PERSONALIDADE: FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Profa Cléo O indivíduo foi entendido pela filosofia moderna como ser racional e autônomo. Contudo essa crença no indivíduo como ser racional, autônomo foi abandonada pela filosofia contemporânea. Com Marx, Freud e Nietzsche a noção de indivíduo entraria em crise. Para Marx a consciência que o indivíduo tem de si e do mundo é uma falsa consciência. As representações ideológicas surgem das atividades humanas dominando o espírito do homem. Dessa forma, não é a consciência que determina a vida, mas é a vida que determina a consciência. O homem é aquilo que faz. Ele é o produto da sua ação. A psicanálise freudiana nos mostrou que o indivíduo não é um ser da consciência, mas sim da inconsciência. O ser humano não é um ser da razão, mas sim é governado por um querer cego e irracional, dominado pelas paixões e desejos inconscientes (ações do sujeito sem que este o perceba). Freud comparou o indivíduo a um Iceberg, onde a parte mais superficial, que está fora d’água, seria a consciência; e a parte maior e mais profunda, que está submersa, é o inconsciente. Para Nietzsche o próprio conceito de “eu” fixo e estável perde sentido, pois o homem é uma espécie cujas qualidades não estão fixadas. O sujeito se constitui no terreno dos acontecimentos históricos, das contradições, das relações de força e poder. O indivíduo é uma criação da crueldade das leis penais e religiosas. O homem moderno abandonou aquela natureza cruel, espontânea, guerreira e se tornou um ser “dócil”, “serviçal” e “respeitador” das leis. Esse raciocínio nos leva a concluir que a natureza humana é maleável, modifica-se constantemente. O indivíduo como ser racional e moral surge através das relações de produção, troca e intercâmbio material entre os homens. Surgiu por volta do séc XIX. Latim = (persona, máscara) para designar as qualificações inatas de uma pessoa. É a consolidação dos termos caráter e temperamento. Cada indivíduo possui características que o diferenciam dos outros e que definem a sua forma de se comportar. Personalidade é um termo que apresenta muitas variações de significado. Em geral representa uma noção de unidade integrativa do ser humano, pressupondo uma ideia de totalidade. É uma variável individual que cada pessoa possui. Determina os seus modelos de comportamentos. Inclui as interações dos estados de ânimo do indivíduo, suas atitudes, motivos e métodos É o conjunto de traços psicológicos internos que determinam a forma como o indivíduo se comporta em distintas situações. FATORES FISIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS CONSTITUIÇÃO FISIOLÓGICA: influências dos hormônios secretados pelas glândulas tireóide, pâncreas, fígado e hipófise. Estudos endocrinológico, revelaram que grande variações na quantidade de hormônios secretados por estas glândulas, levam o paciente a uma mudança no seu comportamento. Paciente com hipertireoidismo apresenta comportamento agitado. Paciente com hipotireoidismo desenvolve suas atividades em um clima muito sonolento. Isto caracteriza uma mudança de comportamento devido ao seu estado patológico (doente). FATORES PSICOLÓGICOS: Os fatores tais como: inteligência, aptidão específica, emoção, instinto, interesse e necessidade, capacidade, constituem a estrutura básica da vida psíquica do indivíduo e são conhecidos como potencial do comportamento. A pressão emocional pode perturbar a eficiência intelectual. Ocasionando uma redução no potencial real do indivíduo, podendo gerar neuroses. Todos os eventos psicológicos possuem uma causa e a maioria deles são causados por impulsos insatisfeitos e medos e desejos. Os sonhos O humor Esquecimento Atos falhos Servem para aliviar a tensão psicológica pela gratificação de impulsos proibidos ou desejos insatisfeitos. Sigmund Freud (1856-1939), desenvolveu estudos sobre a estrutura e dinâmica da personalidade. Ele classificou a nossa psique em três partes principais que são: Id, Ego e Superego. É a fonte fundamental da personalidade e está intimamente relacionada com as funções biológicas, como a respiração, a transpiração e a excreção. O Id não conhece a realidade objetiva, a "lei" ética e social, que nos prende perante a determinadas situações devido as conclusões da interpretação alheia. Por isso surge o Ego. CARACTERÍSTICAS DO ID: ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ é o responsável pelo processo primário, plano instintivo. funciona pelo princípio do prazer e evita o sofrimento. é atemporal. não é verbal:funciona pela produção de imagens funciona pelos processos de condensação e deslocamento. Significa “eu” em latim. É responsável pelo contato do psiquismo com o mundo objetivo da realidade. Estabelece o equilíbrio entre as reinvindicações do Id e as exigências do Superego com a realidade do mundo externo. CARACTERÍSTICAS DO EGO ◦ funciona pelo princípio da realidade. ◦ intermediário entre os processos internos (Id e Superego) e a relação destes com a realidade. ◦ setor mais organizado e atual da personalidade. ◦ NA PERSONALIDADE BEM INTEGRADA O EGO EXERCE CONTROLE FIRME, PORÉM FLEXÍVEL. Atua como censor do Ego. É o representante interno das normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigos e recompensas impostos à criança. São nossos conceitos do que é certo e do que é errado. EXEMPLOS: Pelo ID o empregado deixaria de comparecer ao trabalho num belo dia ensolarado, dedicando-se a uma aprazível atividade de lazer: uma pescaria, um cinema, etc.. O EGO aconselharia prudência e buscaria uma oportunidade adequada para essas atividades. O SUPEREGO diria ser inaceitável faltar com um compromisso assumido, por exemplo, com o supervisor ou colegas de trabalho. CONSCIENTE PRÉ-CONSCIENTE INCONSCIENTE PARTE CONHECIDA DO SER HUMANO pensamentos, percepções ESPÉCIE DE ANTICÂMARA DA CONSCIENCIA. SERVE TAMBÉM COMO UMA ESPÉCIE DE CENSURA DO INCONSCIENTE memórias, conhecimentos armazenados É TUDO AQUILO QUE NÃO É CONHECIDO, MAS INFLUÊNCIA E AFETA O COMPORTAMENTO. É ONDE ESTÃO TODOS OS IMPULSOS, OS DESEJOS, TODA A DESORDEM. • Consciente - material acessível e ao qual o sujeito tem fácil acesso, como os pensamentos e as percepções. • Pré-consciente – material não consciente embora possa ser recuperado com um pouco de esforço de rememoração. • Inconsciente – material recalcado, que causaria angústia ao sujeito se presente conscientemente. Aparece “mascarado” pelo conteúdo manifesto dos sonhos. (Freud, 1896) Com Freud, o inconsciente passa a ser a chave para o entendimento da personalidade e dos motivos que determinam as ações do sujeito. Busca fazer a síntese ente psiquismo e cultura. A personalidade é a consolidação do caráter e do temperamento. CARÁTER – do Grego (kharcktér) que quer dizer, o que grava ou que entalha. Conjunto de qualidades que destaca o indivíduo na sociedade. Hoje, CARÁTER significa padrão de valores da personalidade. É constituído de valores morais e sociais. TEMPERAMENTO – conjunto de traços psicológicos e morais, que determinam a índole do indivíduo. a vida ensina o homem a controlar ou a estimular seu temperamento. todo tipo temperamental tem seus aspectos positivos e aspectos negativos. conhecendo-se bem, o homem pode dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os aspectos positivos. • • CICLOTÍMICO - modo de ser que se caracteriza por: uma vida afetiva; fácil sociabilidade; habilidade adequada ao estímulo. O ciclotímico é supervulnerável. A todo momento se sente ameaçado por uma revolução interior. Nele, os mecanismos de positivo e negativo são solicitados permanentemente. • CICLOTÍMICO - Para alguns psiquiatras, a ciclotimia é um traço de personalidade, é um desarranjo do humor mas, que pode se transformar em uma doença real, na mais comum das psicoses: a psicose maníacodepressiva. Entre elas pode-se distinguir dois sub-grupos: as psicoses bipolares com acessos maníacos e acessos melancólicos, e a unipolares, que se caracterizam por uma repetição cíclica de acessos melancólicos, sem acessos maníacos. O maníaco-depressivo não apresenta nenhuma lesão orgânica cerebral visível. Na fase depressiva é triste, quase mudo, perde o sono e suas capacidades intelectuais ficam reduzidas. Volta-se para si mesmo, fica prostrado. Essa depressão pode, algumas vezes, levar ao suicídio. Daí a necessidade da internação. CICLOTÍMICO - É preciso que fique bem claro que nossas pequenas alterações de humor nada tem a ver com estes graves distúrbios de comportamento, embora de 60 a 65% dos casos de psicose maníaco-depressiva, antes que a doença se definisse, encontrássemos indicação de ciclotimia. Estima-se que numa família, o risco de psicose maníaco-depressiva passando de pais para filhos, é da ordem de 15 a 20%. Alguns especialista em fisiologia química do cérebro acreditam que a psicose maníaco-depressiva resulte de uma carência ou de um excesso de certos mediadores químicos do sistema nervoso central, como a dopamina, noradrenalina e serotonina. • COLÉRICO - É um temperamento ardente, vivaz, ativo, prático e voluntarioso. Por ser decidido e teimoso, torna-se autosuficiente e muito independente. Por ser ativo, estimula os que estão ao seu redor, não cede sobre pressões. Possui uma firmeza no que faz, o que o faz freqüentemente obter sucesso. Não é dado as emoções, por ser pouco analista, não vê as armadilhas na sua trajetória. Muitos líderes mundiais e grandes generais foram coléricos. • • FLEUMÁTICO - modo de ser que se caracteriza por: conclusivo; pouco interesse pelo trabalho; indolência. geralmente é calmo, frio, equilibrado e por isso a vida para ele é feliz e descompromissada; raramente explode em risos ou em raiva, conseguem fazer os outros rirem, mas ele mesmo não solta um sorriso sequer; sempre diz: “alguém devia fazer alguma coisa”, mas ele não faz. Porém é habilidoso para promover paz e conciliação. • • MELANCÓLICO - modo de ser que se caracteriza por: tendência a melancolia; lentidão dos movimentos; gosto pelo trabalho intelectual. É um temperamento analítico, abnegado, bem dotado e perfeccionista. Isto o faz admirar as belas artes. É introvertido por natureza. Mas as vezes é levado por seu ânimo a ser extrovertido. Outras vezes enclausura-se como caramujo, chegando a ser hostil. • • SANGUÍNEO – modo de ser que se caracteriza por: gosto pela diversão; fácil sociabilidade; pouco interesse pelo trabalho intelectual. É um temperamento eufórico, vigoroso, que vive o presente, esquece facilmente o passado e não pensa muito no futuro. Traz em si otimismo e por isso crê, mesmo em meio às adversidades. Evolução: apesar de a personalidade ser um traço consistente, pode variar a longo prazo pela interação com o meio, pelas experiências vividas pelo indivíduo ou simplesmente, à medida que a pessoa vai amadurecendo. Imprevisibilidade: a personalidade é uma complexa combinação de características e comportamentos que tornam difícil uma predição da resposta dos consumidores aos estímulos sugeridos. • • Segundo Kaplan (1997), o termo “personalidade” pode ser definido como a totalidade dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam o indivíduo na vida cotidiana que, sob condições normais, é relativamente estável e previsível. Um transtorno da personalidade representa uma variação desses traços de caráter que vai além da faixa encontrada na maioria dos indivíduos. • (COMPULSÃO, NEUROSE, ESQUIZOFRENIA E PARANÓIA ). Caracterizado como deficiência psicológica ou uma degeneração na estrutura da personalidade, devido as pressões excessivas de ordem psicológica. • • É a necessidade incontrolável de realizar uma ação. É uma espécie de energia que escapa em muitas ocasiões, do domínio da razão. Comportamentos compulsivos ou aditivos são hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, normalmente um alívio de ansiedade e/ou angústia. São hábitos mal adaptativos que já foram executados inúmeras vezes e acontecem quase automaticamente. Exemplos: cacoetes, tiques, manias e ideias fixas. Se a pessoa tem um pensamento incômodo de que aquilo que acabou de comer poderá engordá-la, terá alívio dessa sensação provocando o vômito, ou tomando laxantes • Comportamentos compulsivos ou aditivos podem ser entendidos como atitudes (mal-adaptadas) de enfrentamento da ansiedade e/ou angústia, trazendo conseqüências físicas, psicológicas e sociais graves. • Algumas pessoas apresentam comportamentos com caráter compulsivo, que levam a conseqüências negativas em suas vidas, como por exemplo, recorrer ao uso abusivo do álcool, das drogas, à fuga do convívio social, ao hábito intempestivo do vômito e às mais variadas atitudes. • Estas pessoas podem ainda comprar compulsivamente, sem levar em conta o saldo bancário, comer compulsivamente, mesmo quando não se tem fome, jogar, praticar atividades físicas em excesso, etc. • • Neurose não é sinônimo de loucura, assim como também, a pessoa neurótica não apresenta nenhum comprometimento de sua inteligência, nem de contato com a realidade. Seus sentimentos também são normais. Eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa. • • A diferença entre uma pessoa neurótica e uma normal é em relação à quantidade de emoções e sentimentos e não quanto à qualidade deles. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que todos nós temos, porém, exageradamente. A Neurose, portanto, não é uma doença mental é, sobretudo, uma doença da personalidade. No início do século XX, Eugen Bleuler, psiquiatra suíço, cunhou o termo esquizofrenia (esquizo=cindida; frenia=mente). Os sintomas mentais e emocionais dessa perturbação são graves e característicos: tendência ao isolamento e à introversão, mau contato com a realidade (autismo), incertezas, dúvidas, dificuldade de escolha (ambivalência), perplexidade, desarmonia no pensamento, ilogismos (desagregação do pensamento). A esquizofrenia tem causa multifatorial, envolvendo fatores genéticos e do ambiente ainda não muito conhecidos. No senso comum, a paranóia caracteriza-se como uma dificuldade de relacionamento, a pessoa começa a achar que os outros estão sempre contra ela, é muito desconfiada, e esta caracterização do senso comum pode apontar, apenas, para pessoas inseguras. A paranóia é um quadro psicótico onde a pessoa descreve tramas contra si própria, onde há um sentimento de perseguição, a pessoa sente-se como se o mundo estivesse contra ela e tudo que acontece parece ser uma conspiração. • Consideramos NORMAL o indivíduo cujo comportamento não esteja incluído na nosologia psiquiátrica, e que atua harmônica e silenciosamente em sociedade. • ANORMAL será o indivíduo que, desadaptado ao meio, se afasta da norma aceita pela sociedade. IMPUTÁVEL é o indivíduo capaz de entender os atos que pratica e INIMPUTÁVEL é a incapacidade de entender o caráter ilícito do fato (COSTA e PERELLA, 2000).