LINCOSAMIDAS E METRONIDAZOL Dra Flávia de Assis Silva . Hospital Regional da Asa Su/SES/DF www.paulomargotto.com.br 8/6/2009 LINCOSAMIDAS Também chamadas Lincomicinas. O mecanismo de ação os aproximam dos macrolídeos com quem inclusive podem ter resistência cruzada. A classe possue um antibiótico natural que é a lincomicina e 5 antibióticos semi sintéticos, mas somente a clindamicina tem efeito na clínica. LINCOMICINA Nome comercial: Frademicina® Uso oral: Ação incompleta. Via oral é 20 a 30% absorvida e com alimento é reduzida em mais 50%. Doses: Usar em crianças maiores de 1 mês: IM: 10 mg/Kg a cada 12 a 24 horas e EV: 10 a 20 mg/Kg/dia divididos a cada 8 ou 12 horas. Concentração: 300mg/ml. Contém benzil álcool. Insuficiência renal: Reduzir a dose para 70-75%. Tem efeito bacteriostático. Mecanismo de ação: Inibe a síntese protéica. LINCOMICINA Espectro de ação: Aeróbios Gram positivos (S.pyogenes, S.agalactie,S. grupo viridans,S. pneumoniae, S.aureus, S.epidermides e Corynebacterium diphteriae. Anaeróbios Gram positivos e Gram negativos, inclusive Bacteróides fragillis. Não tem ação contra: Enterococos, Meningococos,Gonococos, Chlamydia trachomatis, Bordetella pertusis, Haemophilus influenzae e outros Gram negativos. Resistência adquirida a estafilococos e pneumococos e tem resistência cruzada completa com clindamicina e parcial com eritromicina. LINCOMICINA Tem penetração em quase todos os tecidos, mas não penetra bem no sistema nervoso central, tem concentrações inconstantes no líquor. Pouca penetração na placenta (10-20%). Apesar da baixa concentração no leite materno (10-20%) é capaz de provocar diarréia no lactente. É inativada no fígado, é hemodializável e não é retirada no diálise peritonial. É inibida pela eritromicina, não é recomendada o uso concomitante. LINCOMICINA Aumenta o efeito dos bloqueios neuromusculares. Usar neostigmina. Tem elevada concentração óssea e por isso é um alternativa para tratamento de osteomielite nos alérgicos a penicilina Boa tolerância! Administração: No mínimo em 1 hora e diluído em pelo menos 100 ml de soro. Efeitos cardiovasculares como hipotensão, bradicardia, arritmias e morte por parada cardiorrespiratória tem sido relatadas com infusão rápida. LINCOMICINA Efeitos colaterais: Cardiovascular: Relacionados com infusão rápida! Sistema nervoso central: Vertigens. Dermatológicos: Dermatite, eritema multiforme, rash, urticária. Gastrointestinal:Náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia (Irritativa ou alteração da flora), prurido anal, estomatite e glossite. Hematológicos: Pancitopenia e PTI. Hepático: Icterícia a alterações de função hepática. Renal: Raro, azotenia, oligúria e proteinúria. LINCOMICINA Observações: Colite- Leve a severa, possivelmente fatal. Pode levar a superinfecção fúngica ou bacteriana, incluindo C.difficile associada a diarréia e colite pseudomembranosa. Usar com precaução em pacientes com doenças gastrointestinais, particularmente colite e alterações renais e hepáticas. Benzil álcool associada com síndrome gasping em neonatos. Pode diminuir a eficácia da vacina contra febre tifóide. Controle hepático e hematológico a cada 7 a 15 dias. É seguro na gestação. CLINDAMICINA Nome comercial: Dalacin C® Apresentações: Cloridrato hidratado VO em cápsulas. Cloridrato palmitato: VO em suspensão. Fosfato: Parenteral IM ou EV. Doses: recém-nascidos: Usar com cautela! <1200g 10-15mg/Kg/dia 12/12 horas 1200-2000g e <7 dias: 15mg/Kg/dia 12/12 horas. 1200-2000g e >7 dias: 22,5mg/Kg/dia 8/8 horas. >2000g e <7dias: 15-20mg/Kg/dia 8/8 horas. >2000g e >7 dias: 22,5 mg/Kg/dia 8/8 horas. CLINDAMICINA Crianças- VO:10-30mg/Kg/dia 8/8 ou 6/6 horas. (Rápida e completa absorção, sem interferência com a ingestão de alimentos, usar após refeições e com água.) EV: 25-40mg/Kg/dia 8/8 ou 6/6horas. Malária: 20mg/Kg/dia 12/12 horas por 5 dias. Profilaxia para endocardite: 20mg/Kg/dose máximo 600mg uma hora antes do procedimento. Concentração: 150mg/ml. Contém benzil álcool. Insuficiência renal grave com anúria: Reduzir a dose para 50% ou fazer a cada 12 horas. Insuficiência hepática moderada e grave: Reduzir a dose em 50% CLINDAMICINA Tem efeito bacteriostático, porém pela alta concentração intracelular pode ser bactericida sobre S.aureus albergados no interior de polimorfonucleares. A concentração intracelular é 50% maior do que a extracelular. Bactericida contra algumas cepas de estafilococos, estreptococos e Bacteróides fragilis. Espectro de ação semelhante a lincomicina porém 4 a 16 vezes mais potente: Aeróbios Gram positivos (S.pyogenes, S.agalactie,S. grupo viridans,S. pneumoniae, S.aureus, S.epidermides e Corynebacterium diphteriae e Campylobacter jejuni). Anaeróbios Gram positivos e Gram negativos, inclusive Bacteróides fragillis. É eficaz contra S.aureus de origem comunitária resistente a oxaciliana (CA- MRSA) CLINDAMICINA Não tem ação contra: Enterococos, Meningococos,Gonococos, Chlamydia trachomatis (Algumas são sensíveis em dose elevadas), Bordetella pertusis, Haemophilus influenzae e outros Gram negativos. Gram negativos como Pseudomonas spp., Enterobacteriaceae e Acinetobacter spp são intrinsecamente resistentes devido a pobre permeabilidade celular do envelope a droga. Além das bactérias: Plasmodium falciparum(Sensível ou não a cloroquina), Babesia microtis, T.gondii e Pneumocystis jirovesis. CLINDAMICINA Indicações: Infecções por anaeróbios: principalmente Bacteróides fragillis e Prevotella, produtores de beta lactamases. Celulites necrotizantes, abscessos de boca e faringe, sinusites crônicas, pneumonias aspirativas, abscessos hepáticos, pulmonares e subfrênicos, peritonites, apendicites supuradas, abortos sépticos, osteomielites crônicas, sepses por anaeróbios. Geralmente associada a um aminoglicosídeo, cefalosporina ou quinolona. Pouca ação em abscesso cerebral, meningites e endocardites. Resistência adquirida a estafilococos e pneumococos. A resistência é cruzada completa com lincomicina e parcial com eritromicina. CLINDAMICINA Tem penetração em quase todos os tecidos. Tem concentração em abscessos. Atinge concentração cerebral para tratamento de encefalite por T.gondii. e atravessa a placenta atingindo o sistema nervoso fetal para tratamento de T.gondii. Não tem concentração adequada no líquido amniótico. Leite materno 10-20%.Alta concentração no osso. CLINDAMICINA Parece ter efeito antitoxina, inibindo a produção da toxina estafilocócica associada com a síndrome do choque tóxico. Não é hemodializável e não é retirada no diálise peritoneal. É inibida pela eritromicina, não é recomendada o uso concomitante. Não se deve associar também com outros macrolídeos e cloranfenicol pois tem o mesmo sitio ribossomal. Ação sinérgica entre clindamicina e metronidazol contra Bacteróides fragilis. CLINDAMICINA Aumenta o efeito dos bloqueios neuromusculares. Usar neostigmina. Tem elevada concentração óssea e por isso é um alternativa para tratamento de osteomielite nos alérgicos a penicilina. Administração: Diluir 6mg/ml de SF ou SG ou RL e correr no mínimo em 30 minutos, na concentração de 30mg/mim. Efeitos cardiovasculares como hipotensão, bradicardia, arritmias e morte por parada cardiorrespiratória tem sido relatadas com infusão rápida. CLINDAMICINA Observações: Colite- Leve a severa, possivelmente fatal. Pode levar a superinfecção fúngica ou bacteriana, incluindo C.difficili associada a diarréia e colite pseudomembranosa. Usar com precaução em pacientes com doenças gastrointestinais, particularmente colite. Diarréia associada ao C. difficili pode ser observada até 2 meses após o tratamento. Benzil álcool associada com síndrome gasping em neonatos. Pode diminuir a eficácia da vacina contra febre tifóide. Controle hepático e hematológico a cada 7 a 15 dias. CASO CLÍNICO Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2004;89:F184. CASE REPORT A baby boy was born to a primigravid mother at 24 weeksgestation weighing 710 g. He received poractant (Curosurf)and mechanical ventilation for presumed surfactant deficiencylung disease. On the third day of life, he developed widespread erythema and sloughing of the skin associated with staphylococcal septicaemia which was treated with flucloxacillin and vancomycin. CASO CLÍNICO After he developed a red swollen right knee on day 17 and a swollen cheek on day 18, intravenous clindamycin was prescribed in place of vancomycin.The first two doses of clindamycin were given without a problem, but after the third and fourth doses, the baby suffered a profound desaturation and chest splinting requiring resuscitation. The clindamycin was discontinued in view of concerns that there may have been a causative association. The baby suffered no obvious sequelae, there was no radiological evidence of osteomyelitis three weeks later, and he was transferred back to his local hospital well at 11 weeks of age. CASO CLÍNICO Qual seria o diagnóstico desta criança? Qual a etiologia e a conduta? METRONIDAZOL Primeiro nitroimidazólico introduzido na terapêutica humana em 1959 com ação tricomonicida, amebicida e giardicida. Só em 1962 se descobriu sua ação anaeróbicida. Metronidazol é uma das mais importantes drogas no tratamento de infecções anaeróbicas e é o tratamento de escolha para pacientes com diarréia causada por Clostridium difficili. É aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para tratamento de infecções anaeróbicas e por protozoários. Metronidazol exerce efeito antimicrobiano através da produção de radicais livres, que são tóxicos para as bactérias. METRONIDAZOL Rápido efeito bactericida contra bactérias anaeróbicas, com a morte bacteriana proporcional a concentração da droga. Metronidazol tem efeito bactericida contra Bacteroides fragillis e Clostridium perfringens de ação mais rápida que a clindamicina. É rara resistência adquirida ou metronidazol por bactérias anaeróbias. Nome comercial: Flagyl® Espectro de ação: É ativo contra a maioria dos anaeróbios, protozoários e bactérias microaerófilas. METRONIDAZOL Exerce potencial atividade bactericida contra Bacteróides spp., Clostridium spp., Prevotella spp., Porphyromonas spp., Fusobacterium spp., e Bilophila wadsworthia. Clostridium spp. é usualmente sensível ao metronidazol, embora C. ramosum pode requerer alta concentração da droga para inibição. Rapidamente absorvido por via oral, não há interferência com a alimentação. Adquire concentrações terapêuticas no líquor e no pus de abscessos inclusive abscesso cerebral. É também encontrado na saliva e no leite materno e atinge altos níveis no suco gástrico. METRONIDAZOL É metabolizado no fígado, eliminação renal e biliar, não necessita de ajuste na insuficiência renal. Na hemodiálise é removido 50%, necessita de aumento da dose. Na insuficiência hepática sofre acúmulo e neurotoxicidade. Pouco eficaz nos abscessos pulmonares. Ativo contra H.pylori No tratamento da diarréia pelo Clostridium difficili e na colite pseudomembranosa o metronidazol é preferível a vancomicina, administrado por via oral. METRONIDAZOL Doses: Neonatos: Infecções anaeróbicas: Oral e EV. 0-4 semanas, <1200 g: 7.5 mg/kg cada 48 horas Pós-natal ≤ 7 dias: 1200-2000 g: 7.5 mg/kg/dia a cada 24 horas. >2000 g: 15 mg/kg/dia cada 12 horas Pós-natal >7 dias: 1200-2000 g: 15 mg/kg/dia a cada 12 horas >2000 g: 30 mg/kg/dia a cada 12 horas. METRONIDAZOL Crianças. Amebíase e balantidíase– 35-50 mg/kg/dia em três doses por 10 dias. Giardíase – 15mg/Kg/dia em três doses por 5 a 7 dias. Infecções anaeróbicas: Oral ou E.V. 30 mg/kg/dia a cada 6horas; Dose máxima: 4 g/dia Helicobacter pylori (Em combinação com amoxacilina e subsalicilato de bismuto): Oral: 15-20 mg/kg/dia a cada 12 horas por 4 semanas. Pode ser usado na doença de Crohn por 2 a 4 meses. METRONIDAZOL Efeitos colaterais: Sistema nervoso central: Tonturas, confusão, convulsões, insônia, alucinações e parestesias reversíveis com o tratamento. Dermatológicos: Rash cutâneo. Gastrointestinal: Náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia, gosto metálico na boca. Hematológicos: leucopenia e neutropenia. Renal: Coloração avermelhada da urina. . Neuromuscular: neuropatia periférica. Endócrino e metabólico: Reação tipo dissulfiram com álcool. METRONIDAZOL Outras: Reações de hipersensibilidade. Contém 28meq/Na para cada grama de metronidazol. É eliminado no leite materno e provoca gosto ruim no leite, além de modificar a flora intestinal do bebê. CASO CLÍNICO Menina de 2 anos e 7 meses, branca, de bom nível socioeconômico, procedente do interior do estado do RS. Veio à consulta por diarréia com muco, pus e sangue, emagrecimento de aproximadamente 1,2 kg e prostração. Há cerca de 45 dias havia recebido cefaclor para tratamento de uma amigdalite e 2 dias após o início do antibiótico apresentou diarréia que se prolongou. Quinze dias após o início da diarréia as fezes mostravam muco e sangue, tendo continuado até o dia da consulta. Recebeu trimetoprim e sulfadiazina, amicacina, cloranfenicol, e albendazol neste período, por ter apresentado coproculturas com Klebsiella ornithinolytica e E. coli. CASO CLÍNICO Cada vez que recebia um tratamento medicamentoso parecia melhorar por 1-2 dias e logo continuava com diarréia, com muco, sangue e leucócitos fecais positivos. Apresentava cólicas importantes, tenesmo e não tinha febre. Os exames laboratoriais mostraram uma hemoglobina de 11 g/dl (no início do quadro: 12,5 g/dl), albumina sérica de 2,8g % (valor normal de 3,5 a 5,0), Na 131 mEq/l (valor normal de 130-150 mEq/l), K 3,4 mEq/l (valor normal de 3,5-5,3 mEq/l), velocidade de sedimentação glomerular (VSG) 89 mm/h (normal menor do que 13 mm/h). Apresentava ecografia abdominal normal, exame radiológico de tórax normal, urocultura negativa, vários exames parasitológicos negativos. CASO CLÍNICO Coproculturas para Ameba, Yersínia, Shigella, Salmonella, Campylobacter, Criptosporydium negativas. Realizou colonoscopia que mostrava uma mucosa retal intensamente inflamatória, friável, granulosa com petéquias, lesões aftóides e pequenas úlceras intercaladas. Apresentava também placas nodulares amarelas que se estendiam por todo o cólon esquerdo, tornando-se mais esparsas no cólon transverso. Foi colhido tecido para biópsia no exame endoscópico, tendo sido negativas as pesquisas para bactérias e parasitas. Histologicamente apresentava infiltrado inflamatório e agregados linfóides, sem alterações na morfologia glandular. CASO CLÍNICO Adaptado de J. Pediatr. (Rio J) 1999;75(6):463-6 CASO CLÍNICO Qual seria o diagnóstico mais provável? Qual o esquema de tratamento mais adequado? CASO CLÍNICO Criança de dois anos, sexo masculino, iniciou febre (39º C) que persistiu durante quatro dias, com estado geral conservado. Num dos primeiros dias de febre teve duas evacuações, com algum muco e vestígios de sangue, sem diarréia nos dias seguintes. Após dois dias de apirexia, iniciou vômitos, mantidos de modo mais ou menos regular. Desde esta altura os pais notaram uma discreta ptose palpebral e ligeira flexão do joelho direito. Estas alterações mantiveram-se de modo flutuante ao longo dos dias seguintes. CASO CLÍNICO No sétimo dia de doença surgiu prostração e recorreu ao PSI onde foi feito diagnóstico de gastrenterite aguda e teve alta. Dois dias depois mantinha vômitos e prostração pelo que os pais recorreram a médico local que medicou com batem, metoclopramida e solução de re-hidratação oral. Criança evoluiu com prostração no qual a criança deixou de se levantar, voltou a utilizar carrinho de bebe, adotando postura de inclinação lateral da cabeça e tronco, quando os pais recorreram novamente ao PSI. CASO CLÍNICO À entrada apresentava-se prostrado, apirético, hidratado, com ausculta cardíaca e pulmonar normais. Claudicação às custas do membro inferior direito, sem sinais de artrite. Otoscopia normal. Os sinais meníngeos eram positivos. Durante o período de investigação manteve-se apirético e prostrado, no entanto, começou a apresentar postura em hiperextensão cervical, houve agravamento dos sinais meníngeos e paresia do membro inferior direito CASO CLÍNICO Avaliação laboratorial realizada destacava-se leucocitose com neutrofilia (leuc. - 12.200/mm3 com 64% neutrófilos), plaquetas - 450.000/mm3 Realizada tomografia axial computadorizada (TAC) que revelou uma lesão fronto-parietal esquerda, capsulada, com efeito de massa. CASO CLÍNICO Adaptado Hospital Pediátrico de Coimbra CASO CLÍNICO Qual é o diagnóstico? Quais os agentes etiológicos mais prováveis? Qual o tratamento mais adequado? Qual seria o esquema antibiótico mais adequado? Qual o tempo de tratamento? CURSO DE ANTIMICROBIANOS Obrigada!