Caso clínico:repercussões do corticosteróide no coração JALAL RIAD NASSER Residente de pediatria R1 HRAS www.paulomargotto.com.br Brasília 27 de julho de 2010 História de Admissão Caso Clínico Diagnósticos Evoluções e Tratamento Repercussão dos corticóides no coração Fisiologia da Glândula suprarrenal Hipercortisolismo Introdução Cardiomiopatia Hipertrófica induzida pelos corticóides Relatos de Casos Mecanismo de ação Discussão Considerações Finais Identificação Informante: Pai CGPML, 3 meses, natural e procedente de Brazlândia – DF H.D.A. Queixa principal: “Cansaço há 5 dias” Paciente apresentou dispnéia, tosse produtiva e chiado no peito há 5 dias. Nega febre, vômitos, diarréia e hiporexia; Em uso de NBZ Berotec (2gts) e Atrovent, salbutamol spray há cerca de 1 semana e prednisolona há 10 dias. Antecedentes Nascido de parto cesáreo, a termo, PN 3750g, estatura: 51 cm, APGAR: 8/9, recebeu alta com 3 dias de vida. Vacinação: não trouxe o cartão. Não está completo (sic). Em uso de NAN1 desde 15 dias de vida. EEG aos 2 meses: foco epiléptico (sic). USO PROLONGADO DE CORTICÓIDES há cerca de 27 dias. História familiar Pai: 28 anos, hígido. Mãe: 31 anos, hígida. Irmãos: Primeiro irmão Faleceu aos cinco meses de idade devido PNM. Segundo irmão teve PNM com 1 ano e 7 meses e aos 4 anos. Nega epilepsia na família. Exame físico admissional BEG, normocorado, hidratado, dispnéico leve,afebril, acianótico. Peso: 6135 g. AR: MV com sibilos bilaterais. FR: 50irpm. TIC leve. ACV: RCR 2 T, BNF, sem sopros. Abd: plano, normotenso, sem VMG. SNC: Fontanela anterior aberta e normotensa. Extremidades: boa perfusão s/ edema. Pele: petéquias em MSD sugestivo de picada de mosquito. Data de entrada 21/04/2010 Idade Local 1M e 25 D HB Diagnóstico Tratamento Evolução O2 Prednisilona 3 ml VO 1x D Salbutamol Spray 4 jatos Crise Bronquiolite e 4/4 H convulsiva e PNM Antibioticos? I.Resp. Permanência Data de Saida 4 dias 25/04/2010 (Removido) 22 dias 17/05/2010 PNM Bronquiolite e I. Resp. e UTI P. suspeita de 25/04/2010 1M e 29 D HSM H1N1 VM/ITO 14 dias Tamiflu 5 dias Hidrocortisona? Antibiótico? 17/05/2010 Prednisolona VO Salbutamol spray Persiste com Beclometasona Inalatório sibilância 2 dias 19/05/2010 PSI, medidas gerais. Diazepan EV Fase rápida Serie 3x Melhora 20/05/2010 O2 2L/ min Azitromicina 60mg/D Prednisolona Salbutamol Spray 2/2H HV de 100% (HOLL) Piora dispnéia 2M e 21 D HB Observação Amb. Episodio de Neuro. crise 20/05/2010 2M e 24 D (HRAS) convulsiva 29/05/2010 3M e 3 D Sibilância HRAS persistente PSI PNM? Favorável 1 dia Data de entrada 03/06/2010 Idade Local HRAS 3M e 9 D Ala A Diagnóstico Bronquiolite obliterante? PNM? Tratamento Evolução Permanência Data de Saida Acesso Central HV de 100% (HOLL) Tenda 15 L Salbutamol Spray 2/2H Metilprednisona 1 mg KG/DOSE 6/6 H Azitromicina D4 Ampicelina + sulbactan D 2 Sat 88% HV de 100% (HOLL) Tenda 15 L Azitromicina D 6 Sibilância Ampicelina + Sulbactan D 4 Persistente Salbutamol Spray 2/2H Bronquiolite Acesso Central HRAS Obliterante? Metilprednisona 1 mg Acidose mista Total no HRAS 05/06/2010 05/06/2010 3M e 11 D Ala A PNM intersticial? KG/DOSE 6/6 H I.Resp II 6 dias (Removido) Sibilância Persistente Bronquiolite Obliterante? PNM intersticial? I.Resp II UTI P. Estenose H. Subglótica 05/06/2010 3M e 11 D anchieta CMH V/M ITO por 11 dias Melhora 11 dias 16/06/2010 HRAS 16/06/2010 3M e 22 D Ala A Investigar imunodepressão Melhora 7 dias 23/06/2010 Hipóteses diagnósticas Bronquiolite Obliterante? PNM intersticial? Cardiomiopatia Hipertrófica Uso prolongado de corticóides (45 dias) Registro clínico Compreendendo a suprarrenal Suprarrenais Duas pequenas estruturas acima dos rins; 6-8 gramas; 2 camadas: córtex e medula; – Córtex: mineralocorticóides, glicocorticóides, androgênios; – Medula: catecolaminas; Hormônios do Córtex Adrenal Os corticosteróides constituem três grupos ou famílias de hormônios: • Glicocorticóides: cortisol ou hidrocortisona • Mineralocorticóides: aldosterona • Esteróides Sexuais: andrógenos (DHEA) e estrógenos Hormônios do córtex e mecanismos reguladores da produção Hormônio Mecanismos reguladores Mineralocorticóide Hipercalemia e angio II (aldosterona) CRHACTH Glicocorticóide (hipófise)supra renal Androgênios Não se conhece o mecanismo exato. Hipercortisolismo – Manifestações Clinicas: Hormônio contra-insulínico(hiperglicemia) – gliconeogêneses,inibe captação periférica de glicose, estimula lipólise... Hemodinâmica: aumento da PA por efeitos vasculares e renais, pois favorece a atividade das catecolaminas e da angiotensina II e promove a retenção de Na no néfron distal (efeito mineralocorticóide). No rim, ainda aumenta a TFG e a perda de água livre, antagonizando o efeito do ADH. Corticosteróides e Hipertensão Vasoconstrição e Resistência Vascular Periférica: substrato e atividade da renina: níveis de angiotensina II degradação de catecolaminas: concentração de noradrenalina sistemas vasodilatadores: cininas e prostaglandinas reatividade vascular aos vasoconstritores Hipercortisolismo – Manifestações Clinicas: Acúmulo de gordura visceral; Alterações na pele e subcutâneo; Inibe atividade osteoblástica; Inibe a liberação de TSH, bem como a conversão periférica de T4 em T3. Cardiomiopatia hipertrófica induzida pelos corticóides Affiliation: Department of Pediatric Cardiology, Institute of Cardio-Vascular Diseases, The Madras Medical Mission, Chennai, India Introdução Corticóide: usado em prematuros para prevenir ou tratar doença pulmonar crônica; Diminui a dependência do ventilador; 1990Ligação definitiva entre a dexametasona e a cardiomiopatia hipertrófica (CMH) em prematuros; Relatos de Casos Werner et al: ecocardiograma de 13 recém-nascidos (RN) ventiladordependentes evidenciou hipertrofia absoluta transitória do miocárdio e movimento sistólico do folheto anterior mitral em 7 bebês, com efeitos de pico na 3ª semana e normalizando na 6ª semana; Skelton et al: análise de 31 crianças (idade gestacional média 26 semanas e peso de 815 g) com início de dexametasona a partir de 11 dias de vida. Foi evidenciado hipertrofia ventricular esquerda (HVE) em quase todos os bebês que receberam 2-3 semanas de dexametasona; Werner RE, J Pediatr. 1992; 120:286-291. R SkeltonArch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 1998; Relatos de Casos Zecca et al: 50 prematuros, metade receberam dexametasona por via EV a partir do 4º dia de vida por 7 dias. No ECO, os bebês tratados com dexa apresentaram maior média do septo e espessura da parede ventricular E, e 20% apresentaram HVE. HVE resolvida completamente em 2- 3 semanas após a descontinuação da droga. Diferentes estudos têm demonstrado também um aumento na espessura da parede ventricular após a administração materna de corticosteróides. Zecca E,Pharmacol Clin. 2001; 41:1075-1081. Mecanismo de ação Aumentos no nível de cortisol materno no final da gestaçãoaumento na parede do VE e VD, e aumenta a espessura do coração fetal em ovelhas; Cortisolaumento do peso cardíaco através da proliferação de miócitos; Possível ação dos GLICOCORTICÓIDES nos receptores de mineralocorticóide (MR) e receptores de glicocorticóides (GR), abundantes no final da gestação de fetos de ovelhas; Mecanismo de ação GR: sofre alteração conformacional após ativação, se transloca para o núcleo inicia transcrição de genes específicos hipertrofia dos cardiomiócitos; Estudos avaliaram as mudanças quantitativas em diferentes cadeias pesadas de miosina (MHC) em ratos durante o uso de dexametasona; Aumento da alfa-MHC e diminuição da beta-MHC; Alguns estudos em ratos recém-nascidos implicou mudanças em canais de cálcio na patogênese da cardiomiopatia hipertrófica; Um aumento na transcrição do RNA codificador do canal de cálcio, subunidade C, foi reportado. Jornal da Asía – Pacífico de Cardiologia . Mecanismo de ação www.murciasalud.es/recursos/miocardiopatia/f9.gif Hipertrofia septal interventricular www.murciasalud.es/recursos/miocardiopatia/f9.gif Discussão No caso clínico apresentado, houve uso prolongado de corticóide, o provável causador da hipertrofia septal pelos efeitos hemodinâmicos causados pelo hipercortisolismo. Os ventrículos, responsáveis por bombear o sangue para todo o corpo, devem vencer a RVP e o aumento da PA. Considerações Finais O reconhecimento da miocardiopatia hipertrófica deve alertar a descontinuação da droga; Embora a miocardiopatia hipertrófica (MCH) seja um problema basicamente de RN muito baixo peso, tem havido relatos isolados em RN a termo e até crianças mais velhas; É melhor limitar o tratamento com corticosteróides e se inevitável, menor duração e menor dose possível; RN de muito baixo peso requerem monitorização ecocariográfica regular haja vista a grande chance de MCH. Referências 1. Academia Americana de Pediatria, Comissão do Feto e recém-nascidos. corticosteróides pós-natal para tratar ou prevenir doenças pulmonares crônicas prematuros. Pediatria. 2002, 109:330-338. 2. Malnick G, pickoff AS, PL Ferrer, J Peyser, Bancalari E, Gelband H. Normal resistência vascular pulmonar e hipertrofia ventricular esquerda em lactentes com displasia broncopulmonar: um ecocardiograma e estudo patológico. Pediatria. 1980; 66:589-596. 3. BS Alpert. Induzida por esteróides cardiomiopatia hipertrófica em um infante. Pediatr Cardiol. 1984, 5:117-118. 4. Werner RE, JC Sicard, TW Hansen, Salomão E, RM Cowett, Oh W. A cardiomiopatia hipertrófica associada à terapêutica com dexametasona em displasia broncopulmonar. J Pediatr. 1992; 120:286-291. 5. R Skelton, AB Gill, JM Parsons. efeitos cardíacos do curso de curta duração dexametasona em prematuros. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 1998; 78: F133-F137. Nota do Editor do site www.paulomargotto.com.br , Dr. Paulo R. Margotto Consultem: Uso do Corticosteróide na Displasia Broncopulmonar Uso de corticosteróides na displasia broncopulmonar Autor(es): Paulo R. Margotto