Encontro presbiteral à luz dos documentos da Igreja FORMAÇÃO PERMANENTE - CLERO DA PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MONTES CLAROS 30 de julho a 02 de agosto de 2012 Tema: Presbítero à luz da Presbyterorum Ordinis Pe. Jésus Benedito dos Santos [email protected] Questões 1) Ouvindo o povo de Deus, as reclamações e os elogios sobre os presbíteros, qual modelo de presbítero o povo quer? 2) Qual o desenho de presbítero da Presbyterorum Ordinis? 3)Em que a novidade trazida pelo Vat. II e os outros documentos do magistério nos ajudam no alargamento da compreensão da identidade e missão presbiteral? 4) Que tipo de padre o magistério quer formar? 5) A comunidade é capaz de perceber e aceitar, na atuação e comportamento pessoal, o presbítero que está ali para Eles? Padre von Balthasar Na década de 60 o Padre von Balthasar já dava profeticamente uma resposta a polêmica que surgiria pós-concílio: “O presbítero possui desde o início uma dupla imagem: por um lado, é um ministério, função, por outro, é uma vida que deve ser modelo para o rebanho (1Pd 5,3, 1Tm 4,12). Os dois lados do presbiterato lutam para encontrar um harmonioso equilíbrio (a obediência ao bispo é intrinsicamente necessária, o celibato é extremante oportuno, a pobreza na forma da generosidade, da casa aberta, do não apego aos próprios bens devem marcar todo presbítero e bispo: 1Tm 3,3.8;5,3;6,8; Tt 1,7). Padre von Balthasar Se não estou completamente enganado, num futuro próximo, tentar-se-á dissolver a síntese que deveria estar sempre presente no presbiterato: uns irão colocar uma ênfase unilateral no ministério e na função (o que corresponderia à qual tendência de funcionalizar o homem vital); verão no ministério apenas o carisma funcional entre outros dentro do povo de Deus, conciliável com o matrimônio e com as profissões mundanas, a ser exercido conforme as necessidades da comunidade. Padre von Balthasar Estes perderão de vista a conexão com a vocação peculiar do Evangelho e irão preferir negar sua existência. Outros irão perceber o chamado e seguir o Cristo pobre, obediente e celibatário por amor ao reino de Deus, e irão compreender que assumem o seu ministério sob o sinal de entrega de sua própria vida em favor dos irmãos; estes (e somente eles) serão também no sentido existencial seguidores dos apóstolos, que nos próprios Pedro e Paulo (Jo 21,18) puderam se tornar seguidores do Senhor até o fim” (Vom Ordensstande, in Schweizerrische Kirchenzeitung, 16, 1968 Introdução Não há renovação na Igreja sem renovação dos presbíteros. Tal afirmação não é sinal de mentalidade clerical, mas a verdade, radicada na estrutura da Igreja querida pelo Senhor. O Concílio recorda que Cristo mesmo promoveu alguns dos discípulos "como ministros, de modo que no seio da sociedade dos fiéis tivessem a sacra potestade da ordem para oferecer o sacrifício e perdoar os pecados" (n. 2). Visão pré-conciliar Visão pré-conciliar Depois de Trento, o presbítero vem definido essencialmente em função da Eucaristia: o sacramento da ordem dá esse poder e o caráter que confere delegação para esse ofício. Todas as outras funções exercidas pelo presbítero não eram especificamente sacerdotais, encontrava sua raiz na jurisdição. Visão pré-conciliar A jurisdição definia a posição sacerdotal na comunidade eclesial: o presbítero constituía a hierarquia com o bispo e o papa, estando em posição inferior em relação ao bispo, aparecendo ligado ao bispo não por um sacramento, mas pela jurisdição. Visão pré-conciliar Os decretos disciplinares do Concílio de Trento “suscitarão uma reforma moral e espiritual dos Presbitérios (daí nascerão os seminários) e obrigarão também os párocos a fazer a homilia e o catecismo” (Sess.24, Cân. 4). Visão pré-conciliar Algumas majorações doutrinais caracterização o discurso pós-tridentino sobre o presbítero – o catecismo romano para as curas (1566), dito do Concílio de Trento, ensina assim que eles são chamados com toda propriedade não somente anjos mas até mesmo deuses porque representam junto a nós a potência e a majestade do Deus imortal. Influenciado pelos clérigos regulares e pela escola francesa de espiritualidade, o clero pós-tridentino caracteriza-se por uma sólida piedade e um grande zelo pastoral, segundo um modelo que se perpetua até o Concílio Vaticano II. Concílio Vaticano II A partir do século XIX, com a doutrina social da Igreja Católica, especificamente, com a publicação da encíclica “Rerum Novarum” (1891) pelo Papa Leão XIII, inicia-se uma nova era de revisão e estruturação da função social do presbítero católico, sobretudo com acento no social e político, que vai culminar no Concílio Vaticano II (1961-1965), convocado por João XXIII, com o objetivo de promover o incremento da fé católica, uma saudável renovação dos costumes do povo cristão e adaptar a disciplina eclesiástica às condições dos tempos atuais. Tal evolução desemboca-se no Concílio Vaticano II (1962-1965). Concílio Vaticano II Um dos mais conhecidos documentos conciliares é a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” sobre a Igreja no mundo atual. Entre várias renovações, este concílio reformou a liturgia, a constituição e a pastoral da Igreja, que passou a ser alicerçada na igual dignidade de todos os fiéis e a ser mais voltada para o mundo, clarificou a relação entre a revelação divina e a tradição, e impulsionou a liberdade religiosa, o ecumenismo e o apostolado dos leigos. Concílio Vaticano II A era do Concílio Vaticano II ficou conhecida como a “Primavera da Igreja”, havendo um convite para a revisão, a renovação e a estruturação da função do presbítero católico. Presbyterorum Ordinis Presbíteros novos para uma Igreja realmente nova. Esse foi o espírito de fundo que orientou o Concílio Vaticano II quando se tratou de redefinir o ministério presbiteral, à luz dos horizontes abertos do Concílio. O fruto da reflexão conciliar se condensou no Decreto Presbyterorum Ordinis. Presbyterorum Ordinis Promulgado em 7 de dezembro de 1965, à vigília do encerramento do Concílio, depois de um amplo debate, o decreto conciliar sobre o ministério e a vida sacerdotal, Presbyterorum Ordinis, retoma a linha do Concílio. Alguns aspectos merecem destaques para uma melhor compreensão do decreto. Presbyterorum Ordinis 1) Aspecto Modelo apostólico do presbítero, ou seja, a essencial colocação da missão pastoral do presbítero, unida à missão apostólica que Cristo confiou de modo particular aos apóstolos: participando, a seu modo, do múnus dos apóstolos...missionaridade (2) Presbyterorum Ordinis 2) Aspecto Prioridade ao anúncio da palavra de Deus: os presbíteros, como cooperadores dos bispos, têm, como primeiro dever, anunciar a todos o Evangelho de Deus (4). O presbítero, na qualidade de educador da fé, tem o dever de fazer com que cada fiel seja ajudado a desenvolver a própria vocação específica segundo o evangelho (6) Presbyterorum Ordinis Desde antes de 1965 começou a desenvolver-se o chamado movimento bíblico católico, que, no início, consistia numa iniciativa mais carismática do que institucional, procurando: distribuir a Bíblia, apresentar a mensagem divina, valorizar a interpretação da S.E. Muitos pastores e fieis viam com reserva essa questão, pois o uso e o estudo bíblico era um patrimônio das Igrejas Protestantes e Evangélicas Presbyterorum Ordinis 3) Aspecto O concílio colocou a base numa correta relação entre a dimensão cristológica e eclesiológica do ministério ordenado – enquanto a teologia precedente o limitava somente na relação com Cristo, o Vat. II abriu o caminho para, colocando junto de Cristo e da Igreja (PO 10-12, PDV 12-18) Presbyterorum Ordinis 4) Aspecto Tirou o ministério ordenado do isolamento individualista no qual era considerado antes, recuperando o valor basilar do sacerdócio comum, o presbitério, a colegialidade episcopal – relação individual e comunitária do presbítero – Algo muito valorizado João Paulo II (PDV, 17 – PO 7-9) Presbyterorum Ordinis 5) Aspecto Fez uma releitura em chave missionária da teologia inteira da Ordem, tratando da relação entre culto e apostolado de modo unitário – em tensão com a acentuação do dever cultual própria da imposição precedente consagrada pelo Concílio Tridentino – buscando harmonizar ordem e jurisdição (PO 9-10; PDV 11-18). Presbyterorum Ordinis 6) Aspecto Evidenciou a descontinuidade na relação sacerdócio veterotestamentário e sacerdócio neotestamentário (PDV 13;15;21; PO 2;12) Comentário A igreja, no Vat. II, considerou insatisfatória a resposta de Trento sobre a identidade do presbítero. Mas também devemos nos livrar do dilema protestante se quisermos saber quem é o presbítero. Se utilizarmos o método teologia “de baixo”, partindo do conceito antropológico de “sacerdote”, será inevitável considerar que o conceito de sacerdócio está carregado de conotações pagãs, não compatíveis com a teologia cristã. Se partimos “do alto”, ou seja da pessoa de Jesus, não há como negar que toda sua vida está marcada por uma entrega ao Pai. Jesus é um sacerdote diferente, ele oferece a si mesmo. Comentário Este é um paradoxo que transforma totalmente, ou melhor, destrói a ideia de sacerdócio do passado. O sacerdócio de Cristo é novo, único e supera todos os outros da história. Nem Jesus, nem o NT utilizam a categoria “sacerdote” para designar os seus ministros, mas apóstolos, presbíteros, diáconos, profetas. Apóstolo é uma pessoa-símbolo, sacramento, ícone, “quem vos recebe a mim recebe (Lc 10,16), englobando toda a riqueza do ministério (sacerdote, profeta e rei) – esta compreensão joga por terra toda a tentação clerical-triunfalista do antigo modelo tridentino, mas também reducionista e meramente funcionalista e igualitário de matriz protestante. Presbyterorum Ordinis 7) Aspecto Fez que derivassem do ministério as exigências da vida espiritual e não viceversa - Santidade (PO 12-18; PDV 1934) Presbyterorum Ordinis 8) Aspecto Na ordem clássica de enumeração das funções sacerdotais coloca-se em primeiro lugar o ministério de santificação dos fiéis por meio dos sacramentos, depois anúncio do Evangelho e, enfim, à guia da comunidade cristã. A Eucaristia é fonte e ápice de toda evangelização, que começa com o anúncio do Evangelho. Do ministério do sacrifício eucarístico, centro e raiz de toda a vida do presbítero (14), deriva a própria força e a própria eficácia do sacrifício de Cristo (2), no qual os sacerdotes exercem sua principal função (13). Tudo isso demonstra que a missão do presbítero, como da Igreja, compreende a Eucaristia e que a Eucaristia completa e leva ao fim toda a obra missionária. Livro de Espiritualidade presbiteral Na questão da espiritualidade do presbítero católico, antes o que dava sustentação era a meditação da vida dos santos, hoje o elemento estruturante está sendo a lectio divina. A reflexão diária da Palavra de Deus reaviva no ser humano a fé, renovando as motivações profundas do seu ministério – Leem todos os dias a palavra de Deus (13). Questões 1 - Como tenho articulado em minha vida o meu ser (identidade) e o meu agir (apostolado)? 2 – Em que a novidade trazida pelo Vat. II e os outros documentos do magistério nos ajudam no alargamento da compreensão da identidade e missão presbiteral? Presbyterorum Ordinis O Concílio começou a refletir sobre a teologia do presbiterado quando percebeu a sua inadequação em relação à renovada doutrina do episcopado. Era difícil unir a ideia “ministerial” e “missionária” do bispo, delineada pela Lumen Gentium com a ideia “sacra” e “cultual” de presbítero herdada da tradição tridentina. Presbyterorum Ordinis Segundo a visão sacra existe um sacerdócio visível do NT sacramentalmente. Esse sacerdócio é transmitido mediante o sacramento da Ordem e um dos efeitos é o sinal indelével do caráter. Com a Ordem se é incorporado à estrutura hierárquica do oficio sacerdotal, que nunca poderá ser eliminada. Presbyterorum Ordinis O Concílio conseguiu plasmar uma figura de presbítero “ministerial” e “missionário”, no interior do qual se colhe elementos mais tradicionais, fazendo uma leitura crítica, o enquadra numa perspectiva global da qual emergem um entrelaçamento ao mesmo tempo eclesiológico e cristológico. Presbyterorum Ordinis O Concílio procurou oferecer uma leitura convincente da escritura e da tradição – com o consequente retorno às origens e às fontes – apresentando uma teologia harmoniosa, rica e útil sobre o presbítero Presbyterorum Ordinis Pela análise dos textos conciliares, parece que o Concílio desenvolveria a doutrina sobre o presbítero em relação à eclesiologia e não à cristologia. Isto se deu por haver uma elaboração mais estática da cristologia com uma elaboração mais dinâmica da eclesiologia. Presbyterorum Ordinis Percebe-se que dos leigos se estudou a missão na Igreja e no mundo sobre as bases do batismo; dos bispos se afirmou o papel missionário e garantia da comunhão eclesial sobre as bases da sacramentalidade do episcopado. E dos presbíteros? Presbyterorum Ordinis No renovado quadro eclesiológicomissionário, observou-se a inadequação da velha teologia do presbiterado e ela foi reformulada colocando à luz os estímulos provenientes da renovada eclesiologia. Assim, foi em relação à eclesiologia e não à cristologia que o Concílio desenvolveu a doutrina sobre o presbítero. Presbyterorum Ordinis Ao tratar o sacerdócio, o Concílio de Trento partia da perspectiva sacramentalsacrifical: da Eucaristia à Ordem. O Vat. II, sem negar Trento, coloca a doutrina num contexto mais amplo: o ponto de partida é missionário-eclesial: da missão da Igreja à Ordem. Esta é a novidade sobre o “presbítero”, a recolocação no âmbito da missão de toda Igreja. Presbyterorum Ordinis Também se atribui aos presbíteros a representação do Cristo-Cabeça (PO, 2 § “c” 6 § “a” 12 § “a”), ideia nova acerca deles e que o Vaticano II nunca estende aos bispos, sem que se veja se esta representação de Cristo é permanente na pessoa deles ou no exercício de seu ministério. Presbyterorum ordinis Presbyterorum ordinis centra na caridade pastoral o ministério presbiteral, por isso, ela se configura a alma e a forma da pastoral presbiteral. Presbyterorum ordinis Essa caridade pastoral é o eixo para o agir do presbítero, que se torna, por meio dela, instrumento do Espírito na história e, a exemplo de Jesus, homem consagrado ao povo que lhe é confiado. Considerações Os “impulsos mais fecundos acerca dos presbíteros não provêm do documento Presbyterorum Ordinis, decreto mais centrado na espiritualidade do que na dogmática, e onde estão justapostos sem retomada crítica alguns teologúmenos bastante heterogêneos” (LACOSTE, 2004, p.1427). Considerações A ordenação ali é concebida de modo predominante como consagração para a missão. O conceito de presbítero que domina intencionalmente nos textos definitivos do documento se articula a de sacerdócio. O termo presbítero e sacerdote não é preciso não é bem posto em relação com as duas outras funções que cabem aos presbíteros, o ministério da palavra e a direção do povo de Deus. Considerações A novidade do Vat. II consiste em ter invocado para o para o presbítero uma identidade sacramental, que expressa o vínculo “ontológico” que a ordenação estabelece entre o presbítero e Cristo, e, consequentemente, entre o presbítero e o bispo. Considerações Houve uma superação da compreensão de que a ordenação conferia o ministério do culto e jurisdição os deveres de pregação e guia pastoral, os quais não faziam parte da essência do sacerdócio. Em termos mais simples: do sacramento da ordem provinha o ministério litúrgico, enquanto pelo direito, o ministério do magistério e pastoral. Considerações O Vat. II falando do ministério presbiteral faz a união dos três dimensões: profeta, sacerdote e rei. Também não impõem o presbítero como uma dignidade superior em relação ao povo de Deus, mas como serviço a este, o irmão estre os irmãos (PO,9). Tal aspecto torna-se teologicamente possível pelo resgate do conceito de presbítero em relação à Igreja e esclarecimento da relação entre ministério sacerdotal e sacerdócio comum. Considerações Há uma transferência da dimensão sacrifício e da santificação para o da palavra e da regência. Considerações O resgate da colegialidade presbiteral está fundamentada na redescoberta do ensinamento dos padres, o renovado interesse pelas fontes bíblicas e certo retorno à Igreja primitiva. Tudo isso contribuíram para o despertar da colegialidade, colocando em evidência o conceito de comunhão que andava esquecido. Isto contribuiu para uma visão biblicamente fundada da doutrina do presbiterato (Comunhão apostólica e envio de Cristo) Considerações O sacramento da Ordem põe o presbítero no colégio presbiteral, para exercer, não individualmente, mas colegialmente, o ministério da evangelização e da ação pastoral na sua Igreja Particular. Antes de uma relação com a comunidade ele está marcado pela relação com os irmãos no presbitério, com o bispo e demais presbíteros daquela Igreja particular. Considerações A fraternidade sacramental dos presbíteros não nasce da necessidade psicológica ou funcional, mas tem sólidos fundamentos na Palavra de Deus e na teologia dos sacramentos e se insere plenamente no tema da caridade e da comunhão (Vat II – a colegialidade está em todos os níveis da Igreja, como na forma dos conselhos paroquias, conselhos diocesanos, sínodos diocesanos, sínodos episcopais e conselhos presbiterais, entre outros). Considerações O Vaticano II recorda "a todos a alta dignidade da ordem dos presbíteros" (n. 1), mas, por outro lado, ensina que os presbíteros não "caem do céu", mas são provenientes da comunidade de fiéis e "vivem no meio dos outros homens como irmãos no meio dos irmãos" (n. 3). Considerações O Decreto Presbyterorum Ordinis indica os três deveres fundamentais dos presbíteros: proclamar a palavra de Deus, celebrar os sacramentos, e exercer o ministério da caridade. Considerações O sacerdote deve recordar que a sua tarefa "não é ensinar uma sabedoria própria, mas ensinar a palavra de Deus" (n. 4). Todavia, tal ensinamento não consiste em repetir automaticamente as mesmas fórmulas, mas no "aplicar a perene verdade do Evangelho às circunstâncias concretas da vida" (n. 4). Questões 1 – Que tipo de padre o magistério quer formar? 2 - Quais valores foram colocados mais em destaquem? 3 – Em que essa visão do magistério, nos documentos, nos ajudam no alargamento da compreensão da identidade e missão presbiteral? Optatam Totius O decreto coloca a formação dos presbíteros no contexto amplo da eclesiologia do Vaticano II, em particular nas três características: a comunhão, o ministério e a missão. O presbítero torna-se sinal de uma missão para a comunhão e de uma comunhão para a missão. A formação dos futuros presbíteros é baseada sobre uma profunda pedagogia de comunhão que encontra sua fonte no amor pela Igreja. Optatam Totius Segundo o documento, o presbítero, sinal universal de salvação e sacramento para o mundo, não existe por si mesmo, mas no mundo e para o mundo. O objetivo do seminário é a formação de uma autêntica personalidade presbiteral, na qual a evangelização se enraíze no sacramento da Ordem e penetre, assim, na essência do presbiterato. Optatam Totius No decreto OT, a missão tem uma relevância formativa enorme. Procurando conformar os futuros presbíteros a Cristo Pastor, dá à formação um sentido pastoral e missionário. O que se visa, é também um presbítero que tenha um modo verdadeiro e crítico de relacionar-se com os outros, tenho conhecimento da mentalidade moderna, seja capacitado para o diálogo do seu tempo (11), saiba buscar soluções dos problemas humanos à luz da fé, anunciando as verdades eterna de modo convincente (16) Considerações Na última década, isto é, 80-90, o debate, sobretudo de Schillebeeckx, com suas teses sobre o direito das comunidades cristãs à Eucaristia. Surgiram reações de teólogos e exegetas como (Kasper -1975, Grelot – 1982, Vanhoye -1983) mostrando as lacunas e afirmações forçadas, além da ausência da dimensão cristológica. Nessa mesma década, foram publicados estudos sistemáticos de Dianich (1985) e Greshake (1995) que prestigiavam, respectivamente, e não de maneira unilateral, a perspectiva eclesiológica e a cristológica. Considerações Com a retomada dos fundamentos teológicos da espiritualidade do ministério ordenado na nesta mesma década, o interesse renasceu, particularmente com o Sínodo dos Bispos em 1990, dando origem a Pastores Dabo Vobis, 1992. Considerações Mas, se com a Pastores Dabo Vobis deu-se por encerrada a questão, as questões sobre à espiritualidade, à formação dos seminaristas e formação permanente dos presbíteros continuam em aberto. Considerações Não existe cristologia sem doutrina da trindade e não existe eclesiologia sem abertura missionária da Igreja. O ser da Igreja é original e imediatamente missão. A Igreja é sacramento de salvação enquanto é sacramento de unidade. “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação da igreja, a sua mais profunda identidade” (EN, 1976 – Paulo VI); “renovado impulso na atividade missionária da Igreja” (RM,30, 1990 – João Paulo II) Considerações Continuam ainda válidas as linhas propostas pelos decretos conciliares, o Optatam totius, sobre a formação sacerdotal; e o Presbyterorum Ordinis, sobre o ministério e a vida presbiteral, ambos de 1965, que se coligam a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, de 1985, e a Pastores dabo vobis de 1992, de João Paulo II, e outros documentos do papa, das congregações romanas e dos bispos brasileiros. Sínodo de 1971 e 1990 Tais questões foram objeto de dois sínodos episcopais que trataram diretamente da questão segundo grau da Ordem, em particular o de 1971 (Ultimis temporibus de sacerdotio ministeriali – 1971- Paulo VI pediu que publicasse tal como foi elaborado pelo Sínodo dos bispos), e o de 1990 sobre o ministério presbiteral (Pastores dabo vobis – 1992 – João Paulo II). Sínodo de 1971 Existe dois polos de discussão que o Sínodo de 1971 procurou trabalhar, o primeiro privilegiando exclusivamente o aspecto eclesiológico, apontando para uma visão funcional do ministério e tende a apresentá-lo como determinação da comunidade, e portanto fechado nas potencialidades do sacerdócio comum. Em oposição, o segundo polo, que privilegia o aspecto cristológico, insiste sobre a dimensão ontológica do sacerdócio e sobre a sua função mediadora diante dos fieis (sacerdócio ministerial e ministério sacerdotal) Sínodo de 1971 Tanto um quanto outro documento buscam recuperar do ponto de vista doutrinal a identidade do presbítero católico, sob o modelo clássico, isto é, cristológico. Há um reforço da identidade cristológica em 1971 em detrimento da identidade eclesial do presbítero. Pastores dabo vobis 1992 Documento pós-sinodal, é original pela contínua citação dos textos conciliares (64 citações), do sínodo sobre o sacerdócio ministerial (1971), das cartas apostólicas sobre a renovação dos seminário (de institutione in seminariis tradenda, 1963), da carta encíclica (de sacerdotali caelibatu, 1967) e outro documentos da Cúria Romana. Pode se ver a originalidade também na impostação e no estilo bíblico. No conteúdo tem um tom agostiniano. Pastores dabo vobis 1992 O documento é definido como suma na qual se encontram considerações sobre todos os aspectos importantes que dizem respeito à formação sacerdotal: avaliação das circunstâncias atuais (cap. 1), natureza e missão do sacerdócio ministerial (cap. 2), vida espiritual do sacerdote (cap. 3), pastoral vocacional (cap. 4), formação para o sacerdócio (cap. 5), e formação permanente (cap. VI). Pastores dabo vobis 1992 A caridade pastoral é o ponto de referência precioso de todo o documento. Constitui, portanto, a absoluta originalidade e o tema central de toda a problemática sacerdotal (23). Pastores dabo vobis 1992 O termo caridade pastoral é antigo na Igreja. Encontra-se em Santo Agostinho, São Gregório Magno e, em tempos mais recentes, São Francisco de Sales, entendida como a alma de todo o apostolado, ou seja, como espiritualidade esponsal que nasce de um forte amor por Cristo e por sua Igreja. Pastores dabo vobis 1992 O texto da exortação recorda que a caridade pastoral nos ajuda a superar a famosa distinção entre espiritualidade e apostolado, dois termos que a tradição nos transmitiu unidos, como um implicação recíproca (22) Pastores dabo vobis 1992 A união com Cristo Bom Pastor abarca por completo e toda de uma vem na missão pastoral, que é parte constitutiva da personalidade do presbítero: “a missão dos apóstolos não é deles, mas a mesma de Jesus Cristo” (14), “ministério do qual o presbítero é dispensador, é, em definitivo, Jesus Cristo mesmo” (24). Trata-se de uma graça de unidade que torna impossível dividir no presbítero o “ser” e o “agir” (70). Pastores dabo vobis 1992 A caridade pastoral significa ter o coração de Jesus: “formar os futuros sacerdotes na espiritualidade do coração do Senhor implica em levar uma vida que corresponda ao amor e ao afeto de Cristo Sacerdote e Bom Pastor” (49) Considerações A pista a ser seguida para pensar o presbítero é está na integração: "A identidade sacerdotal - escreveram os Padres Sinodais - como toda e qualquer identidade cristã, encontra na Santíssima Trindade a sua própria fonte", que se revela e autocomunica aos homens em Cristo, constituindo nele e por meio do Espírito a Igreja como "gérmen e início do Reino" (PDV,12) Considerações Por isso o presbítero encontra a verdade plena da sua identidade no facto de ser uma derivação, uma participação específica e uma continuação do próprio Cristo sumo e único Sacerdote da nova e eterna Aliança: ele é uma imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote . O sacerdócio de Cristo, expressão da sua absoluta "novidade" na história da salvação, constitui a fonte única e o insubstituível paradigma do sacerdócio do cristão, e, especialmente, do presbítero. A referência a Cristo é, então, a chave absolutamente necessária para a compreensão das realidades sacerdotais (PDV, 12) Considerações O presbítero é ao mesmo tempo um consagrado e um enviado: consagração e missão fazem parte do mesmo carisma. O autor da Carta aos Hebreus usa uma frase da qual a PO (3) se apoia: “Os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados, convivem fraternalmente com os restantes homens”. Considerações Paulo VI destacou muitas vezes a dimensão comunitária e social do sacerdócio, afirmando que um sacerdote não pertence mais a si mesmo e que sua vida espiritual está condicionada à comunhão com os irmãos, aos quais direciona o seu ministério: ele está a sua disposição e a seu serviço: “o sacerdócio não é para aquele a quem é conferido, não é uma dignidade pessoal, não é fim em si mesmo. O sacerdócio é ministério, é serviço, é mediação entre Deus e o próximo” (mensagem aos sacerdotes, 1975) Considerações Todos nós, portanto, enquanto Pastores, somos convidados a tomar consciência, mais do que qualquer outro membro da Igreja, deste dever. Aquilo que constitui a singularidade do nosso serviço sacerdotal, aquilo que dá unidade profunda às mil e uma tarefas que nos solicitam ao longo do dia e da nossa vida, aquilo, enfim, que confere às nossas actividades uma nota específica, é essa finalidade presente em todo o nosso agir: "anunciar o Evangelho de Deus". Está nisto um traço bem vincado da nossa identidade, que dúvida alguma jamais haveria de fazer desvanecer, que nunca objecção alguma deveria eclipsar (Paulo VI, 68). Diante de um mundo sempre mais secularizado e descritianizado, o papa sente a necessidade de chamar toda a Igreja ao dever da evangelização. Considerações João Paulo II, na Redemptoris missio, dedicase ao exame da validade permanente do mando missionário, num período em que a “ missão ad gentes parece estar numa fase de afrouxamento” (2). Daqui deriva a relação entre a vida presbiteral e a missão, ficando clara a dimensão missionária do presbítero. Todos os presbíteros devem ter no coração a mentalidade missionária(2) Considerações O que caracteriza e unifica o ser do presbítero (identidade) e seu agir (espiritualidade) é a caridade pastoral, do qual deriva a decisão de dedicar-se à missão, ao ponto de ter as mãos e os pés amarrados pelo Espírito, a serviço e vantagem do que é útil a muitos, de modo que sejam salvos Considerações O dever dos presbíteros, na qualidade de servidores e testemunhas de Jesus Cristo na Igreja e no mundo, é um dever missionário. A consagração é para a missão. Como sublinha o Concílio, "o dom espiritual que os presbíteros receberam na ordenação não os prepara para uma missão limitada e restrita, mas, pelo contrário, para uma imensa e universal missão de salvação até aos últimos confins da terra, dado que todo e qualquer ministério sacerdotal participa da mesma amplitude universal da missão confiada por Cristo aos Apóstolos" (PDV, 18) Considerações Duas questões a ser respondida pelo Vat. II e os outros documentos (OT, Sínodo de 71 e PDV) 1) Quem é o presbítero? 2) Para que ele existe? Questões 1 - Como tenho articulado em minha vida o meu ser (identidade) e o meu agir (apostolado)? 2 – Em que a novidade trazida pelo Vat. II e os outros documentos do magistério nos ajudam no alargamento da compreensão da identidade e missão presbiteral?