Operações de Autonímia AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Falta do dizer, dizer da falta. (Fragmento). In: ORLANDI, E. P. (org.) [et. al.]. Gestos de leitura: da história no discurso. 3. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2010. Operações de autonímia Gramática Língua em uso - - Linearidade sintática Homogeneidade Sem deslizamentos Sentidos únicos X Ruptura sintática Heterogeneidade Falta do dizer Tentativa de controle do dizer Efeitos de algumas operações “Costura aparente” sobre o tecido do dizer. “Conserto” meta-enunciativo. - Rapidez: “[...] do que se poderia chamar rapidamente de ‘gramática’”. - Grosso modo: “Há uma tradição intelectualista na França que dá passagem ao discurso sobre a emoção, digamos, para falar grosso modo, ao logos sobre o lirismo [...]”. - Comodidade: “Eis portanto o contato imprevisto da história (empregamos esta palavra por comodidade) produzindo sobre a literatura dois efeitos [...]”. - Acaso: “[...] tanto para eles quanto para mim, Lacan faz parte da Companhia de Jarry. Em que sentidos, eu o digo, completamente por acaso, no plural, [...]”. - Provisório: “A linguagem – digamos assim em uma primeira aproximação – é segunda em relação à lalangue”. Efeitos de algumas operações - Resignação: “[...] nesta descoberta, a palavra é idiota, mas fazer o quê, isso que faz Freud”. - Desvio: “A única cabine mais ou menos seca era aquela de trás, se se pode chamar de cabine um retângulo de dois metros por dois, encurralada sobre a ponte [...]”. - Imprecisão: “Nesse momento isto se torna uma questão de semântica, dando à palavra um sentido um pouco elástico”. - Grau: “[A URSS, e o Islã têm] relações conflituosas, e a palavra é fraca, mas que podem melhorar”. - Esvaziamento: “Se tomarmos as análises tradicionais do fenômeno, enfim, tradicional entre aspas porque a palavra não quer dizer grande coisa”. “Em outras palavras, você não me comprou um presente...” Retorno e reformulação do dizer. Uso + Menção “A verdade de Deus é esta verdade, digamos assim dogmática, para dizer uma palavra, ou moral, mas acompanhada do amor e da paciência de Deus, sempre assim”. (Papa Francisco) Fonte: Rádio Vaticana Taí um belo e bem humorado texto daquilo que podemos chamar de minicrônica. Gostei muito. Parabéns. (Comentário em blog – Paulo Barsotti, historiador e sociólogo) Essa tradução talvez seja um pouco redundante: Aristóteles de fato se limita a dizer que a constituição, a politeia, é "táxis ton archon", isto é, a "ordenação das magistraturas" (ou seja, dos "cargos públicos"). Tal definição corresponde, "grosso modo", ao que entendemos hoje como "constituição". Digo "grosso modo" porque hoje incluiríamos algo mais numa constituição: quando nos referimos à constituição italiana, francesa ou chinesa falamos da lei fundamental de um Estado, que estabelece seus órgãos, as respectivas funções, relações recíprocas, etc. Em suma, para repetir Aristóteles, é a "ordenação das magistraturas". (Norberto Bobbio. A teoria das formas de governo, 1980) Tradução: entre faltas e excessos Exemplos do texto: MITTMANN, Solange. Entre faltas e excessos, a busca pela palavra. Gragoatá (UFF), Niterói, v. 13, p. 105-113, 2002. Nota do tradutor: texto que materializa o discurso do tradutor sobre o processo tradutório. A falta do dizer e a multiplicidade dos sentidos. Interrupção do gesto do tradutor. A falta Deus não é certamente um ser sensorial como algum corpo visível ou palpavelmente limitado, como pedra, planta, animal, mas se quiséssemos negar a sensorialidade* de Deus só por causa disso, deveríamos negá-la também ao ar, à luz. * Sinnlichkeit é em alemão o conjunto dos cinco sentidos. Sinnlich é tudo o que provém da percepção dos sentidos, em oposição ao que é intelectual, isto é, que provém da abstração, da inteligência. Não posso porém traduzir Sinnlichkeit por sensibilidade, porque em português se confunde com emoção, sentimento etc. Sentido, no singular, confunde-se facilmente com significado, finalidade; sensual tornou-se sinônimo de lascivo. Para evitar tais ambiguidades, prefiro usar sempre sensorial, sendo mesmo obrigado a forjar o termo sensorialidade com seu substantivo correspondente. A culpa não é do tradutor; é da insuficiência de nosso idioma. Pode-se usar neste caso também sensitivo e sensitividade. O excesso e exatamente por isso também não tendo por meu tema a psicologia abstrata mas sim a dramática*, ou seja, a psicologia relacionada somente com os objetos nos quais se manifesta a psyché do homem em sua totalidade, portanto, somente em suas manifestações objetivas, em suas ações. * Note-se que o sentido original da palavra grega drama é ação e não tragédia. A abertura Ora, o que representa uma cera virgem, sempre virgem, precedendo absolutamente qualquer impressão possível, sempre mais velha, porque intemporal, do que tudo aquilo que parece afetá-la* para tomar forma naquela que recebe, entretanto, e pela mesma razão, sempre mais jovem, infante mesmo, acrônica e anacrônica, tão indeterminada que não suporta sequer o nome a forma da cera? * O verbo affecter tem, em francês, vários sentidos possíveis, entre os quais: 1. Afetar, simular, usar de afetação; desejar com grande ardor, praticar. 2. Provocar uma dor moral, um sentimento doloroso, emocionar. 3. Destinar algo a alguém ou a alguma coisa, consagrar, atribuir. Portanto, outras leituras podem ser desencadeadas, a partir deste leque de escolhas.