em duas metades – Formação geral em português, matemática, ciências sociais e ciências naturais, com ênfase das duas primeiras – Módulo opcional de formação e aprofundamento • • • • • • Ciências Físicas, Matemática e computação Ciências biológicas e de saude Humanidades (história, filosofia, linguagem, literatura) Ciências sociais (economia, sociologia, adminsitração) Formação profissional técnica Formação artística Organização do sistema educativo • As escolas de ensino médio deverão oferecer uma ou mais opções de formação e aprofundamento; • Os estudantes escolhem as escolas conforme seus interesses, condições e a oferta disponível; • O ensino técnico e profissional pode ser feito em escolas e programas especializados; • As experiências de trabalho e cursos profissionais podem ser reconhecidos como crédito Avaliação • O atual ENEM é incompatível com uma educação média diferenciada. • Proposta para um outro sistema nacional – Uma prova geral tipo SAT para linguagem e raciocínio numérico – Provas separadas para ciências físicas, biológicas, sociais e humanidades – Certificações profissionais para cursos técnicos • Separar o ENEM dos vestibulares – As escolas dão diplomas – O sistema nacional certifica competências por conceitos, não pontuações – As universidades decidem se e como querem usar as certificações • Introduzir uma avaliação de orientação ao final do ensino fundamental (15 anos) Alguns pontos para reflexão • Nem todas as escolas terão condições de oferecer diferentes opções, e podem precisar se especializar • Flexibilizar e simplificar os currículos não é o mesmos que banalizar – os riscos da “interdiscipliridade” • A necessidade de associar a formação geral com os conteúdos das partes opcionais • A importância das parcerias para a educação técnica – custos, culturas organizacionais, professores Conclusões • Os problemas são muito mais amplos do que a legislação, mas a legislação ruim atrapalha • Não será fácil passar do sistema atual para o novo – podem faltar e sobrar professores, nem sempre os alunos terão as opções que querem, etc – mas é preciso começar... Muito obrigado!