Doenças Orificiais CLÍNICA CIRÚRGICA RENATA CHIARI DE FÉO MORAES Anatomia Esfíncter interno Esfíncter externo Papila Anal Linha Pectínea Doença Hemorroidária Plexo Hemorroidário Plexo Hemorroidário Plexo hemorroidário interno → formado pela última artéria sigmóidea e artéria retal superior. Suas veias drenam para o sistema porta, via veia mesentérica inferior. Supre o canal anal acima da linha pectínea. Inervação visceral autônoma (desconforto anal). Plexo hemorroidário externo → formado pela artéria retal inferior. E suas veias drenam para a veia cava inferior, via veias ilíacas internas. Supre canal anal abaixo da linha pectínea, músculos e pele perianal. Inervação somática, rica em fibras sensitivas da dor. Artéria retal média → anastomose com as artérias retais superior e inferior, auxiliando irrigação do canal anal. Anatomia Distribuição habitual dos 3 grupos hemorroidários: Definição e Epidemiologia Hemorróidas caracterizam-se por dilatações de veias do plexo hemorroidário existente no canal anal. Ocorrem em ambos os sexos Maior prevalência entre 45-65 anos, embora possam ocorrer em qualquer faixa etária 50% da população acima de 50 anos apresenta algum grau de dilatação do plexo hemorroidário Etiopatogenia Dilatação anormal das veias do plexo hemorroidário Dilatação anormal das anastomoses arteriovenosas que se localizam na submucosa dos coxins vasculares Destruição do suporte fibromuscular (sustentação) → deslocamento para baixo ou prolapso anormal do plexo hemorroidário Dificuldade no esvaziamento sangüíneo do canal anal no ato defecatório (falha de relaxamento no esfíncter interno) → ingurgitação venosa Etiopatogenia Dieta pobre em fibras e pouca ingestão de líquidos → endurecimento das fezes → esforço defecatório excessivo Hábitos defecatórios errôneos Predisposição familiar Fatores desencadeantes: Constipação intestinal Abuso de laxativos Diarréia crônica Gravidez (aumento da pressão intra-abdominal) Posição ortostática do ser humano Classificação Quanto à localização: Hemorróida interna: origem no plexo hemorroidário superior, recoberta por mucosa, acima da linha pectínea Hemorróida externa: origem no plexo hemorroidário inferior, recoberta por pele, abaixo da linha pectínea Hemorróidas mistas: existência concomitante de hemorróidas externas e internas Classificação Mamilo hemorroidário interno: 1º grau: se projeta para dentro da luz do canal anal, mas sem prolapso abaixo da linha pectínea 2º grau: exterioriza-se durante a evacuação, com redução espontânea 3º grau: exterioriza-se durante a evacuação, mas não retorna espontaneamente, necessita de redução digital 4º grau: permanece exteriorizada, não pode ser reduzida Quadro Clínico Assintomático Sangramento vermelho vivo, durante ou imediatamente após a evacuação (queixa mais comum) Dor (trombose hemorroidária → edema, ulceração e necrose) Desconforto anal Prolapso do mamilo hemorroidário Prurido e ardência perianal Tenesmo Sensação de esvaziamento incompleto do reto pósevacuação Diagnóstico Anamnese e exame físico Exame proctológico: Inspeção estática (mamilos hemorroidários externos e internos prolapsados) Inspeção dinâmica (grau de prolapso ao esforço) Toque retal Anuscopia (mamilos hemorroidários internos) Retossigmoidoscopia Enema opaco e/ou colonoscopia (queixa de sangramento retal cuja fonte não foi diagnosticada, idade > 50 anos, fatores de risco para CA de cólon) Diagnósticos diferenciais Tratamento clínico Medidas higienodietéticas: proibição do uso de laxativos; dieta rica em fibras (farelos, germe de trigo, verduras, legumes, frutas); ingestão abundante de líquidos; supressão bebida alcoólica e condimentos (irritantes de mucosa) Cuidados locais: limpeza anal com banhos de assento com água morna; não usar papel higiênico Medicação tópica: pomadas e/ou supositórios à base de anestésicos e antiinflamatórios. Drogas vasoativas: melhora o sangramento, edema e inflamação dos mamilos hemorroidários, endoflebite local causadora de dor anal Tratamento ambulatorial – hemorróidas internas Escleroterapia: hemorróidas de 1º e 2º graus sangrantes. Injeção perivascular de substância que provoca fibrose, impedindo a estase sangüínea. Crioterapia: hemorróidas de 1º grau. Congelamento do mamilo, provocando sua necrose. Fotocoagulação: hemorróidas de 1º e 2º graus. Aplicação de raios infravermelhos no mamilo hemorroidário, produzindo necrose e ocasionando fibrose da submucosa. Ligadura elástica: hemorróidas de 2º e 3º graus sangrantes. Colocação de anel de borracha na base do mamilo, sempre acima da linha pectínea, provocando sua isquemia e necrose. Tratamento cirúrgico Hemorroidectomia Método mais eficaz para tratar doença hemorroidária Indicações: Mamilos hemorroidários externos ou mistos Mamilos hemorroidários internos de 3º ou 4º graus Trombose hemorroidária Insucesso na terapia conservadora Tratamento cirúrgico Hemorroidectomia aberta Hemorroidectomia fechada Fissura Anal Definição É uma laceração da pele que recobre o canal anal (anoderma) e que se estende da linha pectínea até a linha anocutânea. Localização Linha média posterior (80%) – disposição elíptica do esfíncter externo com a confluência das fibras do interno → área de menor resistência na linha média posterior → facilita lacerações no esforço evacuacional; menor irrigação da linha média Linha média anterior nas mulheres (10%) – também área de maior fraqueza Lesões anteriores e posteriores (5%) Paredes laterais (4%) Patogenia Fator desencadeante → trauma do canal anal na eliminação de aumentado fezes endurecidas e de calibre Fissura anal aguda: laceração superficial do canal anal. Evolução favorável ou persistência. Fissura anal crônica: persistência da fissura, aprofundamento da lesão. Músculo esfíncter interno é o fundo da ulceração. Patogenia Tríade da fissura anal crônica: Fissura Elevação da pele do anoderma → plicoma sentinela Hipertrofia da papila anal correspondente, na linha pectínea Hipertonia do esfíncter anal interno secundária à dor. Redução do relaxamento esfincteriano na distensão da ampola retal com dificuldade de iniciar a evacuação Ciclo dor-espasmo do esfíncter anal interno-dor → manutenção da fissura crônica. Quadro Clínico Dor intensa no momento da evacuação, que permanece por minutos ou horas, latejante ou ardente Sangramento anal vivo (trauma da lesão pela passagem das fezes) Obstipação intestinal (freqüentemente associada à fissura e agravada pois os pacientes evitam voluntariamente o ato da defecação) Infecção secundária das fissuras Diagnóstico História clínica (suficiente para o diagnóstico) Inspeção do ânus (parte distal da fissura e plicoma sentinela) Toque retal com ou sem anuscopia (após melhora dos sintomas. Hipertonia esfincteriana, úlcera linear, papila hipertrófica) Investigação do sangramento anal (câncer colorretal) Fissuras não medianas sem sintomas típicos (investigação de doenças inflamatórias intestinais - RCU e D. Crohn, DSTs - sífilis e linfogranuloma venéreo, neoplasias - CA epidermóide e adenocarcinomas, doenças infectocontagiosas - TB e blastomicose) Tratamento – Fissura Anal Aguda Objetivo: eliminar o trauma a evacuação Dieta rica em fibras (vegetais, trigo, aveia) Evitar ingestão de irritantes do canal anal (bebidas alcoólicas e condimentos) Evitar o uso de papel higiênico na higiene anal após as evacuações, lavar a região anal Laxantes Analgésicos Tratamento – Fissura Anal Crônica Esfincterotomia química: Relaxamento do esfíncter interno em 6 a 8 semanas de tratamento Precursores do óxido nítrico: gliceriltrinitrato, nitroglicerina ou dinitrato de isossorbida (creme) Bloqueadores de canais de cálcio: nifedipina (creme ou VO – 20mg); diltiazem (creme ou VO – 60mg) Toxina botulínica: injeções intramusculares. Previne liberação de acetilcolina pelos terminais pré-sinápticos. Incontinência anal passageira Tratamento – Fissura Anal Crônica Tratamento cirúrgico: Índice de cura de 90-98%, com resultados imediatos Secção parcial das fibras do esfíncter interno na região lateral Ressecção do plicoma sentinela e da papila anal hipertrófica, se sintomáticos Complicações: pouco freqüentes; incontinência a gases ou fezes, insucesso na cicatrização, recidivas Pós-operatório: Higiene local Analgésicos Abscesso Perianal Etiologia e Etiopatogenia 6 a 10 glândulas no canal anal → cada 1 ou 2 desemboca em uma cripta. Obstrução dos ductos das glândulas por fezes, corpos estranhos ou trauma (edema) → estase → infecção nas glândulas anais (teoria criptoglandular) E. coli é a principal bactéria encontrada Infecção crônica persistente profunda deve ser o fator de manutenção do processo Incidência e Classificação Maior incidência na faixa etária entre 30 e 50 anos Predominância no sexo masculino Classificação: Perianal Submucoso Interesfincteriano alto Interesfincteriano baixo Isquiorretal Quadro Clínico e Diagnóstico Assintomático (interesfincteriano) ou Dor perianal latejante Edema, endurecimento da região Febre (geralmente ausente, exceção abscessos volumosos) Exame físico: fornece o diagnóstico Tumoração avermelhada, dolorosa, com aumento da temperatura local, de consistência macia Drenagem espontânea de pus Toque retal: doloroso, palpação de abaulamento dentro do canal anal (interesfincteriano e submucoso) Tratamento Drenagem do abscesso Antibioticoterapia Fístula Anal Definição, Etiologia, Patogenia É uma comunicação entre o canal anal ou reto (orifício interno) e o períneo (orifício externo). É secundária a infecção criptoglandular, bem como o abscesso perianal. Abscesso → manifestação aguda Fístula → manifestação crônica da mesma condição, possivelmente mantida pela persistência de epitélio da glândula anal em parte do trajeto fistuloso, que impede dua cicatrização Classificação 4 grupos: Interesfincteriana (75%) Transesfincteriana (25%) Supra-esfincteriana (4%) Extra-esfincteriana (1%) Quadro Clínico e Diagnóstico Secreção anal permanente ou intermitente, que pode ser purulenta, serosa ou sanguinolenta A fístula é indolor Ardor e prurido na região anal Exame físico: Orifício único ou múltiplos na margem anal com tecido granulação; cicatrizes na pele perianal À palpação, sente-se o trajeto fistuloso como um endurecimento linear (fibroso), que se estende do orifício externo em direção ao canal anal Saída de pus (espontânea ou a compressão do trajeto) Diagnóstico Retossigmoidoscopia e/ou colonoscopia (descartar neoplasia ou doenças inflamatórias) RX simples ou TC com injeção de contraste no orifício externo da fístula (visualização do trajeto fistuloso) → fistulografia Tratamento Drenagem da infecção interesfinctérica primária Fistulostomia → abertura de todo o trajeto da fístula, do orifício externo ao interno. Incisão inclui todos os planos, inclusive o muscular → retirada do tecido de granulação → cicatrização por segunda intenção Fistulectomia (procedimento mais utilizado na prática) → ressecção de todo o trajeto da fístula com sutura local Condiloma Acuminado Agente etiológico: papilomavírus humano (HPV) 70-80% → lesões no canal anal e margem anal 10% → exclusivamente canal anal Lesão elevada, branca ou pigmentada, superfície granular, aparência de “couve-flor”. Poucas ou muitas lesões, pequenas ou grandes, que podem confluir Dor leve, prurido, sangramento, secreção anal Diagnóstico: Aparência macroscópica Ácido acético → epitélio infectado pelo HPV fica aceto-branco Anuscopia → detecção de lesões internas Tratamento: Ablação física (crioterapia, excisão cirúrgica, eletrocoagulação, laser) Agentes cáusticos tópicos Imunoterapia Sífilis Agente etiológico: Treponema pallidum Manifestações clínicas: Lesão primária: lesões ulceradas não-dolorosas, podem ser múltiplas, irregulares, excentricamente localizadas Dor forte (cancro no canal anal), tenesmo, secreção mucóide 2 úlceras opostas, configurando imagem especular Adenopatia inguinal Lesão secundária: condiloma latum. Lesão verrucosa, que varia de amarronzada a rósea. Secreta muco. Associada a prurido e odor desagradável. Comum e HIV positivos Diagnóstico: Úlceras suspeitas → biopsiar e examinar material em microscópio de campo escuro Testes sorológicos → FTA, VDRL Tratamento: Penicilina G benzatina, 2,4 milhões de unidades Referências Bibliográficas Sabiston – Tratado de Cirurgia. 15 ª Edição, volume 1, Editora Guanabara Koogan - 1999. Coelho, Júlio. Aparelho Digestivo, volume 1, 3ª edição, 2006, Atheneu. Quilici, Flávio A. Doenças Anorretais, editora Altana, 2002. Obrigada!!!