Prevenção da insuficiência cardíaca no manuseio da hérnia diafragmática através da manutenção da patência ductal: relato de caso Prevention of heart failure in the management of congenital diaphragmatic hernia by maintaining ductal patency. A case report Michael Buss, Garry Williams, Anthony Dilleyc,Owen Jones J Pediatr Surg 2006; 41:E9-E11 ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE (ESCS) Apresentação: Reinaldo Ferreira , Marcelo Campelo, Ricardo Oliveira Coordenação: Paulo R.. Margotto www.paulomargotto.com.br Brasília, 31 de março de 2012 Ddos Reinaldo Ferreira, Marcelo Campelo e Ricardo Oliveira ESCS! INTRODUÇÃO A hérnia diafragmática congênita (HDC) é um defeito raro com uma incidência de 1 por 2500 nascimentos A forma mais freqüente é a hérnia póstero-lateral, nomeado após Bochdalek , que a descreveu em 1848. Em 80% dos casos, ela está localizada no lado esquerdo, permitindo que as vísceras abdominais entrem na cavidade torácica A vida pós-natal precoce é complicada por hipoplasia pulmonar ipsilateral, aumento da resistência vascular pulmonar, e insuficiência cardíaca potencial,resultando em uma mortalidade de 30% a 50% . INTRODUÇÃO O fechamento cirúrgico da HDC é realizado no primeiro dia de vida de crianças estáveis, mas é postergada nos que apresentam com comprometimento cardíaco ou respiratório grave . Para reduzir a hipertensão pulmonar (HP), o óxido nítrico é administrado . INTRODUÇÃO Nos casos mais graves, a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) é usada durante o período de doença cardíaca e falha pulmonar. Os autores descrevem um caso em que a correção cirúrgica foi adiada por causa de hipertensão pulmonar grave. A insuficiência cardíaca direita tornou-se iminente com o fechamento espontâneo do ductus arteriosus. A reabertura do canal usando alprostadil resultou na estabilização hemodinâmica e permitiu correção cirúrgica bem sucedida. RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente MG nasceu com 41 semanas de gestação, mãe de 35anos(Gesta 1, para 1) , em um hospital periférico. Peso ao nascer= 3094 g Apgar= 1/6/6, 1, 5 e 10 minutos. Apesar de ventilação com pressão positiva e administração de oxigênio, continuou com insuficiência respiratória significativa e foi necessária reanimação antes de 15 minutos de vida por causa de hipoxia e bradicardia RELATO DO CASO CLÍNICO O exame físico mostrou grande diminuição de entrada de ar no hemitórax esquerdo e sons cardíacos abafados A radiografia de tórax confirmou uma hérnia do lado esquerdo do diafragma (Hérnia Pósterolateral de Bochdalek, contendo intestino delgado e grosso. O paciente foi transferido para a Instituição dos autores primeiro dia de vida para tratamento cirúrgico adicional. RELATO DO CASO CLÍNICO Na chegada: gasometria arterial PaO2 pré-ductal = 70 mm Hg PaCo2 =32 mm Hg. Saturação de Oxigênio (SatO2) : pré-ductal= 98% ; pós-ductal = 90% sob ventilação com oxigênio a 100% (Tabela 1). Ecocardiografia inicial Coração estruturalmente normal, Diâmetro interno do ventrículo esquerdo de 18 mm (na faixa inferior da normalidade) Ventrículo direito alargado Um forame oval persistente com shunt esquerda para a direita. Ductus arteriosus patente (DAP) com grande shunt bidirecional . RELATO DO CASO CLÍNICO O óxido nítrico inalado foi iniciado no dia 2 devido a uma queda na PaO2 pré-ductal para 42 mm Hg e freqüente desaturação. Shunt sistólico da direita para a esquerda em todo o ductus arteriosus patente foi significativo nesta fase, com uma diferença em pré-ductal-pós-ductal saturação de oxigênio de 20% (Tabela 1) Posterior deterioração exigiu mudança para a ventilação de alta freqüência (VAF) e início da dopamina em 4 microg /kg/minuto. A cirurgia corretiva foi adiada neste momento para permitir a estabilização do paciente RELATO DO CASO CLÍNICO A ecocardiografia foi repetida no dia 6 , que mostrou hipertensão pulmonar persistente com a pressão da artéria pulmonar em níveis supra-sistêmicos, regurgitação da válvula tricúspide grave com um gradiente de pressão de 100 mm Hg, e agora shunt contínuo direita –esquerda pelo ductus arteriosus. RELATO DO CASO CLÍNICO Outro ecocardiograma no dia 8 mostrou hipertensão pulmonar inalterada e o fechamento quase total do ductus arteriosus. A PO2 foi de 58 mm Hg com uma pequena diferença na saturação de oxigênio pré-ductal - pós-ductal (Tabela 1). Estavam presentes: sinais clínicos de falência ventricular direita iminente como hepatomegalia, aumento da pressão venosa central e baixo débito cardíaco sistêmico RELATO DO CASO CLÍNICO Para diminuir a pós-carga do ventrículo direito e para permitir que o sangue contorne os pulmões, particularmente em períodos críticos de hipertensão pulmonar, o alprostadil (PROSTAGLANDINA E-1) foi iniciada a 10 ng /kg por minuto para reabrir o ducto. Isto resultou em uma queda imediata saturação pós-ductal de oxigênio e uma melhoria significativa da função do ventrículo direito (Tabela 1). Sob esta medida de proteção do ventrículo direito , o fechamento cirúrgico da HDC foi realizado 3 dias depois, no dia 11. RELATO DO CASO CLÍNICO Dificuldades na oxigenação e na ventilação persistiram no pós-operatório. Foi usada a hipercapnia permissiva para minimizar o barotrauma. A criança permaneceu hemodinamicamente estável durante este período A pós-carga do ventrículo direito foi bastante reduzida por livre shunt direita-esquerda contínuo através do DAP. Durante as próximas 2 semanas, a VAF e óxido nítrico foram desmamados e à criança foi colocada em ventilação convencional. O óxido nítrico foi deixado 2 dias mais tarde. Alprostadil cessou no dia 28, quando o ecocardiograma demonstrou boa função ventricular direita com apenas regurgitação tricúspide leve e reversão de shunt bidirecional através do DAP. RELATO DO CASO CLÍNICO O ecocardiograma seguinte no dia 36 mostrou quase completo fechamento ductal com leve shunt esquerdadireita e pressão da artéria pulmonar subsistêmica. O ventrículo direito foi um pouco dilatado, hipertrofiado, e com boa contração. A extubação foi possível no dia 46, com oxigênio suplementar necessário por mais 24 horas. Os ecocardiogramas consecutivos, mostraram fechamento espontâneo do DAP e uma queda da pressão da artéria pulmonar para metade dos níveis sistêmicos(avaliação pelo Doppler na leve regurgitação da valva tricúspide). A criança recebeu alta no dia 69. DISCUSSÃO Hipoplasia pulmonar, resistência vascular pulmonar e insuficiência cardíaca determinam fisiopatologia pósnatal da HDC. Alta resistência vascular pulmonar é causada por uma diminuição no número de vasos pulmonares e do tamanho global do leito vascular pulmonar. As artérias têm muscularização intraacinar anormal e mostram uma resposta exagerada a estímulos que provocam constrição vascular pulmonar, tais como hipoxia e aspiração . A insuficiência cardíaca pode surgir como resultado da pós-carga ventricular direita excessiva. DISCUSSÃO Um DAP servirá como um respiradouro para o ventrículo direito, permitindo que o sangue ignore o pulmão particularmente em momentos de pico da hipertensão pulmonar, ao custo de desaturação sistêmica. Fechamento cirúrgico da HDC é realizada no primeiro dia de vida em lactentes estáveis, mas é geralmente retardada naqueles que se apresentam com comprometimento grave da função cardíaca ou respiratória. DISCUSSÃO No entanto, as análises prospectivas e retrospectivas falharam para mostrar a melhoria na morbidade ou mortalidade por qualquer abordagem cirúrgica Tanabe et al demonstraram que, no pré-operatório, shunt contínuo direita-esquerda através do DAP foi associado com maior mortalidade na cirurgia. No presente paciente, a correção cirúrgica foi adiada. Houve intensificação do suporte respiratório com ventilação adequada e oxigenação, mas não houve sucesso na redução da resistência vascular pulmonar. A função cardíaca foi estável, necessitando de pouco suporte inotrópico. Ecocardiografia na época mostrou shunt bidirecional através do DAP. DISCUSSÃO A cirurgia corretiva foi planejada uma vez que a pressão da artéria pulmonar caiu para nível subsistêmico. A função cardíaca piorou quando o DAP começou a fechar espontaneamente, resultando em insuficiência cardíaca iminente do lado direito. A criança foi estabilizada com a reabertura do PDA com alprostadil, evitando a necessidade de membrana extracorpórea de oxigenação. A saturação de oxigênio pré-ductal adequada foi mantida. Cirurgia corretiva foi realizada com segurança 3 dias mais tarde. DISCUSSÃO A administração de Alprostadil foi mantida durante todo o período pós-operatório imediato, mantendo a permeabilidade ductal e suporte da função ventricular direita. Ele foi interrompido quando o ecocardiograma demonstrou hipertensão pulmonar em declínio, com reversão posterior do padrão de shunt ductal. Os autores do presente relato de caso acreditam que a reabertura do canal arterial usando alprostadil resultou na estabilização hemodinâmica, permitindo a correção cirúrgica com sucesso. Esta estratégia deve ser considerada como um componente importante do tratamento nos casos em ocorre deterioração da função do ventrículo direito, quando a cirurgia corretiva está sendo adiada por instabilidade hemodinâmica e respiratória. RESUMO A hérnia diafragmática congênita é uma entidade rara na infância ,sendo uma causa alta taxa de mortalidade(30% a 50%). Hipoplasia pulmonar ipsilateral, aumento da resistência vascular pulmonar e insuficiência cardíaca são potenciais complicadores da vida pós-natal precoce nesses casos. A correção cirúrgica pode ser realizada no primeiro dia de vida ou ser adiada para um momento após a estabilização do recém-nascido. RESUMO O paciente do caso relatado apresentou com uma hérnia póstero-lateral esquerda (hérnia de Bochdalek ),contendo intestino delgado e cólon, necessitando de intubação e reanimação no dia 1º de vida e reparação cirúrgica teve de ser adiada. Uma deterioração respiratória posterior exigiu o início de óxido nítrico inalatório e ventilação de alta freqüência. A pressão arterial pulmonar elevou-se para níveis suprasistêmicos. RESUMO O uso de alprostadil (prostaglandina E1) reabriu o canal e estabilizou a paciente. O reparo cirúrgico foi bem sucedido 3 dias depois. Alprostadil deve ser considerado como um componente importante do tratamento de hérnia diafragmática congênita nos casos graves, onde ocorre deterioração do funcionamento do coração do lado direito . Management of pulmonary hypertension in congenital diaphragmatic hernia: nitric oxide with prostaglandin-E1 versus nitric oxide alone *Shiyanagi, S.; Okazaki, T.; Shoji, H.; Shimizu , T.; Tanaka, T.; Takeda, S.; Kawashima, K.; Lane, G. F.; Yamataka, A.. Pediatr Surg Int 2008; .24:1101–1104 Tratamentos utilizados nas últimas décadas: Alta frequência oscilatória de ventilação (AFOV) Oxigenação de membrana extracorpórea Inalação de óxido nítrico (NO) Cirurgia após estabilização cardiopulmonar Taxa de sobrevivência: 50-70% Maiores determinantes de morbidade e mortalidade: Hipoplasia pulmonar Hipertensão pulmonar (HP) Objetivo: Investigar o papel da prostaglandina E1 (PGE1) e NO para tratamento da hipertensão pulmonar (HP) em hérnia diafragmática congênita (HDC) 61 pacientes revisados consecutivamente (University School of Medicine, Tóquio) Período: janeiro 97 – março 08 Todos os pacientes foram ventilados com alta frequência oscilatória (VAFO) e submetidos diariamente à ecocargiografia (ECO) Requisitos para diagnóstico de HP: Shunt dominante direita-esquerda com ducto arteriosus patente (DAP) Diminuição do fluxo sanguíneo arterial pulmonar no lado afetado Velocidade de regurgitação da válvula > 2,5 m/s Requisitos para melhoria de HP: Fechamento do DAP Fluxo dominante do DAP esquerda-direita Aumento marcado no fluxo sanguíneo arterial pulmonar no lado afetado Velocidade de regurgitação da válvula tricúspide < 2,5 m/s Dos 61 pacientes, 49 tiveram HP, e foram divididos em 2 grupos: Grupo 1 (97-01): n=19 HP foi tratada com PGE1 (alprostadil alfadex) 0,05-0,20 µg/kg/min + NO 10-30 ppm Dopamina e dobutamina, ou 25% de albumina (expansor de volume): se clinicamente indicados Cirurgia Grupo 2 (02-08): n=30 Se o diagnóstico for feito no pré-natal (PN): cesárea eletiva → intubação → VAFO NO 10-30 ppm: utilizado sozinho apenas se a SaO2 pós ductal NÃO for > 75% ou se ECO mostrar HP Dopamina, dobutamina e 25% de albumina usados em todos os pacientes Pacientes suportam cirurgia somente quando: Há fechamento espontâneo do DAP Fluxo dominante esquerda-direita do DAP Aumento do fluxo sanguíneo arterial pulmonar Os 12 pacientes restantes não tiveram HP e foram considerados como controles Dados demográficos: Sexo Idade gestacional Diagnóstico no PN Peso ao nascer Diâmetro do DAP no dia zero (mm) Data do fechamento espontâneo do DAP (dias) Data da operação (dias) Permanência no hospital (dias) Diferenças entre dados categóricos /contínua foram comparados usando teste qui-quadrado,/teste t ou teste t de Welch* Significância estatística: p < 0,05 * Teste t de Welch é uma adaptação do teste t de Student-destinado a ser utilizado com duas amostras com variâncias possivelmente desiguais (Welch BL, 1947) Os dados demográficos foram similares para ambos os grupos (PG + NO) e (NO) Taxa de sobrevivência: 73,8% (45/61) Taxas de sobrevivência não foram significativamente diferentes entre grupos (PG + NO) e (NO) Grupo Taxa de sobrevivência Taxa de mortalidade PG + NO 12/19 = 63,2% 7/19 = 36,8% NO 21/30 = 70% 9/30 = 30% Todos os 12 pacientes controles sobreviveram Os diâmetro dos DAP no dia zero nos grupos que sobreviveram foram menores que nos grupos que morreram No grupo controle o shunt foi continuamente esquerdo-direito, enquanto nos outros grupos, dominantemente direito-esquerdo ou continuamente no dia zero. Na HP persistente, o DAP não fechou espontaneamente e seu tamanho não mudou nos grupos (PG + NO)d** e (NO)d, exceto para 01 paciente que morreu de sepse grave após recuperação favorável no pósoperatório O fechamento espontâneo do ductus arteriosus ocorreu significativamente mais precoce no grupo (NO)s em relação ao grupo (PG=NO)s (p<0,01) *s=sobrevivência; **d=morte A pressão sanguínea sistêmica (PAS) logo após o nascimento em todos os grupos não foi muito diferente 12h após o nascimento: significativamente menor em pacientes que morreram No grupo controle, os pacientes foram para a a cirurgia mais precocemente do que o grupo (PG + NO)s*, e este mais precocemente que o grupo (NO)s. Mesmo sem o uso de PG, não se desenvolveu crise de HP nos grupos (NO)s e controle. A permanência no hospital foi mais curta no grupo (NO)s do que no grupo (PG + NO)s *s=sobrevivência A melhora da HP é crucial para o manejo da HDC A HP é uma das maiores determinantes de mortalidade porque causa angústia respiratória e falência cardíaca O aumento da resistência vascular pulmonar é devido à diminuição no número de alvéolos pulmonares e musculatura anormal das artérias pulmonares intraacinares Portanto, a melhora da HP é um objetivo crucial a ser conseguido no manuseio da HDC. Recentes relatos sugerem que a VAFO aumenta a efetividade do NO na HDC com HP (Christou H et al), tornando a combinação VAFO+NO um tratamento indispensável no recém-nascido com HDC com HP. PGE1 mantém a patência do DAP, reduz a resistência vascular pulmonar e previne falência cardíaca (durante o desenvolvimento fetal na HDC, o pulmão hipoplásico resulta em diminuição da pré-carga no ventrículo esquerdo e subsequentemente inibe o desenvolvimento ventricular (Siebert JR et al) Assim, a manutenção da patência do DAP com PGE1 após o nascimento ajuda a prevenir a insuficiência cardíaca pelo suporte do débito ventricular pelo PDA e simultaneamente desviando sangue quando há HP. No entanto, partir de 2002 os autores mudaram o conceito de manuseio destes pacientes: Cessou-se o uso de PGE1, com o intúito de evitar diminuição da pressão sanguínea sistêmica Adicionou-se dopamina e dobutamina: suporte à função cardíaca → pressão sanguínea sistêmica alta → fluxo aumentado de sangue para o pulmão O fluxo de sangue do DAP mudou da direita-esquerda para esquerda- direita, aumentando o fluxo sanguíneo pulmonar durante o controle respiratório pela VAFO com NO. Assim, o DAP começa a fechar espontaneamente, assim que a HP melhora A cirurgia ocorreu mais precocemente no grupo (NO)as em relação ao grupo (NO+PG)s, assim como menor tempo de internação hospitalar no primeiro grupo. Nenhum dos RN no grupo controle ou no grupo (NO)s desenvolveram severa HP que foi refratária a vasodilatador e terapias respiratórias, conhecida como crise de HP após a cirurgia, mesmo embora não tivesse sido usada a PGE1 Desde 1977 os autores não usam ECMO Okuyama et al relataram excelente evolução destes RN com o uso do NO e cirurgia precoce, havendo redução da necessidade de ECMO NO e cirurgia precoce reduzem a chance de uso de oxigenação de membrana extracorpórea Conclusão: uso de apenas NO simplifica o manejo da HDC com HP, e acarreta em melhores resultados OBSERVAÇÕES - Dr. Paulo R. Margotto No manuseio da hipertensão pulmonar severa e refratária na hérnia diafragmática, deve-se raciocinar com a disfunção ventricular, uma vez que a hipoplasia pulmonar, a resistência vascular pulmonar e a insuficiência cardíaca determinam a fisiopatologia da hérnia diafragmática congênita. A expressiva maioria das UTIs Neonatais do país não dispõe forma de administrar óxido nítrico inalatório (NOi) combinado com a ventilação de alta frequência, com o intúito de efetiva a ação do NOi, uma combinação considerada indispensável no manuseio destes bebês. Estes recém-nascidos apresentam relativa hipoplasia do ventrículo esquerdo (os pulmões hipoplásicos levam a uma falta de pré-carga ventricular esquerda e subseqüentemente, inibe o desenvolvimento ventricular), sendo provavelmente o maior determinante de hipertensão pulmonar (venosa) e a falta de resposta ao óxido nítrico. Esta importante disfunção do ventrículo esquerdo pode levar a dependência do ventrículo direito para a adequada perfusão sistêmica. Neste contexto, a manutenção da patência ductal com o uso da prostaglandina E-1 aumenta a contribuição do ventrículo direito para o fluxo sistêmico. A insuficiência cardíaca pode surgir devido à excessiva pós-carga do ventrículo direito (demonstrada pelo aumento do ventrículo direito e desvio para a esquerda do septo interventricular). Esta situação pode levar a um insuficiente enchimento do ventrículo esquerdo e deficiente perfusão sistêmica. O canal arterial patente pode servir como um escape para o ventrículo direito, permitindo que o sangue ignore os pulmões particularmente nos picos de hipertensão pulmonar, à custa de desaturação sistêmica. Assim, na presença de severa hipertensão pulmonar a insuficiência cardíaca direita frequentemente torna-se eminente no momento do fechamento do canal arterial. Sinais e sintomas de insuficiência ventricular direita, aumento da desaturação pré-ductal com ou sem estreitamento da diferença pré e pós ductal e hipotensão arterial e sinais de deficiente perfusão, podem ser indicativos que o canal arterial está se tornando restritivo e após a confirmação pela ecocardiografia justificaria o uso da prostaglandina E-1 para reabrir o canal arterial e diminuir a sobrecarga ventricular direita. Portanto, shunt ductal em uma criança com significante hipertensão pulmonar e disfunção ventricular direita, diminuiria a póscarga ventricular direita, com melhora da geometria do septo interventricular e com melhora do enchimento do ventrículo esquerdo e função. A prostaglandina E-1 pode levar a hipotensão sistêmica, sendo prontamente revertida com a sua suspensão, devido a sua curta vida média. Portanto, deve ser considerado o seu uso SOMENTE em casos de hipertensão pulmonar severa refratária, principalmente em situações que não se dispõe da combinação NOi e ventilação de alta frequência e após a avaliação da ecocardiografia evidenciando disfunção ventricular direita No entanto, faltam estudos randomizados e controlados. A evidência para o seu uso provem de relatos de caso e opinião de expert. "A ausência da evidência não significa evidência da ausência" (Carl Sagan). ProstinR (Prostaglandina E1) EV contínua 0,05 até 0,1 1mcg/kg/min; dose máxima: 0,4 mcg/kg/min. Obtendo-se aumento da PaO2 e do pH, deve-se diminuir a dose até 0,01 mcg/Kg/min para evitar efeitos colaterais como apnéia (12%) febre (14%) rubor (15%).Os efeitos colaterais menos comuns são taquicardia ou bradicardia, hipotensão arterial e parada cardíaca. Monitorizar acidose metabólica. Prostin: 1 ml=500mcg - Como usar: peso x dose x 1440 500 Referências Roessingh ASB, Dinh-Xuan AT. Congenital diaphragmatic hernia: current status and review of the literature. Eu J Pediatr 168:393, 2009 Mohsenti-Bod H, Bohn D. Pulmonary hypertension in congenital diaphragmatic hernia. Semin Pediatr 16:126, 2007 Shiyanagi S, Okazaki T, Shoji H et al. Management of pulmonary hypertension in congenital diaphragmatic hernia:nitric oxide with prostaglandin –E1 versus nitric oxide alone. Pediatr Surg Int 24:1101, 2008 Reiss I, Schaible T ET AL. Standardized postnatal management of infants with congenital diaphragmatic hernia in Europe: the CDH euro Consortium Consensus. Neonatology 98:354, 2010Buss M, Willians G, Dilley Am Jones O. Prevention of heart failure on the management of congenital diaphragmatic hernia by maintaining ductal patency. A case report. J Pediatr Surg41:E9, 2006 Moya F (comunicação pessoal), março de 2012 Agradeço aos Dr. Elysio Moraes Garcia e Sueli R. Falcão, cardiopediatras pelas orientações Consultem também: Hérnia diafragmática congênita Autor(es): Paulo R. Margotto, Martha G. Dias, Samiro Assreuy, Evely Mirela F. França Como tratar hipertensão pulmonar sem NOi (e VAFO)? Curso de Pós-Graduação em Neonatologia pelo Centro de Aperfeiçoamento Profissional (CEAP) de Recife, Pernambuco, ocorrido em Maceió (11-12/9/2009): Hipertensão pulmonar no recém-nascido, uma caixa preta Autor(es): Paulo R. Margotto Um estudo randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, prospectivo do bosentan para o tratamento de hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido Autor(es): WA Mohamed and M Ismail. Realizado por Paulo R. Margotto OBRIGADO! Ddos Marcelo, Reinaldo, Ricardo e Dr. Paulo R. Margotto – ESCS!