Esta apresentação conta a história de uma jovem chamada Mona. Uma história real ocorrida no Irã num passado recente. Em contraposição a episódios de violação de direitos humanos e perseguição religiosa, - Fé e Paciência, Heroísmo e Coragem. Todas as histórias são de amor. “Creio no direito à solidariedade e no dever de ser solidário. Creio que não há nenhuma incompatibilidade entre a firmeza dos valores próprios e o respeito pelos valores alheios...” José Saramago Existe o coração, e existem os anseios da alma Algumas histórias devem ser contadas Algumas histórias necessitam ser conhecidas... - O Anjo de Shiraz (uma história real) Quão longe você iria pelos teus ideais? A cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã, é conhecida por sua beleza e pelo seu significado histórico. Nos arredores da cidade se localizam as ruínas milenares de Persépolis e Pasárgada..., ...e as tumbas dos imperadores persas Dario e Ciro. Em Shiraz nasceu Hafez, consagrado poeta do século 15, que escreveu: “Nem mesmo sete mil anos de alegria podem justificar sete dias de repressão.” Esta apresentação é sobre a história de uma família de Shiraz... - PARTE I OS PRIMEIROS ANOS O casal Mahmudnizhad nutre um amor e um carinho intenso por todos, e sua presença transmite serenidade e ternura. No ano de 1959, nasce Taraneh, a primeira filha do casal. Algum tempo depois, em 10 de setembro de 1965, nasce Mona. Mona e seu pai, em 1967 O nascimento de Mona é motivo de uma felicidade especial para sua família. Seu pai, repete constantemente: “Mona é a nossa alegria e o nosso desejo.” Desde pequena, Mona manifesta uma radiância singular, e sinais de refinada sensibilidade e afeto. E, como não poderia ser diferente, sua família a ama profundamente. Desde a mais tenra idade, ela é rodeada pelo mais puro e intenso amor, - um amor que acolhe, e ao mesmo tempo educa para a vida... A razão de viver é amar e ser amado (escreveu certa vez um poeta) O passar dos anos transforma Mona na bela adolescente que continua a cativar os corações de todos os que a conhecem. Quando chega na escola, as crianças pequenas freqüentemente se juntam ao seu redor, apenas para estarem ao seu lado. Os colegas de classe nutrem uma carinhosa admiração e os professores se encantam com a aluna exemplar que se sobressai nas tarefas escolares. Desde cedo, ela manifesta um apreço especial pelas atividades artísticas, especialmente pela música, dedicando-se apaixonadamente ao canto, com sua bela voz. Ao rever os amigos próximos, seus olhos enchem-se de lágrimas, e ela se apressa para abraçá-los carinhosamente. A sua presença cativa, transmitindo ânimo e conforto aos corações dos amigos. Estas qualidades fazem com que Mona venha a ser conhecida pelo carinhoso apelido de o “Anjo de Shiraz”. Os anos se sucedem, e o mesmo tempo que embranquece os cabelos do pai transforma a filha numa jovem de notável beleza, de longos cabelos castanhos e lindos olhos verdes... São dias de plena felicidade para a família, com o céu aberto do amor a cobrir-lhes de bênçãos... Dias de paz, de ternura, de enlevo... Desde jovem, Sr. Mahmudnizhad nutria um sentimento de busca, uma sede espiritual a impulsioná-lo rumo àquilo que confere um sentido maior à vida. A sua busca o conduziu até a Fé Bahá’í, religião que abraçara e que professa com paixão e alegria. Alguns dos princípios da Fé Bahá’í são: - A Revelação Progressiva: há um só Deus, e todas as manifestações religiosas derivam sua inspiração de uma única Fonte; - Igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres; - Eliminação dos extremos de riqueza e pobreza; - Eliminação dos preconceitos; - Unidade da Humanidade; - Educação universal. "A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe, Uma flor é bela, não importa em que jardim floresça... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus..." dos Escritos da Fé Bahá’í "Ser bahá'í significa simplesmente ter amor a todos; amar a Humanidade e esforçar-se por servi-la, trabalhar pela paz e a fraternidade universais." dos Escritos da Fé Bahá’í Sr. Mahmudnizhad é um dos professores mais queridos na escola bahá’í onde passa a ministrar aulas. Seguindo seu exemplo, Mona, ainda muito jovem, torna-se professora das crianças menores, instruindo-as no desenvolvimento de virtudes e qualidades espirituais. Mona concilia, assim, o amor que nutre pelas crianças com a alegria de poder compartilhar da mesma atividade de serviço que seu pai. "Considerai o homem como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação tão somente pode faze-la revelar os seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum benefício." dos Escritos da Fé Bahá’í Mona e seu pai parecem conversar em silêncios de amor, dispensando o uso das palavras. Os amigos próximos sentem que o território onde se movem este pai e esta filha, mais do que apenas familiar, é de algum modo celestial e inacessível. Muitas vezes, filha e pai sonham o mesmo sonho. E nestes sonhos visitam os Locais Sagrados da Fé que abraçam, passeando por entre floridos alamedas e jardins. Detalhe dos jardins Santuário Bahá’í, cidade de Ákka, Israel Filha e pai caminhando lado a lado. Contemplação, enlevo. O amor divino a permear seus corações. “Ó Filho do Homem! Amei tua criação; por isso te criei. Ama-Me, pois, para que Eu possa mencionar teu nome e te inundar a alma com o espírito da vida.” dos Escritos da Fé Bahá’í A paz e a serenidade destes sonhos em nada anunciam os tempos de adversidades que se aproximam... - PARTE II UM MUNDO EM CHAMAS Fevereiro de 1979 Manifestações populares em todos os pontos do país anunciam o colapso do regime monárquico, e o estabelecimento da República Islâmica no Irã. A despeito do fato do Islamismo ensinar a tolerância e incentivar, como todas as outras religiões, o amor fraternal, o que se segue à Revolução Islâmica e à tomada do poder pelos muçulmanos xiitas trilha o rumo oposto a tais ensinamentos. Da pureza original do Islã, pouco, ou quase nada, restava, fazendo acreditar que os tempos previstos pela seguinte profecia, atribuída ao próprio Profeta Muhammad, haviam chegado...: “Virá um tempo em que nada restará do Alcorão, a não ser a sua escrita, e nada do Islã, a não ser o seu nome...” Com a criação da República Islâmica, a suprema liderança, - tanto política quanto religiosa -, do país é entregue ao fanático clero muçulmano. Não tarda para que uma violenta perseguição seja iniciada contra todos aqueles que professam uma crença religiosa outra que não o Islã, sendo a perseguição aos membros da Comunidade Bahá’í especialmente severa. Foto do Santuário Bahá’í mais sagrado localizado no Irã, na cidade de Shiraz. Casa do Báb (1819-1850), profeta precursor da Fé Bahá’í. Março de 1979 - O novo governo, recém empossado, determina que a propriedade seja confiscada. Setembro de 1979 - Sob determinação do Departamento de Assuntos Religiosos, o Santuário é completamente destruído. Ontem, Santuário Sagrado, Hoje, alvo de vândalos, a reduzi-lo a pó e ruínas... “Deus ordena a justiça e a bondade. Justiça é formosura e bondade é gentileza.” Tradição Islâmica Depois da destruição, Mona, acompanhada pelo seu pai, visita o que, há pouco, era um belo santuário, agora arrasado e devastado pela intolerância religiosa... A visita causa um profundo impacto sobre Mona, cada pequeno detalhe das ruínas do santuário é motivo de profundo pesar e dilaceramento interior. Após a visita, ao retornar para sua casa, Mona pede permissão à sua mãe para não retirar os sapatos antes de entrar, pois encontram-se cobertos, afirma, do pó do que sobrou do Sagrado Santuário. Recolhe-se em prantos no seu quarto, e passa a escrever uma longa e poética redação sobre o que sente naquele momento. - PARTE III A NOITE ESCURA 23 de outubro, 1982 19:00 horas Mona está em casa, juntamente com seus pais. Taraneh, sua irmã, já se casou e não mais mora com eles. Último ano escolar, exame de inglês no dia seguinte. Tocam a campainha. O pai de Mona se dirige até a porta. Quatro guardas revolucionários, munidos de determinação judicial, invadem a sala. Mona e seus pais recebem ordens para permanecerem sentados na sala, sob a mira de um dos guardas, enquanto os demais revistam e vasculham meticulosamente a casa. Será uma noite longa... Passado algum tempo, completam a busca. Empilham os materiais que levarão na sala: livros, documentos, papéis. Do quarto de Mona, os guardas separaram diversos cadernos onde ela tem por hábito anotar poemas e redações sobre a vida, a liberdade, e o amor... A mãe de Mona entra em desespero quando os guardas informam que irão levar presos Mona e seu pai. Quanto ao marido, em face das arbitrariedades que vinham sendo praticadas pelo país afora, ela já poderia esperar a detenção, mas jamais sonhara que também lhe fossem querer levar a filha. Aflita, pergunta por que pretendem levar sua filha, o que os motivou a tal decisão, uma vez que ela tem apenas dezessete anos. Um dos guardas responde, apontando para um dos cadernos de Mona que contém algumas das suas redações: “Veja só o que encontramos no quarto dela...! Com seus escritos, ela irá incendiar o mundo...!” “Com seus escritos, ela irá incendiar o mundo...!” Mona tem apenas dezessete anos de idade, e, como os seus próprios agressores constatam, há Vida nos seus passos, e a chama do Amor ilumina os seus dias. Mona e seu pai mantêm a serenidade. Ela ainda tenta consolar a mãe banhada em lágrimas: “Mãe, por que lamentas? Que crime eu cometi? Por acaso encontraram algo de ilegal na nossa casa...?” Mona e seu pai têm os olhos vendados e são conduzidos até a viatura que na rua espera. Ordens são dadas à sua mãe para que permaneça em casa. O barulho da viatura desaparece, cedendo lugar ao silêncio da noite escura. A mãe de Mona permanece em pé, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar. Em tais circunstâncias, que pode um ser humano fazer, senão orar...? “Acende na tua alma o Fogo do Amor: Queima totalmente pensamentos e palavras no seu calor.” Rumi, poeta persa “Acende na tua alma o Fogo do Amor: Queima totalmente pensamentos e palavras no seu calor.” Rumi, poeta persa - PARTE IV BRASA SOB CINZAS No meio da noite, a viatura segue seu trajeto até a prisão de Seppah. Tão logo chegam à prisão, Mona e seu pai são separados. Ela é conduzida por um longo corredor até um recinto escuro, onde a venda é removida. É quase meia-noite, está tudo escuro. Um pássaro novo longe do seu ninho, em meio ao vendaval que tudo dispersa. Mona se ajeita num canto da cela, tem em mente o rosto preocupado de sua mãe e começa a orar por ela. Será uma noite longa... A primeira manhã na prisão começa a clarear. Uma das prisioneiras se aproxima e pergunta por que ela havia sido presa. Mona responde que foi presa pela sua religião, por ser bahá’í. No decorrer dos próximos dias, centenas de outros seguidores da Fé Bahá’í, por todo o país, também são presos em circunstâncias parecidas. Logo, outras bahá’ís começam a fazer companhia a Mona, na prisão de Seppah. Mona acolhe as novas prisioneiras com ternura. Encontra no cárcere uma segunda família. O destino havia colocado lado a lado aquelas mulheres. Mulheres que deixariam a sua marca na história espiritual da humanidade..., ...ao transmutar, por meio de uma fé inabalável, fragilidade em força. Fortaleza espiritual dirão alguns. Porém, palavras são falhas para relatar os sacrifícios que elas honraram suportar. Num tempo futuro, possivelmente livros virão a ser escritos, e filmes rodados, contando a sua história... ...sem conseguirem transmitir, no entanto, a ínfima parte da dignidade e do heroísmo que elas vivenciaram. É na noite escura que se abre uma nova visão de Deus e do significado da vida. Em tempos de severa provação, o ser humano descobre que é dotado de reservas que não sonhava que possuía. Existem riquezas que andam escondidas no fundo da alma... ... - a matéria-prima do amor -, que se nutre do silêncio, e que se revela no brilho do olhar. É no meio da noite mais escura que o ser humano descobre que o contrário do medo não é a coragem, mas a fé. É a fé que remove montanhas, e que permite suportar as mais violentas adversidades. Diante das durezas do encarceramento, a fragilidade própria das mulheres. E também a sua força. As prisioneiras são submetidas a um processo de vários interrogatórios, realizados por uma Corte islâmica e seus juízes. Após tais interrogatórios, serão soltas, ou condenadas à morte. Com o cego fanatismo a privar completamente os acusadores da capacidade de julgar, os interrogatórios se resumem a sessões de abusos verbais e humilhações. A única intenção das longas sessões é fazer com que elas neguem a sua religião, os ideais de vida que abraçam. A escuridão do cárcere As seguidas humilhações O silêncio da noite por testemunha... Instigantes, delicadas, profundas. Mulheres, em meio a um tribunal formado por homens. Elas não somente recusam a negar a sua fé, mas saem de cada sessão de interrogatório com a sua fé renovada. Acolhem em seus corações o sofrimento umas das outras. Mães, filhas e irmãs unidas por vínculos de parentesco espiritual, a compartilhar as dores daqueles que, em todos os tempos, recusaram-se a se deixar dobrar pelas injustiças... Quando ameaças verbais não surtem o efeito desejado, calculam os acusadores, quem sabe a violência física não logre em obter êxito. Não tarda para que as sessões de interrogatório passem a comportar severo espancamento físico. Não tarda para que as sessões de interrogatório passem a comportar severo espancamento físico. Rastos de sangue a pintar os corredores e as celas. Uma coisa, porém, é agredir o corpo físico, castigar com bastonadas a sola dos pés, criados para caminhar..., machucar em sangue vivo um coração... Outra coisa é tentar quebrar uma alma inflamada com o espírito da vida..., - inquebrantável por mãos alheias, intocável pelo fogo exterior, livre, mesmo no cárcere, eterna amante da Justiça. Os agressores haviam se esquecido de uma antiga lição: Quanto mais se esmaga o grão, mais ele germina e frutifica... Quanto mais se esmaga o grão, mais ele germina e frutifica... Fim da primeira parte (continua...) Formatação: [email protected] “A sabedoria amadurece por meio do sofrimento.” Ésquilo poeta grego Todas as histórias são de amor. Esta é a segunda parte de uma apresentação sobre a vida de Mona Mahmudnizhad. A história relatada a seguir tem por palco a cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã. Em 1979, ano em que ocorreu a Revolução Islâmica no Irã, teve início no país uma onda de violação aos direitos humanos fundamentais. Com a tomada do poder pelo clero fundamentalista xiita, violenta perseguição foi iniciada contra as minorias religiosas, em particular, contra os seguidores da Fé Bahá’í. Em decorrência da severa intolerância religiosa manifesta pelo novo governo, Mona, aos dezessete anos de idade, é presa, juntamente com seu pai, e centenas de outros seguidores da Fé Bahá’í. Os prisioneiros são submetidos a seguidas sessões de interrogatório, que visam fazê-los negar a religião que professam. - O Anjo de Shiraz (uma história real) Quão longe você iria pelos teus ideais? - PARTE V A PRISÃO Chega-se a um ponto da caminhada em que constatamos que perdemos tudo, que tudo nos foi roubado, salvo a nossa Fé, o nosso Amor, e a nossa Esperança. E é então que descobrimos que ainda tudo possuímos... - Fé, Amor e Esperança - Embora seja a mais jovem do grupo de prisioneiras, Mona, com a sua presença, transmite às demais colegas conforto e abrigo. As suas mãos constantemente estende para acolher, para abraçar. A sua voz e as suas palavras procuram consolar e animar. Seus olhos espelham toda a bondade e ternura que traz na alma. Na dura rotina da cadeia, a oração ocupa um lugar especial. Em meio ao confinamento, pedem a Deus força e coragem para enfrentar as tribulações. Certo dia, o carcereiro ordena que Mona o acompanhe para mais um interrogatório. Só que desta vez, antes de ser conduzida à sala de interrogatório, Mona recebe ordens para seguir o guarda até o porão da prisão. No porão está o seu amado pai, que está sendo submetido a torturas. Neste ambiente lúgubre, e em tais desumanas condições, filha e pai se reencontram pela primeira vez desde que foram presos. Os pais de Mona plantaram nela desde pequena as sementes da fé em Deus, do amor à vida, e da esperança no futuro. Diante do seu pai, nestas terríveis condições, ela aprende outra lição, - a de ser paciente e resoluta diante das provações, mesmo as mais severas. O encontro, que dura alguns breves minutos, visa minar-lhes a resistência. Basta que digam que negam a religião que professam, para que sejam soltos. Porém, nem Mona nem seu pai aceitam negociar a sua liberdade mediante tais termos... ...mesmo sabendo dos perigos que correm, mesmo tendo diante de si todas as atrocidades que a intolerância religiosa é capaz de produzir. Manifestam a fé e a coragem que tantos antes deles demonstraram. Quantos foram, na história da Humanidade, os que sofreram, que foram perseguidos e exilados, feridos e mortos, por causa dos ideais em que acreditavam? Quantos são os que nos dias de hoje sofrem, e quantos os que ainda sofrerão? A Liberdade é um dos mais antigos anseios da alma humana. O que significa ser livre? Qual o significado da palavra Liberdade? É possível ser livre, mesmo envolto por grades e cadeados? É possível ser livre, mesmo sob a mira das armas do opressor? O que significa ser livre? Qual o significado da palavra Liberdade? No cárcere, Mona vivencia uma remota lição, - a de que permanecer presa por causa da Justiça não é nenhuma vergonha, mas motivo de júbilo. Filha e pai vivenciam nas profundezas dos seus corações o quanto a perseguição por causa do Amor representa, de fato, uma bem-aventurança... - PARTE VI REENCONTROS Os interrogatórios se sucedem. Muitas vezes, as sessões iniciam-se pela manhã, prosseguindo até altas horas da madrugada. Espera-se que, deste modo, vitimadas pelo esgotamento físico, além da coação mental e psicológica, elas finalmente cedam. Em algumas ocasiões, o interrogatório estende-se por vários dias seguidos. Seus opressores fazem de tudo para privá-las de suas faculdades mentais e de sua sensibilidade. Porém, elas permanecem lúcidas, corajosas, e livres. Em meados do mês de janeiro, três meses passados desde a prisão de Mona e seu pai, a mãe de Mona recebe a notícia de que sua filha fora julgada inocente, e que será posta em liberdade mediante pagamento de fiança. Sra. Mahmudnizhad transfere o título de propriedade de um pequeno apartamento que a família possui para as autoridades, e dirige-se à prisão com a documentação para finalmente conseguir a soltura da sua amada filha. Mas, ao chegar à prisão, para sua surpresa, recebe voz de prisão, sendo informada, ainda, que o imóvel da família será confiscado. A quem se pode recorrer quando a própria ordem vigente é sustentada por arbitrariedades, crueldades, injustiças? “Bem-vinda, mãe. Bem-vinda a seu novo lar...!” Mãe e filha passam a ficar confinadas na mesma cela. São as palavras de Mona, que a abraça longamente. Nesta primeira noite juntas, Mona, enquanto se prepara para dormir no chão, segurando a mão de sua mãe, dirige-lhe o seguinte apelo...: “Mãe, você tem que se adaptar à nova situação e ao ambiente monótono daqui. Tente chorar apenas quando estiver sozinha, e apenas por amor a Deus. Não chore por sentir pesar...” “Sorria sempre e seja feliz, de modo a ser um apoio para as outras prisioneiras. Tem mais uma coisa que eu gostaria de lhe solicitar. Peço que não demonstre mais amor por mim do que pelas demais prisioneiras...” “Não gostaria que, ao nos verem juntas, sintam-se sozinhas. Você deve ser mais mãe delas do que minha. Tente cuidar primeiramente das outras prisioneiras.” Na prisão as horas se movimentam em compasso alterado, em outra sintonia, para além da vida normal. Mona permanece em constante estado de oração, absorta em meditação, recolhida no silêncio de sua alma. Pede a Deus força, coragem e alegria. Recolhida, recita a seguinte oração: “Ó Deus, refresca e alegra meu espírito. Purifica meu coração. Ilumina meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És meu Guia e meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, e sim, o contentamento e a alegria...” “Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem. Ó Deus, és mais meu Amigo do que eu sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor.” dos Escritos da Fé Bahá’í Fim da segunda parte (continua...) Formatação: [email protected] “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver erros, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz...” “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna.” Oração de São Francisco Todas as histórias são de amor. Esta é a parte final de uma apresentação sobre a vida de Mona Mahmudnizhad. A história relatada a seguir tem por palco a cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã. Em 1979, ano em que ocorreu a Revolução Islâmica no Irã, teve início no país uma onda de violação aos direitos humanos fundamentais. Com a tomada do poder pelo clero fundamentalista xiita, violenta perseguição foi iniciada contra as minorias religiosas, em particular, contra os seguidores da Fé Bahá’í. Em decorrência da severa intolerância religiosa demonstrada pelo novo governo, Mona, aos dezessete anos de idade, é presa, juntamente com seu pai, e centenas de outros seguidores da Fé Bahá’í. Passados três meses do início do aprisionamento de sua filha, no mês de janeiro de 1983, a mãe de Mona também viria a ser presa. A presente apresentação inicia-se com Mona e seus pais presos. Apenas sua irmã, Taraneh, encontra-se em liberdade. - O Anjo de Shiraz (uma história real) Quão longe você iria pelos teus ideais? - PARTE VII - HORIZONTES E PARTIDAS Mona e sua mãe permanecem encarceradas na ala feminina da prisão. Elas, assim como as demais prisioneiras, não se deixam dobrar às injustiças dentro da cadeia. As grades que lhes restringem a liberdade nada podem diante da dignidade das suas almas... Saber enfrentar com ânimo e coragem as provações significa compreender que na vida poucas coisas importam, mas que essas poucas coisas são essenciais, como o amor. Na segunda semana de encarceramento da mãe de Mona, para a surpresa de todos, os alto-falantes anunciam que as prisioneiras bahá’ís devem dirigir-se ao telhado do presídio. Surpresa maior é encontrar no telhado todos os homens bahá’ís que também permanecem presos naquela cadeia. A família Mahmudnizhad, - filha, mãe e pai -, está reunida pela primeira vez na prisão. Embora breve, foi um momento precioso para todos. Outras prisioneiras que também tinham parentes presos sentaram-se juntos dos seus, de mãos dadas, compartilhando histórias e ganhando força uns dos outros. Mona e seu pai conversam pouco. Há momentos, raro ao comum dos mortais, em que só o silêncio pode dizer tudo. O segredo do silêncio é quebrado por um brilho nos olhos, por um gesto da mão, - mas só o segredo, nunca o silêncio, a matéria-prima do amor. Por diversas vezes, Mona se levanta a fim de beijar os olhos de seu pai. Estão cientes de que aquela permissão para o reencontro é o prenúncio de tempos ainda mais severos que os aguardam... Por diversas vezes, Mona se levanta a fim de beijar os olhos de seu pai. Filha e pai, sob o céu infinito, parecem trocar confidências celestiais... São tempos especialmente difíceis para Taraneh, irmã de Mona. Em poucos meses, viu-se abruptamente separada das pessoas que mais ama. Nas quartas-feiras, visita seu pai, e nos sábados, sua mãe e sua irmã. Na noite em que sua mãe também foi presa, chorou amargamente, ao ver sua vida ficar repentinamente tão vazia... No início do mês de março, ao visitar seu pai, pergunta-lhe: “Pai, por que dentre os quatro membros da nossa família, três são tão amados aos olhos de Deus, sendo apenas eu excluída? Que falha tenho cometido para não ser considerada digna de também compartilhar da prisão?” Seu pai amorosamente responde: “Taraneh, acaso achas que estás livre? Todos vocês, que estão fora da cadeia, também são prisioneiros de uma prisão maior. Veja todas as restrições presentes na tua vida; você também é uma prisioneira. Ademais, o amante nunca está livre, sendo um prisioneiro do amor. Seja confiante, e feliz...” A resposta lhe tranqüiliza o coração. Porém, apenas quatro dias depois da visita, o marido de Taraneh traz a notícia de que seu amado pai, Sr. Mahmudnizad, fora executado. Em meio ao desespero, Taraneh recorda as últimas palavras que ouvira de seu amado pai: “Seja confiante, e feliz...” Com tal lembrança, procura colocar toda a sua confiança nas mãos de Deus, e transmutar a sua inconsolável dor em resignação e infinita paciência... Taraneh sabe que, mais do que nunca, precisa ser forte, sua mãe e sua irmã continuam presas, e ela tem a sua pequena filha de um ano de idade pra criar... Passa a noite em claro, sem conseguir parar de pensar na sua irmã, Mona, e em toda a dor que a notícia irá lhe causar... Mona, a despeito dos diversos pedidos de sua mãe, recusara-se a se alimentar durante 30 horas. É em estado de jejum que recebe a notícia da execução de seu amado pai. Com uma voz suave e um coração partido, murmura: “Eu já sabia, já sabia. Isto constitui uma bênção para ele...” Todos sabem do intenso amor e admiração que Mona nutre por seu pai. O seu delicado coração, que com tamanha valentia vinha enfrentando cada sucessiva batalha, parece já não conseguir suportar o peso de mais esta dor, - a maior que jamais sentira. Tantos e tantos sentimentos e lembranças que evocam em seu coração, e que jamais serão conhecidos, - pois pertencem à linguagem que as palavras não traduzem. Seus olhos marejados de saudade e dor contrastam com o trêmulo sorriso que, apesar de tudo, ainda procura transmitir luz às suas colegas. As fragrâncias eternas perfumam a pequena cela nesta hora de dor e superação extremas. São fundas as feridas da alma, ou da alma não seriam. Coração Sangue e Lágrimas - PARTE VIII O MANTO VERMELHO Nesta hora de dor suprema, Mona se recorda de um sonho antigo, - sonhado num tempo em que jamais imaginaria que tão cedo se despediria da companhia de seu amado pai... Neste sonho, lhe era oferecido um manto vermelho, primorosamente bordado. Diante dos recentes acontecimento, Mona interpreta o sonho, a cor, o manto, com o martírio, e sente que em breve irá seguir o mesmo destino de seu amado pai. Certa vez, escrevera um poeta...: “Não se pode negar a existência de Deus diante de uma noite estrelada, da sepultura das pessoas amadas, ou da firmeza dos mártires na sua última hora.” O sonho O manto vermelho As privações na cadeia O seu amado pai Juventude, inocência, esperanças Resistência, heroísmo, dignidade, fortaleza da alma... Não mais que dezessete anos... Certo dia, Mona conduz sua mãe pela mão até um estreito corredor na cadeia. Olhando-a nos olhos, pergunta: “Mãe, a senhora está ciente de que eles irão me executar?” Guiando-se pelo instinto maternal, Sra. Mahmudnizhad procura remover aquela idéia dos pensamentos de sua pequena e adorável filha...: “Não, minha querida, você será solta desta prisão. Constituirás família, terás lindos filhos. Eu quero vê-los... Por favor, não alimentes estas idéias...” Mas Mona, com sua serenidade habitual, prossegue: “Mãe, eu sei que eles irão me matar. Quero apenas compartilhar o que pretendo fazer quando esta hora chegar. Você gostaria de ouvir o que tenho para lhe contar?” Diante de uma alma assim resoluta, sua mãe simplesmente responde: “Sim, minha filha, conte-me...” E Mona com sua suave voz prossegue...: “Você está ciente, mãe, de que no local da execução, para onde nos levarão, colocarão uma corda em volta de nossos pescoços... Irei beijar esta corda, e farei uma oração.” Mona recolhe os braços em devoção, fecha os olhos e, adornada por um semblante que irradia tranqüilidade, profere uma breve prece. Em seguida, abre os olhos, e diz: “Farei esta oração para a felicidade e prosperidade de toda a humanidade, despedindo-me deste mundo mortal, e partindo em direção a Deus.” Sua mãe em silêncio ouve. Diante da grandeza d’alma da sua pequena filha que tanto ama, a que palavras recorrer para expressar o que sente? Olhando-a nos seus lindos olhos verdes, pensa: “Como poderão - este frágil e delicado corpo, este estreito corredor, estas celas escuras, e estes altos muros de confinamento ser capazes de conter uma alma que anseia por alçar vôo rumo aos reino celestiais.” Maravilhada, apenas consegue dizer: “Que bela história, Mona, que bela história!”. - PARTE IX A DANÇA ETERNA 13 de junho, uma segunda-feira Para surpresa de todos, do mesmo modo como fora presa, - sem nenhum prévio aviso ou justificativa -, a mãe de Mona, após cerca de cinco meses de confinamento, é posta em liberdade. Ela abraça Mona longamente e a beija com o coração partido por ter que se separar novamente de sua tão amada filha. Manhã de 18 de junho, sábado Dia de visita - Taraneh e sua mãe se dirigem à prisão. Um espesso vidro separa Mona de sua mãe e irmã. Faz-se necessária a utilização de um aparelho de telefone para se comunicarem. A voz de Mona, como de costume, transborda ternura e se reveste de toda a alegria que ela sente por rever sua família. “Como gostaria de poder te apertar, e te dar um grande beijo”, diz para a sua irmã. Mona confidencia que, muito em breve, a hora da sua partida chegará, e pede à sua irmã: “Taraneh, quero te pedir um favor. Quero que ores por mim, para que eu possa me dirigir ao local da execução dançando. Necessito, também, de um segundo favor. Quero que ores e peças a Deus que me perdoe os pecados, antes que eu seja levada à execução. Após isso, podem me levar.” “Meu Deus, que tarefa mais difícil”, pensa Taraneh, “Como poderei eu, tão cheia de faltas, orar por este anjo...”, e em seguida responde: “O que for que Deus queira, nós nos contentaremos com a Sua vontade.” Mona, com um sorriso nos lábios, continua: “Você sabe por que estou tão contente? Estou contente porque nós fomos escolhidas por Deus para sermos fortes.” E prossegue: “Taraneh, querida, transmita o meu amor a todos os parentes e amigos, e beije-os por mim.” Depois, dirigindo o olhar para Nura, sua pequena sobrinha, pede: “Taraneh, quero que a eduques para que se torne igual ao nosso pai.” “Quero educar Nura de modo que se torne igual a você, Mona!” pensa Taraneh, porém, antes que possa dizer o que está sentindo, os telefones são cortados, e é anunciado que o horário da visita se encerrou. Nura observa atentamente enquanto Mona é retirada da sala, para ser conduzida de volta à cela. Que lembranças ela guardará da ocasião da visita? Talvez o sorriso doce de Mona, o seu jeito manso de se expressar e carinhoso de olhar... Ou, quem sabe, a energia espiritual de sua presença, que as crianças tão bem sabem notar... Já não há mais nada que possa ser dito ou feito. Taraneh beija a ponta dos dedos e encosta a mão no vidro que as separa. Anseia em seu coração pelo dia em que possa abraçar sua irmã, sentir seu cheiro e beijá-la novamente, acolhê-la e demonstrar-lhe um pedacinho do infinito amor que tem por ela. Depois, compartilhariam a perda do seu pai, e toda a dor que tiveram que suportar. Mona contar-lhe-ia tudo que passou na prisão, e juntas cuidariam de sua mãe... Mas apenas anseios são, e Taraneh teme ao pensar no que a realidade pode estar reservando. Ela pensa no pedido que Mona lhe fizera...: “Quero que ores por mim, para que eu possa me dirigir ao local da execução dançando.” Partir deste mundo, dançando Adentrar a Eternidade, dançando... Orações para que possa receber aquela hora derradeira dançando... A dança representa uma das raras ocasiões em que o corpo, a mente e o espírito experimentam uma vivencia de inteira completude. Santo Agostinho, num de seus escritos, afirma: “Louvada seja a Dança, pois liberta o Homem do peso das coisas materiais, Louvada seja a Dança, que tudo exige, e fortalece a saúde, a mente serena e uma alma encantada. A Dança transforma o espaço, o tempo e a pessoa...” “A Dança exige o ser humano inteiro, ancorado no seu Centro... A Dança exige um Homem livre e aberto vibrando na harmonia de todas as forças...” “Ó Homem, Aprende a Dançar! Senão os Anjos no Céu não saberão o que fazer contigo.” Santo Agostinho - PARTE X O ATO FINAL Entardecer do dia 18 de junho, 1983 o cair da noite por testemunha. Uma sentença condenando dez prisioneiras bahá’ís, incluindo Mona, à pena de morte por enforcamento é decretada. Juízes islâmicos e guardas revolucionários cansaram-se de fracassar nas suas repetidas investidas visando fazê-las negar a sua fé. Mona e mais nove colegas recebem ordens para que se dirijam até um ônibus, que as levará para um acampado próximo. O cair da noite como única testemunha... Numa última tentativa de persuadi-las a negar, naquele instante derradeiro, a sua fé, ordens são dadas para que elas sejam executadas uma a uma. As que ficarem para o final serão forçadas a presenciar a execução das primeiras. As autoridades calculam que a visão do aniquilamento resultará naquilo que meses de confinamento e duras penas não foram capazes de conseguir. Dez mulheres Dez corações Fé e Amor O palco está montado... A Fé e o Amor podem muito, - há até quem afirme que não precisam andar juntas para poderem tudo. Mona, a mais nova do grupo, com apenas dezessete anos de idade, pede para ser a última a ser executada. Quer dedicar orações para a firmeza de cada uma das nove amigas queridas. Tem as preces atendidas, - uma a uma, todas as nove daquele seleto grupo erguem, com fé e coragem, a taça do martírio. Como gaiolas partidas, os delicados corpos são enfileirados no acampado, desprovidos da alma que há pouco neles habitava. Nesta hora derradeira, Mona permanece serena. A brisa da noite lhe sussurra que a sua peregrinação por terras candentes e áridas chegara ao fim... ...e que é hora de adentrar o mar do mistério de Deus. O tênue limite que separa uma vida da Eternidade prestes a ser rompido. Mona beija a corda... ...e dedica uma breve oração para a felicidade e prosperidade de toda a humanidade. A vertigem do mergulho que rompe o tempo e que inaugura a Eternidade. O grão morre para frutificar... A mãe e a irmã de Mona recebem a notícia da condenação e da execução, e se dirigem para lhe dar o último adeus. “Minha filha, minha querida Mona” diz, enquanto passa-lhe as mãos tenras, acariciando o suave rosto que segura em seu colo. Uma ternura ancestral, de todas as mães, de todos os tempos e de todas as dores. Se inclina para dar-lhe um último beijo de mãe, de infinita ternura. Um beijo doce, prolongado, cheio de respeito, como quem beija a face de um recém-nascido..., ...agora, sim, recém-nascido que acabara de nascer no coração de Deus. Abraça meigamente a filha, e lhe sussurra: “Minha filha querida. Parte para Deus. Vai para tua liberdade. Realiza todos os teus sonhos...” “Esse mundo era pequeno para o teu desejo. Chega em Deus. Mergulha em Sua vida e em Seu amor.” “Você, agora, é de Deus. Mas é também minha filha, agora e para sempre... Mona, eu te amo.” - EPÍLOGO - O martírio destas dez mulheres deixa a cidade inteira em estado de comoção. “Sente-se em Shiraz o cheiro de sangue, amor e devoção”, relata uma moradora. Reuniões são organizadas em suas memórias. Grupos e mais grupos de pessoas chegam trazendo flores. Já não é mais possível encontrar flores, mesmo que se percorra a cidade inteira. Flores para as “Noivas de Shiraz”, - carinhosa designação que por toda parte se ouve. A história das “Noivas de Shiraz” ficará, sobretudo, como exemplo a todos que resistem à opressão, e que lutam, munidos de Amor e Fé, por Justiça e Liberdade..., ...aprendendo, na difícil escola da esperança, que é preferível “morrer do que perder a vida”. Quem são os teus heróis? Quem são as tuas heroínas...? Shirin Dalvand, 25 anos Formada em Sociologia, na sua vida acadêmica se destacou como aluna exemplar. Embora seus pais residissem na Inglaterra, e lhe pedissem para se mudar para aquele país, ela havia decidido permanecer no Irã, - morava com os avós. Durante um dos interrogatórios, perguntaram-lhe por quanto tempo pretendia se manter firme na sua fé: “Tenho esperança de que a misericórdia de Deus me capacite a permanecer firme até o meu último sopro de vida.” Amava o mar... Sra. ‘Izzat Ishraqi, 50 anos Transmitia força e esperança a todas as companheiras de cárcere, incluindo a sua filha, Roya. Mãe e filha, compartilhando a mesma história... Roya Ishraqi, 23 anos Estudante de Medicina Veterinária, era uma das prisioneiras mais radiantes e queridas, constante centro das atenções. Adorava praticar esportes, em especial o alpinismo. Seu pai foi martirizado pouco antes que ela. Simin Sabiri, 25 anos Destacou-se durante o período de prisão como uma das mais destemidas do grupo, jamais demonstrando qualquer sinal de fraqueza ou abatimento. Mashid Nirumand, 28 anos Fonte de contínuo encorajamento para suas colegas de prisão. Era formada em Física. Nusrat Yalda’i, 54 anos Conhecida por sua bondade e hospitalidade, suportou com firmeza as duras penas, tendo recebido numa ocasião mais de duzentas açoitadas. Seu marido e seu filho foram executados alguns dias antes que ela. Zarrin Muqimi, 28 anos Tinha uma voz melodiosa, profundos conhecimentos e o dom da oratória. Era formada em Letras. A despeito de seu jeito delicado, defendia com eloqüência, vigor e propriedade aquilo em que acreditava. As autoridades, ressentidas, passariam a interrogá-la sozinha. Tahirih Arjmandi, 32 anos Enfermeira, constantemente se encarregava de cuidar da saúde das demais companheiras de prisão. Seu esposo foi martirizado dois dias antes que ela. Akhtar Sabit Com pouco mais de 20 anos, era a segunda mais nova do grupo. Nutria em seu tenro coração um carinho genuíno por todos. Trazia no peito todos os anseios e todas as inquietações próprios da juventude, - o inconformismo diante das crueldades e injustiças, a dor de se ver cerceada da sua liberdade e das coisas que mais gostava... Ao tomar conhecimento da sentença condenatória, comentou: “Aconteça o que tiver que acontecer, não irei me abater. Diante do que possa suceder, contento-me com a Vontade de Deus...” Mona Mahmudnizhad “O Anjo de Shiraz” 10 de setembro, 1965 18 de junho, 1983 - As Noivas de Shiraz - Para saber mais: www.monasdream.com (em inglês) - As Noivas de Shiraz - Outros sites: www.bahai.org / www.bahai.org.br / www.br.amnesty.org - As Noivas de Shiraz - Formatação: [email protected] - As Noivas de Shiraz -