Esta apresentação conta a história
de uma jovem chamada Mona.
Uma história real ocorrida no Irã
num passado recente.
Em contraposição a episódios de violação de
direitos humanos e perseguição religiosa,
- Fé e Paciência, Heroísmo e Coragem.
Todas as histórias são de amor.
“Creio no direito à solidariedade
e no dever de ser solidário.
Creio que não há nenhuma
incompatibilidade entre a firmeza
dos valores próprios e o respeito
pelos valores alheios...”
José Saramago
Existe o coração,
e existem os anseios da alma
Algumas histórias
devem ser contadas
Algumas histórias
necessitam ser conhecidas...
- O Anjo de Shiraz (uma história real)
Quão longe você iria
pelos teus ideais?
A cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã,
é conhecida por sua beleza e
pelo seu significado histórico.
Nos arredores da cidade se localizam
as ruínas milenares
de Persépolis e Pasárgada...,
...e as tumbas dos
imperadores persas
Dario e Ciro.
Em Shiraz nasceu Hafez, consagrado
poeta do século 15, que escreveu:
“Nem mesmo sete mil anos de alegria
podem justificar sete dias de repressão.”
Esta apresentação é
sobre a história de uma
família de Shiraz...
- PARTE I OS PRIMEIROS ANOS
O casal Mahmudnizhad nutre
um amor e um carinho intenso
por todos, e sua presença
transmite serenidade e ternura.
No ano de 1959, nasce
Taraneh, a primeira filha
do casal.
Algum tempo depois,
em 10 de setembro de
1965, nasce Mona.
Mona e seu pai,
em 1967
O nascimento de Mona é
motivo de uma felicidade
especial para sua família.
Seu pai, repete
constantemente:
“Mona é a nossa alegria
e o nosso desejo.”
Desde pequena,
Mona manifesta
uma radiância singular,
e sinais de refinada
sensibilidade e afeto.
E, como não poderia
ser diferente, sua
família a ama
profundamente.
Desde a mais tenra idade,
ela é rodeada pelo mais
puro e intenso amor,
- um amor que acolhe,
e ao mesmo tempo
educa para a vida...
A razão de viver
é amar e ser amado
(escreveu certa
vez um poeta)
O passar dos anos
transforma Mona na
bela adolescente que
continua a cativar
os corações de todos
os que a conhecem.
Quando chega na escola,
as crianças pequenas
freqüentemente se juntam
ao seu redor, apenas para
estarem ao seu lado.
Os colegas de classe
nutrem uma carinhosa
admiração e os professores
se encantam com a aluna
exemplar que se sobressai
nas tarefas escolares.
Desde cedo, ela manifesta
um apreço especial pelas
atividades artísticas,
especialmente pela
música, dedicando-se
apaixonadamente ao canto,
com sua bela voz.
Ao rever os amigos
próximos, seus olhos
enchem-se de lágrimas,
e ela se apressa para
abraçá-los carinhosamente.
A sua presença cativa,
transmitindo ânimo e conforto
aos corações dos amigos.
Estas qualidades fazem
com que Mona venha a
ser conhecida pelo
carinhoso apelido de
o “Anjo de Shiraz”.
Os anos se sucedem, e o mesmo tempo
que embranquece os cabelos do pai
transforma a filha numa jovem de
notável beleza, de longos cabelos
castanhos e lindos olhos verdes...
São dias de plena
felicidade para a família,
com o céu aberto do amor
a cobrir-lhes de bênçãos...
Dias de paz,
de ternura,
de enlevo...
Desde jovem, Sr. Mahmudnizhad
nutria um sentimento de busca,
uma sede espiritual a
impulsioná-lo rumo àquilo
que confere um sentido
maior à vida.
A sua busca o conduziu
até a Fé Bahá’í,
religião que abraçara
e que professa com
paixão e alegria.
Alguns dos princípios da Fé Bahá’í são:
- A Revelação Progressiva: há um só Deus,
e todas as manifestações religiosas derivam
sua inspiração de uma única Fonte;
- Igualdade de direitos e deveres
entre homens e mulheres;
- Eliminação dos extremos de riqueza e pobreza;
- Eliminação dos preconceitos;
- Unidade da Humanidade;
- Educação universal.
"A luz é boa, não importa
em que lâmpada brilhe,
Uma flor é bela, não importa
em que jardim floresça...
Todas as religiões provêm
de um mesmo Deus..."
dos Escritos
da Fé Bahá’í
"Ser bahá'í significa
simplesmente ter amor a todos;
amar a Humanidade e esforçar-se
por servi-la, trabalhar pela paz e
a fraternidade universais."
dos Escritos
da Fé Bahá’í
Sr. Mahmudnizhad é um dos
professores mais queridos na escola bahá’í
onde passa a ministrar aulas.
Seguindo seu exemplo, Mona, ainda muito
jovem, torna-se professora das crianças
menores, instruindo-as no desenvolvimento
de virtudes e qualidades espirituais.
Mona concilia, assim, o amor que
nutre pelas crianças com a alegria de
poder compartilhar da mesma atividade
de serviço que seu pai.
"Considerai o homem
como uma mina rica em
jóias de inestimável valor.
A educação tão somente
pode faze-la revelar os seus
tesouros e habilitar a
humanidade a tirar dela
algum benefício."
dos Escritos
da Fé Bahá’í
Mona e seu pai parecem
conversar em silêncios
de amor, dispensando
o uso das palavras.
Os amigos próximos
sentem que o território
onde se movem este
pai e esta filha, mais
do que apenas familiar,
é de algum modo
celestial e inacessível.
Muitas vezes,
filha e pai
sonham
o mesmo sonho.
E nestes sonhos
visitam os Locais
Sagrados da Fé
que abraçam,
passeando por
entre floridos
alamedas e jardins.
Detalhe dos jardins
Santuário Bahá’í,
cidade de Ákka, Israel
Filha e pai
caminhando
lado a lado.
Contemplação, enlevo.
O amor divino
a permear
seus corações.
“Ó Filho do Homem!
Amei tua criação;
por isso te criei.
Ama-Me, pois,
para que Eu possa
mencionar teu nome
e te inundar a alma
com o espírito
da vida.”
dos Escritos
da Fé Bahá’í
A paz e a serenidade destes sonhos
em nada anunciam os tempos de
adversidades que se aproximam...
- PARTE II UM MUNDO EM CHAMAS
Fevereiro de 1979
Manifestações populares em todos os pontos do país
anunciam o colapso do regime monárquico, e o
estabelecimento da República Islâmica no Irã.
A despeito do fato do Islamismo ensinar a tolerância e
incentivar, como todas as outras religiões, o amor
fraternal, o que se segue à Revolução Islâmica e à
tomada do poder pelos muçulmanos xiitas trilha o
rumo oposto a tais ensinamentos.
Da pureza original do Islã, pouco, ou quase nada,
restava, fazendo acreditar que os tempos previstos
pela seguinte profecia, atribuída ao próprio
Profeta Muhammad, haviam chegado...:
“Virá um tempo em que nada restará do Alcorão,
a não ser a sua escrita, e nada do Islã,
a não ser o seu nome...”
Com a criação da República Islâmica,
a suprema liderança, - tanto política
quanto religiosa -, do país é entregue
ao fanático clero muçulmano.
Não tarda para que uma violenta
perseguição seja iniciada contra todos
aqueles que professam uma crença
religiosa outra que não o Islã,
sendo a perseguição aos membros da
Comunidade Bahá’í especialmente severa.
Foto do Santuário Bahá’í mais sagrado
localizado no Irã, na cidade de Shiraz.
Casa do Báb (1819-1850), profeta precursor
da Fé Bahá’í.
Março de 1979 - O novo governo, recém empossado,
determina que a propriedade seja confiscada.
Setembro de 1979 - Sob determinação do Departamento
de Assuntos Religiosos, o Santuário é completamente
destruído.
Ontem, Santuário Sagrado,
Hoje, alvo de vândalos,
a reduzi-lo a pó e ruínas...
“Deus ordena a justiça e a bondade.
Justiça é formosura
e bondade é gentileza.”
Tradição Islâmica
Depois da destruição,
Mona, acompanhada
pelo seu pai, visita o
que, há pouco, era
um belo santuário,
agora arrasado e
devastado pela
intolerância religiosa...
A visita causa um
profundo impacto
sobre Mona,
cada pequeno detalhe
das ruínas do santuário
é motivo de profundo
pesar e dilaceramento
interior.
Após a visita, ao
retornar para sua casa,
Mona pede permissão
à sua mãe para não
retirar os sapatos
antes de entrar,
pois encontram-se cobertos, afirma, do pó
do que sobrou do Sagrado Santuário.
Recolhe-se em
prantos no seu quarto,
e passa a escrever
uma longa e poética
redação sobre o que
sente naquele
momento.
- PARTE III A NOITE ESCURA
23 de outubro, 1982
19:00 horas
Mona está em casa, juntamente
com seus pais. Taraneh, sua irmã,
já se casou e não mais mora com
eles.
Último ano escolar, exame de
inglês no dia seguinte.
Tocam a campainha.
O pai de Mona se dirige até a porta.
Quatro guardas revolucionários,
munidos de determinação
judicial, invadem a sala.
Mona e seus pais
recebem ordens
para permanecerem
sentados na sala,
sob a mira de um
dos guardas,
enquanto os demais
revistam e vasculham
meticulosamente a casa.
Será uma
noite longa...
Passado algum tempo, completam a busca.
Empilham os materiais que levarão na sala:
livros, documentos, papéis.
Do quarto de Mona,
os guardas separaram
diversos cadernos onde
ela tem por hábito anotar
poemas e redações sobre
a vida, a liberdade,
e o amor...
A mãe de Mona entra em desespero
quando os guardas informam que irão
levar presos Mona e seu pai.
Quanto ao marido, em
face das arbitrariedades
que vinham sendo
praticadas pelo país
afora, ela já poderia
esperar a detenção, mas
jamais sonhara que
também lhe fossem
querer levar a filha.
Aflita, pergunta por que pretendem levar sua
filha, o que os motivou a tal decisão, uma vez
que ela tem apenas dezessete anos.
Um dos guardas responde, apontando
para um dos cadernos de Mona que
contém algumas das suas redações:
“Veja só o que
encontramos no
quarto dela...!
Com seus escritos,
ela irá incendiar
o mundo...!”
“Com seus escritos,
ela irá incendiar o mundo...!”
Mona tem apenas
dezessete anos de idade,
e, como os seus próprios
agressores constatam,
há Vida nos seus passos,
e a chama do Amor
ilumina os seus dias.
Mona e seu pai
mantêm a serenidade.
Ela ainda tenta consolar a
mãe banhada em lágrimas:
“Mãe, por que lamentas?
Que crime eu cometi?
Por acaso encontraram algo
de ilegal na nossa casa...?”
Mona e seu pai têm os olhos vendados e são
conduzidos até a viatura que na rua espera.
Ordens são dadas à
sua mãe para que
permaneça em casa.
O barulho da viatura
desaparece, cedendo
lugar ao silêncio
da noite escura.
A mãe de Mona permanece em pé, sem saber
o que fazer, sem saber o que pensar.
Em tais circunstâncias,
que pode um ser
humano fazer,
senão orar...?
“Acende na tua alma
o Fogo do Amor:
Queima totalmente
pensamentos
e palavras
no seu calor.”
Rumi,
poeta persa
“Acende na tua alma
o Fogo do Amor:
Queima totalmente
pensamentos
e palavras
no seu calor.”
Rumi,
poeta persa
- PARTE IV BRASA SOB CINZAS
No meio da noite, a viatura segue
seu trajeto até a prisão de Seppah.
Tão logo chegam à prisão,
Mona e seu pai são separados.
Ela é conduzida por um longo
corredor até um recinto escuro,
onde a venda é removida.
É quase meia-noite,
está tudo escuro.
Um pássaro novo
longe do seu ninho,
em meio ao vendaval
que tudo dispersa.
Mona se ajeita
num canto da cela,
tem em mente
o rosto preocupado
de sua mãe e começa
a orar por ela.
Será uma
noite longa...
A primeira manhã
na prisão começa
a clarear.
Uma das prisioneiras se
aproxima e pergunta por
que ela havia sido presa.
Mona responde que foi presa
pela sua religião, por ser bahá’í.
No decorrer dos próximos
dias, centenas de outros
seguidores da Fé Bahá’í,
por todo o país,
também são presos em
circunstâncias parecidas.
Logo, outras bahá’ís
começam a fazer
companhia a Mona,
na prisão de Seppah.
Mona acolhe as
novas prisioneiras
com ternura.
Encontra no cárcere
uma segunda família.
O destino havia
colocado lado a lado
aquelas mulheres.
Mulheres que
deixariam a sua marca
na história espiritual
da humanidade...,
...ao transmutar,
por meio de uma
fé inabalável,
fragilidade em força.
Fortaleza espiritual
dirão alguns.
Porém, palavras são
falhas para relatar os
sacrifícios que elas
honraram suportar.
Num tempo futuro,
possivelmente livros
virão a ser escritos,
e filmes rodados,
contando a sua história...
...sem conseguirem
transmitir, no entanto,
a ínfima parte da
dignidade e do heroísmo
que elas vivenciaram.
É na noite escura
que se abre uma
nova visão de Deus e
do significado da vida.
Em tempos de severa
provação, o ser humano
descobre que é dotado
de reservas que não
sonhava que possuía.
Existem riquezas que
andam escondidas no
fundo da alma...
... - a matéria-prima do
amor -, que se nutre do
silêncio, e que se revela
no brilho do olhar.
É no meio da noite
mais escura que o ser
humano descobre que
o contrário do medo
não é a coragem,
mas a fé.
É a fé que remove
montanhas, e que
permite suportar
as mais violentas
adversidades.
Diante das durezas
do encarceramento,
a fragilidade própria
das mulheres.
E também a sua força.
As prisioneiras são submetidas a um
processo de vários interrogatórios, realizados
por uma Corte islâmica e seus juízes.
Após tais
interrogatórios,
serão soltas,
ou condenadas
à morte.
Com o cego fanatismo a privar
completamente os acusadores da capacidade
de julgar, os interrogatórios se resumem a
sessões de abusos verbais e humilhações.
A única intenção das
longas sessões é
fazer com que elas
neguem a sua religião,
os ideais de vida
que abraçam.
A escuridão
do cárcere
As seguidas
humilhações
O silêncio da noite
por testemunha...
Instigantes, delicadas,
profundas.
Mulheres, em meio a
um tribunal formado
por homens.
Elas não somente
recusam a negar
a sua fé,
mas saem de cada sessão
de interrogatório com a
sua fé renovada.
Acolhem em seus
corações o sofrimento
umas das outras.
Mães, filhas e irmãs
unidas por vínculos de
parentesco espiritual,
a compartilhar as dores
daqueles que, em todos
os tempos, recusaram-se
a se deixar dobrar
pelas injustiças...
Quando ameaças
verbais não surtem
o efeito desejado,
calculam os acusadores,
quem sabe a
violência física não
logre em obter êxito.
Não tarda para que
as sessões de
interrogatório passem
a comportar severo
espancamento físico.
Não tarda para que
as sessões de
interrogatório passem
a comportar severo
espancamento físico.
Rastos de sangue
a pintar os corredores
e as celas.
Uma coisa, porém, é agredir o corpo físico,
castigar com bastonadas a sola dos pés,
criados para caminhar...,
machucar em
sangue vivo
um coração...
Outra coisa é tentar quebrar uma alma
inflamada com o espírito da vida...,
- inquebrantável
por mãos alheias,
intocável pelo
fogo exterior,
livre, mesmo
no cárcere,
eterna amante
da Justiça.
Os agressores haviam se
esquecido de uma antiga lição:
Quanto mais se
esmaga o grão,
mais ele germina
e frutifica...
Quanto mais se
esmaga o grão,
mais ele germina
e frutifica...
Fim da
primeira parte
(continua...)
Formatação:
[email protected]
“A sabedoria amadurece
por meio do sofrimento.”
Ésquilo
poeta grego
Todas as histórias são de amor.
Esta é a segunda parte de
uma apresentação sobre a vida
de Mona Mahmudnizhad.
A história relatada a seguir tem por palco
a cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã.
Em 1979, ano em que ocorreu
a Revolução Islâmica no Irã,
teve início no país uma onda de
violação aos direitos humanos
fundamentais.
Com a tomada do poder pelo clero fundamentalista
xiita, violenta perseguição foi iniciada contra as
minorias religiosas, em particular, contra os
seguidores da Fé Bahá’í.
Em decorrência da severa
intolerância religiosa manifesta
pelo novo governo,
Mona, aos dezessete anos de idade,
é presa, juntamente com seu pai,
e centenas de outros seguidores
da Fé Bahá’í.
Os prisioneiros são submetidos a seguidas
sessões de interrogatório, que visam fazê-los
negar a religião que professam.
- O Anjo de Shiraz (uma história real)
Quão longe você iria
pelos teus ideais?
- PARTE V A PRISÃO
Chega-se a um ponto da
caminhada em que constatamos
que perdemos tudo,
que tudo nos foi roubado,
salvo a nossa Fé,
o nosso Amor,
e a nossa Esperança.
E é então que
descobrimos que ainda
tudo possuímos...
- Fé, Amor
e Esperança -
Embora seja a mais jovem
do grupo de prisioneiras,
Mona, com a sua presença,
transmite às demais colegas
conforto e abrigo.
As suas mãos constantemente
estende para acolher, para abraçar.
A sua voz e as suas palavras
procuram consolar e animar.
Seus olhos
espelham toda a
bondade e ternura
que traz na alma.
Na dura rotina da cadeia,
a oração ocupa um lugar especial.
Em meio ao confinamento,
pedem a Deus força e coragem
para enfrentar as tribulações.
Certo dia, o carcereiro
ordena que Mona o acompanhe
para mais um interrogatório.
Só que desta vez, antes
de ser conduzida à sala
de interrogatório,
Mona recebe ordens para
seguir o guarda até
o porão da prisão.
No porão está
o seu amado pai,
que está sendo
submetido
a torturas.
Neste ambiente
lúgubre, e em tais
desumanas condições,
filha e pai se
reencontram pela
primeira vez desde
que foram presos.
Os pais de Mona plantaram
nela desde pequena
as sementes da fé em Deus,
do amor à vida,
e da esperança no futuro.
Diante do seu pai,
nestas terríveis condições,
ela aprende outra lição,
- a de ser paciente e resoluta
diante das provações,
mesmo as mais severas.
O encontro, que
dura alguns breves
minutos, visa minar-lhes
a resistência.
Basta que digam que
negam a religião que
professam, para que
sejam soltos.
Porém, nem Mona
nem seu pai aceitam
negociar a sua liberdade
mediante tais termos...
...mesmo sabendo dos
perigos que correm,
mesmo tendo diante
de si todas as atrocidades
que a intolerância religiosa
é capaz de produzir.
Manifestam
a fé e a coragem
que tantos antes
deles demonstraram.
Quantos foram, na
história da Humanidade,
os que sofreram, que
foram perseguidos e
exilados, feridos e mortos,
por causa dos ideais
em que acreditavam?
Quantos são os que nos dias de hoje sofrem,
e quantos os que ainda sofrerão?
A Liberdade é um dos
mais antigos anseios
da alma humana.
O que significa
ser livre?
Qual o significado da
palavra Liberdade?
É possível ser livre,
mesmo envolto por
grades e cadeados?
É possível ser livre,
mesmo sob a mira
das armas do opressor?
O que significa
ser livre?
Qual o significado da
palavra Liberdade?
No cárcere,
Mona vivencia
uma remota lição,
- a de que permanecer
presa por causa da Justiça
não é nenhuma vergonha,
mas motivo de júbilo.
Filha e pai vivenciam
nas profundezas dos
seus corações
o quanto a perseguição
por causa do Amor
representa, de fato, uma
bem-aventurança...
- PARTE VI REENCONTROS
Os interrogatórios
se sucedem.
Muitas vezes, as sessões
iniciam-se pela manhã,
prosseguindo até altas
horas da madrugada.
Espera-se que, deste
modo, vitimadas pelo
esgotamento físico, além
da coação mental e
psicológica, elas
finalmente cedam.
Em algumas ocasiões,
o interrogatório
estende-se por vários
dias seguidos.
Seus opressores fazem de
tudo para privá-las de
suas faculdades mentais
e de sua sensibilidade.
Porém, elas permanecem
lúcidas, corajosas,
e livres.
Em meados do mês de janeiro,
três meses passados desde
a prisão de Mona e seu pai,
a mãe de Mona recebe a notícia de
que sua filha fora julgada inocente,
e que será posta em liberdade
mediante pagamento de fiança.
Sra. Mahmudnizhad transfere o título de
propriedade de um pequeno apartamento
que a família possui para as autoridades,
e dirige-se à prisão
com a documentação
para finalmente
conseguir a soltura
da sua amada filha.
Mas, ao chegar à prisão, para sua surpresa,
recebe voz de prisão, sendo informada, ainda,
que o imóvel da família será confiscado.
A quem se pode
recorrer quando a
própria ordem vigente
é sustentada
por arbitrariedades,
crueldades, injustiças?
“Bem-vinda, mãe.
Bem-vinda a
seu novo lar...!”
Mãe e filha passam
a ficar confinadas
na mesma cela.
São as palavras
de Mona, que a
abraça longamente.
Nesta primeira noite juntas,
Mona, enquanto se prepara para
dormir no chão, segurando a mão de
sua mãe, dirige-lhe o seguinte apelo...:
“Mãe, você tem que se adaptar à nova
situação e ao ambiente monótono daqui.
Tente chorar apenas quando estiver
sozinha, e apenas por amor a Deus.
Não chore por sentir pesar...”
“Sorria sempre e seja feliz, de modo a ser
um apoio para as outras prisioneiras.
Tem mais uma coisa que eu gostaria de lhe
solicitar. Peço que não demonstre mais amor
por mim do que pelas demais prisioneiras...”
“Não gostaria que, ao nos verem juntas,
sintam-se sozinhas.
Você deve ser mais mãe delas do que minha.
Tente cuidar primeiramente
das outras prisioneiras.”
Na prisão as horas se movimentam
em compasso alterado, em outra sintonia,
para além da vida normal.
Mona permanece em constante
estado de oração, absorta em meditação,
recolhida no silêncio de sua alma.
Pede a Deus força, coragem e alegria.
Recolhida, recita a seguinte oração:
“Ó Deus, refresca e alegra meu espírito.
Purifica meu coração. Ilumina meus poderes.
Em Tuas mãos confio todos os meus interesses.
És meu Guia e meu Refúgio.
Não mais se apossarão
de mim a tristeza e
a ansiedade, e sim,
o contentamento e
a alegria...”
“Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem
permitirei que os desgostos me atormentem ou
as coisas desagradáveis da vida me inquietem.
Ó Deus, és mais meu
Amigo do que eu sou
de mim mesmo.
Dedico-me a Ti,
ó Senhor.”
dos Escritos
da Fé Bahá’í
Fim da
segunda parte
(continua...)
Formatação:
[email protected]
“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver erros, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz...”
“Ó Mestre,
fazei que eu procure mais consolar,
que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive
para a vida eterna.”
Oração de
São Francisco
Todas as histórias são de amor.
Esta é a parte final de
uma apresentação sobre a vida
de Mona Mahmudnizhad.
A história relatada a seguir tem por palco
a cidade de Shiraz, localizada ao sul do Irã.
Em 1979, ano em que ocorreu
a Revolução Islâmica no Irã,
teve início no país uma onda de
violação aos direitos humanos
fundamentais.
Com a tomada do poder pelo clero fundamentalista
xiita, violenta perseguição foi iniciada contra as
minorias religiosas, em particular, contra os
seguidores da Fé Bahá’í.
Em decorrência da severa
intolerância religiosa demonstrada
pelo novo governo,
Mona, aos dezessete anos de idade,
é presa, juntamente com seu pai,
e centenas de outros seguidores
da Fé Bahá’í.
Passados três meses do início do aprisionamento
de sua filha, no mês de janeiro de 1983, a mãe de
Mona também viria a ser presa.
A presente apresentação inicia-se
com Mona e seus pais presos.
Apenas sua irmã, Taraneh,
encontra-se em liberdade.
- O Anjo de Shiraz (uma história real)
Quão longe você iria
pelos teus ideais?
- PARTE VII -
HORIZONTES
E PARTIDAS
Mona e sua mãe
permanecem
encarceradas na ala
feminina da prisão.
Elas, assim como as
demais prisioneiras, não se
deixam dobrar às injustiças
dentro da cadeia.
As grades que lhes
restringem a liberdade
nada podem diante
da dignidade das
suas almas...
Saber enfrentar com
ânimo e coragem
as provações significa
compreender que na vida
poucas coisas importam,
mas que essas poucas
coisas são essenciais,
como o amor.
Na segunda semana de encarceramento
da mãe de Mona, para a surpresa de todos,
os alto-falantes anunciam que
as prisioneiras bahá’ís devem
dirigir-se ao telhado do presídio.
Surpresa maior é encontrar no telhado
todos os homens bahá’ís que também
permanecem presos naquela cadeia.
A família Mahmudnizhad, - filha, mãe e pai -,
está reunida pela primeira vez na prisão.
Embora breve, foi um momento
precioso para todos.
Outras prisioneiras que também tinham
parentes presos sentaram-se juntos dos seus,
de mãos dadas, compartilhando histórias
e ganhando força uns dos outros.
Mona e seu pai conversam pouco.
Há momentos, raro ao comum dos mortais,
em que só o silêncio pode dizer tudo.
O segredo do silêncio é quebrado por um
brilho nos olhos, por um gesto da mão,
- mas só o segredo, nunca o silêncio,
a matéria-prima do amor.
Por diversas vezes, Mona se levanta
a fim de beijar os olhos de seu pai.
Estão cientes de que aquela permissão para
o reencontro é o prenúncio de tempos ainda
mais severos que os aguardam...
Por diversas vezes, Mona se levanta
a fim de beijar os olhos de seu pai.
Filha e pai, sob o céu infinito,
parecem trocar confidências celestiais...
São tempos especialmente difíceis
para Taraneh, irmã de Mona.
Em poucos meses, viu-se
abruptamente separada das
pessoas que mais ama.
Nas quartas-feiras, visita seu pai, e
nos sábados, sua mãe e sua irmã.
Na noite em que sua mãe
também foi presa, chorou
amargamente, ao ver sua vida
ficar repentinamente tão vazia...
No início do mês de março,
ao visitar seu pai, pergunta-lhe:
“Pai, por que dentre os quatro
membros da nossa família, três
são tão amados aos olhos de Deus,
sendo apenas eu excluída?
Que falha tenho cometido para
não ser considerada digna de
também compartilhar da prisão?”
Seu pai amorosamente responde:
“Taraneh, acaso achas que
estás livre? Todos vocês, que
estão fora da cadeia, também são
prisioneiros de uma prisão maior.
Veja todas as restrições presentes
na tua vida; você também é uma
prisioneira. Ademais, o amante
nunca está livre, sendo um
prisioneiro do amor.
Seja confiante, e feliz...”
A resposta lhe
tranqüiliza o coração.
Porém, apenas quatro dias depois
da visita, o marido de Taraneh
traz a notícia de que seu amado
pai, Sr. Mahmudnizad,
fora executado.
Em meio ao desespero, Taraneh
recorda as últimas palavras que
ouvira de seu amado pai:
“Seja confiante, e feliz...”
Com tal lembrança, procura
colocar toda a sua confiança nas
mãos de Deus, e transmutar
a sua inconsolável dor em
resignação e infinita paciência...
Taraneh sabe que, mais do que
nunca, precisa ser forte,
sua mãe e sua irmã
continuam presas,
e ela tem a sua pequena filha
de um ano de idade pra criar...
Passa a noite em claro,
sem conseguir parar de
pensar na sua irmã, Mona,
e em toda a dor que
a notícia irá lhe causar...
Mona, a despeito dos diversos pedidos
de sua mãe, recusara-se a se alimentar
durante 30 horas.
É em estado de jejum que recebe
a notícia da execução de seu amado pai.
Com uma voz suave e
um coração partido, murmura:
“Eu já sabia, já sabia. Isto constitui
uma bênção para ele...”
Todos sabem do intenso
amor e admiração que
Mona nutre por seu pai.
O seu delicado coração, que com
tamanha valentia vinha enfrentando
cada sucessiva batalha, parece já não
conseguir suportar o peso de mais esta dor,
- a maior que jamais sentira.
Tantos e tantos
sentimentos e
lembranças que evocam
em seu coração, e que
jamais serão conhecidos,
- pois pertencem à
linguagem que as
palavras não traduzem.
Seus olhos marejados de
saudade e dor contrastam
com o trêmulo sorriso
que, apesar de tudo,
ainda procura transmitir
luz às suas colegas.
As fragrâncias eternas perfumam
a pequena cela nesta hora de
dor e superação extremas.
São fundas as
feridas da alma,
ou da alma
não seriam.
Coração
Sangue
e Lágrimas
- PARTE VIII O MANTO VERMELHO
Nesta hora de dor
suprema, Mona se recorda
de um sonho antigo,
- sonhado num tempo em
que jamais imaginaria que
tão cedo se despediria
da companhia de
seu amado pai...
Neste sonho,
lhe era oferecido
um manto vermelho,
primorosamente bordado.
Diante dos recentes
acontecimento,
Mona interpreta
o sonho, a cor, o manto,
com o martírio,
e sente que em breve
irá seguir o mesmo
destino de seu
amado pai.
Certa vez, escrevera
um poeta...:
“Não se pode negar a
existência de Deus diante
de uma noite estrelada,
da sepultura das
pessoas amadas, ou
da firmeza dos mártires
na sua última hora.”
O sonho
O manto vermelho
As privações na cadeia
O seu amado pai
Juventude, inocência,
esperanças
Resistência, heroísmo,
dignidade, fortaleza
da alma...
Não mais que
dezessete anos...
Certo dia, Mona conduz
sua mãe pela mão até
um estreito corredor
na cadeia.
Olhando-a nos
olhos, pergunta:
“Mãe, a senhora está
ciente de que eles
irão me executar?”
Guiando-se pelo
instinto maternal,
Sra. Mahmudnizhad
procura remover aquela
idéia dos pensamentos
de sua pequena e
adorável filha...:
“Não, minha querida, você
será solta desta prisão.
Constituirás família,
terás lindos filhos.
Eu quero vê-los...
Por favor, não alimentes
estas idéias...”
Mas Mona, com sua
serenidade habitual,
prossegue:
“Mãe, eu sei que eles irão
me matar. Quero apenas
compartilhar o que
pretendo fazer quando
esta hora chegar.
Você gostaria de ouvir o que
tenho para lhe contar?”
Diante de uma alma
assim resoluta, sua mãe
simplesmente responde:
“Sim, minha filha,
conte-me...”
E Mona com sua suave
voz prossegue...:
“Você está ciente, mãe, de que no local da
execução, para onde nos levarão, colocarão uma
corda em volta de nossos pescoços...
Irei beijar esta corda,
e farei uma oração.”
Mona recolhe os braços em devoção, fecha
os olhos e, adornada por um semblante que
irradia tranqüilidade, profere uma breve prece.
Em seguida, abre os olhos, e diz:
“Farei esta oração para a felicidade e
prosperidade de toda a humanidade,
despedindo-me deste mundo mortal, e
partindo em direção a Deus.”
Sua mãe em silêncio ouve.
Diante da grandeza d’alma da sua
pequena filha que tanto ama,
a que palavras recorrer para
expressar o que sente?
Olhando-a nos seus lindos
olhos verdes, pensa:
“Como poderão - este frágil e delicado corpo,
este estreito corredor, estas celas escuras, e
estes altos muros de confinamento ser capazes de conter uma alma
que anseia por alçar
vôo rumo aos reino
celestiais.”
Maravilhada, apenas
consegue dizer:
“Que bela história, Mona,
que bela história!”.
- PARTE IX A DANÇA ETERNA
13 de junho, uma segunda-feira
Para surpresa de todos, do
mesmo modo como fora presa,
- sem nenhum prévio aviso ou
justificativa -, a mãe de Mona, após cerca de cinco
meses de confinamento, é posta em liberdade.
Ela abraça Mona longamente e a beija com o
coração partido por ter que se separar novamente
de sua tão amada filha.
Manhã de 18 de junho, sábado
Dia de visita - Taraneh e sua mãe se
dirigem à prisão.
Um espesso vidro separa Mona de sua mãe e
irmã. Faz-se necessária a utilização de um
aparelho de telefone para se comunicarem.
A voz de Mona, como de costume, transborda
ternura e se reveste de toda a alegria que ela
sente por rever sua família.
“Como gostaria de poder te apertar, e te dar um
grande beijo”, diz para a sua irmã.
Mona confidencia que, muito em breve, a hora
da sua partida chegará, e pede à sua irmã:
“Taraneh, quero te pedir um favor.
Quero que ores por mim,
para que eu possa me dirigir ao
local da execução dançando.
Necessito, também, de um segundo favor.
Quero que ores e peças a Deus que me
perdoe os pecados, antes que eu seja levada
à execução. Após isso, podem me levar.”
“Meu Deus, que tarefa mais difícil”, pensa
Taraneh, “Como poderei eu, tão cheia de faltas,
orar por este anjo...”, e em seguida responde:
“O que for que Deus queira, nós nos
contentaremos com a Sua vontade.”
Mona, com um sorriso nos lábios, continua:
“Você sabe por que estou tão contente?
Estou contente porque nós fomos
escolhidas por Deus para sermos fortes.”
E prossegue:
“Taraneh, querida, transmita o meu amor a
todos os parentes e amigos, e beije-os por
mim.”
Depois, dirigindo o olhar para Nura,
sua pequena sobrinha, pede:
“Taraneh, quero que a eduques
para que se torne igual
ao nosso pai.”
“Quero educar Nura de modo
que se torne igual a você, Mona!”
pensa Taraneh, porém,
antes que possa dizer o que
está sentindo, os telefones são
cortados, e é anunciado que
o horário da visita se encerrou.
Nura observa atentamente
enquanto Mona é retirada da sala,
para ser conduzida de volta à cela.
Que lembranças ela
guardará da ocasião da visita?
Talvez o sorriso doce de Mona,
o seu jeito manso de se expressar
e carinhoso de olhar...
Ou, quem sabe, a energia
espiritual de sua presença, que as
crianças tão bem sabem notar...
Já não há mais nada que
possa ser dito ou feito.
Taraneh beija a ponta dos
dedos e encosta a mão no
vidro que as separa.
Anseia em seu coração pelo
dia em que possa abraçar sua
irmã, sentir seu cheiro e
beijá-la novamente,
acolhê-la e demonstrar-lhe
um pedacinho do infinito
amor que tem por ela.
Depois, compartilhariam a
perda do seu pai, e toda a dor
que tiveram que suportar.
Mona contar-lhe-ia tudo que
passou na prisão, e juntas
cuidariam de sua mãe...
Mas apenas anseios são,
e Taraneh teme ao pensar
no que a realidade pode
estar reservando.
Ela pensa no pedido
que Mona lhe fizera...:
“Quero que ores por
mim, para que eu
possa me dirigir ao
local da execução
dançando.”
Partir deste
mundo, dançando
Adentrar
a Eternidade,
dançando...
Orações para que possa receber
aquela hora derradeira dançando...
A dança representa uma das
raras ocasiões em que
o corpo, a mente e o espírito
experimentam uma vivencia de
inteira completude.
Santo Agostinho,
num de seus escritos, afirma:
“Louvada seja a Dança, pois liberta
o Homem do peso das coisas materiais,
Louvada seja a Dança,
que tudo exige,
e fortalece a saúde,
a mente serena
e uma alma encantada.
A Dança transforma
o espaço, o tempo
e a pessoa...”
“A Dança exige o
ser humano inteiro,
ancorado no
seu Centro...
A Dança exige
um Homem livre
e aberto vibrando
na harmonia
de todas as forças...”
“Ó Homem,
Aprende a Dançar!
Senão os Anjos
no Céu
não saberão o que
fazer contigo.”
Santo Agostinho
- PARTE X O ATO FINAL
Entardecer do dia 18 de junho, 1983 o cair da noite por testemunha.
Uma sentença condenando dez prisioneiras
bahá’ís, incluindo Mona, à pena de morte por
enforcamento é decretada.
Juízes islâmicos e guardas revolucionários
cansaram-se de fracassar nas suas repetidas
investidas visando fazê-las negar a sua fé.
Mona e mais nove colegas recebem
ordens para que se dirijam até um ônibus,
que as levará para um acampado próximo.
O cair da noite
como única testemunha...
Numa última tentativa de persuadi-las
a negar, naquele instante derradeiro,
a sua fé, ordens são dadas para que
elas sejam executadas uma a uma.
As que ficarem para o final serão forçadas
a presenciar a execução das primeiras.
As autoridades calculam que a visão do
aniquilamento resultará naquilo que meses
de confinamento e duras penas não foram
capazes de conseguir.
Dez mulheres
Dez corações
Fé e Amor
O palco está montado...
A Fé e o Amor
podem muito,
- há até quem afirme
que não precisam
andar juntas para
poderem tudo.
Mona, a mais nova do
grupo, com apenas
dezessete anos de
idade, pede para ser a
última a ser executada.
Quer dedicar orações
para a firmeza de
cada uma das nove
amigas queridas.
Tem as preces atendidas,
- uma a uma, todas
as nove daquele
seleto grupo erguem,
com fé e coragem,
a taça do martírio.
Como gaiolas partidas,
os delicados corpos
são enfileirados no
acampado, desprovidos
da alma que há pouco
neles habitava.
Nesta hora
derradeira, Mona
permanece serena.
A brisa da noite lhe
sussurra que a sua
peregrinação por terras
candentes e áridas
chegara ao fim...
...e que é hora de
adentrar o mar do
mistério de Deus.
O tênue limite que separa uma vida da
Eternidade prestes a ser rompido.
Mona beija a corda...
...e dedica uma breve oração
para a felicidade e prosperidade
de toda a humanidade.
A vertigem do mergulho
que rompe o tempo
e que inaugura
a Eternidade.
O grão morre
para frutificar...
A mãe e a irmã de Mona recebem
a notícia da condenação e da execução,
e se dirigem para lhe dar
o último adeus.
“Minha filha, minha querida Mona”
diz, enquanto passa-lhe as mãos tenras,
acariciando o suave rosto
que segura em seu colo.
Uma ternura ancestral,
de todas as mães,
de todos os tempos e de todas as dores.
Se inclina para dar-lhe
um último beijo de mãe,
de infinita ternura.
Um beijo doce, prolongado,
cheio de respeito, como quem beija
a face de um recém-nascido...,
...agora, sim, recém-nascido
que acabara de nascer
no coração de Deus.
Abraça meigamente
a filha, e lhe sussurra:
“Minha filha querida. Parte para Deus.
Vai para tua liberdade.
Realiza todos os teus sonhos...”
“Esse mundo era pequeno
para o teu desejo.
Chega em Deus. Mergulha em
Sua vida e em Seu amor.”
“Você, agora, é de Deus.
Mas é também minha filha,
agora e para sempre...
Mona, eu te amo.”
- EPÍLOGO -
O martírio destas dez mulheres deixa
a cidade inteira em estado de comoção.
“Sente-se em Shiraz o cheiro de
sangue, amor e devoção”,
relata uma moradora.
Reuniões são organizadas
em suas memórias.
Grupos e mais grupos de pessoas
chegam trazendo flores.
Já não é mais possível
encontrar flores,
mesmo que se percorra
a cidade inteira.
Flores para as
“Noivas de Shiraz”,
- carinhosa designação
que por toda parte
se ouve.
A história das “Noivas de Shiraz” ficará, sobretudo,
como exemplo a todos que resistem à opressão,
e que lutam, munidos de Amor e Fé,
por Justiça e Liberdade...,
...aprendendo, na difícil escola da esperança,
que é preferível “morrer do que perder a vida”.
Quem são os
teus heróis?
Quem são
as tuas heroínas...?
Shirin Dalvand, 25 anos
Formada em Sociologia,
na sua vida acadêmica
se destacou como aluna
exemplar.
Embora seus pais residissem na
Inglaterra, e lhe pedissem para
se mudar para aquele país, ela
havia decidido permanecer no
Irã, - morava com os avós.
Durante um dos interrogatórios,
perguntaram-lhe por quanto tempo
pretendia se manter firme na sua fé:
“Tenho esperança de que a
misericórdia de Deus me capacite
a permanecer firme até o meu
último sopro de vida.”
Amava o mar...
Sra. ‘Izzat Ishraqi, 50 anos
Transmitia força e esperança
a todas as companheiras de
cárcere, incluindo a sua filha,
Roya.
Mãe e filha, compartilhando a mesma
história...
Roya Ishraqi, 23 anos
Estudante de Medicina Veterinária,
era uma das prisioneiras mais
radiantes e queridas, constante
centro das atenções.
Adorava praticar esportes,
em especial o alpinismo.
Seu pai foi martirizado
pouco antes que ela.
Simin Sabiri, 25 anos
Destacou-se durante o período
de prisão como uma das mais
destemidas do grupo, jamais
demonstrando qualquer sinal de
fraqueza ou abatimento.
Mashid Nirumand, 28 anos
Fonte de contínuo
encorajamento para suas
colegas de prisão.
Era formada em Física.
Nusrat Yalda’i, 54 anos
Conhecida por sua bondade e
hospitalidade, suportou com
firmeza as duras penas, tendo
recebido numa ocasião mais
de duzentas açoitadas.
Seu marido e seu filho foram
executados alguns dias antes
que ela.
Zarrin Muqimi, 28 anos
Tinha uma voz melodiosa,
profundos conhecimentos e
o dom da oratória.
Era formada em Letras.
A despeito de seu jeito delicado,
defendia com eloqüência, vigor
e propriedade aquilo em que
acreditava.
As autoridades, ressentidas,
passariam a interrogá-la sozinha.
Tahirih Arjmandi, 32 anos
Enfermeira, constantemente
se encarregava de cuidar
da saúde das demais
companheiras de prisão.
Seu esposo foi martirizado
dois dias antes que ela.
Akhtar Sabit
Com pouco mais de 20 anos,
era a segunda mais nova do
grupo.
Nutria em seu tenro coração
um carinho genuíno por todos.
Trazia no peito todos os anseios e
todas as inquietações próprios da
juventude, - o inconformismo
diante das crueldades e injustiças,
a dor de se ver cerceada da sua
liberdade e das coisas que mais
gostava...
Ao tomar conhecimento da
sentença condenatória, comentou:
“Aconteça o que tiver que
acontecer, não irei me abater.
Diante do que possa suceder,
contento-me com a Vontade de
Deus...”
Mona Mahmudnizhad
“O Anjo de Shiraz”
10 de setembro, 1965
18 de junho, 1983
- As Noivas de Shiraz -
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- As Noivas de Shiraz -
Outros sites: www.bahai.org
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