Herança multifatorial Herança multifatorial • Grande parte das chamadas doenças genéticas são monogênicas. Porém, a ocorrência de doenças como defeitos congênitos ao nascimento, infarto do miocárdio, câncer, diabetes, doença de Alzheimer, esquizofrenia e câncer em famílias não são monogênicas. • As doenças de herança complexa resultam de interações complexas de vários fatores de predisposição, incluindo vários genes (os chamados genes de susceptibilidade), e fatores ambientais. • Características determinadas pelo efeito aditivo de múltiplos genes localizados em locus independentes são ditas poligênicas. • O número de genes responsável pelas características poligênicas é desconhecido para a maioria delas, mas sabe-se que, quanto maior o número de genes envolvidos, maior a variabilidade dos fenótipos relacionados a uma característica. • Já quando fatores ambientais também são considerados causa de variação na característica, esta é chamada de multifatorial. Lábio leporino • Popularmente conhecida como lábio leporino, a fissura labiopalatal é uma abertura na região do lábio e/ou palato do recém-nascido ocasionada pelo não fechamento destas estruturas na fase embrionária, isto é, entre a 5ª e a 8ª semana de gestação. • As fissuras podem ser unilaterais ou bilaterais e variam desde formas mais leves como cicatriz labial até formas mais graves como as fissuras completas de lábio e palato. Lábio Leporino Lábio leporino • A maioria dos casos de fissura têm padrão de herança multifatorial estando uma minoria relacionada a um gene mutante específico ou agentes ambientais específicos. • No Brasil, estima-se que a cada 650 nascimentos , uma criança nasce com fissura labiopalatal. • Existem vários fatores que tem sido implicados no seu aparecimento, tais como o uso de álcool ou cigarros, a realização de raios-x na região abdominal, a ingestão de medicamentos, como anti-convulsivantes ou corticóides, durante o primeiro trimestre gestacional, deficiências nutricionais, infecções , além da hereditariedade. Estudo epidemiológico realizado por Fogh-Andersen em 1942, citado por Saxén, verificou que descendentes de portadores de fissura de lábio ou lábio-palatina apresentavam freqüência maior deste tipo de fissura; por outro lado, descendentes de portadores de fissura palatina apresentavam ocorrência maior de fissura palatina. Outro estudo observou que a hereditariedade poderia desempenhar papel importante no aparecimento da fissura de lábio ou lábio-palatina, enquanto fatores ambientais deveriam ser analisados no estudo da fissura palatina. A maioria dos casos de fissura têm padrão de herança multifatorial, estando uma minoria relacionada a um gene mutante específico, aberração cromossômica ou agentes ambientais específicos. Rev. Saúde Pública v.28 n.3 São Paulo jun. 1994 Preocupações • No caso da fenda se estender até o palato, há maior risco das crianças aspirarem o alimento provocando infecções como otites e pneumonias. • As otites podem causar prejuízos no desenvolvimento da fala e linguagem. • As anemias também são freqüentes nas fissuras labiopalatais normalmente solucionáveis com uma dieta balanceada e sulfato ferroso. • O aleitamento materno é indicado para evitar infecções, combater a anemia e fortalecer a musculatura da face e boca, além de manter a produção de leite da mãe. Amamentação • Segurar o bebê em posição vertical, de modo que o nariz e a boca fiquem mais altos que o peito; • Preencher a abertura do lábio leporino com o seio; • Pode-se usar a placa dentária especial para cobrir a fenda palatal; • Estimular e ajudar a mãe, orientando-a que se faz necessário “fechar a fissura” para que o bebê possa mamar bem, e apoiando-a, pois as mamadas costumam ser longas; • Alguns bebês necessitam ser alimentados por sonda gástrica, copinho, mamadeira, colherzinha, o que o bebê se adaptar melhor. Tratamento • Sem o devido tratamento, as fissuras podem provocar seqüelas graves, como a perda da audição, problemas de fala e déficit nutricional, além do sofrimento com o preconceito. • É possível a total reabilitação do paciente com fissura labiopalatal. Quanto mais cedo a intervenção, melhor. • O inconveniente é que o tratamento é longo, tendo início desde o nascimento até a fase adulta, passando por várias cirurgias corretivas e estéticas. • A primeira cirurgia, de fissura lábiol , é realizada normalmente aos três meses de idade da quando a criança já deve ter 5Kg . • Já a cirurgia de palato duro é realizada apenas aos 12 meses de idade. • Uma equipe multidisciplinar deve estar envolvida nessa reabilitação, como médicos, fonoaudiólogo, nutricionista, dentista, psicólogos e assistente social. • A troca de informações entre os profissionais é fundamental para o tratamento da criança, pois um fator interfere diretamente no outro, no que diz respeito aos dentes, à fala, à face, às funções alimentares e ao desenvolvimento psicossocial. Aspectos genéticos • As síndromes que incluem fissuras palatinas ou lábiopalatinas em seu quadro clínico podem ser causadas por anomalias cromossômicas (como por exemplo, a trissomia do cromossomo 13) • No caso das fendas palatinas, observou-se a ligação do defeito com a região cromossômica 2q32. Existem evidências de que o gene SATB2, localizado nessa região, possa influenciar o aparecimento da fissura palatina. • Já no caso das fendas labiopalatinas, observou-se a ligação do defeito com as regiões cromossômicas 6p24, 2p13, 19q13 e 4q, indicando que existem nessas regiões cromossômicas genes cujas mutações podem contribuir para o aparecimento das fendas labiopalatinas. • O estudo genético de famílias com formas hereditárias de fissura labiopalatina permitiu ainda a identificação de determinados genes cujas mutações podem causar a fissura labiopalatina (gene MSX1, localizado em 4p16.1; gene IRF6, localizado em 1q; gene PVRL1 gene, localizado em 11q; gene TP73L, localizado em 3q27 e gene SUMO1, localizado em 13q33.1-q34).