CRÔNICA:
texto de caráter reflexivo e
interpretativo, que parte de um assunto do
quotidiano, um acontecimento banal, sem
significado relevante.
Texto subjetivo, pois apresenta a perspectiva do
seu autor.
DISCURSO: o tom varia entre o ligeiro e o
polêmico, podendo ser irônico ou humorístico.
Texto breve e surge sempre assinado, numa
página fixa do jornal.
CARACTERÍSTICAS DA CRÔNICA
O discurso
Texto curto e inteligível (de imediata percepção);
Apresenta marcas de subjetividade – discurso na 1ª e
3ª pessoa;
Pode
comportar
diversos
modos
isoladamente ou em simultâneo:
- narração;
- descrição;
- contemplação / efusão lírica;
- comentários;
- reflexão.
de
expressão,
 Linguagem com duplos sentidos / jogos de palavras /
conotações;
 Utiliza a ironia;
 Registo de língua corrente ou cuidado;
 Discurso que vai do oralizante ao literário;
 Predominância da função emotiva da linguagem sobre a
informativa;
 Vocabulário variado e expressivo de acordo com a
intenção do autor;
 Pontuação expressiva;
 Emprego de recursos estilísticos.
A temática
Aborda
aspectos
da
vida
social
e
quotidiana;
Transmite os contrastes do mundo em que vivemos;
Apresenta episódios reais ou fictícios.
(A crônica pode ser política, desportiva, literária,
humorística, econômica, mundana, etc.)
OS VÁRIOS TIPOS DE CRÔNICA
Crônica Lírica ou Poética
Em linguagem poética e metafórica o autor extravasa sua
alma lírica diante de episódios sentimentais, nostálgicos ou
de simples beleza da vida urbana, significativos para ele.
Como, por exemplo, em «Brinquedos Incendiados», de
Cecília Meireles.
BRINQUEDOS INCENDIADOS
Cecília Meireles
Uma noite houve um incêndio num bazar. E no fogo total desapareceram
consumidos os seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos
um por um, de tanto mirá-los nos mostruários – uns, pendentes de longos
barbantes; outros, apenas entrevistos em suas caixas. Ah! Maravilhosas bonecas
louras, de chapéus de seda! Pianos cujos sons cheiravam a metal e verniz!
Carneirinhos lanudos, de guizo ao pescoço! Piões zumbidores! – e uns bondes
com algumas letras escritas ao contrário, coisa que muito nos seduzia – filhotes
que éramos, então, de M. Jordain, fazendo a nossa poesia concreta antes do
tempo.
Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber de
presente alguns bonequinhos de celulóide, modesto cavalinhos de lata, bolas de
gude, barquinhos sem possibilidade de navegação... – pois aquelas admiráveis
bonecas de seda e filó, aqueles batalhões completos de soldados de chumbo,
aquelas casas de madeira com portas e janelas, isso não chegávamos a imaginar
sequer para onde iria. Amávamos os brinquedos sem esperança nem inveja,
sabendo que jamais chegariam às nossas mãos, possuindo-os apenas em sonho,
como se para isso, apenas, tivessem sido feitos.
(...)
Crônica de Humor
Visão irônica ou cômica dos fatos em forma de um
comentário, ou de um relato curto. Muito próxima do conto.
Procura, basicamente, o riso, com certo registro irônico dos
costumes.
Como em «Sessão de Hipnotismo», de Fernando Sabino.
SESSÃO DE HIPNOTISMO
Fernando Sabino
A dona de casa nos abriu a porta de mansinho, pediu silêncio
com um dedo sobre os lábios e fez sinal que entrássemos. Entramos, pé
ante pé, já meio hipnotizados. Curvado sobre uma poltrona no canto
mais escuro da sala, o hipnotizador tentava adormecer uma jovem. Ao
fundo, cinco ou seis vítimas aguardavam a vez, uns muito sérios, outros
contendo risos. Na poltrona a jovem nunca mais que dormia e, já meio
chateada, olhava o relógio de pulso que o hipnotizador segurava no ar.
“Você vai dormir… Suas pálpebras estão pesadas… Tudo vai
desaparecer” – insistia ele, com voz macia, mas acabou ordenando:
“Feche os olhos.” A jovem fechou. Com a mão ele fez sinal que nos
aproximássemos. “Levante o braço.” A moça levantou. “Agora você não
pode abaixar o braço.” Voltou-se para nós: “Viram? Ela está dormindo.
Não consegue abaixar o braço. Se tentar, encontra resistência.”
Ouvindo isto, a bela adormecida abaixo o braço imediatamente, não
encontrando resistência nenhuma.
“Bem”, prosseguiu o homem, às vezes a pessoa fica assim,
meio rebelde. Obedece a tudo direitinho, mas ao contrário.”
Aproximou-se de novo da poltrona: “Agora”, sussurrou para ela,
“preste bem atenção: você queria parar de roer unha, não é? Pois
bem: quando acordar, nunca mais vai roer unha. Vai ter consciência
de que é um hábito muito feio, desagradável. E pronto: quando eu
contar até três, pode acordar.”
No que ele disse “um” a moça se ergueu da poltrona, lépida e
satisfeita. “Você dormiu mesmo?” perguntamos, impressionados.
“Como é que vocês queriam que eu dormisse, com ele falando o
tempo todo no meu ouvido?” Concordamos em que ela fizera muito
mal em abaixar o braço: “Muito feio isso, desobedecer o homem
dessa maneira.” Ela ergueu os ombros: “Tanta coisa, só para me
dizer que roer unha é muito desagradável. Essa não!” E afastou-se,
roendo as unhas
Crônica-Ensaio
Apesar de ser escrita em linguagem literária; ter um
espírito humorístico e valer-se, inclusive, da ficção; este
tipo de crônica apresenta uma visão abertamente crítica da
realidade cultural e ideológica de sua época, servindo para
mostrar o que autor quer ou não quer de seu país.
Como exemplo, cito: Reality Show, de Marcelo Coelho.
REALITY SHOWS
Marcelo Coelho
"A graça da torre Eiffel, dizia Roland Barthes, está no fato de que ela é
inútil; mais do que isso: não pretende significar nada. E, não significando nada,
podemos interpretá-la como quisermos. É quase um signo vazio, uma metáfora de
qualquer coisa: símbolo de Paris, da modernidade, do século 19, ponte entre a
Terra e o céu, pára-raios, falo, inseto, que importa?
Estou longe de achar desimportantes as discussões em torno de ‘Big
Brother’ e congêneres. As interpretações são muito variadas, o que é normal. Mas,
se o fenômeno televisivo pode ser interpretado de infinitas maneiras, talvez seja
porque o conteúdo do programa em si -aquilo que as câmeras registram dentro da
famosa casa- não significa absolutamente nada.
É o que sugere Ciro Marcondes Filho no caderno Mais! do último
domingo: ‘De nada adianta discutir o conteúdo na série. Críticas teóricas, análises
de conteúdo, tudo inútil. O segredo está na superfície.’
Tendo a concordar com essa opinião. Só que, logo em seguida, vemos que,
para o autor, essa ‘superfície’ não é tão superficial assim. Por trás dela, ou no
fundo dela, haveria uma pulsão, ‘a pulsão do se mostrar, do abrir sua intimidade
ao outro.’ Como bem diz Marcondes Filho, a internet reflete isso: „Diários íntimos
multiplicam-se na internet, pessoas expõem seus sentimentos mais interiores, seus
sentimentos mais escondidos’. (...)
Crônica Descritiva
Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de
seres animados e inanimados, num espaço vivo, como numa
pintura.
Crônica Narrativa
Tem por base uma história (às vezes, constituída só de
diálogos), que pode ser narrada tanto na 1ª quanto na 3ª
pessoa do singular. Por essas características, a crônica
narrativa se aproxima do conto (por vezes até confundida
com ele). É uma crônica comprometida com fatos do
cotidiano, isto é, fatos banais, comuns. Não raro, a crônica
narrativa explora a caracterização de seres. Quando isso
acontece temos a Crônica Narrativo-Descritiva.
Crônica Dissertativa
Opinião
explícita,
com
argumentos
mais
“sentimentalistas” do que “racionais” (em vez de “segundo
o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil”, seria
“vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem
sequer o corpo”). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular
quanto na do plural.
Crônica Metafísica
Constitui-se de reflexos filosóficos sobre a vida humana.
.
Crônica Reflexiva
Reflexões filosóficas sobre vários assuntos. Apresenta
uma reflexão de alcance mais geral a partir de um fato
particular.
Enem 2014
(ENEM 2008)
São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas
pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora
domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a
números e invertidos em estatísticas. O homem do censo
entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e
de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento,
pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:
— Quantos são aqui?
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só
há pulgas e ratos.
E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e
algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser.
Querendo levar todos, é favor… (…)
E outro:
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê.
Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de
meu quarto e de meu peito!
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3 São Paulo: Ática, 1998,
p. 32-3 (fragmento).
O fragmento acima, em que há referência a um fato sóciohistórico — o recenseamento —, apresenta característica
marcante do gênero crônica ao:
a) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e
buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra.
b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os
personagens em um só tempo e um só espaço.
c) contar história centrada na solução de um enigma,
construindo os personagens psicologicamente e revelando-os
pouco a pouco.
d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando
transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter
as pessoas informadas.
e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para
a construção do texto que recebe tratamento estético.
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