HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE NEONATAL Maria Esther Jurfest Ceccon HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO CONCEITO: Síndrome associada a várias doenças cárdiopulmonares caracterizada por hipertensão vascular pulmonar e alteração na vaso-reatividade levando a “shunt” D-E através do FO e/ou CA, pouco responsiva a oxigenioterapia HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO INCIDÊNCIA 1,9: 1000 nascidos vivos (NICHD, 2000) 12 centros americanos: prevalência de 0,43-6,82/1000NV predomínio em recém-nascidos de termo ou pós-termo 1 a 4% das admissões na UTIN tem HPPN como diagnóstico principal MORTALIDADE 40% IO> 40: Mortalidade de 80% BATLET et al., 1985 CLASSIFICAÇÃO DA HPPN SEGUNDO GEGGEL; REID, 1984 HPPN NÚMERO NORMAL DE ARTERIAS PULM VASCULATURA NORMAL IMATURIDADE MÁ ADAPTAÇÃO POR ASFIXIA AGUDA NÚMERO DIMINUIDO DE ARTÉRIAS PULM. VASCULATURA MUSCULARIZADA MÁ ADAPTAÇÃO POR ASFIXIA CRÔNICA MALFORMAÇÃO PRIMÁRIA ETIOPATOGENIA: ALTERAÇÃO FUNCIONAL VASOCONSTRIÇÃO PULMONAR Mecanismo: resposta à hipoxemia e acidemia • Doenças associadas: – Asf. perinatal grave – Síndrome de aspiração de mecônio – Sepse, pneum. por strep. B – DMH – Depressão SNC – Hipotermia – Hipoglicemia • Prognóstico: bom, reversível GEGGEL; REID, 1984 ETIOPATOGENIA: ALTERAÇÃO ANATÔMICA REMODELAÇÃO DAS ARTERÍOLAS PULMONARES Mecanismo: resposta à hipoxemia crônica ou hiperfluxo pulmonar • Doenças associadas: – sofrimento fetal crônico – Fechamento precoce do canal art: drogas maternas: AAS, antiinflam. – Cardiopatia: vent. único, fístula a-v. • Prognóstico: ruim, lesão estrutural ETIOPATOGENIA: ALTERAÇÃO ANATÔMICA DIM. LEITO VASCULAR PULMONAR Mecanismo: hipoplasia de alvéolos e vasos • Doenças associadas: – – – – Hérnia diafragmática Derrame pulmonar Síndrome de potter Displasia alvéolo capilar (1981) • Prognóstico: ruim, lesão estrutural ETIOPATOGENIA: ALTERAÇÃO FUNCIONAL OBST. FUNCIONAL DO FLUXO SANGÜÍNEO • Doenças associadas: – Policitemia – Hipertensão venosa pulmonar – Coartação da aorta • Prognóstico: bom, reversível, dependendo da causa ETIOPATOGENIA: ALTERAÇÃO FUNCIONAL PARK et al., 1998: • Relato de caso: RN com HPPN grave, portador de citomegalia congênita, com necessidade de utilização de óxido nítrico e VAF. • HPPN: doença pulmonar, devido à pneumonite causada pelo citomegalovirus HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO WALSH-SUKYS-2000- CONDIÇÕES ASSOCIADAS A HPPN 1- SAM 41% 2- Idiopática 17% 3- Pneumonia 14% 4- SDR 13% 5- Pneumonia e/ou SDR 14% 6- Hernia diafragmática 10% 7- Hipoplasia pulmonar 4% QUADRO CLÍNICO • RN termo ou próximo do termo • Antecedente de asfixia perinatal • Sinais clínicos: – Desconforto respiratório, taquipneia, – Cianose progressiva desprop. Ao compr. Pulmonar, – Labilidade de oxigenação, principalmente à manipulação – Cardiovascular : • ausculta nl ou estalido sistólico, • B2 hiperfonética • Sopro sistólico em FT KINSELLA; ABMAN, 1995 QUADRO CLÍNICO • Diagnóstico diferencial – Doença de parenq. pulmonar grave – Cardiopatia congênita DIAGNÓSTICO EM TODO RN COM SUSPEITA DE HPPN REALIZAR: • RX de tórax: pode não se observar alterações características, nos casos graves hipofluxo pulmonar, 2rio à vasoconstrição arterial pulmonar • Gradiente pré e pós ductal: não muito útil para o diagnóstico, mas útil para analisar resposta á intervenção. Gasometria: PaO2 pré-ductal > 20 mmHg do que o pósductal sugere “shunt” pelo D-E pelo C.A. • Calcular índice de oxigenação HAMMERMAN et al., 1989 ÍNDICE DE OXIGENAÇÃO MAP x FIO2 x 100 IO= PO2 pós-ductal (PIPxTinsp.) + (PEEP x T Exp.) MAP = (Tinsp + T exp) DIAGNÓSTICO • Instalar 2 oxímetros de pulso, colocando um sensor na extremidade pré-ductal e o outro no pós-ductal. • Se a SatO2 pré-ductal for maior que a pós-ductal em 5%: suspeitar de shunt DE pelo CA • Para ajuste ventilatório valorizar o valor indicado na oximetria pré-ductal, procurar mante-lo entre 93 e 95%. • Para avaliar a terapia com vasodilatadores (tolazolina ou óxido nítrico), monitorar a oximetria pós-ductal DIAGNÓSTICO • Confirmar a HPPN através da ecocardiografia bidimensional com Doppler colorido: padrão ouro no diagnóstico: Analisar os seguintes parâmetros: Pressão média da artéria pulmonar (nl: 18 A 20 mmHg) Estimar a pressão sistólica do VD Documentar a presença do “shunt” direita-esquerda ou bidirecional através do forame oval e/ou canal arterial TERAPÊUTICA CUIDADOS GERAIS • Manipulação mínima do RN • Cateterização da arteria umbilical • CORREÇÃO DAS CAUSAS BÁSICAS – POLICITEMIA – HIPOGLICEMIA – HIPOTERMIA – ACIDOSE METABÓLICA – HIPOTENSÃO ARTERIAL HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO • Oxigenação adequada: PaO2 de 80 a 100 mmHg inicialmente e 50 a 60 mmHg depois de estabilizado; • Hiperventilação discreta: PaCO2 de 30 a 35 mmHg inicialmente e evitar exposição prolongada; • pH: evitar acidose, alcalose metabólica discreta; • Ventilação de alta frequência ou Ventilação mandatória intermitente KINSELLA; ABMAN, 1995 HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO WALSH-SUKYS-2000 TRATAMENTOS 1- Oxigênio 100% 2-Ventilação mecânica 95% 3-Hiperventilação 66% 4-Alcalinização 75% 5-Sedação 94% 6-Relaxantes musculares HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO • Tratamento analgesia e sedação Universalmente recomendado • Fentanyl® ataque : 5g/Kg/ EV., manutenção: 2 a 4 g/Kg/h EV. • Dormonid® ataque: 0,15 mg/kg EV, em 5 minutos manutenção: 0,01 a 0,06mg/Kg/hora HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO • Tratamento Alcalose: a RVP é inversamente proporcional ao pH sérico; a paCO2 não é responsável pela redução da RVP abandono da hiperventilação mecânica em prol da infusão contínua de Bic. Na (mínimos efeitos colaterais, limite máximo de PaCO2: 60 mmHg) KINSELLA, 1999 HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento • Surfactante: a sua deficiência contribui para a complacência pulmonar e atelectasia em alguns pacientes. • 7 pacientes com HPPN: fosfolipídeos no aspirado traqueal foram semelhantes àqueles encontrados em RN com SDR. WALSH; STORK, 2001 HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento Vasodilatadores tolazolina: (Priscolina) vasodilatador sistêmico, que atua na vascularização pulmonar diminuindo a resistência vascular pulmonar. dose de ataque: 1 mg/Kg/dose, EV, em 10 min. manutenção:0,25 mg/Kg/hora, EV, infusão contínua HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento Efeitos colaterais: hipotensão arterial, sangramento gástrico, alcalose metabólica hipoclorêmica e IRA Critérios de inclusão: RN em VM, com HPPN confirmada pelo ecocardiograma cujo IO esteja entre 15 e 20. Critérios de exclusão: RN com hipotensão arterial, IRA, com débito urinário < a 1ml/Kg hora, distúrbios hemorrágicos. HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento Devido ao efeito sistêmico da Tolazolina sempre associar droga vasoativas: Dopamina: de 2 até 8 µg/Kg/min. Dobutamina: 5 até 15 µg/Kg/min. Monitorizar: hemograma com plaquetas, função renal, sangramentos. HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento A tolazolina foi usada inicialmente por Goetzman, et al. em 1976 e a partir desta data foi utilizada extensamente em estudos experimentais e em humanos, porém devido a seus efeitos colaterais, seu uso se tornou muito limitado HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO Tratamento ÓXIDO NITRICO: • FURCHGOTT; ZAWADZKI (1980) • Vasodilatador endógeno: fator relaxante do endotélio • IGNARRO (1987) • Identificou a molécula, mediador endógeno de múltiplos processos fisiológicos, incluíndo regulação do tônus muscular. produzido no endotélio pulmonar Oxigênio+ arginina NOS citrulina + NO HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO OXIDO NÍTRICO • Os efeitos fisiológicos do óxido nítrico ROBERTS; KINSELLA em 1992. • É um gás que se difunde pela musculatura lisa do endotélio vascular pulmonar o nivel intracelular de GMP cíclico: dilatando a vasculatura • O NO na corrente sanguínea: se liga rapidamente à Hb: metahemoglobina, sendo inativado:efeito exclusivo no pulmão. HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO OXIDO NÍTRICO- TOXICIDADE • Lesão pulmonar pelo NO2 • metahemoglobinemia (azul de metileno 0,1-0,2 mg/Kg/dose da solução a 1% EV lento em 5 min.) • anti-adesividade e anti-agregação plaquetária CARLO, 1999 PARÂMETROS DE INDICAÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO • RN 34 sem. gestação; peso 1.500g • PO2 pós ductal 55 mmHg em 2 medidas consecutivas em ventilação mecânica com FiO2 = 100% • Índice de oxigenação (I.O.) 25 • Consentimento livre e esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis legais SKIMMING et. al., 1997, KINSELLA, 1999; LOPEZ,1999 PARÂMETROS DE EXCLUSÃO • RN com idade gestacional < 34 semanas • Evidência clínica de sangramento ativo • Plaquetas em número menor a 70.000 mm3 • Ultrassonagrafia de crânio mostrando hemorragia TRATAMENTO CONVENCIONAL PRÉVIO • Alcalinização • Sedação • Surfactante • Dopamina • Tolazolina • Dobutamina UTILIZAÇÃO • Iniciar com 20 ppm de NO, 30 min. após avaliação clínica laboratorial • Responsivos Quando houver um aumento da PaO2 20mmHg em relação a PaO2 previa dentro de 30 a 60 minutos após o inicio da ventilação com NO Se não houver resposta isto é, se o aumento da PaO2 for menor que 10 mmHg, parar 15 minutos, aumentar até 40 ppm no máximo, se não houver resposta, suspender. UTILIZAÇÃO • Se houver resposta ao NO com 20 ppm, ajustar os parâmetros ventilatórios na seguinte sequência: Se Pinsp >35 cmH2O: diminuir gradativamente até 30. A seguir diminuir a FiO2 de 5 em 5% por vez até chegar a 70%. Se paciente estável: manter NO por 12 horas e iniciar diminuição de 5 em 5ppm a cada 4 horas até no mínimo 5ppm. Continuar dimimuindo a FiO2 a cada hora até 40%. Se possivel diminuir a Pinsp até 20: observar expansibilidade Se paciente permanecer estável por 24 horas nas condições citadas, suspender o NO ADMINISTRAÇÃO DE NO 30’ 6 horas 12 horas 18 horas 24 horas Parâmetros ventilatórios e gasométricos antes e após administração do NO MONITORIZAÇÃO • Dosagem de metahemoglobina deve ser feita a cada 24 h. E até 24 h após suspensão do NO. Suspender o NO caso suba acima de 7%. • Valor normal = 1.0 a 2.0% • NO2 manter abaixo de 2 ppm - suspender com nível 5 ppm, entre 2-5ppm, NO pela metade • USC antes e 24 h após o término do tratamento • RX tórax antes e após o NO OXIDO NÍTRICO • 40% dos RN com HPP respondem bem ao óxido nítrico e ventilação convencional. • 65% dos RN com HPP respondem bem ao óxido nítrico e ventilação de alta freqüência: maior recrutamento alveolar • 1/3 dos RN tem uma resposta parcial e ficam dependentes de NO (5ppm), por vezes, mais de uma semana WALSH; STORK, 2001 VENTILAÇÃO DE ALTA FREQUÊNCIA • Indicada na HPPN quando o RN está em uso de ventilação convencional e óxido nítrico ainda em 20 ppm e mantém uma PaO2 < a 50 mmHg e IO>25. Apesar de alguns trabalhos isolados indicando benefício deste tratamento na HPPN, não existe nenhum trabalho randomizado ou ensaios clínicos que mostrem melhora significativa como diminuição da mortalidade ou da necessidade de ECMO HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE • Tratamento ECMO (Oxigenação extracorpórea através de membrana) índice de sobrevida de 82% em pac. com índice de mortalidade considerado superior a 80%. SHUMAKER; BAUMGART, 2001 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DE ECMO NO PERÍODO NEONATAL CRITÉRIOS • Índice de oxigenação (40) • Resposta inadequada ao tratamento • Deterioração aguda • Gradiente alvéolo-arterial de O2 • (A-aO2) 620 mmHg • Parada ou falência cardíaca • Barotrauma • Outros CASOS (%) 27,6 27,3 22,4 14,8 2,8 2,2 2,9 ECMO Registry Report of the Extracorporeal Life Support Organization, Jan 1995. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DA ECMO • • • • • • • • • • COMPLICAÇÃO Coágulos no circuito Problemas com os catéteres Ar no circuito Falência do oxigenador Rachaduras em conectores Disfunção da bomba Ruptura de tubo Disfunção do trocador de calor Disfunção do hemofiltro Outras CASOS (%) 24 11 6 5 3 2 1 1 1 10 ECMO Registry Report of the Extracorporeal Life Support Organization, jan 1995. ECMO NO PERÍODO NEONATAL SEQÜELAS • • • • • Infarto cerebral direito Anormalidades motoras esquerdas Convulsões focais esquerdas Alterações EEG Hemorragia intra-craniana ECMO EM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NEONATAL (RESULTADOS POR DIAGNÓSTICO) Diagnóstico Casos Sobrevida (%) SAM 4860 94 HDC DMH HPPN SEPSE/PNEUMO NIA PNEUMOTÓRAX OUTROS TOTAL 2899 1240 1882 1611 58 84 82 76 62 641 13708 66 75 80 SAM: Síndrome de aspiração meconial, HDC: hérnia diafragmática congênita, DMH:doença das membranas hialinas, HPPN hipertensão pulmonar primária neonatal. Neonatal ECMO Registry (Elso), USA, 1980-1998. ESTADO ATUAL DOS TRATAMENTOS DA HPPN EFICÁCIA • • • • • • • • Hipervent. Vent. convencional Alcalinização Vasodilatadores EV Surfactante * Vent. alta freq. Óxido nítrico ECMO COMPROVADA NÃO COMPROVADA X X X X X X X *Diminuiu necessidade de ECMO, porém não a mortalidade nem a duração da VM