ANO XXVII • Nº 208• MAIO/2012 Em defesa da saúde Campanha exige valorização da medicina A crise na assistência levou o CFM e os CRMs a conclamarem a sociedade para mudar este quadro. Pág. 3 Movimento contra MP 568 ecoa no Congresso e nos CRMs. Pág. 5 Saúde Suplementar Diplomas estrangeiros Congresso de geriatria Norma da ANS é considerada ineficaz Revalida pode ganhar força de lei Práticas antiaging recebem críticas Págs. 6 e7 Pág. 8 Pág. 4 EDITORIAL 2 A hora do pesadelo “ Lutar contra os desmandos e a desigualdade na saúde é um compromisso de todos os conselhos e da classe médica A classe médica enfrenta momento delicado, que, mais do que nunca, exige a mobilização de seus 370 mil integrantes. Um exemplo é a Medida Provisória 568/2012, editada em 11 de maio, que acrescentou mais um pesadelo ao repertório no qual constam falta de estrutura de trabalho e ausência de políticas de trabalho para a categoria. Nesta edição do jornal Medicina, apresentamos a regra que, na prática, reduz em 50% os vencimentos de 48 mil médicos (ativos e inativos) do serviço público federal, confirmando a insensibilidade que o tema saúde recebe do atual governo. No entanto, mais que informar, esperamos contribuir para a mobilização de nossos pares. Se a gestão do SUS é inábil e grosseira com os profissionais e com a própria qualificação da assistência, os médicos e a sociedade já demonstraram que não aceitarão a decisão sem reagir. Nos estados, os CRMs se articulam para mostrar sua insatisfação e no Congresso, responsável por aprovar a MP, alguns parlamentares também protestam e convocam o Executivo a dar explicações em audiência pública. Outro preocupante fator apresentado aos leitores é a norma da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que propõe critérios de reajuste e de periodicidade nos contratos firmados entre as operadoras de planos de saúde e os prestadores de serviços médico-hospitalares e laboratoriais. Aparentemente vantajosa, tal medida é vista com cautela por apenas sugerir às empresas que observem estes pontos, relegando sua inclusão, ou não, a um entendimento entre as partes que não existe, pelo menos por enquanto – parece que estamos diante de novo cavalo de Tróia. Mas o cenário apresentado pelo Medicina não termina aqui. Some-se a esses desafios o de manter o rigor para a entrada no mercado de portadores de diplomas de medicina obtidos no exterior, conforme mostramos em reportagem. Mais uma vez os médicos não estão sozinhos contra a absurda possibilidade de revalidação automática de títulos. Políticos e representantes de relevantes entidades ressaltam a importância de que os critérios sejam exigentes e justos, sob pena de deixar a população na zona cinzenta da vulnerabilidade. Tudo isso reforça nossa campanha em defesa da qualidade na assistência e pela valorização do médico. Afinal, exigimos seriedade dos gestores (públicos e privados) no trato das questões relacionadas à saúde. Num tempo em que os cidadãos cobram por uma saúde melhor, medidas como as adotadas apenas contribuem para a fragilização do atendimento. Lutar contra os desmandos e a desigualdade na saúde é um compromisso de todos os conselhos e da classe médica, expresso com propriedade pelo jornal Medicina. “ Desiré Carlos Callegari Diretor executivo do jornal Medicina Publicação oficial do Conselho Federal de Medicina SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150 Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231 http://www.portalmedico.org.br [email protected] Diretoria Presidente: 1º vice-presidente: 2º vice-presidente: 3º vice-presidente: Secretário-geral: 1º secretário: 2º secretário: Tesoureiro: 2º tesoureiro: Corregedor: Vice-corregedor: Roberto Luiz d’ Avila Carlos Vital Tavares Corrêa Lima Aloísio Tibiriçá Miranda Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti Henrique Batista e Silva Desiré Carlos Callegari Gerson Zafalon Martins José Hiran da Silva Gallo Frederico Henrique de Melo José Fernando Maia Vinagre José Albertino Souza Conselheiros titulares Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá Abdon Neto (Maranhão), Aloísio Miranda José (Rio deMurad Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro Tibiriçá Miranda Pedrosa (Rio de de Janeiro), (Pará), Cacilda Oliveira Cacilda (Goiás),Pedrosa Carlos de (Goiás), Carlos Vital Tavares VitalOliveira Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), CelsoCorrêa Murad Lima (Pernambuco), Celso MuradSouto (Espírito Santo), (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Franzen (Rio Cláudio Balduíno Souto de Franzen (Rio Grande do Grande do Sul), Dalvélio Paiva Madruga (Paraíba), Sul), de Paiva(São Madruga Desiré DesiréDalvélio Carlos Callegari Paulo),(Paraíba), Edevard José de Carlos CallegariEmmanuel (São Paulo), José de Araújo (AMB), Fortes Edevard Silveira Cavalcanti Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Cavalcanti (Alagoas), Frederico Henrique de Silveira Melo (Tocantins), (Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von eTiesenhausen Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Brandão Antonio (Bahia), José (Distrito AlbertinoFederal), Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho José Fernando Maia Ribeiro (Distrito Federal), José Fernando Maia VinagreFilho (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo Vinagre (Mato Grosso), Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino José Torres (Amazonas), Luiz (Rondônia), Júlio Rufi no Torres Luiz Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria(Amazonas), das Graças Creão Nódgi Filho (Piauí), das Graças SalgadoNogueira (Amapá), Mauro LuizMaria de Britto Ribeiro Creão (Mato Salgado MauroErnesto Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso (Amapá), do Sul), Paulo Coelho de Oliveira Grosso do Renato Sul), Paulo Ernesto Coelho de Roberto Oliveira (Roraima), Moreira Fonseca (Acre), (Roraima), Moreira Fonseca (Acre), Luiz d’ AvilaRenato (Santa Catarina), Rubens dosRoberto Santos Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte) Silva (Rio Grande do Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará). Conselheiros suplentes Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Aldemir Humberto Soares (AMB), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes da Silva (Piauí) Conselho editorial Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected] Em resposta a José Carlos Castelo Branco Ribeiro, que conclamou os médicos a se posicionarem contra o Programa Saúde da Família em favor de um modelo “hospitalocêntrico” (edição 205), externo nosso veemente desacordo com esta opinião. Entendemos o PSF como um modelo baseado no que há de mais moderno no mundo, ou seja, a organização de um sistema com a porta de entrada médica realizada por um generalista bem formado. Sabemos que nem sempre o PSF tem sido implementado conforme estes princípios. Nossa luta deve ser para que isso de fato ocorra. Gustavo Gusso (presidente da SBMFC) CRM-SP 100705 / CRM-SC 12901 [email protected] Sou acadêmico de medicina [da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora/Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac) em Minas Gerais] e apoio as entidades médicas com relação ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por universidades estrangeiras (Revalida). Estudei na Bolívia por cinco anos e resolvi fazer medicina, de novo, no Brasil. Considero fraco o conteúdo que recebido no exterior em comparação com a realidade brasileira. Elogio o Revalida e espero que seja mantido e respeitado. Guilherme Cesar Aranibar Ghiraldini Aluno da Unipac – Juiz de Fora/MG [email protected] Parabenizo o conselheiro Aloísio Tibiriçá por sua participação no programa Espaço Aberto, na Globo News, em 18 de abril. Em especial, merece destaque a coragem com que questionou e refutou boa parte das declarações colocadas pelo representante do Ministério da Saúde [Fernando Antônio Menezes da Silva, da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)]. Definitivamente, devo dizer que me senti orgulhoso por ter o meu estado representado por pessoa tão sensata e corajosa. Rodrigo Martinez CRM-RJ 740837 [email protected] Parabenizo o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia (Cremero) pela justa homenagem, na seção Personagem médico, prestada ao nosso decano, dr. Hélio Struthos Arouca, homem de fibra e grande baluarte da medicina em Rondônia. Tive a honra de ser escolhido para operá-lo e, com grata satisfação, devolvê-lo ao convívio familiar e pessoal, a tempo de receber a comenda da “Ordem do Mérito Marechal Rondon”, por relevantes trabalhos médicos prestados à sociedade. Paulo Sérgio Amaral Gondim CRM- RO 365 [email protected] * Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila Diretor-executivo: Editor: Editora-executiva: Redação: Copidesque e revisor: Secretária: Apoio: Fotos: Impressão: Desiré Carlos Callegari Paulo Henrique de Souza Vevila Junqueira Ana Isabel de Aquino Corrêa Nathália Siqueira Thiago de Sousa Brandão Napoleão Marcos de Aquino Amanda Ferreira Amilton Itacaramby Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF Gráfica e Editora Posigraf S.A. Projeto gráfico e diagramação: Lavínia Design e Publicidade Tiragem desta edição: 350.000 exemplares Jornalista responsável: Paulo Henrique de Souza RP GO-0008609 Mudanças de endereço devem ser comunicadas diretamente ao CFM Os artigos e os comentários assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFM 3 POLÍTICA E SAÚDE Em defesa da saúde Campanha pede soluções para a crise na saúde Para entidades, são necessárias medidas para que a população tenha melhor atendimento e os médicos sejam valorizados Área frágil: nos hospitais ficam evidentes os problemas da assistência no país O Brasil tem urgência de ser bem tratado, especialmente no campo da saúde. E neste contexto, de ausência de políticas públicas que valorizem o setor e de falta de recursos para garantir o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em sua plenitude, os médicos também cobram sua valorização, enquanto categoriachave para a eficácia do atual modelo. Estes são os focos principais de campanha a ser lançada pela rede de conselhos de medicina no mês de junho. “Em nossa avaliação, a saúde está longe de receber a atenção que merece e precisa por parte dos gestores públicos. E não se trata de uma visão monopolizada apenas pelos médicos: a população concorda com isso, tanto que sempre coloca o tema como uma das áreas mais frágeis do atual governo. Queremos chamar a atenção para os problemas que afetam a assistência e estimular a união de forças dos vários segmentos com vistas a tentar solucionar o quadro de caos”, pontua o 1º secretário do CFM, Desiré Carlos Callegari, diretor de Comunicação da entidade. O apelo à sociedade aparece em distintas peças, como cartazes, banners de internet, spots de rádio e filmes para a televisão. No vídeo, também disponível no site do CFM (www.portalmedico.org.br), pacientes e médicos mostram estar do mesmo lado na batalha diária por um atendimento de qualidade. Em sua primeira parte, atores reproduzem depoimentos colhidos junto a usuários reais do SUS para, na conclusão, uma atriz – representando a classe médica – afirmar que a categoria também não está satisfeita com a situação e espera por mudanças. Na visão do presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, esta campanha sintetiza o compromisso do médico com a qualificação da assistência: “Somos testemunhas cotidianas das dificuldades enfrentadas por pacientes e seus familiares em hospitais e consultórios. Ante este quadro de desigualdade, os médicos não podem ficar em silêncio. O cidadão precisa receber o que tem por direito: acesso a assistência com qualidade, de forma universal, integral e justa”. A campanha, que se inicia em junho, é a primeira ação de novo planejamento em comunicação desenvolvido pela entidade, que pretende estreitar sua interface com a sociedade e com os médicos também por meio da publicidade. “Como temos feito com a ajuda a imprensa, vamos mostrar o comprometimento dos conselhos com o país e com a defesa de uma sociedade mais ética e justa”, ressaltou d’Avila. Pesquisa confirma cenário preocupante A definição do conceito da campanha em defesa da saúde no Brasil resultou de série de grupos de discussão – organizados pelo CFM – com a participação de pacientes e médicos em quatro capitais: Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Em cada encontro, ficou explícita a decepção dos brasileiros com a gestão do SUS e a necessidade de os médicos se apresentarem como aliados da população contra os desmandos na área. “Queremos falar com o país por meio dos 370 mil médicos. Esses profissionais, quando em atendimento, devem repassar essa mensagem de coalização de desejos e vontades. E mais que isso: mostrar para seus pacientes que estão preocupados com os problemas da coletividade, sendo, muitas vezes, injustamente responsabilizados pelos crise da rede pública”, ressalta Callegari. Para ampliar a adesão dos médicos à campanha, os conselhos regionais de medicina (CRMs) deverão colaborar. Na reunião do pleno nacional, em 1º de junho, ficou estabelecida a parceria institucional que permitirá que as peças sejam veiculadas com maior frequência, num número mais significativo de veículos de comunicação. Mas isso não representará, necessariamente, aumento no valor a ser investido. Preocupados com o uso racional dos seus recursos, os conselhos de medicina pretendem enfatizar a disponibilização das peças em seus próprios espaços de comunicação – jornais, revistas, sites etc. Outras entidades da área médica, que compartilham as mesmas preocupações, também serão convidadas a dar seu apoio. JORNAL MEDICINA - MAI/2012 PALAVRA DO PRESIDENTE Roberto Luiz d’Avila S omente com vontade política e iniciativas de gestão romperemos o ciclo histórico da desigualdade que mantém o Brasil na 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU). É preciso que o governo demonstre sua compreensão de que a saúde – assim como a educação – é fator que coloca o cidadão como fim maior de sua existência. Até países com economias mais frágeis, como Antígua e Barbuda, Trinidad e Tobago, Dominica e Santa Lúcia, investem mais que o Brasil nas políticas sociais. Podemos enxergar neles o exemplo a ser seguido. De que adianta ser a sexta economia do planeta se, no campo da saúde, em especial, nossos indicadores de gestão não espelham o progresso anunciado? O desenvolvimento econômico deve andar de braços dados com os avanços na área social. Infelizmente, o Brasil ainda não reza por essa cartilha. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em maio, ajudam a diagnosticar os problemas que afetam o setor, a começar pela falta de recursos. Em 2000, o governo brasileiro investia 4,1% de seu orçamento para a saúde (per capita de US$ 107/ano). Em 2010, esse índice elevou-se para 5,9% (per capita de US$ 320/ano). No entanto, estamos longe da média mundial de 14,3% (per capita de US$ 549/ano). Por essas e outras, o Brasil está no grupo dos 30 países onde a população paga de seu próprio bolso mais de 50% dos gastos com a assistência. Na Europa, os gastos governamentais chegam a ser, em média, 10 vezes maiores que o brasileiro. Na Romênia, Sérvia, Arábia Saudita, Argentina ou Uruguai essa prática se repete. Essa lógica perversa dos economistas e empresários provoca reflexos na falta de infraestrutura para acolher, diagnosticar e tratar a população. Com média de 26 leitos por 10 mil pessoas, o Brasil fica atrás de outros 80 países no ranking da OMS. Na tabela, aparece constrangedoramente empatado com o Reino de Tonga e o Suriname. Se, por um lado, o relatório da OMS confirma a necessidade de melhor estrutura hospitalar no país, por outro reforça o reconhecimento da tese – há tempos defendida pelo CFM – de que não há falta de médicos. Pelo cálculo da Organização, o Brasil tem 17,6 médicos para cada 10 mil habitantes, índice acima da média mundial (14 por 10 mil). Ou seja, o problema está na concentração dos profissionais em capitais e áreas desenvolvidas por conta da ausência de políticas públicas que os estimulem a migrar para zonas de difícil provimento. Para solucionar este impasse, o governo precisa adotar medidas que valorizem os médicos e se desviar de sandices, como a edição da MP 568/2012, que corta pela metade os vencimentos daqueles que estão na rede federal. Em lugar disso, deveria investir recursos e energia na implementação de um plano de cargos, carreiras e salários para a categoria e, principalmente, criar uma carreira de Estado para os médicos, nos moldes do Poder Judiciário, oferecendo-lhes condições de trabalho, perspectivas de progressão funcional, educação continuada e remuneração adequada. Sem atacar de frentes esses problemas – subfinanciamento, infraestrutura hospitalar precária e ausência de políticas de trabalho para os médicos e outros profissionais da área –, o acesso à saúde continuará a ser um sonho. O governo deve fazer a sua parte, mas os médicos estarão sempre firmes, cobrando as respostas que a população espera receber. POLÍTICA E SAÚDE 4 Saúde Suplementar Norma da ANS recebe críticas Medida veio após movimento da categoria, mas o CFM observou pontos frágeis e quer acompanhar a implementação O medida não agradou a categoria médica. A normativa foi alvo de críticas do 2º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e coordenador da Comissão de Saúde Suplementar (Comsu), Aloísio Tibiriçá. Para ele, Agência Câmara s critérios de reajuste dos contratos entre as operadoras de planos de saúde e os prestadores de serviços médico-hospitalares e laboratoriais foram definidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entretanto, a Contra abusos: Vital (à esq.) criticou operadoras em audiência na Câmara apesar da boa intenção, a medida nada antecipa e não garante com eficácia o reajuste de contratos ao apenas regulamentar uma resolução que na prática nunca foi aplicada “por falta de capacidade de fiscalização da própria Agência”. Segundo Tibiriçá, a medida não avança nas negociações. “Não há como o médico negociar diretamente com os planos, pois ele é o lado mais fraco e f icará sem alternativas. Para haver avanço, é necessário o pressuposto de que as entidades devem estar obrigatoriamente incluídas nestas negociações, Entidades apoiam PL com regras O movimento médico continua trabalhando por uma contratualização adequada para a categoria e uma nova rodada de negociações com as operadoras já está sendo realizada. Um encontro ampliado da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu) está confirmado para a segunda quinzena de junho. Durante a audiência da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, em 15 de maio, o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, defendeu que a categoria quer “preços justos e honra no trabalho”. Adicionalmente, falou dos obstáculos que os médicos enfrentam para negociar com as operadoras e provocou os participantes da audiência: “Já que todos concordam que o médico está ganhando pouco, pergunto: quem vai pagar essa conta, pois não é justo as operadoras constituírem seus lucros com o aviltamento do honorário médico?”. No entanto, para os médicos, a solução da questão depende mesmo é da aprovação do projeto (PL 6.964/10) atualmente em análise na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), sob a relatoria de Eleuses Paiva (PSD-SP). A proposta prevê regras claras para o contrato de relação de trabalho com as operadoras, além de um índice de reajuste anual e critérios de credenciamento. O presidente da CSSF, deputado Mandetta (DEMMS), afirmou que “o modelo assistencial tem que ser discutido porque a tendência é que o setor não se viabilize mais”. E completou: “Médico e saúde significam soberania nacional. Queremos dignidade e respeito nesta relação”. Faturamento dos planos Honorários não absorvem crescimento Levantamento realizado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) comprova, em números, a insatisfação dos médicos com os honorários na saúde suplementar. Segundo a pesquisa, em nove anos o faturamento dos planos de saúde cresceu três vezes mais que o valor médio da consulta. Se o reajuste dos honorários médicos tivesse acompanhado o crescimento econômico do setor, a consulta médica valeria hoje R$ 83,40. De 2003 a 2011, a receita anual dos planos médicohospitalares passou de R$ 28 bilhões para R$ 83,4 bilhões (aumento de 197,8%), enquanto o valor médio da consulta subiu apenas 64,7% – menos de um terço desse percentual. A média de R$ 46,12 para a consulta em 2011 ficou muito abaixo do mínimo de R$ 80 reivindicado pelas entidades. Alguns planos permanecem pagando menos de R$ 30. Para o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior, “além da correção da defasagem, daqui em diante os honorários precisam ser reajustados, no mínimo, anualmente, com índices que reflitam, inclusive, o crescimento robusto do setor.” JORNAL MEDICINA - MAI/2012 pois são as representações legítimas”, defendeu Tibiriçá. Outra avaliação do vice-presidente do CFM é a de que todos os contratos em desacordo com a norma terão o prazo de seis meses para adaptação, o que, segundo Tibiriçá, abre margens para que a medida não seja viabilizada na prática. “Esperamos que antes deste prazo já haja nova contratualização no setor”, apontou. O CFM pretende acompanhar a etapa de implementação para ver como será aplicada e continuará negociando medidas mais eficazes junto à Agência. A insatisfação dos médicos com a remune- ração feita pelas operadoras de saúde é antiga. Este ano, prof issionais de 12 estados interromperam o atendimento para pacientes de planos de saúde. No ano passado, em 21 de setembro, paralisação semelhante foi realizada. Na ocasião, além de passeatas e atos públicos em vários estados, as lideranças médicas entregaram à ANS propostas para normatizar a contratação dos profissionais pelas operadoras. E também foi solicitada a inclusão de reajustes anuais dos valores pagos, parâmetros para a fixação de honorários e o credenciamento/descredenciamento dos médicos pelos planos de saúde. Fórum sobre a CBHPM Entidades discutem valores A Comissão Estadual de Honorários Médicos de Minas Gerais promoveu, em 11 de maio, na Associação Médica do estado, em Belo Horizonte, o III Fórum Nacional sobre a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). O objetivo foi discutir os entraves à política de remuneração médica e a adoção da CBHPM como balizamento de remuneração na saúde pública e suplementar, entre outros temas. O evento reuniu representantes de entidades médicas, das comissões estaduais e da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu), além de representantes de várias sociedades de especialidades. Também participaram do en- contro o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM/ MS) e o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), André Longo. Durante os debates foi dado destaque à luta por melhores critérios de remuneração na CBHPM e a necessidade de nova contratualização entre médicos e operadoras. O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), João Batista Gomes Soares, um dos que acompanhou o debate, avaliou positivamente a reunião: “O fórum cumpriu suas metas de conscientizar os médicos e de sensibilizar os responsáveis pelos planos de saúde”. Posição única: entidades buscam consenso em debate sobre CBHPM 5 POLÍTICA E SAÚDE MP 568/2012 Medida provoca mobilização nos CRMs Entidades se mobilizam para evitar a redução em 50% dos salários de 48 mil médicos da rede pública federal Cremerj 1961 determina uma carga horária semanal de 20 horas para médicos, diferente dos demais servidores, cuja carga é de 40 horas. O texto também não leva em conta a Lei 9.436, de 1997, que permite aos médicos que já trabalham 20 horas solicitar outras 20 horas, ficando com um total de 40 horas semanais e estendendo integralmente tal benefício à aposentadoria e às pensões. Ou seja, há distorções que precisam de correção”, ressalta. A MP tenta compensar as perdas ao criar a Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI), que corresponde à diferença entre os salários anteriores e a nova tabela. No entanto, a VPNI ficará congelada e não será contabilizada para reajustes de salário ou adicionais por progressão ou titulação na carreira. A VPNI também absorverá os adicionais de insalubridade e periculosidade da categoria. Médicos cariocas: mobilização contra a medida ocorreu em 22 de maio O s conselhos de medicina de todo o país estão mobilizados por conta da edição da Medida Provisória 568/2012, pelo governo federal, em 11 de maio. A regra é oriunda do PL 2.203/12, que tramitava na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara e já enfrentava resistência em vários estados. A MP visa equiparar os salários dos servidores federais, mas, no caso dos médicos, tem um efeito perverso, pois reduz em 50% os vencimentos dos profissionais da área em nível federal, tanto ativos quanto inativos. Estima-se que afetará 48 mil servidores. Para o 2º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Aloísio Tibiriçá, as entidades médicas e os profissionais devem acompanhar de perto a tramitação da proposta e sensibilizar os parlamentares e os gestores sobre a necessidade de modificá-la. “Essa medida desconsidera a Lei 3.999, que desde Ato será debatido em audiência pública No dia 5 de junho, está prevista a realização de audiência pública no Congresso Nacional para discutir pontos da MP 568. A reunião unifica três requerimentos com a mesma proposta feitos por diferentes parlamentares: da senadora Ana Amélia (PP-RS), na Comissão Especial criada para avaliar a admissibilidade; do deputado Sebastião Bala (PDT-AP), na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), e da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) – estes dois últimos no âmbito da Câmara. Além da repercussão no Parlamento, a MP também provoca intensa mobilização nos estados. Em 12 de junho, está prevista a realização de ato público em São Paulo, na capital, apoiado pelo conselho de medicina do estado (Cremesp). A manifestação ocorrerá na Universidade Federal Paulista (Unifesp). No Rio de Janeiro, o conselho regional de medicina (Cremerj) coordenou dois atos contra a medida, nos dias 22 e 28 de maio, que reuniram cerca de mil profissionais oriundos de hospitais universitários e federais. No Paraná, o CRM, com outras entidades médicas locais, divulgou nota onde expressou seu repúdio à decisão do governo. “Não é admissível que a MP engesse os valores concernentes à insalubridade, direito também previsto em lei e que tem que estar atrelado ao valor da remuneração do trabalhador”, afirma o documento. Além desses protestos, outras manifestações foram realizadas na Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul, sempre com repercussão na mídia, que também tem condenado o ato administrativo praticado. Estados reforçam apoio a movimento popular Nathália Siqueira lizar, via parlamentares na Câmara dos Deputados, a apresentação de mais de 180 emendas ao projeto, com o objetivo de que ele refletisse apenas o que foi efetivamente negociado e de que fossem acrescentados itens negociados e ignorados pelo projeto de lei. De acordo com a nota, o governo teria prometido discutir o PL durante a sua tramitação na Câmara, inclusive por meio de audiências públicas, mas ao editar a MP, reproduziu, em termos de mérito, “ipsis litteris” o já combatido PL 2.203/11. Para o fórum, a MP 568/2012 “precariza mais ainda as relações de trabalho entre o governo e os trabalhadores do serviço público federal”. pontos da proposta. Acesse os links http://bit.ly/ LeKpoK e http://bit.ly/JKL6GQ. Mais recursos para o SUS MP considerada “autoritária” O Fórum de Entidades Nacionais de Servidores Públicos Federais publicou nota na qual na critica a edição da MP 568/2012. No texto, a entidade que o governo não honrou um acordo em andamento entre o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e entidades sindicais de servidores públicos federais sobre reestruturações de remunerações. A nota classifica a edição da Medida Provisório 568/2012 como um ato “unilateral e autoritário” do governo. Segundo o documento, as entidades sindicais foram surpreendidas por um texto que não contemplava o acordo em trâmite, com vários itens prejudiciais. A categoria se mobilizou para viabi- No site do CFM, é possível ler a íntegra da medida provisória e saber mais sobre os principais Apelo popular: repasse da União ajudará a recuperar a dignidade médica Médicos de todo o Brasil estão engajados na iniciativa de arrecadar 1,4 milhão de assinaturas em favor de projeto de lei de iniciativa popular que altera a recém-aprovada Lei 141/2012, que regulamentou a Emenda Constitucional 29. A matéria visa assegurar o repasse efetivo e integral de 10% das receitas correntes brutas da União para a saúde pública, o que representaria um acréscimo de cerca de JORNAL MEDICINA - MAI/2012 R$ 35 bilhões anuais ao setor. “O SUS pede socorro! 10% das receitas da União para a Saúde!”. Sob o impacto desse forte apelo popular, foi lançado oficialmente o abaixo-assinado em São Paulo. “Ficamos sem saída para discutir o financiamento. Atualmente, 3,8% do orçamento da União são gastos com a saúde pública, enquanto 4,4% ficam com o setor privado, ou seja, 85% da população contam com menos recursos para acesso à saúde do que os 15% restantes. Do ponto de vista social, isso demonstra a grande distorção existente no setor”, avaliou o deputado Eleuses Paiva, durante o lançamento em SP. No Rio de Janeiro, dom Antonio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar, informou que a iniciativa está pautada na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No Piauí, o conselho regional se reuniu com o presidente da Ordem dos Advogados Seccional Piauí, Sigifroi Filho, e membros do Sindicato dos Servidores em Saúde para planejar ações no estado. Para validar a campanha é importante assinar o documento, além de colocar, de forma legível, o nome completo, endereço, data de nascimento e número do título eleitoral. Acesse o modelo de formulário para impressão em www. portalmedico.org.br. POLÍTICA E SAÚDE 6 Validação de diplomas estrangeiros Exame Revalida pode virar lei Mobilização das entidades médicas junto ao Poder Legislativo acende debate sobre revalidação criteriosa Atuação no país: demonstrar conhecimento e preparo é essencial A mobilização política das entidades médicas nacionais junto ao Poder Legislativo para que prevaleça o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por universidades estrangeiras) sobre outras formas pouco criteriosas para autorização do ingresso de médicos no país continua e já rendeu frutos. No início de maio, como resultado da articulação e diálogo empreendidos pela Comissão de Assuntos Políticos (CAP) – que agrega participantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam) –, foi apresentado o Projeto de Lei do Senado (PLS) 138/2012, do senador Paulo Davim (PV/RN), que, se aprovado, transforma o Revalida em lei. A matéria está na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) e aguarda indicação do relator. Segundo o autor do projeto, “é preciso consolidar o Exame e, para isso, sugerimos elevar sua instituição à categoria de lei, de forma que se transforme em política de Estado, e não apenas de governo”. Iniciativa similar partiu da Câmara dos Deputados, onde o deputado Eleuses Paiva (PSD/SP) apresentou o PL 3.845/2012, que aguarda distribuição e indicação de relator. Para Paiva, a “revalidação automática de diplomas certamente vai colocar em risco a nossa população, especialmente a mais pobre e carente, que na maioria das vezes não tem possibilidades de escolha em relação aos profissionais médicos”. Atualmente, o Revalida é regulamentado pela Portaria Interministerial 278/2011, dos ministérios da Saúde e da Educação. O PL propõe a consolidação dessa portaria, instituindo a Matriz de Correspondência Curricular, elaborada por docentes de 16 cursos de medicina de universidades públicas, como subsídio para os procedimentos de avaliação. A adesão das universidades ao Revalida continuaria sendo facultativa, e permaneceria o processo de revalidação independente das universidades públicas, ainda em vigor. Discussões políticas – Desde que surgiram notícias de que o governo estaria estudando meios de ampliar rapidamente a oferta de médicos por meio da revisão das regras para revalidação de diplomas, além das entidades médicas, a opinião Parlamento quer aprofundar debate O senador Alfredo Nascimento (PR-AM) criticou em plenário, no dia 8 de maio, a validação automática de diplomas de medicina expedidos por países estrangeiros sem critérios técnicos que comprovem capacitação técnica e prática profissional. Para ele, a falta de médicos no interior do Brasil não justifica a validação automática dos diplomas. “É preciso melhorar a distribuição desses profissionais. Validar diplomas indiscriminadamente não resolve o problema e ainda gera efeitos colaterais indesejáveis, como a possibilidade de um atendimento inadequado”, disse. Discussões – Membros do Poder Legislativo querem ampliar o debate e a base de consulta para chegar a um direcionamento que atenda às necessidades da sociedade. Para tanto, as comissões de Assuntos Sociais (CAS), do Senado, e de Seguridade Social e Família (CSSF), da Câmara dos Deputados, decidiram realizar, de forma conjunta, um seminário para discutir o ingresso de médicos estrangeiros no Brasil e a necessidade de formação de um número maior de profissionais. O debate, agendado para 20 de junho no Auditório Freitas Nobre da Câmara dos Deputados, também vai abordar o exercício da profissão pelos médicos brasileiros formados no exterior. A iniciativa é do senador Paulo Davim (PV/RN) e do deputado Eleuses Paiva (PSD/SP). A discussão conjunta também foi sugerida por participantes de audiência pública realizada no dia 24 de abril pela CAS, que debateu a presença dos médicos nos municípios brasileiros, em atendimento a requerimento dos senadores Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Paulo Davim (PV/RN) – e que também discutiu o PLS 15/2012, de autoria de Grazziotin – saiba mais na pág. 7. JORNAL MEDICINA - MAI/2012 pública e segmentos políticos passaram a manifestar preocupação com um possível recuo no rigor necessário para avaliar os profissionais portadores de diplomas estrangeiros. No plenário do Senado, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) manifestou-se contrário à validação automática de diplomas. Para aprofundar a discussão sobre o tema, senadores e deputados se organizaram para promover um seminário conjunto sobre o ingresso de médicos estrangeiros no Brasil (saiba mais abaixo, à esquerda). Segmentos se manifestam Representantes de diversas entidades apresentam seus pontos de vista sobre a revalidação de diplomas estrangeiros. Confira: Por trás do profissional tem a escola formadora, responsável pela qualidade dos profissionais liberados para o mercado de trabalho. Quanto ao ingresso de profissionais formados fora do país, para atender demandas nacionais, devem se sujeitar ao processo de revalidação – Revalida – que tem construção histórica na busca da qualificação para uma assistência de qualidade à população brasileira. Jadete Lampert, presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) Acredito ser legítima a aspiração do médico estrangeiro de reivindicar sua colocação em nosso país, desde que seja submetido a um exame. João Aidar, representante da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) Há necessidade de se dar agilidade e regulamentar o acesso de portadores de diplomas obtidos no exterior. O Brasil precisa ter a segurança de que os profissionais têm conhecimento necessário e condições de exercer a medicina de modo que as pessoas recebam atenção à saúde com qualidade. Sobre este tema, defendo amplo debate com a colaboração do Conselho Nacional de Saúde e a participação do CFM e de outras entidades médicas, que devem ser ouvidos sobre os critérios de validação do diploma. Clóvis Boufler, representante da CNBB no Conselho Nacional de Saúde (CNS) Para o Brasil é fundamental fortalecer mecanismos qualificados de avaliação de médicos formados no exterior, que aspiram a possibilidade de trabalhar em nosso país e contribuir para a atenção à população brasileira. A Abrasco pode contribuir para este debate, que deve contar com a participação do CFM, do Conselho Nacional de Saúde e de outras entidades. Luiz Augusto Facchini, Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) 7 POLÍTICA E SAÚDE Validação de diplomas estrangeiros Propostas paliativas são rejeitadas Entidades reforçam oposição à proposta de revalidação “simplificada” e autora de projeto aceita rediscussão Ação nos estados : em Manaus, protesto contra o PLS 15/2012 A s entidades médicas estão reagindo a propostas paliativas – e consideradas deletérias à qualidade do processo de revalidação – apresentadas como solução para resolver a carência de médicos em algumas áreas do país. O PLS 15/2012 da senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), por exemplo, que sugere um processo de revalidação “simplificado” aos profissionais que aceitarem ter seu exercício profissional “limitado aos critérios, às condições e às regiões do território nacional definidos pelo Poder Público”, foi alvo de um protesto no dia 24 de abril, pro- movido pelo Sindicato dos Médicos do Amazonas e acadêmicos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Universidade Nilton Lins. A reação ao projeto da senadora cresceu e suscitou mais debates, com avanços. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (Cremam), Jéfferson Oliveira Jezini, relata que, em audiência na Câmara Municipal de Manaus no dia 11 de maio, Grazziotin compareceu e, diante dos argumentos das entidades médicas, declarou publicamente que está disposta a rediscutir a proposta. “Do jeito que está, vemos este projeto como um grande prejuízo para o cidadão brasileiro”, aponta Jezini. Resistência ao Provalida Ideia semelhante – que sujeita o candidato à registro de título no país a trabalhar em algumas áreas carentes de assistência – vem sendo posta em prática pelo governo de Pernambuco. Como as universidades públicas continuam autorizadas a fazer suas próprias provas de revalidação, a Universidade de Pernambuco (UPE) decidiu não aderir ao Revalida e fazer seu próprio exame a partir deste ano. De acordo com o edital, para participar da seleção o candidato deverá assinar um termo comprometendose a prestar serviços médicos no Programa Saúde da A principal preocupação, segundo ele, é a adequação do portador de diploma estrangeiro ao perfil profissional exigido no Brasil. E cita a grade curricular da Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), em Cuba, para compará-la com os cursos das universidades Família ou outra atividade na rede de saúde pública municipal (em localidades prioritárias indicadas pela secretaria estadual de saúde) pelo período mínimo de dois anos. Embora a UPE alegue que a prova local não será mais fácil que o Revalida, as entidades médicas pernambucanas já se manifestaram preocupadas com o possível baixo rigor dessa iniciativa, inclusive com pedido de liminar para suspendê-la. Um primeiro pedido de liminar foi negado, e as entidades pernambucanas estão decidindo quais caminhos jurídicos adotarão para barrar a iniciativa da UPE. brasileiras: “Lá os alunos se graduam entre três anos e meio a quatro anos. Não existem as disciplinas de Farmacologia, Epidemiologia, Obstetrícia, Pediatria, dentre outras. Portanto, é um equívoco da senadora querer uma revalidação simplificada para esses estudantes”, analisa. Avaliação do SUS “The Lancet” conclama ação do governo A revista médica “The Lancet” publicou, em maio, uma série de seis artigos abordando o SUS no Brasil, a história, avanços e desafios do nosso sistema de saúde. O estudo conclama o governo brasileiro a reverter a tendência de diminuição da sua participação nos gastos agregados em saúde e aumentar substancialmente o orçamento público para o setor, reduzindo também os subsídios que destina ao setor privado. “O SUS teve menos sucesso do que originalmente esperado em relação à expansão da parte pública nos gastos totais em saúde, cuja proporção de 41%, em 2007, é desfavoravelmente comparada com outros países que possuem ou não sistemas nacionais de saúde (Reino Unido, com 82%, e México, com 47%, respectivamente)”, diz o texto. A dificuldade de gestão do sistema e a privatização do setor para organizações sociais são apontados como fator de risco para diminuir ainda mais o investimento no setor. Outra importante conclusão é a de que o governo precisa rever os regulamentos referentes aos servidores, de modo a melhorar os benefícios e as condições de trabalho para médicos, enfermeiros e agentes de saúde empregados pela Estratégia de Saúde da Família, evitando a rotatividade de mão de obra e mantendo elevada a motivação. O grupo de estudiosos que assina a pesquisa também diz que o governo brasileiro deve ser responsável por criar mecanismos para minimizar as descontinuidades na gestão do SUS, nos níveis municipal, estadual e federal, em função de interesses político-partidários. Repercussão – A pesquisa ressalta que sucessivos governos têm agido para expandir os cuidados de saúde preventiva e curativa em resposta à crescente demanda da sociedade. Vários comentários ao estudo, no entanto, salientaram que esta bem-sucedida política de prevenção tem-se baseado também em outras forças catalisadoras de mudanças como a sociedade civil, movimentos sociais, mobilização do público pela mídia e de organizações não governamentais, sendo ainda alavancada por profissionais de saúde e organismos internacionais. Essa política de prevenção engloba medidas contra doenças infecciosas com vacinação em massa, por meio de campanhas, e de enfrentamento da mortalidade infantil, com drástica redução de problemas como diarreia e desnutrição, JORNAL MEDICINA - MAI/2012 Caminhos: publicação cobra aumento de investimentos em assistência além da queda da mortalidade materna e, mais recentemente, o controle da aids, por exemplo. A conselheira federal Cacilda Pedrosa de Oliveira aponta que os autores são unânimes em afirmar que grandes avanços foram conseguidos na área de prevenção e promoção de saúde no Brasil, porém vale ressaltar que os problemas ainda são expressivos e é necessário que programas de saúde se transformem em uma política de Estado para a saúde brasileira e não dependam apenas de ações, muitas vezes pontuais, com a finalidade de resolver a crise do momento. Em seu entender, esta preocupação também se estende a uma formação adequada de recursos humanos, capacitada para o atendimento do paciente no setor público e privado com igual eficiência. “Desta forma, a participação e fiscalização da sociedade na implantação dessas políticas de saúde é essencial, pois temos que sair do discurso para a prática, afinal o povo brasileiro merece um SUS de qualidade”, afirma a conselheira. 8 PLENÁRIO E COMISSÕES Direito Médico Congresso reúne autoridades no PR Profissionais da Medicina e do Direito debaterão temas importantes para a saúde, como liminares e reparação de danos Preparativos: organização do encontro está com tudo pronto para o congresso A utoridades do Poder Judiciário e renomados especialistas estão confirmados para o III Congresso Brasileiro de Direito Médico. O evento será promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), nos dias 14 e 15 de agosto, no plenário do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR). A exemplo das outras edições, o encontro reunirá profissionais do Direito e da Medicina para discutir temas com reflexos diretos na prática cotidiana da medicina e do Judiciário. A programação prevê, por exemplo, painéis sobre temas como os acer- tos e desacertos das liminares concedidas no direito à saúde; com palestras do mestre em Direito Clito Fornaciari Junior e do promotor de Justiça do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Diaulas Costa Ribeiro. O evento também analisará a responsabilidade solidária de médicos, hospitais, planos de saúde e poder público na reparação de danos – assunto que será tema de palestra de Vicente Ataíde Júnior, juiz federal do Paraná. No 2º dia do encontro, o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, José Carlos Maldonado de Car- valho, discorre sobre o dano iatrogênico na prática médica. A seguir, um painel abordará a responsabilidade civil em obstetrícia, cirurgia plástica e no erro de diagnóstico. O tema será tratado em palestras do presidente do TJ-PR, Miguel Kfouri Neto; do vice-presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Olímpio Barbosa Moraes Filho; do secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Denis Calazans; e do anestesiologista Onofre Alves, conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego). No período da tarde, o congresso será palco de debates sobre o sigilo médico, com palestras do 1º vice-presidente e coordenador da Comissão de Direito Médico do CFM, Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, e do assessor jurídico do conselho, José Alejandro Bullón, com participação do conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil regional São Paulo (OAB-SP), Roberto Delmanto. O coordenador do evento, Carlos Vital, avalia a relevância do encontro: “Este congresso permite um produtivo diálogo sobre questões abertas em duas importantes áreas do conhecimento. O Direito e a Medicina não são ciências exatas, mas cultivam valores humanos de extrema relevância na vida em sociedade”. Práticas antienvelhecimento Procedimentos administrativos Geriatras alertam sobre os riscos Avança reforma de manual Novas terapias de combate aos efeitos do envelhecimento (anti-aging) podem comprometer o funcionamento do organismo e até mesmo causar câncer. Este foi um dos principais itens da pauta do XVIII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia realizado no período de 22 a 25 de maio, no Rio de Janeiro (RJ). A situação da prática antienvelhecimento no Brasil e no mundo foi discutida por geriatras, gerontólogos, representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB), além de sociedades de especialidades como a Endocrinologia, Ginecologia, Dermatologia e Clínica Médica. No congresso, conferências apresentaram estudos sobre o anti-aging. O Congresso contou com a participação do professor Thomas Perls, da Universidade de Boston, que estuda grupos de pessoas que passaram dos 100 anos. Segundo Perls, a resposta da longevidade está nos ge- nes. O pesquisador afirma, no entanto, que mesmo aqueles que não têm uma boa herança genética poderão viver mais se cultivarem hábitos saudáveis. A discussão também ocorre no âmbito do CFM. O coordenador da Câmara Técnica de Geriatria da entidade, Gerson Zafalon, participante do congresso, relata que o grupo prepara um parecer sobre o tema. Alerta – A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) designou um grupo de especialistas para realizar uma revisão da literatura científica com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança desse tipo de tratamento. Após extensa revisão, a SBGG recomendou a seus profissionais associados que alertassem as pessoas de que, até o momento, nenhuma pesquisa demonstrou que vitaminas, anti-oxidantes, reposição hormonal ou qualquer outra substância teriam a capacidade de retardar ou reverter o processo do envelhecimento. Deve-se ter cautela, pois determinados tratamentos, além de ineficazes, podem ser danosos tanto do ponto de vista econômico como da saúde coletiva e individual. Antienvelhecimento: entidades questionam a validade científica JORNAL MEDICINA - MAI/2012 Representantes do conselho federal e dos conselhos regionais de medicina avançaram nos debates que resultarão nas novas orientações a serem incorporadas pelo Manual de Procedimentos Administrativos das entidades. Essa definição saiu do I Encontro Nacional das Secretarias Gerais CFM/CRMs de 2012, realizado nos dias 24 e 25 de abril, em Brasília. O documento em fase de preparo estabelece as normas de inscrição nos conselhos regionais de medicina, entre outros atos administrativos, e atinge pessoas físicas e jurídicas. A edição mais recente do manual data de 2002 e deve ser alterada para contemplar a evolução das legislações dos estados, entre outros pontos. A reformulação resulta de mais de dois anos de trabalho de comissão criada para este fim. “A expectativa é de que as novas orientações tornem mais proativas as ações dos conselhos de medicina, em busca da uniformização dos procedimentos administrativos”, diz o secretário-geral do Conselho Federal de Medicina, Henrique Batista e Silva. No encerramento do encontro, foi aprovado o pedido de que seja realizada, no mínimo, uma reunião por ano dos coordenadores administrativos dos conselhos para fortalecer a integração da rede. A data ainda será definida em função das necessidades que se impõem e das disponibilidades de agenda. PLENÁRIO E COMISSÕES 9 Resolução 1.989/12 CFM normatiza diagnóstico de anencefalia Regras são publicadas após decisão do STF que autoriza antecipação terapêutica do parto quando há essa malformação A s regras norteadoras para o diagnóstico de anencefalia – que permitirão à gestante optar entre a manutenção da gestação ou a antecipação terapêutica do parto – foram publicadas no Diário Oficial da União de 14 de maio. As diretrizes (Resolução CFM 1.989/12) tratam da conduta ética do médico ante o diagnóstico de anencefalia, do exame adequado para o diagnóstico seguro, das informações que deverão constar no prontuário da paciente e do apoio necessário à gestante, independente de sua decisão de manutenção ou não da gravidez. “O CFM preenche uma necessidade de caráter social, de segurança nos critérios diagnósticos e em disposições gerais que disciplinem a conduta desse procedimento”, salientou o 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, ao fa- lar sobre a resolução, aprovada por unanimidade pela plenária da entidade em 11 de maio. Vital é coordenador da comissão que definiu esses critérios após o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizar a realização da antecipação terapêutica do parto em casos envolvendo essa malformação. Foram 33 dias de atuação intensa, com dedicação presencial e a distância até a publicação das diretrizes. Além de membros do CFM, a elaboração das regras teve a participação de especialistas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Brasília (UnB), da Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), da Sociedade Brasileira para o Progres- so da Ciência (SBPC), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do Ministério da Saúde. No Congresso – O PLS 50/11, do senador Mozarildo Cavalcanti (PTBRR), regula a matéria no âmbito do Poder Legislativo, sugerindo mudar o Código Penal para que o aborto de fetos anencéfalos não seja considerado crime. No dia 17 de maio, este PLS foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). Pelas alterações feitas no texto pelo relator, Cyro Miranda (PSDBGO), a anencefalia deve ser diagnosticada por três médicos que não integrem a equipe que vai realizar o aborto. A proposta segue para a CAS e, posteriormente, para decisão terminativa da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) – também será analisada pela Câmara. Atendimento aos queimados Ministério distribuirá protocolo do CFM O país contará com uma uniformização do atendimento de emergência aos queimados. O Ministério da Saúde publicará e distribuirá nacionalmente um conjunto de regras (protocolo) – elaborado pela Câmara Técnica de Queimaduras do CFM – que dá subsídios para a qualificação do atendimento a esse tipo de paciente. “O material é de importância como norteador do tratamento de urgência e emergência de queimaduras”, foi a conclusão da análise da coordenação-geral de média e alta complexidade do Ministério. O documento foi elaborado sob a coordenação do conselheiro Antônio Pinheiro, falecido em outubro passado. O texto será incorporado às diretrizes assistenciais do Sistema Único de Saúde (SUS) e 600 mil exemplares serão distribuídos a médicos e unidades de saúde em todos os estados. Para a Câmara Técnica (CT), foi uma vitória: “É Na reunião de maio da Câmara Técnica (CT) foi prestada homenagem ao conselheiro do CFM, Antônio Pinheiro, responsável pela coordenação do Protocolo de Atendimento a Queimados. Foi confirmado que ele será substituído pelo 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital Corrêa Lima, na coordenação da CT. importante que todos os médicos tenham acesso a essas orientações. Elas preveem um processo sequencial do atendimento, que vão desde o reconhecimento do tipo de queimadura até a prescrição de medicamentos”, afirmou o representante da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) e membro da CT, Flávio Nadruz. O foco principal do manual recai sobre os atendimentos de urgência e emergência que ocorrem nos prontos-socorros, que são a porta de entrada dessas ocorrências. O Protocolo de Atendimento a Queimados pode ser acessado no site do CFM – www.portalmedico. org.br –, na seção Protocolos e Cartilhas. JORNAL MEDICINA - MAI/2012 Vanguarda: o plenário do CFM agiu rápido para cobrir lacuna apontada pelo STF CONFIRA OS PRINCIPAIS ITENS Diagnóstico As diretrizes do CFM definem que o diagnóstico de anencefalia deverá ser feito por exame ultrassonográfico realizado a partir da 12ª semana de gestação. O exame deverá conter duas fotografias, identificadas e datadas: uma com a face do feto em posição sagital; a outra, com a visualização do polo cefálico no corte transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de parênquima cerebral identificável. Será obrigatório, ainda, um laudo assinado por dois médicos capacitados para tal diagnóstico. Se a gestante optar pela antecipação terapêutica do parto, deverá ser feita ata do procedimento, na qual deve constar seu consentimento escrito. A ata, as fotografias e o laudo do exame integrarão o seu prontuário. Apoio à gestante Para o CFM, diante do diagnóstico de anencefalia, a gestante tem o direito de buscar outra opinião ou solicitar a realização de junta médica. Ainda de acordo com o texto do CFM, o médico deverá prestar à gestante todos os esclarecimentos que lhe forem solicitados, garantindo-lhe o direito de decidir livremente sobre a conduta a ser adotada, sem impor sua autoridade para induzi-la a tomar qualquer decisão ou para limitá-la naquilo que decidir. Se a gestante optar pela manutenção da gravidez, será assegurada assistência médica prénatal compatível com o diagnóstico (a gravidez de anencéfalo é considerada de alto risco). Decisão autônoma O CFM reforçou, no texto da resolução, que ante o diagnóstico de anencefalia a gestante tem o direito de, livremente, decidir manter a gravidez ou interrompê-la imediatamente, independente do tempo de gestação. Suporte à saúde A antecipação terapêutica do parto pode ser realizada apenas em hospital que disponha de estrutura adequada ao tratamento de complicações eventuais, inerentes aos respectivos procedimentos. Planejamento familiar De acordo com o documento do CFM, as pacientes deverão ser informadas pelo médico sobre os riscos de recorrência da anencefalia em gestações futuras. Se desejarem, poderão ser referenciadas para programas de planejamento familiar com assistência à contracepção, enquanto essa for necessária, e à pré-concepção. A pré-concepção é bem-vinda para que a mulher possa providenciar os cuidados necessários que deverão anteceder uma nova gestação (estudos indicam, por exemplo, que o uso diário de cinco miligramas de ácido fólico, por pelo menos dois meses antes da gestação, reduz pela metade o risco de anencefalia). 10 PLENÁRIO E COMISSÕES Direitos humanos Atenção à gestante presa está em debate Uso de algemas durante atendimento médico motiva discussões éticas e bioéticas sobre a dignidade da pessoa humana Foco no paciente: o CFM está preocupado com os direitos das gestantes presas A plenária do Conselho Federal de Medicina (CFM) recebeu, no dia 10 de maio, o presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), Herbert José de Almeida Carneiro, para falar sobre os procedimentos adotados para o atendimento às presas gestantes e parturientes. Atualmente, o tema é tratado na Súmula Vinculante nº 11 do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabelece que o uso de algemas só é lícito em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física do detento ou de outras pessoas. Alguns conselheiros consideram que, na maioria dos casos, a própria condição de vulnerabilidade da gestante não pode oferecer cenário que justifique uma coerção compulsória. Em São Paulo, por exemplo, o uso de algemas durante o trabalho de parto da presa e no subsequente período de internação ficou proibido após decreto publicado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo o presidente do CNPCP, dados de 2010 apontam 27 mil mulheres em um universo de 510 mil presos. Mas faltam dados precisos sobre a quantidade de gestantes e parturientes. “O Brasil está se mostrando um país próspero, mas avançamos pouco na questão prisional. Em muitos quesitos, temos regredido e reconhecer isso é o ponto de partida para que possamos melhorar. A solução está exatamente em discutirmos com outras instituições os meios para garantirmos a segurança e a preservação dos direitos humanos”, apontou Carneiro. “O grande problema é o risco bilateral da integridade – a integridade moral do aprisionado pelo uso da algema e a integridade física de quem está examinando. O mais importante é garantir a segurança do paciente e do médico”, avaliou o conselheiro Hermann von Tiesenhausen. Para o conselheiro Emmanuel Fortes, “existe atualmente uma confusão das instituições encarregadas de manter as pessoas sob tutela e é necessário colocar uma distinção entre atos excessivos e atos necessários”. Algemas em parturientes geram debate O ciclo de discussões entre o Conselho Federal de Medicina e o CNPCP começou com uma reunião na sede do Ministério da Justiça, no dia 27 de fevereiro, motivada pelo surgimento de denúncias envolvendo o uso de algemas em parturientes. Na ocasião, o conselheiro federal suplente Alceu Pimentel comentou as atuais condições de assistência obstétrica no Brasil, mostrando as dificuldades e a falta de estrutura do sistema. Esse panorama torna, segundo ele, o problema da assistência obstétrica para presidiárias um desafio adicional. “O CFM não concorda que pacientes sejam atendidas subjugadas por algemas. O aparato policial deve garantir a segurança da equipe de saúde e da sociedade”, avaliou. Esse encontro – do qual também participaram representantes dos enfermeiros – fez parte de um primeiro ciclo de aproximação para compartilhamento de informações e análises sobre temas relativos à preservação da dignidade da pessoa humana. Está sendo estudada a possibilidade de o CFM e o CNPCP emitirem resoluções conjuntas normatizando o assunto tanto para os médicos como para os componentes do aparato de segurança. José Antonio Ribeiro Filho “O médico tem que ser, antes de tudo, alguém que respeite os direitos humanos” Médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1965, o conselheiro federal José Antonio Ribeiro Filho é especialista em Mastologia e em Ginecologia. Em seu currículo, está a presidência da Sociedade Brasileira de Mastologia e a atuação como diretor do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) – onde fundou a Unidade de Mastologia, em 1984. No Distrito Federal, também atuou na Secretaria de Estado de Saúde, no Sindicato dos Médicos, na Associação Médica e na Academia de Medicina, na qual foi presidente. Ao jornal Medicina, discorre sobre o flagrante desrespeito à dignidade denunciado no atendimento a presas gestantes e parturientes: Jornal Medicina – Como o senhor avalia algumas cenas de parturientes algemadas exibidas pela mídia no ano passado? José Antonio Ribeiro Filho – É pacífico o entendimento de que não há como concordar com esse tipo de contenção. Claro que deve haver um aparato de segurança que restrinja o acesso de pessoas não autorizadas, que garanta a segurança do médico, da paciente e da equipe, mas devemos lembrar que este é um momento muito importante, pois são dois seres ali, um sofrido pela prisão e outro – inocente – que está nascendo e será recebido, infelizmente, em um ambiente que muitas vezes não é o mais propício. JM – O senhor já teve contato com essa realidade? JARF – Eu tive uma experiência há alguns anos com a Rede Feminina de Combate ao Câncer, quando atuava como chefe da Unidade de Mastologia do HBDF. Em 2003, visitamos a penitenciária feminina do Distrito Federal e oferecemos uma palestra para as detentas sobre prevenção do câncer de mama. Também examinamos cerca de 300 presas (apenas oito não quiseram fazer o exame) e encontramos dez com alterações na mama que precisavam ser melhor esclarecidas e que foram encaminhadas para a mamografia e o tratamento adequado. Foi uma experiência muito gratificante poder ter ido e conversado com elas. JORNAL MEDICINA - MAI/2012 JM – Qual o papel do CFM nesse debate? JARF – O CFM tem a missão de normatizar certos aspectos, com diretrizes específicas, junto com setores da área de direitos humanos, da área jurídica e da área carcerária e penitenciária. Mas outros segmentos também precisam agir. É preciso promover a educação, não só educação para a saúde, mas a educação em geral, para criar condições que lhes permitam sair do presídio e se reintegrar à sociedade. É uma questão social ampla que merece ser debatida em sua complexidade. JM – Qual o papel do médico – e de sua consciência social e inclinação humanística – nessa discussão? JARF – Eu acho que ser médico é, antes de tudo, ter sensibilidade para ver o paciente como um todo, independentemente de sua condição social. Às vezes, a pessoa não precisa só do diagnóstico de uma doença, ela precisa ser ouvida. Às vezes, ela tem mais problemas – e mais sérios – do que a patologia que motivou sua ida ao médico. No caso de mulheres presas, acho que temos que lutar não só pela saúde dessas mulheres como para reintegrálas ao meio social. O médico tem que ser, antes de tudo, alguém que respeite os direitos humanos, o interesse e a integridade do paciente. PLENÁRIO E COMISSÕES 11 Consentimento informado Médicos contarão com recomendações Entidade quer discutir papel desse instrumento como meio para fortalecer a relação médico-paciente Autonomia: o termo em elaboração estimulará a relação médico-paciente O Conselho Federal de Medicina (CFM) estuda a elaboração de recomendações para o chamado “termo de consentimento livre e esclarecido”. Este tra- balho está em andamento no âmbito da Câmara Técnica de Bioética da entidade, um foro multidisciplinar composto por representantes da Medicina, Direito, Filosofia, Enfermagem, Bioética, Psicologia etc. O foco do grupo – que optou pela designação “consentimento informado e esclarecido” – é a abordagem da autonomia e a valorização da relação médico-paciente. O consentimento esclarecido é entendido como instrumento de diálogo na prática clínica e em pesquisa médica, uma vez que, após receber informações, o paciente aceita – inclusive formalizando por escrito, se necessário – um tratamento específico ou experimentação, saben- O que dizem as normas atuais Atualmente, o Código de Ética Médica (Resolução CFM 1.931/09) aborda o assunto no Capítulo IV, art. 22, que veda ao médico “Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”. As diretrizes da resolução devem ser seguidas não só por aqueles que exercem atividades médicas, mas também pelos profissionais médicos envolvidos com a docência e pesquisa. A resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que criou o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) torna obrigatória a presença do consentimento livre e esclarecido para pesquisa. Segundo o documento, “o respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa”. A norma detalha ainda os requisitos e os itens que devem ser abordados, bem como a conduta no caso em que haja qualquer restrição à liberdade ou ao esclarecimento necessários para o adequado consentimento. Medicina baseada em evidências Facilitado acesso a periódicos científicos Os 370 mil médicos brasileiros já podem ter acesso a conteúdos científ icos de maior qualidade. Os ministérios da Saúde e da Educação, com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), lançaram, em 29 de maio, o portal “Saúde Baseada em Evidências”. O endereço da nova plataforma é http:// periodicos.saude.gov.br/. O CFM disponibilizou informações de seu banco de dados que permitirão o acesso à plata- forma de forma gratuita. Para autenticação de entrada no Saúde Baseada em Evidências, foram def inidos quatro camposchave: nome do profissional, número de inscrição no conselho regional de medicina, unidade da Federação e data de nascimento. “Por meio da pesquisa a conteúdos cientif icamente relevantes, os médicos poderão atuar integrando o conhecimento à experiência clínica e à gestão”, avaliou o membro da Comissão de Ensino Médico do Conse- lho Federal de Medicina (CFM), conselheiro Dalvélio Madruga, que representou a entidade na solenidade de lançamento, em Brasília. A novidade benef iciará, além dos médicos, cerca de 1,5 milhão de outros prof issionais de saúde. A meta é contribuir para o aperfeiçoamento do trabalho e incentivar a educação continuada aos prof issionais de saúde, oferecendo o que há de melhor na produção científ ica mundial. JORNAL MEDICINA - MAI/2012 do dos métodos empregados, consequências ou potenciais riscos. As recomendações do CFM sobre esse consentimento poderão abranger diversos aspectos, como a opção pela via verbal ou escrita, formas de leitura e entendimento do paciente, recusa do procedimento, estímulo ao diálogo, relação de confiança, anotações no prontuário, entre outros. “Os médicos estão esperando esse passo nosso; que possamos apontar as diretrizes, o nosso entendimento sobre o papel do termo de consentimento livre e esclarecido sobretudo como instrumento para fortalecer a relação médico-paciente”, afirmou o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila. Giro médico Bioética – São Paulo sediou, de 16 a 19 de maio, o 8º Congresso Internacional de Bioética Clínica, realizado desde 2003 em um país diferente a cada ano. O CFM foi representado pelo secretáriogeral, Henrique Batista, e pelo 1º vice-presidente, Carlos Vital. Em 2013, o congresso será realizado em Munique, na Alemanha. Saúde suplementar – A Comissão Distrital de Honorários Médicos (CDHM) promoveu, no dia 19, em Brasília, o I Seminário sobre o Sistema de Saúde Suplementar do DF. O evento discutiu os temas gestão da empresa de saúde, o médico e suas representações na saúde suplementar, além do mercado da medicina privada. Academias – A Academia Goiana de Medicina realizou no dia 4 de maio, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, o I Seminário das Academias de Medicina do Centro-Oeste. O 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, proferiu a palestra “Bioética em saúde: desafios para sua contextualização na modernidade”. Urgência e emergência – O Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia (Cremero) promoveu, nos dias 4 e 5 de maio, o I Curso e I Fórum de Urgência e Emergência Médica. O coordenador da câmara técnica do CFM que analisa o tema, Mauro Ribeiro, ministrou a palestra “Considerações éticas nas urgências”. Judicialização – A palestra de abertura do I Fórum de Direito Médico e Judicialização da Saúde – também realizada pelo Cremero, nos dias 29 e 30 – ficou a cargo do presidente do CFM, Roberto d’Avila, que comentou que grande parte das decisões médicas foi transferida aos tribunais, tipo de ação que, segundo ele, fere a autonomia do médico. Salário aviltante – O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) vai entrar com ação para cancelar a contratação temporária de médicos pela prefeitura de Nilópolis. O edital publicado no Diário Oficial do município propõe o salário de R$ 622. ÉTICA MÉDICA 12 Estímulo acadêmico CRM do Paraná premia monografias Tradicional concurso, promovido há 24 anos, trata do tema Prontuário Médico Eletrônico; inscrições vão até 13 de agosto Tradição: o prêmio - entregue há 24 anos - valoriza a curiosidade científica e ética E stão abertas, até 13 de agosto, as inscrições para o 23º Concurso de Monografias sobre Ética Médica, Bioética e Profissão Médica do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR). O objetivo da tradicional iniciativa – promovida há 24 anos pelo regional paranaense – é divulgar temas sobre ética médica, bioética e da profissão médica, e estimular o pensamento e o debate ético sobre temas de interesse da sociedade e da comunidade médica. Com o tema “Prontuário Médico Eletrônico: validade e implicações ético-legais do compartilhamento de dados”, o concurso é aberto a todos os cidadãos brasileiros, independente da formação ou profissão As monografias devem ser inéditas, podendo ter mais de um autor. O conteúdo deve seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e ter, no mínimo, 35 mil e, no máximo, 55 mil caracteres (com espaços), contabilizados da introdução à conclusão. Pode conter material ilustrativo. O autor do trabalho classificado em primeiro lugar receberá o prêmio de R$ 7.500, cabendo ao segundo lugar, se escolhido, a premiação de R$ 3.000 (em ambos os casos incidirá desconto dos impostos previstos em lei – IRRF e INSS), além de certificado pela contribuição à atividade médica. Poderá ainda ser conferida “Menção Honrosa” a outros trabalhos, conforme decisão da comissão julgadora. O resultado da comissão julgadora será apresen- tado no final de setembro. A premiação ocorrerá durante os festejos do Dia do Médico, em outubro. Confira o regulamento completo do concurso no site do CRM-PR ou, diretamente, pelo link http:// bit.ly/JOKccn (Resolução 186/12) – ou encaminhe dúvidas para imprensa@ crmpr.org.br. Estudantes de RO terão Código de Ética O Cremero prepara o lançamento, nas próximas semanas, do Código de Ética do Estudante de Medicina do Estado de Rondônia. Trata-se de um conjunto de regras que detalha os direitos e deveres que norteiam a formação dos futuros profissionais. “A medicina é atividade eminentemente humanitária e social que tem na relação médico-paciente o seu pilar principal, cujo alvo é o ser humano e sua saúde. Assim, o estudante de medicina deve ser qualificado não apenas para ser um técnico na área, mas, essencialmente, para que possua bases éticas, morais e humanas que o habilitem para o bom desempenho da profissão”, ressaltou a presidente do conselho rondoniense, Maria do Carmo Wanssa, na apresentação do texto. Personagem médico “Não somos insensíveis. Só precisamos agir com razão e segurança” Em meio à agitação do pronto-socorro da Santa Casa de Campo Grande (MS), a médica Yassuko Ueda Purisco caminha a passos firmes pelos corredores do hospital, dando exemplo de equilíbrio, serenidade e amor pela profissão praticada há 47 anos. A nissei Yassuko nasceu na cidade de Guaiçara, no interior de São Paulo, e ingressou na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 1960. Foi a primeira cirurgiã de Mato Grosso e umas das primeiras médicas do Brasil a especializar-se em cirurgia geral. Ao falar sobre seu trabalho de 30 anos como cirurgiã – que deixou somente para dedicar-se à família –, comenta a rotina de 12 horas diárias de trabalho, intercaladas com plantões semanais no CTI e no pronto-socorro da Santa Casa. Nesta rotina, encontrou ainda espaço para se dedicar a atividades institucionais. Foi, por duas vezes, conselheira do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) e conselheira da Unimed e da Unicred locais. Ela é citada como um dos médicos que nos primeiros vinte anos da admissão no corpo clínico da Santa Casa de Campo Grande assumiram com extrema dedicação o tratamento clínico ou cirúrgico dos pacientes carentes, que de outra forma estariam desassistidos. “Cidadãos do bem esses [médicos] que, acalentando um porvir de fraternidade, puderam levantar um monumento de fé e altruísmo, graças ao emparceiramento e à devoção de legítimos sacerdotes da medicina que reverenciamos”, diz o texto publicado no site da Fundação Centro de Estudos da Santa Casa, ao colocá-la entre os 61 médicos pioneiros da instituição – apenas duas mulheres são mencionadas nesse time. Apaixonada pelo que faz, até nas horas vagas Yassuko se dedica à leitura de livros relacionados à medicina. Para manter o pique, que é de dar inveja a muitos residentes, pratica musculação três vezes por semana. Ao dividir sua história, ela conta que, ao ingressar na faculdade de Medicina, a sua turma tinha aproximadamente 60 alunos – apenas oito mulheres, destaque-se. Em época na qual as possibilidades das mulheres nos campos profissional e educacional era bastante limitada, Yassuko conta que ela e suas colegas foram recebidas em condição de respeito e igualdade pela turma e que só se deparou com o preconceito depois de formada. “Não aceitavam mulheres médicas naquela época”, explica. Para manter a tranquilidade em meio à correria do Yassuko Ueda Purisco: pioneira e exemplo de dedicação à medicina pronto-socorro e trabalhando em ritmo acelerado, destaca o equilíbrio e a sensatez como atributos essenciais. “A única coisa que não podemos perder é a serenidade. As pessoas dizem que os médicos não têm sensibilidade. Não somos insensíveis. Só precisamos agir com razão e segurança”, diz. Texto e foto: Jornal do Médico do CRM-MS/edição CFM JORNAL MEDICINA - MAI/2012 Para Yassuko, a medicina é a coisa mais importante de sua vida, depois apenas de sua família. “É minha vida, meu trabalho. É gratificante saber que, ao longo desses anos, pude ajudar pessoas. São muitos casos, não me lembro de todos. Mais me sinto realizada quando alguém se lembra do meu trabalho”.