MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA NO RECÉM-NASCIDO Alex Corcino Rodrigo Lima Coordenação: Sueli R. Falcão Internato 2010/HRAS/SES/DF Brasília, 16 de setembro de 2010 www.paulomargotto.com.br Mãe EMJ,38 anos, natural de Araguari(MG), residente no Riacho fundo I há 20 anos, casada, evangélica, do lar; P5N1C3A1, aborto em 2005; 3 RN com mais de 4 kg, realizou 6 consultas de pré natal; ganhou 8 kg durante a gestação (IMC: 40,77kg/m² ao término da gestação) Normotensa durante maior parte do pré natal; Tipo sanguíneo: O+; HIV -; VDRL -; toxoplasmose: faltou reagente; glicemia jejum 1º trimestre: 101 mg/dl; TTOG (3º trimestre): 0h: 148mg/dl e 2h: 224mg/dl; Internada na enfermaria de alto risco do HRAS para acompanhar níveis glicêmicos de 28/08/2010 a 01/09/2010 -dia da interrupção da gestação (37 semanas e 6 dias) Desenvolveu hipertensão transitória da gestação durante internação; negou HAS e DM prévios; Recém nascido Nascido de parto cesariana com 37 semanas e 6 dias no dia 01/09/2010; Exame Físico (sala de parto) Perímetro cefálico: 35 cm; comprimento: 52 cm; peso ao nascimento: 4735 g GIG obeso (IP: 3,3) Apgar 1’: 9 e 5’: 9 ; choro forte ao nascer; respiração espontânea, normocorado, acianótico, anictérico, MVF sem RA, BNF e RCR em 2T com sopro cardíaco, abdome sem alterações; extremidades perfundidas Glicemias pós termo: 2h: 55; 4h: 84; 7h: 72; 12h: 84 e 24h: 81 Solicitado ecocardiograma, realizado no dia 06/09/2010 RN ativo, normocorado, acianótico , anictérico, bregma e lambda normotensas, orelhas normoimplantadas e sem alterações em face e palato; MVF +, sem ruídos adventícios; Ictus cordis no 5ºEIC 2cm à esquerda da LHC, 2 polpas digitais, normoimpulsivo. BNF, RCR em 2 tempos, com sopro sistólico 2+/6+, em foco aórtico e mitral, sem irradiações. Pulsos periféricos simétricos, amplos e regulares. Abdome globoso, atípico, RHA presentes, timpânico, Traube ocupado, fígado a 2 cm do rebordo costal D, indolor; Extremidades perfundidas. Doença miocárdica primária caracterizada pela presença de hipertrofia ventricular, acometendo com maior prevalência o VE, podendo ser este envolvimento simétrico (concêntrica) ou assimétrico (mais frequente). Ausência de condições associadas que possam produzir tal alteração. prevalência: 0,2% (1:500); acomete igualmente ambos os sexos; sua apresentação pode variar desde a forma assintomática até formas mais graves. Causa principal de morte súbita em adolescentes e adultos jovens Causas primárias: Cardiomiopatia hipertrófica familiar. Recém-nascido de mãe diabética. Excesso de corticosteróide ou catecolaminas. Infiltração de material de depósito no miocárdio. ◦ Glycogen storage disease type II (Pompe’s disease); ◦ GM1 gangliosidosis; ◦ Mucolipidosis type II (I-cell disease); Tumor infiltrante – Rhabdomyoma. Associações sindrômicas: ◦ Beckwith-Wiedemann syndrome; ◦ Noonan’s syndrome; Causas secundárias: ◦ Coarctação de aorta; ◦ Estenose aórtica; ◦ Outras; Metade dos casos compatível com transmissão autossômica dominante. Identificadas mais de 150 mutações em genes codificadores de proteínas sarcoméricas. ◦ 40% destas no gene de cadeia pesada da β-miosina no cromossomo 14; ◦ Outras: troponina – T, proteína C cardíaca ligada à miosina; Casos esporádicos: mutações espontâneas. Hipertrofia assimétrica do VE, acometendo preferencialmente o septo interventricular → hipodiastolia; Gradiente de pressão dinâmico do trato de saída do VE. ◦ Efeito Venturi: aposição da cúspide anterior da valva mitral contra o septo hipertrófico durante a sístole → estreitamento da área subaórtica → obstrução do trato de saída; ◦ ↑gradiente pressórico: ↑contratilidade VE (exercícios, digitálicos), ↓pré-carga (Valsalva, nitrato), ↓pós-carga. Insuficiência mitral; Dispnéia EAP Arritmias SV Insuficiência mitral Aumento da pressão e tamanho do AE Hipertrofia septal (extensão variável às paredes) Restrição diastólica Angustiamento variável da via de saída Diminuição do Volume sistólico Angina Síncope Tontura Fadiga arritmias Obstrução dinâmica Movimento sistólico Anterior da VM Obstrutiva ◦ Septal assimétrica com obstrução(78,6%); Em repouso/lábil/latente; ◦ Médio-ventricular (2,31%); Não-obstrutiva ◦ Septal assimétrica; ◦ Apical (10,98%); ◦ Lateral e/ou póstero-lateral (1,74%); ◦ Concêntrica (6,36%); *acometimento de VD: raríssimo; *dados: Hospital Universitário Pedro Ernesto Disposição bizarra e desorientada das cel. do miocárdio no septo, c/ desorganização da arquitetura miofibrilar, fibrose miocárdica e espessamento das arteríolas coronárias intramurais. Variáveis, decorrente da ↑heterogeneidade genética e fenotípica. O início dos sintomas ocorre, geralmente, entre 20 e 40 anos: dispnéia aos esforços, dor torácica anginosa, tonteiras/síncope, fadiga, palpitações. ◦ Em crianças: diagnóstico geralmente ocorre na investigação ecocardiográfica de um sopro isolado. Uma minoria abre o quadro c/ manifestações de ICC grave; Morte súbita em crianças ou jovens, muitas vezes durante ou após exercícios físicos. Baixa sensibilidade e especificidade; B4, sopro sistólico (audível em ápice e borda esternal esquerda inferior, ejetivo, podendo estar presente componente de regurgitação), pulso digitiforme. ECG Radiografia tórax: normal ou ↑silhueta cardíaca (ICC). Ecocardiograma: Outros: cateterismo, RNM, Holter 24hs. ◦ Hipertrofia ventricular esquerda, ondas Q patológicas em paredes lateral e inferior, alterações de repolarização tipo isquemia e arritmias, ondas T invertidas gigantes (tipo apical). ◦ HVE, septo c/ hipertrofia pelo 1,3X maior que a parede posterior livre, cavidade de VE↓, septo c/ aparência de vidro fosco, MAS da valva mitral. Ecocardiograma bidimensional demonstrando acentuada hipertrofia nas paredes e septo de VE em paciente com 5 meses de idade. RNM mostrando aneurisma apical com trombo em seu interior, em pcte portador de CMH. Aconselhamento familiar, abordagem da morte súbita, tratamento se sintomas. Orientações gerais: evitar esportes de competição e atividades vigorosas. Tratamento farmacológico: ◦ Beta-bloqueadores: paciente obstrutivo, ↓gradiente intraventricular; ◦ Verapamil, diltiazem: s/obstrução, contra-indicações ao beta-bloqueadores; ◦ Disopiramida: casos refratários; ◦ Evitar diuréticos e digitálicos; Tratamento invasivo (refratariedade ao tto clínico): ◦ Marca-passo bicameral: ↓gradiente intraventricular; ◦ Alcoolização septal: necrose do miocárdio hipertrofiado através da injeção de álcool na artéria septal; ◦ Miectomia septal: padrão-ouro; Pacientes com perfil de alto risco para morte súbita: implante de CDI. Investigação de parentes de 1º grau c/ ecocardiograma Hipertrofia idiopática do septo interventricular é encontrada em 10-35% desses recém-nascidos (RN). Provável fisiopatogenia: hiperinsulinismo fetal, receptores de insulina ↑ no coração do feto. Esses RN mostram evidência de ICC, espessamento assimétrico do SIV e movimento sistólico anterior da VM. Entretanto, esta miocardiopatia é usualmente inocente e transitória, se resolvendo durante os 6 primeiros meses de vida (↓níveis insulina). ◦ Ocasionalmente vão a óbito por ICC; Terapêutica recomendada: fornecer HV, assistência ventilatória se necessário, correção de hipoglicemia e hipocalcemia, propranolol. ◦ Digitálicos contra-indicados; DOENÇAS DE DEPOSITO Doença de Pompe (doença de depósito de glicogênio tipo 2) ◦ Herança autossômica recessiva; deficiência da enzima lisossomal α-glucosidase ácida. ◦ Pode se apresentar c/ infiltração miocárdica progressiva, resultando em hipertrofia concêntrica no período neonatal. ◦ Hipotonia progressiva e hepatomegalia moderada; macroglossia, DNPM normal; ◦ Diagnóstico: biópsia de pele, músculo ou fígado + documentação da ↓ α-glucosidase ácida. ◦ Prognóstico reservada: maioria morre no 1º ano devido à falência cardiorrespiratória. Gangliosidose Gm1 ◦ Desordem autossômica recessiva; defeito no gene que codifica a β-galactosidase → acúmulo de gangliosídeos GM1, oligossacarídeos e sulfato de queratina. ◦ Características faciais grosseiras: bossa frontal, depressão da ponte nasal, hipertelorismo, hiperplasia gengival; hepatoesplenomegalia. ◦ Disostose multiplex (displasia esquelética). ◦ Retardo mental. ◦ Prognóstico reservado: profundo retardo psicomotor e morte aos 2 anos. Mucolipidose tipo 2: ◦ Doença autossômica recessiva; deficiência de múltiplas enzimas lisossomais, c/ o resultante acúmulo de material de depósito lisossômico. ◦ Características faciais grosseiras c/ hiperplasia gengival; acometimento valvar cardíaco, hepatoesplenomegalia, constipação/diarréia, hérnias inguinais bilaterais, cifose, disostose multiplex grave, retardo mental. ◦ Mau prognóstico: morte por insuficiência cardiopulmonar antes dos 7 anos. Síndrome de Beckwith-Wiedemann: ◦ desordem esporádica associada c/ defeito genético na região cromossômica 11p15. ◦ Macrossomia, visceromegalias (incluindo cardiomiopatia), macroglossia, aumento do lobo da orelha, onfalocele e hipoglicemia (hiperplasia de ilhotas). ◦ Prognóstico geral bom; ↑incidência tumor de Wilms, tumores do córtex adrenal e hepatoblastoma. Síndrome de Noonan: ◦ Etiologia desconhecida. ◦ Fáscies anormal, c/ testa alta, hipertelorismo, fissuras palpebrais oblíquas, implantação baixa e rotação posterior das orelhas, pescoço alado, mamilos muito espaçados. ◦ Anormalidades cardíacas: estenose pulmonar, cardiomiopatia hipertrófica, defeitos no septo atrial e/ou ventricular. ◦ Prognóstico bom, exceto p/ as crianças c/ anormalidade cardíaca severa. Excesso de corticosteróides (uso pela mãe na gestação) ou catecolaminas (asfixia perinatal): cardiomiopatia hipertrófica transitória nos primeiros meses de vida. Moss and Adams – Heart Disease in Infants, Children, and Adolescents. Baltimore.Williams and Wilkins, 1995, p.1337-1363. Braunwald, E. Miocardiopatia e miocardite. In Harrison´s Principles of Internal Medicine, 17th ed. McGraw-Hill. 2008, p. 1476-1481. Albanesi,FM – Cardiomiopatia hipertrófica. Conceito e classificação. Arq Bras Cardiol 1996;66:103-105. Bittencourt et al – Cardiomiopatia hipertrófica.Artigo de atualização. Rev Bras Cardiol. 2010;1(1):17-24. Gottesman,GS,MD; Hoffmann,JW,Phd – Hypertrofic cardiomyopathy in a newborn infant. The Journal of Pediatrics, vol134 n.1. Zielinsky,P; Costa,MHL – Estudo da história natural da hipertrofia miocárdica e sua associação com hiperinsulinismo em filhos de mães diabéticas. Arq Bras Cardiol 1997;69(nº6). Ddos Alex Corcino, Rodrigo Lima, Vinicio e Thales