UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
ANDERSON ELIAS BIANCHI
GORDURA PROTEGIDA DE ÓLEO DE PALMA NA ALIMENTAÇÃO
DE OVELHAS LACAUNE EM LACTAÇÃO
DISSERTAÇÃO
DOIS VIZINHOS
2014
ANDERSON ELIAS BIANCHI
GORDURA PROTEGIDA DE ÓLEO DE PALMA NA ALIMENTAÇÃO
DE OVELHAS LACAUNE EM LACTAÇÃO
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em
Zootecnia, do Programa de Pós-Graduação em
Zootecnia, Universidade Tecnológica Federal
do
Paraná.
Área
de
Concentração:
Ovinocultura de leite.
Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paulo
Macedo
Co-Orientador: Dr. João Ari Gualberto Hill
DOIS VIZINHOS
2014
B577g
Bianchi, Anderson Elias
Gordura protegida de óleo de palma na alimentação de ovelhas Lacaune
em lactação / Anderson Elias Bianchi. -- 2014.
59 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paulo Macedo
Coorientador: Prof. Dr. João Ari Gualberto Hill
Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. Dois Vizinhos, PR, 2014.
Bibliografia: f. 57 – 59.
1. Composição centesimal. 2. Dinâmica corporal. 3. Ovinocultura
leiteira. 4. Produção de leite. I. Macedo, Vicente de Paulo, orient. II. Hill,
João Ari Gualberto, coorient. III. Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. IV. Título.
CDD (22. ed.) 636
Ficha Catalográfica elaborada por
Suélem Belmudes Cardoso CRB9/1630
Biblioteca da UTFPR Campus Pato Branco
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Diretoria do Câmpus Dois Vizinhos
Gerência de Ensino e Pesquisa
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia
PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
TERMO DE APROVAÇÃO
Título da dissertação Nº 027
GORDURA PROTEGIDA DE ÓLEO DE PALMA NA ALIMENTAÇÃO DE
OVELHAS LACAUNE EM LACTAÇÃO
por
Anderson Elias Bianchi
Esta dissertação foi apresentada às 14h00min do dia 28 de Fevereiro de 2014, como requisito
parcial para obtenção do título de MESTRE EM ZOOTECNIA, Linha de Pesquisa –
Produção Animal, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (Área de concentração:
Ovinocultura de leite), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos.
O candidato foi argüido, pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo
assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ (Obs.: as assinaturas se encontram na versão impressa).
Dr. André Luís Finkler da Silveira
(IAPAR)
Profª. Drª. Sirlei Aparecida Maestá
(UNESP)
Profª. Drª. Emilyn Midori Maeda
(UTFPR)
Prof. Dr. Vicente de Paulo Macedo
(UTFPR)
Orientador
Dr. João Ari Gualberto Hill
(IAPAR)
Co-Orientador
Visto da Coordenação:
Prof. Dr. Ricardo Yuji Sado
Coordenador do PPGZO
UTFPR – PPGZO
Estrada para Boa Esperança, Km 04 85.660-000 Dois Vizinhos PR Brasil
Fone: +55 (46) 3536-8900
Aos meus pais Adilson e Marlise, por me incentivar sempre desde
meus primeiros passos, estando do meu lado, me dando condições
para que eu pudesse realizar com sucesso todas as atividades e
objetivos.
A minha irmã Andressa, meus avós Pierina, João e Merly, pelas
ajudas, orações e estar sempre me apoiando e incentivando nos
estudos e trabalhos.
À minha namorada Talyta, pela companhia, ajudas e incentivos e
principalmente pela compreensão estando sempre ao meu lado em
todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e minha irmã por me apoiarem e me deram condições em todos os
momentos de minha caminhada.
Aos meus avós e a minha Madrinha Catarina, pelas orações, ajudas e incentivos,
estando sempre me apoiando em meus estudos.
À minha namorada, pela companhia, ajudas e principalmente pela compreensão,
estando sempre ao meu lado me incentivando.
Ao meu tio Frei Joarez, meu grande amigo, pelas inúmeras ajudas e incentivos, me
motivando e me orientando em minha caminhada.
Ao meu orientador professor Dr. Vicente de Paulo Macedo, que aceitou me orientar e
sempre esteve me apoiando em novos desafios, me repassando seus conhecimentos e suas
experiências.
Ao pesquisador do IAPAR e meu eterno professor e amigo Dr. André Luís Finkler da
Silveira que esteve sempre pronto para ajudar, me incentivando em todos os momentos.
Ao meu co-orientador e amigo João Ari Hill, pela amizade e ajudas, estando sempre
a disposição para ajudar.
Aos professores da pós-graduação pelos conhecimentos e experiências repassados a
nós.
Aos colegas e amigos do grupo de pesquisa de pequenos ruminantes Rafael e Gisele,
pelas ajudas e amizades.
Aos colegas e amigos de mestrado Renato, Josinaldo, Sidney, Rasiel, Sandro,
Leandro, Api, Douglas, Marcelo, Tiago, Silvonei, pelas amizades e companheirismo.
Aos futuros Zootecnistas da UDESC Alexandre, Amanda, Angélica, Edimar,
Eriélcio, Gilberto, Helen, Tafarel, Talyta, Vanessa, Vinícius, pelas ajudas no experimento e
pelas amizades, serei sempre grato a vocês.
Aos professores e grandes amigos do curso de Zootecnia da UDESC Alekssandro e
Julcemar, que sempre estiveram à disposição para realização de trabalhos.
A Professora Neila, doutorando Luis Gustavo Pellegrini e todo o grupo de pesquisa
da tecnologia de alimentos da UFSM pela realização das análises e parcerias em trabalhos
com leite ovino.
Ao proprietário da Cabanha Chapecó Sr Erico e a todos os atuais e ex colaboradores
e amigos Cristiano, Rosana, Marcelo, Jordão pelas amizades e ajudas, serão sempre
lembrados.
A UTFPR pela disponibilidade de um curso de mestrado em Zootecnia e a todos os
professores do programa.
Enfim, a todos que de alguma maneira colaboraram não apenas no meu curso de
mestrado, mas em toda a minha caminhada humana e profissional até aqui, a todos...
Muito Obrigado!
“Cada sonho que você deixa pra trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”
(JOBS, Steve)
“A melhor maneira de nos prepararmos para o futuro é concentrar toda a imaginação e
entusiasmo na execução perfeita do trabalho de hoje.”
(CARNEGIE, Dale)
“O Futuro tem vários nomes. Para os fracos e covardes, chama-se Impossível. Para os
comodistas, Inútil. Para os pensadores e os valentes, Ideal.”
(HUGO, Victor)
“Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba
essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus
filhos”
(EINSTEIN, Albert)
“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica: a
vontade.”
(EINSTEIN, Albert)
“A diferença entre uma pessoa de sucesso e as outras não é falta de força, nem a falta de
conhecimento, mas particularmente a falta de determinação.”
(LOMBARDI, Vince)
Para se ter sucesso, é necessário amar de verdade o que se faz. Caso contrário, levando em
conta apenas o lado racional, você simplesmente desiste. É o que acontece com a maioria das
pessoas.”
(JOBS, Steve)
RESUMO
BIANCHI, Anderson Elias. Gordura protegida de óleo de palma na alimentação de ovelhas
Lacaune em lactação. 2014. 63p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Programa de PósGraduação em Zootecnia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Dois Vizinhos, 2014.
A ovinocultura leiteira, atividade comum nos países europeus e asiáticos, vem crescendo nos
últimos anos no Brasil. Além de produzir leite com altos teores de sólidos, os seus derivados
são considerados alimentos funcionais, devido os benefícios à saúde. Com isso, o objetivo do
trabalho foi avaliar o efeito dos níveis de óleo de palma na forma protegida na alimentação de
ovelhas lactantes da raça Lacaune sobre a dinâmica corporal, produção e composição do leite.
Foram utilizados quatro tratamentos com nove repetições, sendo os tratamentos constituídos
0,0%; 2,0%; 4,0% e 6,0% de gordura protegida de óleo de palma no concentrado dos animais.
A dieta foi balanceada e ajustada por animal após a pesagem do leite, sendo isoproteica,
isoenergética e com a mesma relação volumoso/concentrado, utilizando a silagem de milho
como volumoso em todos os tratamentos. As pesagens de leite e coleta para análise da
composição centesimal foram realizadas semanalmente nas primeiras sete semanas de
lactação e a cada quinze dias nas semanas subsequentes, sendo que o período experimental
compreendeu toda a lactação de 182 dias. O aumento dos níveis de gordura protegida na dieta
resultou em um menor ganho de peso e menor condição corporal dos animais (P<0,05). O
tratamento com 6,0% de gordura protegida apresentou a maior produção de leite (P<0,05). O
teor de gordura no leite apresentou efeito linear positivo (P<0,05), enquanto que o teor de
proteína, lactose e extrato seco desengordurado apresentaram efeito linear negativo (P<0,05).
O teor de extrato seco total no leite, não apresentou efeito (P>0,05). Em relação à produção
total de sólidos no leite (gordura, proteína, lactose, extrato seco total e extrato seco
desengordurado) não houve efeito (P>0,05) em nenhuma variável. A utilização de gordura
protegida de óleo de palma se mostrou eficiente para aumento na produção e gordura no leite
de ovelhas Lacaune.
Palavras-chave: Composição centesimal. Dinâmica corporal. Ovinocultura leiteira. Produção
de leite.
ABSTRACT
BIANCHI, Anderson Elias. Protected fat of palm oil in feeding lactating ewes Lacaune. 2014.
63p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Dois Vizinhos, 2014.
The dairy sheep business, common activity in European and Asian countries, has been
growing in recent years in Brazil. In addition to producing milk with high solids contents, its
derivatives are considered functional foods because of the health benefits. Thus, the objective
of this study was to evaluate the levels of palm oil in protected form in the feeding of lactating
ewes of the Lacaune breed on body dynamics, production and milk composition. Four
treatments were used with nine replications, with treatments consisting of 0.0%, 2.0%, 4.0%
and 6.0% fat protected palm oil in concentrated animal. The diet was formulated and adjusted
per animal after weighing the milk, isoproteic, isoenergetic with the same forage / concentrate
ratio, using corn silage as roughage in all treatments. The weight of milk and collection for
analysis of chemical composition seven weeks of lactation and every fortnight in subsequent
weeks were performed weekly during the first, and the experimental period comprised the
whole lactation period of 182 days. The increased levels of protected fat in the diet resulted in
less weight gain and lower body condition of the animals (P<0.05). Treatment with 6%
protected fat showed the highest milk yield (P<0.05). The fat content in milk had a positive
linear effect (P<0.05), whereas the content of protein, lactose and solids nonfat showed
negative linear effect (P< 0.05). The content of total solids in milk, had no effect (P>0.05). In
relation to the total production of milk solids (fat, protein, lactose, total solids and solids non
fat) had no effect (P>0.05) in any variable. The use of protected fat from palm oil is efficient
to increase the production of milk fat and sheep Lacaune.
Keywords: Body dynamics. Dairy sheep breeding. Milk production. Proximate composition.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Comparação entre as curvas de lactação ajustadas, respectivamente, para os
diferentes níveis de gordura protegida 0,0%, 2,0%, 4,0% e 6,0%. .......................................... 48
Figura 2 - Teor de gordura no leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
protegida na fase inicial (a), fase intermediária (b), fase final (c) e durante o período todo de
lactação (d) de 182 dias. ........................................................................................................... 54
Figura 3 - Teor de proteína (a), lactose (b) e extrato seco desengordurado (c) de ovelhas
alimentadas com diferentes níveis de gordura protegida durante a lactação. ........................... 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Composição dos concentrados experimentais (% MS) ........................................... 38
Tabela 2 - Composição química dos alimentos utilizados nas dietas experimentais (% MS).. 39
Tabela 3 - Peso Vivo Corporal (kg), Escore de Condição Corporal (ECC) e Consumo de
Matéria Seca (MS) de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura protegida ........ 43
Tabela 4 - Estimativas Bayesianas (médias, desvios-padrão) para os parâmetros do modelo da
curva de lactação ...................................................................................................................... 46
Tabela 5 - Produção de leite durante a lactação de ovelhas alimentadas com diferentes níveis
de gordura protegida. ................................................................................................................ 49
Tabela 6 - Teor de gordura no leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
protegida em diferentes fases da lactação................................................................................. 50
Tabela 7 - Composição centesimal do leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de
gordura protegida. ..................................................................................................................... 55
Tabela 8 - Produção total de gordura, proteína, lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco
desengordurado (ESD) do leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
protegida durante a lactação de 182 dias. ................................................................................. 59
LISTA DE ABREVIATURAS
a
Produção de Leite Inicial
AGCL
Ácidos Graxos de Cadeia Longa
AGPI
Ácidos Graxos Poli-insaturados
AGV
Ácidos Graxos Voláteis
b
Taxa de Acréscimo de Produção até o Pico
c
Taxa de Declínio de Produção após o Pico
CLA
Ácido Linoleico Conjugado
CV
Coeficiente de Variação
DIC
Delineamento Inteiramente Casualizado
dpp
Dia da Produção no Pico
ECC
Escore de Condição Corporal
EE
Extrato Etéreo
EM
Energia Metabólica
ESD
Extrato Seco Desengordurado
EST
Extrato Seco Total
FB
Fibra Bruta
FDN
Fibra em Detergente Neutro
MM
Materia Mineral
MS
Matéria Seca
NDT
Nutrientes Digestíveis Totais
PB
Proteína Bruta
pH
Potencial Hidrogenionico
pKa
Constante de Acidez
pp
Produção no Pico
PV
Peso Vivo
s
Persistência em Meses
LISTA DE ACRÔNIMOS
ARCO
Associação Brasileira de Criadores de Ovinos
FAO
Food Agriculture Organization
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
NRC
National Research Council
UDESC
Universidade do Estado de Santa Catarina
UnC
Universidade do Contestado
USDA
United States Department of Agriculture
UTFPR
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
LISTA DE SÍMBOLOS
%
Percentual
®
Marca registrada
°C
Grau Celsius
g
Grama
kg
Quilograma
L
Litro
t
Tonelada
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18
2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 18
3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 19
3.1 OVINOCULTURA LEITEIRA ......................................................................................... 19
3.2 PRODUÇÃO DE LEITE .................................................................................................... 20
3.3 BALANÇO ENERGÉTICO NEGATIVO ......................................................................... 21
3.4 CONSUMO DE NUTRIENTES ........................................................................................ 22
3.5 SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEOS ................................................................................. 23
3.6 ÓLEO DE PALMA ............................................................................................................ 25
3.7 TEOR DE SÓLIDOS NO LEITE – COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DO LEITE DE
OVELHA .................................................................................................................................. 25
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 27
4 DESENVOLVIMENTO ...................................................................................................... 33
Capítulo I: Desempenho Produtivo e Composição do Leite de Ovelhas Lacaune Alimentadas
com Gordura Ruminalmente Inerte de Óleo de Palma ............................................................. 34
Introdução ............................................................................................................................... 36
Material e Métodos ................................................................................................................. 37
Resultados e Discussão ........................................................................................................... 42
Considerações Finais .............................................................................................................. 59
Referências .............................................................................................................................. 60
15
1 INTRODUÇÃO
Segundo a FAO, existem 1,08 bilhões de ovinos no mundo, produzindo cerca de 9,0
milhões de toneladas de leite, o que representa 1,37 % do total de leite produzido, e
aproximadamente 1.077.276.081 de cabeças (FAOSTAT, 2011), porém no Brasil, a
ovinocultura de leite é uma atividade recente com poucos dados disponíveis (EMEDIATO et
al., 2009). O Estado de Santa Catarina ainda é incipiente na produção de ovinos, possui
apenas 1,7% do rebanho nacional, porém é na região Oeste do estado que se concentra a
maior parte do rebanho, com 42,34% (IBGE, 2010).
A ovinocultura de leite foi impulsionada na região pela instalação de unidades de
beneficiamento, incentivo de órgãos públicos e principalmente pela iniciativa inovadora de
alguns criadores. Atualmente a principal utilização do leite é para a produção de queijos finos,
iogurtes e sorvetes. O interesse cada vez mais frequente dos consumidores por esse tipo de
produto constitui uma excelente oportunidade comercial no setor lácteo, considerando que o
leite de ovelha apresenta compostos com ação benéfica à saúde humana (McGUIRE;
McGUIRE, 1999).
Durante o período de lactação as ovelhas possuem uma elevada exigência energética,
geralmente, o volumoso ofertado apresenta teores médios de energia, portanto, para o que
ocorra o atendimento desta exigência, o animal necessita consumir grandes quantidades de
alimento, o que se torna geralmente impossível devido ao consumo ser regulado pelo teor de
fibra em detergente neutro (FDN) que a dieta apresenta e também pela reduzida capacidade de
ingestão de matéria seca no período após o parto. Portanto, mesmo ao fornecer quantidades
elevadas de concentrados, as fêmeas em lactação sempre apresentarão uma deficiência de
energia, o que pode ser comprovado pela inevitável perda de peso.
Os requisitos de alta energia para a produção de leite, a limitada capacidade de
ingestão de alimentos durante o período de lactação e o comprometimento de manter o
mínimo de fibra na dieta animal para manutenção da fermentação ruminal, apontam as
necessidades da utilização de fontes de gorduras na alimentação de ovelhas lactantes
(CASTRO et al., 2004).
Uma das possibilidades de melhorar o aporte energético das ovelhas em lactação é a
utilização de gordura na dieta. Porém essa inclusão como forma de permitir um alto consumo
de energia nem sempre é método eficaz, uma vez que altos níveis de gordura podem reduzir a
digestão da matéria seca no rúmen provocando, consequentemente, uma menor
16
disponibilidade de energia. Óleos vegetais quando fornecidos em sua forma natural e em
quantidade elevada podem ocasionar efeitos negativos para o animal como a diminuição da
digestibilidade das frações fibrosas da dieta, para minimizar a ocorrência desses problemas
sugere-se o uso de gorduras inertes ao ambiente ruminal. O termo gordura inerte, refere-se à
redução do efeito negativo que certos lipídios exercem sobre o metabolismo de protozoários e
bactérias no rúmen (SMITH, 1990).
O método mais indicado para se evitar os efeitos negativos que a gordura apresenta
na fermentação ruminal é o fornecimento de sais de cálcio de ácidos graxos (gordura
protegida) (BONA FILHO; OTTO; LEME, 1994).
A suplementação alimentar com fontes de gordura vegetal proporciona o aumento do
teor de gordura do leite e modificação do perfil lipídico. Estes resultados são mais evidentes
quando a gordura é fornecida na forma de sais de cálcio, resistindo à biohidrogenação no
rúmen e sendo dissociada no abomaso (MORAND-FEHR et al., 1981; LANZANI et al.,
1985). Alterações no perfil dos ácidos graxos em resposta à suplementação da dieta com óleos
alimentares são dependentes da quantidade de óleo adicionado na dieta, do perfil de ácidos
graxos do suplemento, da forma do suplemento lipídico e da composição da dieta
(SHINGFIELD et al., 2008). Os suplementos lipídicos de origem vegetal podem ser
fornecidos sob diferentes formas, desde sementes de oleaginosas inteiras, sabões cálcicos ou
sob a forma de óleos (TORAL, 2010).
Para se obter maior eficiência de proteção dos sais de cálcio de ácidos graxos
insaturados é necessário manter um pH relativamente alto através da utilização de agentes
alcalinizantes ou substâncias tamponantes, aumento da frequência da alimentação ou
fornecimento dos sais de cálcio após a alimentação (VAN NEVEL; DEMEYER, 1996), pois
em situações de alto pH ruminal não ocorre a dissociação dos sais de cálcio de ácidos graxos
insaturados, e estes são então, parcialmente protegidos da biohidrogenação pela ausência de
um grupo carboxila livre (COSTA; CÁSSIA, PEREIRA, 2009).
Há diversos óleos que podem ser utilizados como fonte de ácidos graxos na forma de
gordura protegida na alimentação de ruminantes, dentre eles, o óleo de palma (óleo de dendê),
sendo obtido da polpa do fruto do dendezeiro (ARLAS, 2008). O óleo de palma possui
aproximadamente 50% de ácidos graxos saturados e 50% de ácidos graxos insaturados, sendo
rico em carotenóides, vitamina E e antioxidantes (CESCO; BIANCHI; MACEDO, 2013).
A adição de ácidos graxos na dieta de ovelhas leiteiras é tradicionalmente realizada
para evitar qualquer balanço energético negativo, principalmente durante algumas fases
críticas que incluem o terço final da gestação e a lactação. Apesar disto, seus efeitos sobre a
17
produção e composição do leite ainda não são claros. As pesquisas sobre o leite dessa espécie
no Brasil são poucas, havendo necessidade de se conhecer as características de produção e
composição do leite de ovelhas, oferecendo subsídios para a melhoria dos índices produtivos
e de qualidade do leite (PENNA, 2011).
18
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar os efeitos da utilização de gordura protegida de óleo de palma na produção
de leite, escore corporal, peso corporal e composição do leite de ovelhas da raça Lacaune.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Avaliar a mudança de peso e escore de condição corporal (ECC) em ovelhas
Lacaune durante a lactação;
- Medir a produção de leite e avaliar a curva de lactação dos animais;
- Analisar a produção e composição do leite (gordura, proteína, lactose, extrato seco
desengordurado e sólidos totais);
19
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 OVINOCULTURA LEITEIRA
O rebanho ovino situa-se em 4º lugar entre as espécies produtoras de leite do mundo,
com produção de 9.246.480 toneladas de leite em 2009, contra 578.450.488 toneladas de leite
de vaca, e aproximadamente 1.077.276.081 de cabeças (FAOSTAT, 2011), porém no Brasil, a
ovinocultura de leite é uma atividade recente com poucos dados disponíveis (EMEDIATO et
al., 2009). O Estado de Santa Catarina ainda é incipiente na produção de ovinos, possui
apenas 1,7% do rebanho nacional, porém é na região Oeste do estado que se concentra a
maior parte com cerca de 42,34% do rebanho (IBGE, 2010). A ovinocultura de leite foi
impulsionada na região pela instalação de unidades de beneficiamento, incentivo de órgãos
públicos e principalmente pela iniciativa inovadora de alguns criadores. Atualmente a
principal utilização do leite é para a produção de queijos finos, iogurtes e sorvetes.
O leite de ovelha in natura é uma fonte rica em cálcio e proteína de alta qualidade,
em países desenvolvidos o leite de pequenos ruminantes apresenta uma elevada valorização
no que se diz ao processamento de queijos e iogurtes (HAENLEIN, 2004). Estes tipos de
produtos advindos da produção de ovinos são uma alternativa viável para substituir o leite
bovino, pois apresentam sabor específico, tipicidade e sua imagem natural e saudável
(RAYNAL-LJUTOVAC et al., 2008).
O leite de ovelha se diferencia do leite das demais espécies por aspectos
característicos como a cor branca nacarada (porcelana), a opacidade mais marcada e a
viscosidade mais elevada em relação aos demais, possui uma maior resistência à proliferação
microbiana nas primeiras horas após a ordenha, que é justificada pela atividade imunológica
do próprio leite e pelo seu poder tampão, o que constitui uma característica vantajosa em
termos de conservação (Martins, 2000).
A forma mais concentrada do leite ovino em comparação com o de vaca possibilita o
processamento em derivados lácteos, em especial queijos finos, iogurte e sorvete, isso por
apresentar quantidade de sólidos mais elevada.
20
3.2 PRODUÇÃO DE LEITE
O leite é um produto integral resultante da ordenha total e ininterrupta produzido por
fêmeas saudáveis e bem alimentadas (MAHAUT et al., 2000). É considerado um dos
alimentos mais completos por apresentar vários elementos importantes para a nutrição
humana como matérias orgânicas e nitrogenadas, caseína e albumina, necessárias à
constituição dos tecidos e sangue, sais minerais para a formação do esqueleto e ainda,
vitaminas, certas diástases e fermentos láticos, estes últimos muito favoráveis à digestão e que
defendem o intestino da ação nociva de muitas bactérias patogênicas (MESQUITA et al.,
2004).
A variação da produção de leite de ovinos é afetada por diversos fatores, sendo os
mais comuns a raça, idade, estádio da lactação, número de cordeiros em aleitamento, nível
nutricional durante a gestação e lactação, ambiente, técnicas de ordenha, estado sanitário e
infecções de úbere (PEETERS et al., 1992; GONZALO et al., 1994; BENCINI, 2001).
Nas ovelhas a nutrição tem influência direta na síntese e nos índices de secreção da
gordura e proteína do leite, e também apresenta relação com as concentrações de minerais e
vitaminas. Além de poder afetar na contagem de células somáticas e na concentração
microbiana do leite (NUDDA et al., 2004). O período de lactação em que a ovelha se encontra
também afeta de forma efetiva a produção e composição do leite.
O pico da lactação é um fator fundamental na lactação de ovinos e varia entre a
segunda e quarta semanas pós-parto e é influenciado principalmente pelo número de cordeiros
por ovelha e pelo sistema de produção (CHURCH, 1993; BENCINI, 2002). Boujenane e
Lairini (1992) em experimento com ovinos das raças Sardi, D’man e seus cruzamentos
observaram que o pico de produção ocorreu na primeira semana de lactação. Hassan (1995)
demonstrou em seu trabalho, que o pico de lactação para raças de alta produção leiteira pode
ocorrer mais tarde, em torno da sétima semana após o parto.
Após o período de pico, ocorre o declínio na produção de leite de forma mais o
menos expressiva, isto em função do genótipo ou do potencial individual para a produção de
leite (BENCINI; PULINA, 1997). Para representar essa resposta fisiológica, Cappio-Borlino,
Macciotta e Pulina (2004) sugeriram que o modelo matemático de Wood, y = atbexp(-ct),
serviria muito bem; onde y é a produção média diária, “a”, “b” e “c” são os parâmetros
positivos que descrevem a lactação em ovelhas; o “a” é a produção inicial estimada, “b” é a
taxa de aumento na produção até o pico e “c” representa a taxa de decréscimo da produção
21
após o pico. Com a aplicação do modelo, os autores obtiveram valores que oscilaram de 934 a
2599 para “a”, 0,034 a 0,32 para “b” e 0,0045 a 0,041 para “c”, sempre expressos em gramas
por dia, e cuja oscilação foi prioritariamente relacionada ao genótipo estudado. Para ovelhas
que permanecem com os filhos, o declínio na curva de lactação é explicado pela diminuição
da intensidade de sucção dos cordeiros, devido ao comportamento da mãe em restringir a
amamentação, além disso o aumento progressivo da ingestão de alimento sólido por parte dos
cordeiros também diminui a necessidade do consumo de leite (PEETERS et al., 1992),
explicando a redução na produção de leite materna.
3.3 BALANÇO ENERGÉTICO NEGATIVO
Os requisitos de alta energia para a produção de leite, a limitada capacidade de
ingestão de alimentos durante o período de lactação e o comprometimento de manter o
mínimo de fibra na dieta animal para manutenção da fermentação ruminal, apontam as
necessidades da utilização de fontes de gorduras na alimentação de ovelhas lactantes
(CASTRO et al., 2004).
Para suprir as necessidades energéticas e garantir o desempenho produtivo é
necessário assegurar uma adequada ingestão de energia, sendo uma das alternativas a adição
de gordura na dieta, segundo Vargas et al. (2002), a gordura tem 2,25 vezes mais conteúdo
energético que os carboidratos. Sabe-se que na alimentação animal são admitidos níveis
máximos de 6% de gordura sobre a matéria seca da dieta, visto que, acima deste valor, a
degradação ruminal é afetada. As consequências negativas dessa alteração, conforme é
demonstrado por Medeiros (2007) é devido principalmente ao efeito tóxico direto dos ácidos
graxos sobre microrganismos do rúmen, fato que explica as gorduras saturadas serem menos
problemáticas que as insaturadas.
No início da lactação, cabras leiteiras são muitas vezes obrigadas a recorrer a
reservas corporais, porque sua ingestão energética não satisfaz os requisitos. A suplementação
de gordura pode aumentar o teor de energia da ração, sem recorrer aos cereais, o que pode
causar fermentação ruminal indesejável e teor de gordura do leite mais baixo (BALDI, 1991).
O fornecimento de altos níveis de concentrado na dieta de ovinos leva à redução do
teor de gordura no leite, mas em contra partida aumenta os teores de proteínas e caseína, no
22
entanto quando a ovelha apresenta balanço energético negativo, haverá decréscimo da
proteína e aumento da gordura do leite (WENDORFF, 2002).
Alba et al. (1997) verificaram uma tendência para o aumento da produção de leite
após 35 dias de lactação quando ovelhas leiteiras foram suplementadas com ácidos graxos
para atingir a ingestão de energia mais altos. Os resultados destes e de outras experiências
sugerem que a capacidade de gordura na dieta para aumentar a produção de leite pode
depender do potencial genético da ovelha para aumentar a produção (SCOTT et al., 1995),
uma vez que consome mais nutrientes dietéticos (SCHAUFF; CLARK, 1992; SCHAUFF et
al., 1992; TEH et al., 1994).
Pulina et al. (2006), afirmaram que fêmeas ruminantes quando em lactação, tendem a
metabolizar reservas corporais para atender os requisitos da produção de leite. Em ovelhas o
balanço energético negativo afeta significativamente a composição do leite indicando que a
mobilização dos tecidos é mais expressiva. Em situações como esta se observa o aumento das
concentrações de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL) no leite, por absorção desses pela
glândula mamária, com redução do teor de gordura total e de ácidos graxos de cadeia curta. À
medida que as ovelhas restabelecem o balanço energético ao longo da lactação, há redução
dos teores de AGCL e aumento dos demais ácidos graxos.
3.4 CONSUMO DE NUTRIENTES
O terço final da gestação é a fase que o animal necessita de maior aporte de
nutrientes para que o feto apresente bom desenvolvimento e posteriormente a ovelha possa
mostrar potencial elevado de produção de leite.
Se os níveis energéticos da dieta não
apresentarem balanceamento correto para atender as necessidades, podem desencadear
problemas como dificuldade de parição, redução do instinto materno da ovelha, queda da
capacidade de produção de leite ou toxemia da prenhez por deficiência energética, sendo a
última mais comum em ovelhas, principalmente quando apresentam partos gemelares (NRC,
2007).
O tamanho da partícula é um aspecto importante da dieta, pois afeta diretamente na
mastigação e taxa de passagem do alimento. Existe a necessidade de se manter uma proporção
adequada na proporção volumoso:concentrado da dieta, para que ocorra a síntese adequada de
ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen. Ao fornecer altos níveis de concentrado na dieta de
23
ruminantes, combinado com tamanho reduzido das partículas de forrageiras, isso pode afetar
diretamente na ingestão e alterar a mastigação dos alimentos, consequentemente, trazer alguns
problemas metabólicos como a redução do pH ruminal, desencadeando quadros de acidose
láctica ruminal e comprometer a síntese de proteína microbiana. Esta condição pode ocasionar
queda da produção e diminuição da concentração de gordura do leite (BENCINI, 2002;
PULINA et al., 2006).
3.5 SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEOS
Diversas fontes de gordura podem ser utilizadas na suplementação de ovinos com
intuito de aumentar a concentração de energia bruta durante as fases mais críticas onde o
animal apresenta balanço energético negativo, essas fontes também modificam o conteúdo de
gordura e o perfil de ácidos graxos do leite. A gordura suplementar melhora a eficiência
energética de ruminantes lactantes, quando aumentando a ingestão de energia líquida,
favorece a distribuição de nutrientes no sentido da produção de leite (PALMQUIST, 1994).
A suplementação com gordura até 4-5% na matéria seca resulta no aumento dos
teores de sólidos do leite, no entanto, o fornecimento acima destes valores levam a depressão
da gordura e promovem redução na aderência dos microorganismos ruminais nas partículas de
alimento comprometendo a atividade microbiana no rúmen, ocasionando diminuição na
síntese de ácidos graxos de cadeia curta no leite e decréscimo na absorção de metabólitos do
sangue pela glândula mamária (NUDDA et al., 2004).
A gordura dietética tem também um papel específico como fonte de ácidos graxos
essenciais e precursores de síntese de gordura do leite. Muitos fatores são relevantes para a
produção de leite, em relação à composição do alimento, a forma da gordura, o estado
fisiológico, nível de produtividade etc.
Diversos óleos são utilizados como fonte de ácidos graxos na forma de gordura
protegida. O óleo de palma, também conhecido como óleo de dendê, é extraído da polpa
(mesocarpo) do fruto do dendê. Contém aproximadamente 50% de ácidos graxos saturados e
50% de insaturados. O óleo de palma é um alimento rico em tocotrienóis, uma forma de
vitamina E, dentre os benefícios à saúde permite a redução de colesterol circulante
(BASIRON, 2005; REKSON, 2007).
24
A gordura protegida corresponde a ácidos graxos de cadeia longa que ficam livres
em um processo de cisão dos triglicerídeos em óleos vegetais. Os ácidos graxos reagem com
sais de cálcio, unidos na forma de um sal (R-COO-Ca), popularmente conhecidos como
sabões de cálcio (NRC, 2007). Este composto mantém-se relativamente inerte no rúmen, em
condições normais de pH, mas dissocia-se completamente nas condições ácidas do abomaso,
aumentando a densidade energética da dieta sem afetar a utilização da forragem (JENKINS;
PALMQUIST, 1984).
A utilização de óleos ricos em ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) juntamente
com técnicas que reduzem a hidrogenação destes compostos no rúmen, possibilita a alteração
dos níveis de AGPI na composição do leite, a gordura protegida tem refletido no aumento de
gordura no leite de ovelhas e modificação do perfil de ácidos graxos, paralelamente a esse
efeito, é comum observar redução do teor de proteína do leite quando se utiliza esse tipo de
dieta (NUDDA et al., 2004).
O mecanismo exato para a depressão de proteína de leite que os suplementos de
gordura causam não é totalmente compreendido. As possíveis razões desta redução são
discutidos em vários estudos utilizando vacas leiteiras, tais como os efeitos de diluição,
quando a produção de leite aumenta, a redução da síntese de proteína microbiana, devido a
uma redução da ingestão de energia a partir de hidratos de carbono e as alterações no
metabolismo da glicose ou utilização metabólica de aminoácidos na glândula mamaria
(PALMQUIST et al., 1993).
O uso de gordura ruminal resistente como o sabão de cálcio de ácidos graxos na dieta
de ovelhas leiteiras, torna-se cada vez mais comum. Os principais objetivos do uso deste tipo
de fonte de gordura é o aumento da concentração energética da dieta para satisfazer as
exigências nutricionais dos animais principalmente durante a fase crítica de final de gestação
e início de lactação, visa também o aumento de sólidos no leite para maior rendimento dos
produtos lácteos, melhorando as propriedades organolépticas a partir da modificação do perfil
de ácidos graxos (GARGOURI et al., 2006).
Em um estudo Casals et al. (1999) avaliando os efeitos de suplementos alimentares
em ovinos leiteiros, observaram que o teor de gordura do leite aumentou acentuadamente
quando 200 g/kg de matéria natural de sabão de cálcio de ácidos graxos foi incluído no
concentrado.
25
3.6 ÓLEO DE PALMA
O teor de ácidos graxos encontrados em sementes oleaginosas varia de 18 % a 40 %,
e a maior parte dos lipídeos encontrados em plantas são do tipo insaturado. Na maioria dos
cereais e oleaginosas há predominância de ácido linoleico (18:2 n - 6) e, no caso de óleo de
palma, há uma predominância de ácido palmítico, oléico e linoléico (PALMQUIST;
MATTOS, 2006).
A espécie de palma (Elaeis guineensis Jacq.) é a cultura mais produtiva de óleo em
todo o mundo, resultando em uma média de 4,1 t de óleo vegetal por hectare por ano. De
acordo com o USDA, a produção total de óleo vegetal no mundo em 2011 foi de 155,8
milhões de toneladas, com o óleo de palma em primeiro lugar (50,7 t), seguido de óleo de soja
(42,4 t) e óleo de colza (24,3 t) (ROSILLO-CALLE et al., 2009).
O óleo de palma contém aproximadamente 50 % de ácidos graxo saturados, com 44
% de ácido palmítico (C16 : 0) , 5 % de ácido esteárico (C18 : 0). Os ácidos graxos
insaturados são cerca de 40 % de ácido oleico ( C18 : 1 ) e 10 % de ácido linoleico poliinsaturado
(C18
:
2)
e
ácido
linolênico
(C18
:
3)
(COTTRELL,
1991;
SAMBANTHAMURTHI et al., 2000).
3.7 TEOR DE SÓLIDOS NO LEITE – COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DO LEITE DE
OVELHA
No período de lactação a composição do leite apresenta uma correlação negativa com
a produção, à medida que a ovelha produz maior quantidade de leite os teores de gordura e
proteínas reduzem, esse fato pode ser explicado pela possível diluição dos sólidos em um
maior volume de leite (BENCINI, 2002).
A composição média do leite ovino apresenta 17,5% de sólidos totais; 6,5% de
gordura; 3,5% de proteína; 4,8% de lactose e 0,92% de minerais (PULINA; NUDDA, 2004).
Pode ter uma variação de 6,35 a 9,40% no teor de gordura, 3,30 a 5,00% no teor de proteína e
3,70 a 5,16% no de lactose (KREMER et al., 1996).
As concentrações de sólidos como proteína e gordura, assim como de células
somáticas variam durante os diferentes períodos da lactação, no início e final da lactação estes
26
componentes se apresentam de forma mais concentrada com valores mais elevados, já durante
o pico da lactação a concentração é mais baixa (BENCINI, 2002). A lactose mantém a
concentração conforme a curva de produção, já que é o principal constituinte do leite e
responsável pela pressão osmótica (HURLEY, 2002).
Os efeitos da nutrição sobre a composição do leite de ovelhas leiteiras foram
revisadas por Bocquier e Caja (2001), que sugeriram que a intensificação da produção de
ovinos leiteiros em sistemas tradicionais de alimentação pode comprometer a composição do
leite para produção de queijo. A adição de gorduras nas dietas de ruminantes fornece ácidos
graxos pré-formados, que estão diretamente disponíveis para a síntese de gordura do leite em
vacas leiteiras (PALMQUIST, 1994) e em pequenos ruminantes (SCHMIDELY; SAUVANT,
2001).
Em estudos Chilliard et al. (2005), relacionaram a redução do conteúdo de gordura
no pico de lactação de cabras leiteiras a dois fenômenos: o efeito de diluição devido ao
aumento na produção e o aumento da mobilização de gordura corporal, que diminui a
disponibilidade dos ácidos graxos C18:0 e C18:1 para a síntese mamária dos lipídeos do leite.
Estes ácidos graxos representam 15 a 45% do total de ácidos graxos do leite.
Quanto maior a quantidade de sólidos totais, melhor o rendimento deste leite para a
indústria de laticínios. O extrato seco total (EST) é o reflexo dos constituintes do leite, quanto
maiores os teores destes, maior o rendimento. Isto pode ser observado comparando o leite
ovino com os demais. O leite ovino possui valor mais elevado no teor de lipídeos e
consequentemente maior de EST (17,87%), enquanto os valores para os demais são de
12,59% no bovino e 12,71% no caprino (GUERRA et al., 2007).
27
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33
4 DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento desta dissertação foi redigido na forma de capítulo baseado nas
normas da revista “Small Ruminant Research”.
34
1
CAPÍTULO I: Desempenho Produtivo e Composição do Leite de Ovelhas Lacaune
2
Alimentadas com Gordura Ruminalmente Inerte de Óleo de Palma
3
4
Resumo: A ovinocultura leiteira, atividade comum nos países europeus e asiáticos, vem
5
crescendo nos últimos anos no Brasil. Além de produzir leite com altos teores de sólidos, os
6
seus derivados são considerados alimentos funcionais, devido os benefícios à saúde. Com
7
isso, o objetivo do trabalho foi avaliar o efeito dos níveis de óleo de palma na forma protegida
8
na alimentação de ovelhas lactantes da raça Lacaune, sobre a dinâmica corporal, produção e
9
composição centesimal do leite. Foram utilizados quatro tratamentos com nove repetições,
10
sendo os tratamentos constituídos 0%; 2,0%; 4,0% e 6,0% de gordura protegida de óleo de
11
palma. A dieta foi balanceada e ajustada por animal após a pesagem do leite, sendo
12
isoproteica, isoenergética e com a mesma relação volumoso/concentrado, utilizando a silagem
13
de milho como volumoso a ambos os tratamentos. As pesagens de leite e coleta para análise
14
da composição centesimal foram realizadas semanalmente nos primeiras sete semanas de
15
lactação e a cada quinze dias nas semanas subsequentes, sendo que o período experimental
16
compreendeu toda a lactação de 182 dias. O peso e a condição corporal apresentaram efeito
17
significativo (P<0,05), o aumento dos níveis de gordura protegida na dieta resultou em um
18
menor ganho de peso e menor condição corporal dos animais. Na produção média e total de
19
leite na lactação houve efeito (P<0,05), em que o tratamento com 6,0% de gordura protegida
20
apresentou a maior produção de leite. O teor de gordura no leite apresentou efeito linear
21
positivo (P<0,05), enquanto que o teor de proteína, lactose e extrato seco desengordurado
22
apresentaram efeito linear negativo (P<0,05). O teor de extrato seco total no leite, não
23
apresentou efeito (P>0,05). Em relação à produção total de sólidos no leite (gordura, proteína,
24
lactose, extrato seco total e extrato seco desengordurado) não houve efeito (P>0,05) em
35
1
nenhuma variável. A utilização de gordura protegida de óleo de palma se mostrou eficiente
2
para aumento na produção e gordura no leite de ovelhas Lacaune.
3
4
Palavras-Chave: composição centesimal, dinâmica corporal, ovinocultura leiteira, produção
5
de leite
6
7
Abstract: The dairy sheep business, common activity in European and Asian countries, has
8
been growing in recent years in Brazil. In addition to producing milk with high solids
9
contents, its derivatives are considered functional foods because of the health benefits. Thus,
10
the objective of this study was to evaluate the levels of palm oil in protected form in the
11
feeding of lactating ewes of the Lacaune breed on body dynamics, production and milk
12
composition. Four treatments were used with nine replications, with treatments consisting of 0
13
%, 2.0 %, 4.0 % and 6.0 % fat protected palm oil in concentrated animal. The diet was
14
formulated and adjusted per animal after weighing the milk, isoproteic, isoenergetic with the
15
same forage / concentrate ratio, using corn silage as roughage in all treatments. The weight of
16
milk and collection for analysis of chemical composition seven weeks of lactation and every
17
fortnight in subsequent weeks were performed weekly during the first, and the experimental
18
period comprised the whole lactation period of 182 days. The increased levels of protected fat
19
in the diet resulted in less weight gain and lower body condition of the animals (P<0.05).
20
Treatment with 6.0% protected fat showed the highest milk yield (P<0.05). The fat content in
21
milk had a positive linear effect (P<0.05), whereas the content of protein, lactose and solids
22
nonfat showed negative linear effect (P< 0.05). The content of total solids in milk, had no
23
effect (P>0.05). In relation to the total production of milk solids (fat, protein, lactose, total
24
solids and solids non fat) had no effect (P>0.05) in any variable. The use of protected fat from
25
palm oil is efficient to increase the production of milk fat and sheep Lacaune.
36
1
Keywords: body dynamics, dairy sheep breeding, milk production, proximate composition
2
3
Introdução
4
5
Em países da Europa, Ásia e África, a atividade da ovinocultura de leite vem sendo
6
desenvolvida há muito tempo, estando bem difundida no meio rural, sendo a principal atividade
7
em algumas regiões. No Brasil essa atividade é ainda incipiente, são poucas as criações
8
especializadas e indústrias que beneficiam o leite, porém está crescendo nos últimos anos
9
principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, em razão de fatores favoráveis, solo,
10
clima, relevo e principalmente exigência do mercado consumidor por alimentos diferenciados, de
11
sabor agradável e saudáveis.
12
Entre os pontos decisivos que podem influenciar a produção leiteira, um dos mais
13
marcantes é a alimentação. Sendo a lactação uma fase de alta exigência nutritiva por parte do
14
animal, é necessário o fornecimento de dietas balanceadas para atingir suas exigências, tendo em
15
vista que uma alimentação escassa pode acarretar em diminuição na produtividade, com variações
16
na composição do leite (Natel, 2010).
17
Os ovinos de raças leiteiras especializadas, em função da alta produção de leite após o
18
parto, acabam tendo um balanço energético negativo acentuado e prolongado, interferindo na
19
produção e composição do leite, além da saúde do animal, fazendo-se necessário o uso de dietas
20
com uma alta densidade energética.
21
A raça Lacaune é de origem francesa, considerada de aptidões mistas, uma vez que é
22
explorada para a produção de leite, com o qual se fabricam queijos e outros derivados, e carne
23
proveniente de seus cordeiros de alta qualidade. A produção de carne (cordeiros e ovelhas)
24
representa uma parte importante da receita dos criadores. De corpo médio a pesado, com uma
25
altura nas cruzes de 70 à 80 cm. O peso médio das fêmeas adultas é de 60 à 70 kg e o dos
37
1
machos adultos de 95 à 100 kg. A lactação média é de 180 dias, com uma produção total de
2
250 à 300 litros de leite na lactação (ARCO, 2013)
3
Dentre as opções de elevar a densidade energética da dieta o uso de gorduras é um método
4
eficiente, porém essas quando em excesso acabam reduzindo a digestão da fibra no rumem, sendo
5
tóxicas aos microorganismos. Em razão disso faz-se necessário a utilização de sais de cálcio de
6
ácidos graxos (gordura protegida) que em pH ruminal normal uma grande parte não é
7
biohidrogenada sendo apenas dissociada no abomaso em pH ácido, fornecendo dessa forma uma
8
grande quantidade de energia na corrente sanguínea do animal.
9
O leite ovino é destinado principalmente à produção de queijo que chega a render o dobro,
10
tanto em relação à produção de queijo de leite bovino quanto caprino (Brito et al., 2006). Por essa
11
razão, a qualidade do leite deve ser considerada no sentido da sua capacidade de transformação
12
em queijos e derivados, haja visto a importância da composição no rendimento dos produtos
13
(Bencini & Pulina, 1997). Contudo, diversos fatores como o ambiente, a nutrição, a ordem de
14
parição e o número de cordeiros criados (Godfrey et al., 1997) podem influenciar a produção de
15
leite (Natel, 2010).
16
O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos da utilização de gordura protegida de óleo
17
de palma na produção de leite, escore corporal, peso corporal e composição do leite de
18
ovelhas da raça Lacaune.
19
20
Material e Métodos
21
22
O experimento foi conduzido no município de Chapecó, estado de Santa Catarina (27°
23
02' 10'' S de latitude e 52° 39' 27'' W de longitude), com 674 metros de altitude, temperatura
24
média anual de 19,6 °C e precipitação média anual de 2.610,8 mm, no período de junho a
25
dezembro de 2012.
38
1
Foram utilizadas 36 ovelhas recém paridas da raça Lacaune, após a parição os
2
cordeiros foram separados das mães e receberam aleitamento artificial, após três dias do
3
desmame foi medido o leite e pesado as ovelhas para a divisão dos lotes e as mesmas foram
4
distribuídas em quatro tratamentos, devidamente equilibradas por peso vivo, idade, ordem de
5
parição, número de crias, produção de leite. Os tratamentos constituíram da inclusão de 0,0%,
6
2,0%, 4,0% e 6,0% de gordura protegida de óleo de palma no concentrado fornecido aos
7
animais como apresentado na Tabela 1. A ingestão de concentrado foi ajustada semanalmente
8
de acordo com a produção de leite e peso vivo corporal dos animais.
9
10
Tabela 1 - Composição dos concentrados experimentais (% MS)
Níveis de gordura protegida (%)
Ingredientes (%)
0,0
2,0
4,0
6,0
Milho moído
51,00
41,00
30,00
19,00
Farelo de soja
43,00
43,00
41,00
40,00
Farelo de Trigo
2,00
10,00
21,00
31,00
Gordura Protegida (óleo de palma)
0,00
2,00
4,00
6,00
Complexo Vitamínico e Mineral
2,50
2,50
2,50
2,50
Calcáreo Calcítico
1,00
1,00
1,00
1,00
Bicarbonato de Sódio
0,50
0,50
0,50
0,50
Nutrientes (%)
11
Matéria Seca
88,70
89,00
89,20
89,50
Proteína Bruta
21,50
21,90
21,80
21,90
Extrato Etéreo
2,27
2,73
2,89
2,94
Nutrientes Digestíveis Totais
73,40
73,90
73,70
73,80
39
1
2
A composição química dos alimentos utilizados para compor as dietas experimentais
está apresentada na Tabela 2.
3
4
Tabela 2 - Composição química dos alimentos utilizados nas dietas experimentais (% MS)
Ingredientes (%)
MS %
PB %
NDT %
EE %
FDN %
FDA %
Silagem de milho
31,38
7,36
66,76
3,56
49,85
23,71
Milho moído
88,72
9,12
86,34
3,61
8,90
2,89
Farelo de soja
89,52
44,56
84,86
1,66
13,80
8,16
Farelo de Trigo
89,63
15,47
65,49
2,46
36,52
13,85
Gordura Protegida - Palma
97,26
-
188,48
84,87
-
-
5
MS %: matéria seca; PB %: proteína bruta; NDT %: nutrientes digestíveis totais; EE %: extrato etéreo; FDN %:
6
fibra em detergente neutro; FDA %: fibra em detergente ácido.
7
8
Os animais foram contidos em canzis duas vezes ao dia, ás 07:00 e às 18:00 horas,
9
receberam a dieta individualmente, sendo primeiramente fornecido o concentrado para
10
garantir a ingestão deste e, consequentemente da gordura protegida e, após fornecido a
11
silagem de milho, utilizando-se uma relação volumoso:concentrado 50:50. Antes de cada
12
refeição, as sobras dos tratamentos foram coletadas e pesadas.
13
As ovelhas permaneceram alojadas em baias coletivas de 24 m², com piso de chão
14
batido coberto com cama de maravalha, permanecendo nove animais pertencente ao mesmo
15
tratamento em cada baia. A ordenha foi realizada duas vezes ao dia, ás 05:00 e às 17:00 horas,
16
utilizando ordenha mecânica.
17
A pesagem do leite iniciou dez dias em média, após a parição dos animais, sendo
18
realizada semanalmente em cada animal, utilizando de medidor tipo Milk meters “True-
19
test®”, Auckland, New Zealand. As coletas de leite para análise centesimal foram realizadas
20
individualmente, ocorrendo semanalmente nas primeiras sete semanas de lactação. Nas
40
1
semanas subsequentes, as amostras foram coletadas a cada quinze dias até a secagem dos
2
animais, totalizando 182 dias em lactação. Logo após a coleta, as amostras foram
3
acondicionadas em frasco plástico contendo conservante Bronopol, (2-bromo-2-nitro-1,3-
4
propanodiol), identificadas, refrigeradas a 4º C, acondicionadas em recipientes isotérmicos e
5
enviadas ao laboratório de Leite do Centro Estadual de Pesquisa e Diagnóstico em Alimentos
6
da UnC, Concórdia-SC.
7
As análises da composição centesimal (gordura, proteína bruta, lactose, extrato seco
8
total e extrato seco desengordurado) foram realizadas através do analisador infravermelho
9
Bentley® 2000.
10
Quanto à viabilidade de uso do Bentley2000®, as correlações obtidas entre os valores
11
apresentados no equipamento e, nos métodos convencionais foram superiores a 90% para
12
todos os parâmetros estudados, sem efeito dos métodos (P>0,05) (Penna, 2011). Concluiu-se
13
que o equipamento Bentley 2000® calibrado com leite bovino confere resultados confiáveis
14
para determinação dos teores de gordura, proteína e extrato seco total do leite de ovelhas.
15
A pesagem dos animais e a avaliação do escore de condição corporal foram realizadas
16
no mesmo dia da pesagem e coleta do leite, para que assim, com estas informações, fossem
17
ajustadas as quantidades de concentrado. Sendo a pesagem realizada por meio de balança
18
eletrônica devidamente aferida e, para avaliação do ECC foi utilizada a metodologia descrita
19
por Cañeque et al. (1989), atribuídas notas de 1 a 5, fracionada em 0,25, sendo 1 para animais
20
extremamente magros e 5 para os obesos.
21
Para compor a curva de lactação (Figura 1), os tempos das observações utilizadas foram
22
de 0 a 182 dias de lactação. Os dados de produção de leite das ovelhas foram ajustados por
23
regressão não linear, que prediz além dos parâmetros da curva, o pico de produção, o dia do
24
pico e a persistência da lactação (em meses) por meio do modelo proposto por Wood (1963),
25
da seguinte forma:
41
bk
yijk  ak tijk
e
 ck tijk
1
Equação (1):
,
2
i-animal : 1, 2, ... , N;
3
j-tempo : 1, 2, ... , J;
4
k-tratamento : 1, 2, ... , K;
5
y é a produção de leite (L/dia);
6
a é a produção de leite inicial (L);
7
b é a taxa de acréscimo de produção até o pico;
8
c é a taxa de declínio de produção após o pico (fator de persistência);
9
t é o dia de lactação.
10
Para estimar, respectivamente, a produção no pico (pp), o dia da produção no pico
11
(dpp) e a persistência (s) em meses, foram utilizadas funções dos parâmetros da curva de
12
Wood:
b
13
b
b
Equação (2, 3 e 4): pp  a   e-b , dpp  e s  -(b  1) ln(c) .
c
c
14
Em um procedimento Bayesiano, foi considerado que as observações seguem
15
distribuição Normal, isto é, yi ~ N  f (ti ),  sendo f(ti) a função não-linear proposta por Wood
16
(1963) e  
17
informativas para todos os parâmetros do modelo dado em (1), considerando os tratamentos
18
investigados:
19
a ~ Gama 102 ,102  ; b ~ Uniforme  0,1 ; c ~ Uniforme  0,1 e  ~ Gama 103 ,103  .
1

(parametrização OpenBugs). Foram consideradas distribuições a priori não-
20
Para comparar os tratamentos, foram realizadas comparações múltiplas entre as
21
distribuições a posteriori das médias dos parâmetros de interesse. Consideraram-se como
22
diferentes, em nível de 5% de significância, os tratamentos cujos intervalos de credibilidade
23
para as diferenças médias não contemplam o valor zero. A obtenção das distribuições
42
1
marginais a posteriori para todos os parâmetros foi por meio do pacote BRugs do programa R
2
(R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2013). Foram gerados 1.100.000 de valores em um
3
processo MCMC (Monte Carlo Markov Chain), considerando um período de descarte
4
amostral de 100.000 valores iniciais, assim a amostra final, obtida em saltos a cada 100
5
valores, contém 10.000 valores gerados. A convergência das cadeias foi verificada por meio do
6
pacote CODA do programa R, pelo critério de Heidelberger & Welch (1983).
7
8
9
10
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), com quatro
tratamentos e nove repetições, sendo cada animal uma repetição.
Os dados foram submetidos à análise da variância pelo programa SAS 8.1 (SAS
Institute, 2001) a um nível de significância de 5%, de acordo com o modelo estatístico:
yij= µ + ti + ij
11
12
13
Onde:
yij: é a variável resposta na j-esíma;
µ: é a média geral; ti: é o efeito fixo do i-
ésimo tratamento; ij é o erro aleatório. Assume-se que ij ~ NID(0,2).
14
Quando significativo os fatores foram submetidos a testes de regressões polinomiais e
15
quando a regressão não foi significativa foram feitas comparações múltiplas de médias pelo
16
teste Tukey a 5% de probabilidade.
17
18
Resultados e Discussão
19
20
O peso vivo das ovelhas (Tabela 3) apresentou efeito (P<0,0001), sendo que os
21
animais que receberam níveis de 0,0% e 2,0% de gordura protegida apresentaram maiores
22
pesos corporais, 67,77 kg e 66,70 kg, quando comparado aos animais que receberam níveis de
23
4,0% e 6,0%, 63,58 kg e 62,64 kg, respectivamente.
24
43
1
Tabela 3 - Peso Vivo Corporal (kg), Escore de Condição Corporal (ECC) e Consumo de
2
Matéria Seca (MS) de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura protegida
Níveis de Gordura Protegida do concentrado (%)
Variáveis
0,0
2,0
4,0
6,0
Média
57,91
56,60
55,28
55,05
56,21
67,77 ± 0,75a
66,70 ± 0,74a
63,58 ± 0,74b
62,64 ± 0,74b
65,17
76,51
74,44
68,78
69,28
72,25
ECC Inicial
1,56
1,72
1,78
1,61
1,67
ECC Médio
2,78 ± 0,03a
2,77 ± 0,03a
2,81 ± 0,03a
2,67 ± 0,03b
2,75
kg/Animal/dia
2,24
2,25
2,12
2,32
2,24
% PesoVivo
3,35
3,42
3,38
3,74
3,48
Peso Vivo Inicial
(kg)
Peso Vivo
Médio (kg)
Peso Vivo
Final (kg)
Consumo de MS
3
Médias seguidas de letras distintas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05)
4
5
Como pode-se observar na Tabela 3, os animais que receberam os maiores níveis de
6
gordura protegida foram os que apresentaram os menores pesos corporais ao longo da
7
lactação, possivelmente em função desses animais terem apresentado uma maior produção
8
(P<0,05) de leite no pico de lactação (Tabela 4) e, igual taxa de decréscimo após o pico
9
(Tabela 3), resultando em uma maior produção de leite ao longo da lactação (Tabela 5).
10
Outro fator que contribui para esse menor peso corporal nas ovelhas que receberam o
11
maior nível de gordura protegida, pode ter sido a maior produção de gordura no leite (Tabelas
44
1
6), dessa forma os animais destinaram maiores quantidades de nutrientes para a síntese de
2
leite e gordura no leite e, menos para a deposição de tecidos.
3
Barnes et al. 1990, relataram que quando há aumento da produção de leite e gordura,
4
os mesmos podem ser explicados pela redução do peso das ovelhas. No entanto, a perda de
5
peso de ovelhas durante as quatro primeiras semanas de lactação é mínima, mas pode
6
aumentar com a persistência da lactação (Snowder & Glimp, 1991).
7
Sobrino et al. (1996) afirmaram que ovelhas perdem peso durante o inicio da lactação
8
e, essa perda depende do alimento disponível, produção de leite, número de cordeiros
9
amamentados, fatores climáticos e potencial produtivo dos animais.
10
Teh et al. (1994), utilizando 0,0; 3,0; 6,0; e 9,0% de gordura protegida na dieta de
11
cabras, relataram queda linear no ganho de peso, 110,3; 67,5; 53,3 e -39,6 g, respectivamente.
12
Entretanto, Emediato (2007), avaliando gordura protegida em ovelhas da raça Bergamácia nos
13
primeiros 60 dias de lactação, não obteve diferença na mudança de peso dos animais,
14
possivelmente por ter trabalhado com ovelhas de baixa produção de leite (0,460
15
kg/ovelha/dia).
16
Serrão (2008) estudando sistemas de desmama de cordeiros em ovelhas da raça
17
Bergamácia, observou que aos 90 dias de lactação, ovelhas que desmamaram cordeiros aos
18
três dias após a parição, apresentaram maior peso vivo corporal (64,66 kg) e maior ganho de
19
peso diário (0,118 kg), quando comparado às ovelhas que desmamaram seus cordeiros aos 45
20
dias após a parição.
21
O escore de condição corporal (Tabela 3) apresentou efeito (P<0,05), seguindo a
22
dinâmica do peso corporal. Animais que receberam 6,0% de gordura protegida demonstraram
23
menor ECC ao longo da lactação quando comparado aos animais que receberam níveis
24
inferiores, possivelmente em função da maior produção de leite e gordura.
45
1
A suplementação com gordura protegida, pode não ter sido eficiente para a
2
manutenção do peso e da condição corporal. Este fato pode ser explicado pelas dietas dos
3
tratamentos, que foram isoproteícas e isoenergéticas.
4
Utilizando ovelhas da raça Bergamácia, em diferentes sistemas de desmama de
5
cordeiros, Serrão (2008) relatou que aos 90 dias de lactação, os animais que tiveram seus
6
cordeiros desmamados aos três dias após o nascimento, apresentaram maior ECC se
7
comparado as ovelhas que tiveram seus cordeiros desmamados mais tardiamente.
8
Rodrigues et al. (2006) observaram que no final da gestação e início da lactação, há
9
um declínio da condição corporal das ovelhas, chegando a valores muito baixos após o parto e
10
durante a amamentação e, que a condição corporal dos animais ao final da gestação e os
11
níveis de energia das dietas tem sido apontados como fatores determinantes do desempenho
12
de animais em lactação.
13
14
Na Tabela 3, observou-se que o consumo médio diário foi de 2,24 kg de matéria seca
por animal, representado 3,48 % do peso vivo.
15
Natel (2010), trabalhando com diferentes níveis de FDN na dieta de ovelhas da raça
16
Bergamácia, observou consumo diário de 1,57 kg de matéria seca por animal, o que
17
representou 2,58% do peso vivo dos animais, possivelmente por ter trabalho com animais de
18
baixo potencial genético para produção de leite, com média de 0,700 kg de leite por animal
19
dia.
20
21
22
23
46
1
Tabela 4 - Estimativas Bayesianas (médias, desvios-padrão) para os parâmetros do modelo da
2
curva de lactação
Níveis de Gordura
Protegida (%)
Parâmetros/Estimativas Bayesianas
a
b
c
pp
dpp
s
0,0
1,85±0,16 ª 0,08±0,033a 0,005±0,0008ª 2,13±0,07ab 16±5a 5,76±0,11a
2,0
1,83±0,13ª 0,07±0,026a 0,005±0,0006a 2,09±0,05b 16±4a 5,82±0,09ª
4,0
1,88±0,13ª 0,09±0,025a 0,005±0,0006a 2,25±0,05a 18±3a 5,78±0,08a
6,0
1,86±0,14ª 0,10±0,029a 0,005±0,0007a 2,24±0,06ab 19±4a 5,81±0,09a
3
* a,b
4
meio de comparações Bayesianas, em nível de 95% de credibilidade.
5
a é a produção de leite inicial (L);b é a taxa de acréscimo de produção até o pico; c é a taxa de declínio de
6
produção após o pico (fator de persistência); pp é a produção no pico (L), dpp é o dia da produção no pico e (s)
7
a persistência em meses.
Letras distintas, na coluna, indicam diferenças significativas entre as médias dos níveis de tratamentos, por
8
9
Na Tabela 4 pode-se ver que a produção de leite inicial (a) foi igual em todos os
10
níveis de gordura protegida (1,85 kg de leite). A taxa de acréscimo de produção até o pico (b)
11
também não apresentou efeito significativo, porém com uma tendência em ser maior nos
12
tratamentos com 4,0% e 6,0% de gordura protegida. Não se observou diferença nos dias de
13
produção em que os animais atingiram o pico (dpp), média de 17 dias, mas é preciso levar em
14
conta que quando as avaliações iniciaram, os animais estavam em média com 10 dias de
15
parição, portanto a média do pico de produção real foi aos 27 dias, 4ª semana de lactação.
16
Para o pico de lactação, tem-se uma gama de informações na literatura. De acordo
17
com Bencine & Pulina (1997), o pico de lactação é atingido entre a terceira e a quinta semana
18
de lactação. Discordando parcialmente desses resultados, Sá & Otto (2003) constataram maior
19
produção de leite na segunda semana de lactação, em ovelhas da raça Bergamácia. Já
20
Cardellino & Benson (2002) observaram que o pico de produção de leite de ovelhas
21
estabuladas, amamentando uma cria desmamada por volta dos 60 dias de vida, ocorreu aos 30
47
1
dias. Por outro lado, em ovelhas amamentando duas crias, verificou-se adiantamento nos
2
picos de lactação, tendo ocorrido aos 21 dias (Cardellino & Benson, 2002).
3
Hübner et al. (2007) relataram que os picos de lactação ocorreram na terceira,
4
segunda e primeira semanas de lactação, em ovelhas alimentadas com níveis crescentes de
5
FDN (34, 43 e 52%, respectivamente). No entanto, Stradiotto (2007), trabalhando com
6
sistemas mistos de produção de leite (ordenhas + cordeiro mamando até os 45 dias de idade),
7
em ovelhas Bergamácia, observou o pico de produção de leite na sétima semana de lactação,
8
neste caso, o pico pode ter sido retardado pelo efeito da amamentação sobre a produção, o que
9
prejudicou a produção total de leite comercial.
10
A taxa de decréscimo na produção após o pico (c) foi exatamente à mesma (0,005).
11
A produção no pico (pp) mostrou-se diferente entre os níveis de gordura protegida, sendo a
12
maior obtida no tratamento com 4,0% de suplementação, porém não diferindo do nível 0,0% e
13
6,0%, e a menor produção no pico foi do tratamento com 2,0% de gordura protegida, porém
14
não diferiu dos níveis 0,0% e 6,0%.
15
16
Através dessas variáveis pode-se formar a curva de lactação apresentada na Figura
01.
2.5
48
2.0
1.5
1.0
Produção de leite (L)
0%
2%
4%
6%
0
50
100
150
Tempo (dias)
1
2
Figura 1 - Comparação entre as curvas de lactação ajustadas, respectivamente, para os
3
diferentes níveis de gordura protegida 0,0%, 2,0%, 4,0% e 6,0%.
4
5
A produção média de leite durante a lactação (Tabela 5) foi superior nos animais que
6
receberam suplementação com 6,0% de gordura protegida (1,82 kg), não diferindo dos
7
animais que receberam 4,0% de suplementação (1,81 kg). Os animais que receberam
8
suplementação de 2,0% apresentaram a menor produção de leite (1,70 kg) não diferindo dos
9
animais que não receberam gordura protegida (1,71 kg).
10
49
1
Tabela 5 - Produção de leite durante a lactação de ovelhas alimentadas com diferentes níveis
2
de gordura protegida.
Níveis de Gordura Protegida do concentrado (%)
Variáveis (kg)
0,0
2,0
4,0
6,0
Média
1
1,71 ± 0,03bc
1,70 ± 0,03c
1,81 ± 0,03ab
1,82 ±0,03a
1,76
2
311,76bc
311,07c
330,22ab
331,05a
321,02
Produção Média
Produção Total
3
1
4
lactação de 182 dias; Médias seguidas de letras distintas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey
5
(P<0,05).
Produção média de leite (kg/ovelha/dia) durante a lactação de 182 dias;2Produção total de leite (kg/ovelha) na
6
7
Natel (2010) trabalhando com diferentes teores de FDN na dieta de ovelhas da raça
8
Bergamácia verificou decréscimo linear na produção de leite com aumento na inclusão de
9
fibra na ração. As produções médias, das duas ordenhas do dia, para leite, leite corrigido para
10
gordura (6,5%) e corrigido para gordura e proteína (6,5 e 5,8%) foram 569; 518 e 522
11
gramas/dia. Tais valores são superiores ao verificados por Emediato (2007) para a raça
12
Bergamácia, ordenhada uma vez ao dia, que observou valores de 460 g/dia para leite; 317
13
g/dia para leite corrigido para gordura (6,5%) e 322 g/dia para leite corrigido para gordura e
14
proteína (6,5 e 5,8%). Segundo Pullina & Nudda (2002) o número de ordenhas pode ser um
15
dos fatores que influenciam a produção de leite. Negrão et al. (2001) observaram aumento de
16
15,4% na produção de leite na raça Lacaune, comparando uma e duas ordenhas ao dia.
17
Gargouri et al. 2006, não encontraram efeito para a produção de leite quando foi
18
administrado doses de gordura protegida inferior a 100 g/dia e efeitos negativos quando
19
utilizado doses superiores a 200 g/dia por ovelha, possivelmente em função da redução do
20
consumo de matéria seca devido a grande quantidade de óleo na dieta.
50
1
Ao se avaliar o teor de gordura no leite das ovelhas alimentadas com diferentes níveis
2
de gordura protegida, houve interação entre tratamento e período (P = 0,001), a Tabela 6
3
apresenta o comportamento dos teores de gordura no leite por fase de lactação.
4
5
Tabela 6 - Teor de gordura no leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
6
protegida em diferentes fases da lactação
Níveis de Gordura Protegida
Efeito
do concentrado (%)
Fases da Lactação
CV(%)
0,0
2,0
4,0
6,0
X
L
Q
Terço Inicial
6,27
6,14
6,43
7,01
6,46
9,36
< 0,01
ns
Terço Médio
6,81
6,22
6,28
6,83
6,53
9,71
Ns
< 0,0102
Terço Final
7,22
7,82
7,87
8,24
7,79
10,53
< 0,0157
ns
Lactação
6,62
6,53
6,67
7,21
6,75
7,96
< 0,0235
ns
7
CV: Coeficiênte de variação; Efeito:Valor de P para teste de polinômio ortogonal apresentar resposta linear (L)
8
ou quadrática (Q); ns: efeito não significativo (P>0,05); Terço Inicial: 1 – 60 dias de lactação; Terço médio: 61 –
9
120 dias de lactação; Terço Final: 121 – 182 dias de lactação; Lactação: 01 – 182 dias de lactação.
10
11
Na primeira fase, que compreendeu o terço inicial da lactação (1 – 60 dias), houve
12
efeito linear (P<0,01), com o aumento do nível de gordura protegida observou-se elevação no
13
teor de gordura do leite (Figura 2a).
14
Na segundo fase, terço médio da lactação (61 – 120 dias), o teor de gordura teve efeito
15
quadrático (P = 0,0102), apresentando decréscimo nos tratamentos com inclusão de 2,0% e
16
4,0% de gordura protegida (Figura 2b).
17
Na terceira fase, terço final da lactação (121 – 182 dias), o teor de gordura apresentou
18
efeito linear (P = 0,0157), semelhante ao comportamento da fase inicial de lactação, os
51
1
animais que receberam as maiores doses de suplementação apresentaram os maiores teores de
2
gordura no leite (Figura 2c).
3
O comportamento do teor de gordura no leite em toda a lactação (182 dias), também
4
apresentou efeito linear (P = 0,0235), demonstrando dessa forma que a crescente inclusão de
5
gordura protegida de óleo de palma, além de aumentar a produção de leite (Tabela 5)
6
aumentou os teores de gordura no leite (Figura 2d).
7
As gorduras protegidas na forma de sais cálcicos de ácidos graxos correspondem a
8
uma proteção por insolubilidade no rúmen que utiliza a capacidade dos ácidos graxos para se
9
combinar com cátions bivalentes como o cálcio, formando sais insolúveis no pH ruminal. Em
10
condições de maior acidez, que compreende o abomaso, os ácidos graxos liberam cálcio e se
11
tornam disponíveis para a absorção intestinal (Neto & Moura, 2014).
12
O pKa das gorduras protegidas está entre o pH 4,5 e 5,2 o que significa que neste pH
13
ruminal metade dos sais cálcicos estão dissociados (ácido graxo se torna livre no rúmen) e
14
metade ainda está ligado ao cálcio (inerte). Quanto menor é o pH, maior será a liberação de
15
ácidos graxos e estes promoverem redução da atividade microbiana no rúmen (Nudda et al.,
16
2004), reduzindo a digestibilidade da fibra e síntese de ácidos graxos de cadeia curta,
17
principalmente o ácido acético, precursor da gordura no leite (Martinez, 2011).
18
19
Em pH próximo a neutralidade a gordura protegida passa inerte pelo rúmem, sendo
dissociada no abomaso disponibilizando os ácidos graxos para absorção no intestino.
20
A gordura de palma tem pKa de 4,6 ou seja, mesmo em momentos de baixíssimo pH
21
ruminal não haverá grande dissociação de ácidos graxos no rumem. O pKa da gordura de soja
22
se encontra mais próximo do pH 5,2 o que faz com que este produto seja mais dissociável em
23
pH mais alto (Neto & Moura, 2014). Dessa forma, a gordura protegida de óleo de palma,
24
tende a fornecer grande quantidade de ácidos graxos para a corrente sanguínea do animal.
52
1
Fontaneli (2001) relata que a gordura do leite é composta em quase sua totalidade por
2
triglicerídeos (98% da gordura total). Esses triglicerídeos são sintetizados nas células
3
epiteliais da glândula mamária, sendo que os ácidos graxos que compõem esses triglicerídeos
4
podem vir a partir dos lipídeos presentes no sangue ou pela síntese “de novo” nas células
5
epiteliais. Dessa forma ocorre uma grande remoção de triglicerídeos da corrente sanguínea
6
pela glândula mamária, os quais são utilizados para a síntese de gordura que será secretada no
7
leite.
8
Estes ácidos graxos de cadeia longa, fornecidos através da suplementação lipídica são
9
absorvidos e utilizados com alta eficiência para a lactação, pois podem ser diretamente
10
transferidos para a gordura do leite poupando energia para outras funções produtivas da
11
glândula mamária (Palmquist, 1980).
12
Portanto, o aumento nos níveis inclusão de gordura protegida de óleo de palma na
13
dieta de ovelhas leiteiras, fornece uma grande quantidade de ácidos graxos (triglicerídeos)
14
para serem absorvidos na corrente sanguínea e sintetizados na forma de gordura no leite nas
15
células epiteliais da glândula mamária.
16
O aumento no teor de gordura no leite através da inclusão de gordura protegida na
17
dieta depende de alguns fatores, como o tipo de gordura utilizada, o nível em que é realizada a
18
inclusão na dieta, o estádio de lactação e outros fatores, dentre os quais, a proporção
19
forragem:concentrado e a digestibilidade da fibra e gordura na dieta (Sanz Sampelayo et al.,
20
2007).
21
Dietas de vacas de alta produção, mesmo bem balanceadas, podem causar intensa
22
redução do pH ruminal em determinados momentos do dia. Os valores de pH oscilam
23
normalmente entre 6,5 e 5,8 após as refeições. Nestes momentos, se a gordura protegida de
24
soja estiver sendo utilizada, quanto mais baixo for o pH, haverá liberação de ácidos graxos
25
insaturados e efeito prejudicial destas cadeias à gordura do leite (Neto & Moura, 2014).
53
1
O mesmo não é observado para a Gordura Protegida de Óleo Palma, como sua
2
composição em ácidos graxos poli-insaturados é muito menor do que a de soja e seu pKa é
3
menor, mesmo em momentos em que o pH ruminal permita liberação de parte das cadeias de
4
ácidos graxos no rúmen, somente uma pequena parte se dissocia e estas não são prejudiciais
5
aos micro-organismos. Não impactando tão intensamente na bio-hidrogenação de gorduras no
6
rúmen e na gordura do leite. A Gordura Protegida de Óleo Palma é mais segura, garante
7
aporte energético similar ao da Gordura de Óleo Soja e diminui muito o risco de queda nos
8
teores de gordura do leite (Neto & Moura, 2014).
9
Martinez (2011) relata, que a gordura dietética pode afetar o teor e a composição da
10
gordura do leite em razão de três aspectos principais, a quantidade, a composição em ácidos
11
graxos e sua forma física.
12
O uso de gorduras insaturadas protegidas aumenta a proporção de ácidos graxos
13
insaturados de cadeia longa na gordura do leite (linolêico). A suplementação com gorduras
14
saturadas (sebo animal) pode aumentar a proporção de ácido palmitolênico, esteárico e oléico
15
na gordura láctea (Linn, 1989).
16
Estes compostos são tão potentes que alguns trabalhos demonstraram que
17
suplementação pós-ruminal de 3,5g/dia de CLA causa redução de até 25% na gordura do leite.
18
Após absorvidos no intestino, estes compostos tem uma ação direta na glândula mamaria
19
reduzindo todos os ácidos graxos que compõem a gordura do leite, mas especialmente aqueles
20
de cadeia curta que são sintetizados “de novo” nas células da glândula (Neto & Moura, 2014).
21
Cannas et al. (2002) verificaram que a utilização de gordura protegida na produção de
22
leite ovino, proporcionou aumento tanto na produção de leite, quanto no teor de gordura do
23
leite, entretanto, isso ocorre muito mais rápido com o teor de gordura do que na produção de
24
leite.
54
1
Baldi et al. (1991) em cabras Alpinas perceberam efeito positivo através do aumento
2
em 13 % no teor de gordura do leite quando da suplementação com a gordura protegida
3
porém o teor de proteína do leite não alterou com a suplementação.
4
5
6
Figura 2 - Teor de gordura no leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
7
protegida na fase inicial (a), fase intermediária (b), fase final (c) e durante o período todo de
8
lactação (d) de 182 dias.
9
10
O teor de proteína no leite (Tabela 7) apresentou efeito linear (P<0,01), mostrando um
11
decréscimo em função do aumento do nível de suplementação (Figura 3a). Esse decréscimo
55
1
no teor de proteína no leite se deu devido a uma possível diluição desse componente em
2
função do aumento na produção de leite como podemos ver na Figura 1. Em razão de tal fato,
3
a produção total de proteína na lactação (kg de proteína) não apresentou efeito significativo
4
(P>0,05), como podemos ver na Tabela 8, demonstrando dessa forma que o uso de níveis
5
crescentes de gordura protegida de óleo de palma na alimentação de ovelhas em lactação, não
6
interfere na quantidade total de proteína produzido no leite.
7
8
Tabela 7 - Composição centesimal do leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de
9
gordura protegida.
Níveis de Gordura Protegida
CV
Efeito
do concentrado (%)
Variáveis (%)
%
0,0
2,0
4,0
6,0
X
L
Q
Proteína
4,71
4,42
4,45
4,31
4,47
5,29
< 0,01
ns
Lactose
4,70
4,66
4,65
4,48
4,62
3,41
< 0,01
ns
Extrato Seco Total
16,96
16,52
16,70
16,86
16,76
4,38
ns
ns
Extrato Seco Desengordurado
10,34
9,99
10,01
9,68
10,01
2,65
<0,001 ns
10
CV: Coeficiênte de variação; Efeito:Valor de P para teste de polinômio ortogonal apresentar resposta linear (L)
11
ou quadrática (Q); ns: efeito não significativo (P>0,5).
12
13
Outro fator que pode ter contribuído para essa diminuição no teor de proteína foi o
14
maior teor de gordura no leite (Tabela 6), dessa forma substituindo parte do teor de proteína
15
pela gordura.
16
Há correlação negativa entre a produção e a composição do leite. Portanto, quando as
17
ovelhas produzem mais leite, as concentrações de gordura e proteína diminuem. Esta relação é
18
valida para as raças de alta e baixa produção (Bencine & Pulina, 1997).
56
1
Segundo Chilliard (2003), a produção de proteína no leite está ligada a fatores
2
nutricionais, sendo que o maior fator de impacto nutricional na concentração da mesma seria a
3
ingestão energética, portanto, isso não seria esperado para o presente experimento, tendo em vista
4
que as rações foram calculadas para atender as necessidades de produção.
5
A substituição de fontes de carboidratos fermentescíveis no rúmen por fontes lipídicas
6
insaturadas leva a menor produção de AGV's total e conseqüente menor produção de proteína
7
microbiana. A menor produção de AGV's no rúmen leva à maior gluconeogênese a partir de
8
aminoácidos, diminuindo o teor de proteína do leite (Wu & Hüber, 1994).
9
Fernandes (2008) relatou que o uso de alguns tipos de gorduras suplementares tem
10
aumentado a produção e a porcentagem de gordura do leite, mas, ao mesmo tempo, tem
11
diminuído a porcentagem de proteína. Quando há substituição de carboidratos disponíveis por
12
lipídios no rúmen, os lipídios quando fornecidos em quantidades muito elevadas têm efeito
13
tóxico sobre os microrganismos do rúmen, causando redução no crescimento microbiano e
14
efeito sobre o transporte de aminoácidos da glândula mamária. Assim, o conteúdo de proteína
15
do leite pode diminuir com a deficiência de um ou mais aminoácidos (Santos et al., 2001).
16
Além deste aspecto, o uso de gorduras protegidas ou saturadas pode aumentar o
17
fornecimento de compostos carbônicos (ácidos graxos e acetato) para a célula secretora,
18
aumentando a eficiência de produção de leite por litro de sangue (Cant et al., 1993).
19
O teor de Lactose no leite, da mesma forma que o teor de proteína apresentou efeito
20
linear (P<0,01), mostrando um decréscimo em função do aumento do nível de suplementação
21
(Figura 3b).
22
23
Esse decréscimo, da mesma forma que o teor de proteína, pode ser explicado pela
diluição desse composto em função da maior produção de leite.
24
Fontaneli (2001) relata que a glicose é o principal precursor de lactose no leite,
25
contribuindo com cerca de 60 a 70% da síntese desse componente, o restante da glicose é
26
utilizado nas células secretoras para a síntese de proteína, glicerol ou outros precursores para
57
1
síntese de gordura. Vários autores relatam que o principal precursor da glicose no animal é o
2
ácido propiônico, composto esse produzido principalmente pela fermentação de carboidratos
3
não fibrosos no rumem. Dessa forma a inclusão de gordura protegida tem pouco efeito na
4
produção de propionato, dessa maneira não interferindo na síntese de glicose pelo fígado e
5
posteriormente de lactose pela glândula mamária.
6
A porcentagem de extrato seco total (EST) não apresentou efeito significativo
7
(P>0,05), com média de 16,76%. O EST é composto pela gordura, proteína, lactose e minerais
8
do leite, não apresentando efeito devido ao teor de gordura no experimento ser inversamente
9
proporcional ao teor de proteína e lactose no leite.
10
O extrato seco desengordurado (ESD) apresentou efeito linear (P<0,0001), esse
11
decréscimo no ESD em relação ao aumento nas doses de suplementação (Figura 3c) se dá
12
devido ao ESD ser basicamente composto pelo teor de proteína e lactose, demonstrando
13
comportamento semelhante.
58
1
2
Figura 3 - Teor de proteína (a), lactose (b) e extrato seco desengordurado (c) de ovelhas
3
alimentadas com diferentes níveis de gordura protegida durante a lactação.
4
5
Quando se avaliou a produção total de sólidos (Tabela 8), nenhum dos componentes
6
apresentou efeito significativo (P>0,05). Em razão de esses valores serem calculados através
7
da multiplicação entre a produção de leite e o teor de sólidos, a quantidade de Proteína,
8
Lactose e ESD com médias de 14,87 kg, 15,67 kg e 33,71 kg respectivamente, possivelmente
9
não apresentou efeito significativo em função dos teores desses componentes ter apresentado
10
efeito oposto (Tabela 7) a produção de leite (Tabela 5). A produção total de gordura em razão
11
do teor de gordura (Tabela 6) ter apresentado efeito linear positivo significativo (P<0,05) e a
12
produção de leite acompanhar a mesma tendência, esperava-se que a produção total de
59
1
gordura apresentasse efeito significativo, possivelmente isso não ocorreu em função do
2
elevado Coeficiente de Variação (19,01%) encontrado nessa variável.
3
4
Tabela 8 - Produção total de gordura, proteína, lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco
5
desengordurado (ESD) do leite de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de gordura
6
protegida durante a lactação de 182 dias.
Níveis de Gordura Protegida
do concentrado (%)
Variáveis (kg)
7
X
CV (%)
Efeito
0,0
2,0
4,0
6,0
Gordura
21,23
20,93
22,76
24,42
22,33
19,01
ns
Proteína
15,23
14,32
15,35
14,58
14,87
19,34
ns
Lactose
15,70
15,38
16,39
15,59
15,76
20,75
ns
Extrato Seco Total
55,31
53,63
57,85
57,54
56,08
19,32
ns
Extrato Seco Desengordurado
33,98
32,69
34,94
33,24
33,71
19,84
ns
CV: Coeficiênte de variação; ns: efeito não significativo (P>0,05).
8
9
Considerações Finais
10
11
12
13
14
15
16
A dinâmica corporal (ganho de peso e escore de condição corporal) foi maior nas
ovelhas que receberam as menores doses de gordura protegida de óleo de palma.
A produção de leite e o teor de gordura no leite foram maiores nas ovelhas que
receberam concentrado com 6 % de gordura protegida de óleo de palma.
O teor de proteína, lactose, e extrato seco desengordurado foram maiores nas ovelhas
que receberam o concentrado sem gordura protegida de óleo de palma.
60
1
2
A produção total de sólidos (gordura, proteína e lactose) não foi influenciada pela dose
de gordura protegida utilizada na dieta.
3
4
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GORDURA PROTEGIDA DE ÓLEO DE PALMA NA