RELATÓRIO FINAL DE PROJETO INICIAÇÃO CIENTÍFICA – USCSAgosto/2011
1. Identificação
1.1. Mês/Ano de início do projeto 04/2010
Mês/Ano de finalização do projeto 08/2011
1.2 Nome do Pesquisador
Tatiane Aparecida de Medeiros
1.3. Nome do Orientador
Cássia Maria Furlan
2. Dados do projeto
2.1 Título original do Projeto
Avaliação da qualidade microbiológica da água mineral disponibilizada em bebedouros da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
2.2. Resumo do projeto inicial de iniciação científica
O Brasil possui 14% de toda a água doce que circula pela superfície da Terra. O crescimento desordenado
das cidades compromete a qualidade da água dos reservatórios, onde são lançados poluentes provenientes
de esgotos domésticos e efluentes industriais, o que contribui para o aumento de doenças transmitidas ao
homem. Estudos da qualidade bacteriológica e química da água devem ser realizados a fim de determinar
seu grau de segurança. Pesquisas demonstram que, no Brasil, 80% das doenças são ocasionadas e
veiculadas por decorrência de água contaminada. Dessa forma, torna-se imprescindível realizar o
monitoramento quantitativo e qualitativo dos níveis de micro-organismos patogênicos presentes na água.
O presente projeto tem por finalidade avaliar a qualidade microbiológica da água mineral disponível nos
bebedouros dos Campi I e II da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), comparando os
resultados obtidos com os padrões estabelecidos pela legislação brasileira vigente, representada pela RDC
275/2005. Também será desenvolvido procedimento para o armazenamento e substituição dos galões e
higienização dos bebedouros. As amostras de água mineral serão coletadas assepticamente, para evitar
contaminação acidental da amostra. Serão considerados pontos de amostragem todos os bebedouros
disponibilizados nos Campi I e II da USCS, que utilizem água mineral em galões. Para a análise de
bactérias heterotróficas e de coliformes totais e fecais, será utilizada a técnica da membrana filtrante,
através da filtração das amostras para placas contendo o meio de cultura TSA e Endo Agar Les,
respectivamente. Havendo crescimento, as colônias serão identificadas para confirmação de sua
patogenicidade.
Foram realizadas todas as atividades conforme previstas.
2.3. Se ocorreram alterações em relação original, identifique-as e justifique:
2.4. Resultados obtidos. Apresente em anexo texto de seu projeto, que reflete o atual final do
projeto, com as seguintes seções (máximo 20 páginas, espaço simples, times new Roman 12):
1. Introdução contendo Contextualização, Problematização, objetivos e justificativa.
2. Referencial teórico
3. Procedimentos metodológicos
4. Análise dos resultados
5. Conclusão
6. Referências Bibliográficas
3. Dificuldades surgidas durante esse período na execução do projeto de Iniciação Científica/
Críticas/Sugestões
Não foram encontradas dificuldades na elaboração do projeto.
4. Participação ocorridas e/ou pretendidas em divulgações científicas (congresso, seminários,
encontros etc. e publicações em periódicos, nesse período (anexar cópia dos comprovantes),
VI Congresso de Iniciação Científica
19º SIICUSP - Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo
Declaramos para os devidos fins que, as informações contidas nesse documento
são verdadeiras e autênticas.
Data 15/08/2011.
__________________________
Assinatura do Aluno
___________________________
Assinatura do orientador
Ciente:
Coordenador de Curso _________________________________
Diretor de Área
_______________________________________
Parecer do Coordenador de Iniciação Científica
USCS- UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
CURSO DE FARMÁCIA
Estudante: Tatiane Aparecida de Medeiros
Orientadora: Prof. Ms. Cássia Maria Furlan
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA
MINERAL DISPONIBILIZADA EM BEBEDOUROS DA
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
(USCS)
São Caetano do Sul
2011
Tatiane Aparecida de Medeiros
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA
MINERAL DISPONIBILIZADA EM BEBEDOUROS DA
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
(USCS)
Projeto apresentado ao Programa de
Iniciação Científica 2010-2011, da
Universidade
Municipal
de
são
Caetano do Sul – USCS.
Curso: Farmácia.
Orientadora: Profª. Ms. Cássia Maria
Furlan
São Caetano do Sul
2011
1. INTRODUÇÃO
A água é um elemento essencial para a preservação da vida no planeta,
recobrindo cerca de três quartos da superfície terrestre. Indispensável aos seres vivos, é
uma das principais substâncias ingeridas pelo ser humano. No entanto, somente uma
pequena parte deste total pode ser utilizada para o consumo humano. Segundo
especialistas em meio ambiente, cerca de 95,1% da água disponível no planeta é
salgada, imprópria para consumo humano. Do restante, 4,7% estão em forma de geleiras
ou em regiões subterrâneas de difícil acesso, restando apenas 0,15% de água apta para o
consumo em lagos, nascentes e em lençois subterrâneos.
A água destinada ao consumo humano é a potável. Esta deve atender a
parâmetros microbiológicos, que visam pesquisar e identificar eventuais microorganismos patogênicos e quantificá-los, além de parâmetros físico-químicos, que
visam detectar substâncias tóxicas. O objetivo de atender a estes aspectos é evitar que a
água ofereça risco à saúde humana. Para a água ser considerada potável, ela deve
atender aos padrões estabelecidos pela American Water Works Association, organização
educacional e científica dedicada à promoção da segurança água potável, e pela Portaria
nº 518, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde, que regula a qualidade da água
no país.
O crescimento desordenado das cidades, com ocupação de áreas inadequadas de
moradia, sem infra-estrutura mínima, compromete a qualidade da água dos
reservatórios, onde são lançados poluentes. Entre as principais fontes de contaminação,
podemos considerar: esgotos domésticos, que são lançados em rios e lagos sem
tratamento; aterros sanitários, que afetam os lençois freáticos; defensivos agrícolas, que
com as chuvas são escoados para os rios e lagos e as indústrias, que lançam seus
efluentes nos rios. A ausência ou precária proteção dos recursos hídricos geram
problemas de contaminação microbiana das águas, com a introdução de uma série de
organismos patogênicos, tornando a água um veículo de transmissão de doenças para o
homem, deixando-a imprópria para o consumo. A contaminação de maior perigo para
consumo humano é a proveniente de excrementos de animais homeotérmicos, que
podem introduzir na água uma série de organismos patogênicos, como bactérias,
protozoários, vírus ou helmintos de origem intestinal.
A grande alavanca do mercado interno de água engarrafada, que até então era
estável, foi em 1968, com lançamento do garrafão em vidro de 20 litros, que inseriu a
este mercado novos consumidores, como empresas, escritórios e indústrias. Hoje em
dia, devido à praticidade, o garrafão de 20 litros, que é feito com outros produtos
plásticos, responde aproximadamente por 55% do volume total de águas minerais
comercializadas no país.
Apesar da qualidade, a água mineral engarrafada apresenta micro-organismos
que podem fazer parte da microbiota inicial (microbiota autóctone) desta. No entanto, a
preocupação está na presença de micro-organismos patogênicos. São considerados
micro-organismos indicadores de contaminação em águas minerais os coliformes totais,
coliformes fecais (Escherichia coli), clostrídios sulfito redutores, enterococos,
Pseudomonas aeruginosa e a contagem de bactérias heterotróficas. Devido ao
reaproveitamento dos galões pelas indústrias de envase de água mineral, esta forma de
comercialização é a que apresenta maior índice de contaminação.
Diante do exposto, o presente trabalho teve por finalidade avaliar a qualidade
microbiológica da água mineral envasada em galão, disponível nos bebedouros dos
Campi I e II da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), comparando os
resultados obtidos com os padrões estabelecidos pela legislação brasileira vigente,
representada pela RDC 275/2005 para águas minerais. Também foi desenvolvido
procedimento para o armazenamento e substituição dos galões e higienização dos
bebedouros.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A água é um elemento essencial para a preservação da vida no planeta,
recobrindo cerca de três quartos da superfície terrestre. Indispensável aos seres vivos, é
uma das principais substâncias ingeridas pelo ser humano. No entanto, para o consumo
humano somente uma pequena parte deste total pode ser utilizada. Segundo
especialistas em meio ambiente, cerca de 95,1% da água disponível no planeta é
salgada, imprópria para consumo humano. Do restante, 4,7% estão em forma de geleiras
ou em regiões subterrâneas de difícil acesso, restando apenas 0,15% de água apta para o
consumo em lagos, nascentes e em lençois subterrâneos (1,2,3).
O Brasil é um país privilegiado por possuir 14% de toda a água doce que circula
pela superfície da Terra. O volume de água de rios e represas disponíveis hoje é
praticamente igual à demanda da população. Apesar de o Brasil ter a maior bacia
hidrográfica do mundo, o país mal dá conta de abastecer integralmente e com qualidade
a sua população. Cuidar da gestão da água é essencial para garantir os recursos
necessários ao crescimento econômico, pois captar e distribuir água de uma represa
limpa é 200 vezes mais barato do que fazer o mesmo com a água poluída, que resulta de
bairros residenciais ou zonas industriais (4).
A água destinada ao consumo humano é a potável. Esta deve atender a
parâmetros microbiológicos, que visam pesquisar e identificar eventuais microorganismos patogênicos e quantificá-los, além de parâmetros físico-químicos, que
visam detectar substâncias tóxicas. O objetivo de atender a estes aspectos é evitar que a
água ofereça risco à saúde humana (5,6). Para a água ser considerada potável, ela deve
atender aos padrões estabelecidos pela American Water Works Association, organização
educacional e científica dedicada à promoção da segurança água potável, e pela Portaria
nº 518, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde, que regula a qualidade da água
no país (5,7,1,8,9).
A qualidade da água se tornou um assunto de interesse público no final do
século XIX e começo do XX, quando se começou a compreender a relação da água
contaminada com a incidência de doenças. Antes dessa época a qualidade era
determinada somente pelos aspectos estéticos e sensoriais, como cor, gosto e odor (8,9).
Ultimamente, pode-se observar um crescimento acentuado na utilização dos
recursos naturais, sendo a água um dos mais explorados devido à sua utilização em
diversos campos (1,2). Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral
(ABINAM), a água potável é uma questão que tem merecido destaque, já que a
população mundial vem crescendo muito, o que tornará a demanda por água excedente à
sua disponibilidade. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de
32 países já enfrentam escassez de água no mundo, com mais de 1 bilhão de pessoas
sem acesso à água limpa para consumo (10).
O crescimento desordenado das cidades, com ocupação de áreas inadequadas de
moradia, sem infra-estrutura mínima, compromete a qualidade da água dos
reservatórios, onde são lançados poluentes. Entre as principais fontes de contaminação,
podemos considerar: esgotos domésticos, que são lançados em rios e lagos sem
tratamento; aterros sanitários, que afetam os lençóis freáticos; defensivos agrícolas, que
com as chuvas são escoados para os rios e lagos e as indústrias, que lançam seus
efluentes nos rios. A ausência ou precária proteção dos recursos hídricos geram
problemas de contaminação microbiana das águas, com a introdução de uma série de
organismos patogênicos, tornando a água um veículo de transmissão de doenças para o
homem, deixando-a imprópria para o consumo. A contaminação de maior perigo para
consumo humano é a proveniente de excrementos de animais homeotérmicos, que
podem introduzir na água uma série de organismos patogênicos, como bactérias,
protozoários, vírus ou helmintos de origem intestinal (2,3,4,6,7,11,12,13,14,15,16).
Estudos da qualidade bacteriológica e química da água são realizados de tempos
e tempos a fim de determinar seu grau de segurança (12). Pela dificuldade técnica e pelo
alto custo resultante de um monitoramento de cada micro-organismo que possa estar
presente, convencionou-se através de determinações práticas e legais a pesquisa apenas
de micro-organismos chamados de indicadores. Esses micro-organismos são
empregados rotineiramente para avaliar a qualidade do produto final e a higiene
empregada durante o processamento da água (17,18).
Em análises realizadas, comprovou-se que o maior índice de contaminação fecal
na água ocorre pela Escherichia coli (E. coli) (11), bactéria patogênica que é o indicador
mais específico de contaminação fecal, portanto de más condições de higiene (1,5,19).
Especificações legais definem que a água para consumo humano é aquela livre de E.
coli ou coliformes termotolerantes, sendo recomendada a sua ausência em 100 mL (2,19).
Pesquisas demonstram que, no Brasil, 80% das doenças são ocasionadas e
veiculadas por decorrência de água contaminada (20,21). Em 2002, dados confirmavam
que na Região Norte, nos últimos 20 anos, tinham ocorrido 11.613 casos de cólera,
6.653 casos de febre tifoide e 7.219 casos de leptospirose, provenientes da ingestão de
água contaminada (14). Segundo dados do Ministério da Saúde, no ano de 2004 foram
registrados cerca de 2,4 milhões de casos de diarreia no país, podendo-se considerar que
60% das internações por diarreia seja devido à água. O tratamento de doenças
decorrentes da transmissão por água contaminada equivale a US$ 2,7 bilhões por ano,
segundo o Ministério da Saúde (2).
É devido a estas contaminações e ao tratamento químico efetuado em estações
de tratamento que a água sofre alterações de odor e sabor (22), aumentando a procura por
outras fontes de água para o consumo. Esse fator tem sido a grande alavanca no
faturamento de indústrias responsáveis pelo mercado de água mineral (4,23). O aumento
no consumo de água mineral é decorrente da percepção dos consumidores de que o uso
desta água esteja relacionado a um estilo de vida saudável, se tornando uma alternativa
de consumo à água fornecida pelos municípios onde vivem, devido a uma possível
desconfiança da qualidade microbiológica e química da água ofertada (24,25). Porém, a
qualidade desta água não garante segurança em sua utilização para o consumo, bem
como para seu emprego em escala industrial (4,23).
De acordo a Resolução nº173/2006, publicada pela Agência Nacional de
Vigilância Santária (ANVISA), água mineral natural é “aquela obtida de fontes naturais
ou por extração de água subterrânea. É caracterizada pelo conteúdo definido e constante
de determinados sais minerais, oligoelementos e outros constituintes considerando as
flutuações naturais” (10).
O mercado mundial de água envasada vem apresentando grande crescimento nos
últimos anos. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a
ABIMAN, este crescimento foi de 20% (25). Em 2007, as águas envasadas superaram o
consumo de refrigerantes, se tornando o maior volume no mercado mundial (24). No
Brasil, este crescimento também é notório, sendo considerado como o sexto maior
mercado de água mineral. O consumo per capita, que era em 1997 de 13,2 litros,
aumentou para 24,9 litros em 2001, um aumento de 104% no período (18,26). A grande
alavanca do mercado interno de água engarrafada, que até então era estável, foi em 1968
com lançamento do garrafão em vidro de 20 litros, que inseriu a este mercado novos
consumidores, como empresas, escritórios e indústrias (10,27). Hoje em dia, devido à
praticidade, o garrafão de 20 litros, que é feito com outros produtos plásticos, responde
aproximadamente por 55% do volume total de águas minerais comercializadas no país
(10)
.
Apesar da qualidade, a água mineral engarrafada apresenta micro-organismos
que podem fazer parte da microbiota inicial (microbiota autóctone) desta. No entanto, a
preocupação está na presença de micro-organismos patogênicos (18,26). Estudos sobre a
ecologia dessas águas demonstraram que quando captadas diretamente da fonte,
apresentam uma população bacteriana de 10 a 100 UFC/mL. As bactérias passam por
ciclos de multiplicação, principalmente em recipientes fechados. Desta forma, após o
envase, este número pode aumentar para 103-106 UFC/mL, o que demonstra que essas
águas não são livres de bactérias (26).
Mesmo a água captada a partir dos lençois freáticos pode apresentar-se
contaminada. Algumas pesquisas relatam que empresas que utilizaram uma fonte
provinda de um lençol freático para abastecer suas águas minerais engarrafadas, na
região de Jaboticabal, foram responsáveis por um grande surto de contaminação por
Vibrio cholera (23). Fato semelhante também ocorreu em Portugal em 1974, onde
aproximadamente 3.000 pessoas foram acometidas em uma epidemia de cólera
veiculada por água mineral engarrafada (18). Diferentes análises também comprovaram a
presença de bactérias, como Pseudomonas aeruginosa, Aeromonas e coliformes totais
em diversas amostras de água mineral, indicando riscos à saúde pública (15,17,28,29).
Dessa forma, torna-se imprescindível proteger os consumidores de doenças que
possam ser veiculadas pela ingestão de água mineral, através do monitoramento
quantitativo e qualitativo dos níveis de micro-organismos patogênicos presentes (15,17).
São considerados micro-organismos indicadores de contaminação em águas
minerais os coliformes totais, coliformes fecais (Escherichia coli), clostrídios sulfito
redutores, enterococos, Pseudomonas aeruginosa e a contagem de bactérias
heterotróficas (17,18).
Ainda é evidente a necessidade de adequação das empresas mineradoras e
distribuidoras de água mineral em relação aos parâmetros de qualidade exigidos pela
legislação, bem como um maior controle nas inspeções da Vigilância Sanitária (21,23,31).
Muitos problemas ocorrem durante o processamento dessa água, em especial devido ao
reaproveitamento dos galões pelas empresas, que acabam não recebendo uma adequada
higienização e contaminam a água envasada (31).
No Brasil, os padrões de identidade e de qualidade da água mineral e natural são
regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da
Resolução de Diretoria Colegiada RDC 275/2005, que estabelece as especificações e
limites máximos permitidos de contaminantes microbiológicos na água mineral e
natural (32).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Qualidade da
Farmácia-escola da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (FarmaUSCS).
Amostragem
As amostras de água mineral foram coletadas diretamente por pessoa treinada
para essa atividade, dentro das exigências de amostragem de material para análise
microbiológica, para evitar contaminação acidental da amostra (33).
Foram considerados pontos de amostragem para coleta da água os bebedouros
disponibilizados nos Campi I e II da USCS, que utilizem água mineral em galões. As
amostras foram coletadas antes e após a realização de processo de higienização por
empresa terceirizada, a fim de validar o procedimento.
Preparo das amostras
As amostras foram analisadas em até 2 horas após a coleta, para evitar
interferências nos resultados. Para a contagem total de bactérias heterotróficas e de
coliformes totais, as amostras foram analisadas diretamente e após diluição em
concentração adequada (33).
Análise microbiológica
As análises microbiológicas foram realizadas de acordo com as recomendações e
especificações da RDC 275/2005 (32) e com base nos métodos constantes da
Farmacopeia Brasileira, 4ª edição (34).
Bactérias heterotróficas totais
Foi utilizada a técnica da membrana filtrante, através da filtração de porções de
100 mL cada, da amostra direta e de suas diluições, para placas contendo o meio de
cultura Tryptic Soy Agar (TSA). Em seguida, essas placas foram incubadas a 35 ± 2 ºC
durante 48h, para contagem total das colônias que apresentaram crescimento.
Coliformes totais e fecais
Foi utilizada a técnica da membrana filtrante, através da filtração de porções de
100 mL cada, da amostra direta e de suas diluições, para placas contendo o meio de
cultura Endo Agar Les. Em seguida, essas placas foram incubadas a 35 ± 2 ºC durante
48h.
As colônias típicas, caracterizadas pela coloração rosada, foram transferidas para
os caldos lactosado e lactosado verde brilhante bile, para verificação do crescimento
(turvação) e da formação de gás, indicativo da presença de coliformes fecais, após
incubação a 35 ± 2 ºC durante 48h.
A confirmação de coliformes fecais (Escherichia coli) foi realizada pela
transferência dos tubos considerados positivos nos caldos (formação de gás e turvação)
para placa contendo ágar eosina-azul de metileno e, em seguida, para caldo EC. Foi
realizada a coloração de Gram das colônias que se desenvolverem no ágar eosina-azul
de metileno e, confirmando a presença de bacilos Gram negativos, foram realizadas as
provas bioquímicas conforme metodologia tradicional, constante da Farmacopeia
Brasileira.
Pseudomonas aeruginosa
Uma alíquota de 10 mL da amostra foi transferida para caldo Tryptic Soy Broth
(TSB), que foi incubado a 35 ± 2 ºC durante 48h. Em seguida, uma alçada foi
transferida para ágar cetrimida, para verificar a presença de P. aeruginosa, representada
pelo crescimento de colônias incolores. Em seguida, foi realizada a coloração de Gram.
Confirmando a presença de bacilos Gram negativos, foram realizadas as provas
bioquímicas conforme metodologia tradicional, constante da Farmacopeia Brasileira.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Em um primeiro momento foram amostrados um total de 10 pontos de
bebedouros que utilizavam galão de 20 litros de água mineral na Universidade
Municipal de São Caetano do Sul (USCS), sendo que 6 destes pontos estavam
localizados no Campus I na Universidade e 4 pontos no Campus II.
A nível de comparação, com o intuito de validar o procedimento, as amostras
foram também coletadas nos mesmos pontos após o processo de higienização realizado
por uma empresa terceirizada.
Os resultados obtidos nos testes realizados nas amostras coletadas no Campus I
da USCS estão descrito nas Tabelas I a IV.
Tabela I: Resultados obtidos da contagem total de bactérias heterotróficas, em amostras
coletadas no Campus I da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Contagem de bactéria heterotrófica total
(UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
4,4.104
1
1,3.105
2
4,0 .105
3
2,0 .104
4
6,0 .104
5
2,2 .105
6
Especificação: máximo 5.104 UFC/100mL.
7,2.104
1,1.105
4,0 .106
Incontáveis
Ponto desativado
1,4 .106
Parecer
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Tabela II: Resultados obtidos da contagem de coliformes totais, em amostras coletadas
no Campus I da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Contagem de coliformes totais (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
78
1
11
2
Incontáveis
3
5
4
8
5
79
6
Especificação: máximo 2 UFC/100mL.
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Ponto desativado
Incontáveis
Parecer
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Tabela III: Resultados obtidos da pesquisa de coliformes fecais (Escherichia coli), em
amostras coletadas no Campus I da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Pesquisa de coliformes fecais (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
˂1
1
˂1
2
˂1
3
˂1
4
˂1
5
2
6
Especificação: ausência em 100mL.
˂1
˂1
˂1
˂1
Ponto desativado
˂1
Parecer
Conforme
Conforme
Conforme
Conforme
Conforme
Não conforme
Tabela IV: Resultados obtidos da pesquisa de Pseudomonas aeruginosa, em amostras
coletadas no Campus I da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Pesquisa de Pseudomonas aeruginosa (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
˂1
1
3
2
˂1
3
˂1
4
˂1
5
˂1
6
Especificação: máximo 2 UFC/100mL.
˂1
˂1
˂1
˂1
Ponto desativado
˂1
Parecer
Conforme
Não conforme
Conforme
Conforme
Conforme
Conforme
Os resultados obtidos nos testes realizados nas amostras coletadas no Campus II da
USCS estão descrito nas Tabelas V a VIII.
Tabela V: Resultados obtidos da contagem total de bactérias heterotróficas, em
amostras coletadas no Campus II da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Contagem de bactéria heterotrófica total
(UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
2,6. 106
1
2,5. 106
2
7,6. 105
3
1,6. 105
4
Especificação: máximo 5.104 UFC/100mL.
3,7. 105
1,5. 106
2,4. 106
Ponto desativado
Parecer
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Tabela VI: Resultados obtidos da contagem de coliformes totais, em amostras
coletadas no Campus II da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Contagem de coliformes totais (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
Incontáveis
1
Incontáveis
2
68
3
Incontáveis
4
Especificação: máximo 2 UFC/100mL.
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Ponto desativado
Parecer
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Não conforme
Tabela VII: Resultados obtidos da pesquisa de coliformes fecais (Escherichia coli), em
amostras coletadas no Campus II da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Pesquisa de coliformes fecais (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
˂1
1
˂1
2
˂1
3
˂1
4
Especificação: ausência em 100mL.
˂1
˂1
3
Ponto desativado
Parecer
Conforme
Conforme
Não conforme
Conforme
Tabela VIII: Resultados obtidos da pesquisa de Pseudomonas aeruginosa, em amostras
coletadas no Campus II da USCS, antes e após higienização dos bebedouros.
Ponto
Pesquisa de Pseudomonas aeruginosa (UFC/100mL)
Antes da higienização
Após higienização
˂1
1
2
˂1
3
˂1
4
Especificação: máximo 2 UFC/100mL.
˂1
4
˂1
Ponto desativado
Parecer
Conforme
Não conforme
Conforme
Conforme
A Resolução RDC 275/2005 da Anvisa estabelece parâmetros de qualidade
para água mineral, os quais incluem como indicadores coliformes totais, colifornes
fecais (E. coli), Pseudomonas aeruginosa, entre outros (32).
A legislação para água mineral não determina a contagem de bactérias
heterotróficas como parâmetro de qualidade, para tanto usamos como base a
recomendação da portaria 518 que estabelece limite de 500 UFC por 100 mL para água
de consumo (35).
A primeira análise microbiológica, realizada antes do processo de higienização
dos bebedouros, mostrou que 8 dos 10 pontos amostrados (80%) apresentaram
contagem de bactérias totais fora da especificação estabelecida. Após a higienização, os
8 pontos analisados (100%) apresentaram resultados fora da especificação,
considerando que 2 dos 10 pontos inicialmente amostrados foram desativados (Tabelas I
e V). Mesmo que a maioria das bactérias heterotróficas da microbiota natural da água
não seja considerada patogênica, a densidade desta deve ser mantida sobre controle.
Essa contagem fornece informações de maneira mais ampla sobre a qualidade da água,
já que a alta densidade pode apresentar risco à saúde do consumidor. Algumas dessas
bactérias podem atuar como patógeno oportunista e ainda podem causar a deterioração
do produto, podendo também mascarar a detecção de coliformes (9, 18, 35).
Um indicativo de más condições de higiene, apesar de não indicar
necessariamente a presença de contaminação fecal, é a contagem de coliformes totais
(06,18.35)
. Em nossa pesquisa, todos os pontos amostrados (100%) apresentaram-se fora da
especificação para contagem de coliformes totais, tanto antes quanto depois do processo
de higienização (Tabelas II e VI). Trabalhos relatam que amostras de água mineral
coletadas diretamente da fonte, em sua grande maioria, não apresentaram contaminação
por coliformes totais, situação que mudou após o engarrafamento em galão de 20 L, o
que indica falha durante este processamento. Em função disso, este parâmetro é muito
utilizado para avaliação de contaminações (18,35).
Nas amostras coletadas, apenas duas (20%) apresentaram a presença de
coliformes fecais, representados pela pesquisa de Escherichia coli: uma antes (Tabela
III) e outra depois (Tabela VII) do processo de higienização. A E. coli é o microorganismo do grupo dos coliformes termotolerantes mais representativo, isso porque é
um habitante natural do trato entérico do homem e dos animais. A presença de E.coli é
um indicativo de contaminação fecal recente, pois raramente é encontrada na ausência
deste tipo de poluição, o que torna a água imprópria para o consumo (18, 36, 37). Este
micro-organismo também é considerado como um risco elevado à saúde, pois possui
alguns sorotipos responsáveis por gastroenterites, que tem a diarreia como o principal
sintoma (35,37, 38).
Dos 10 pontos amostrados, 2 (20%) tiveram confirmação da presença de
Pseudomonas aeruginosa acima da especificação. O ponto 2 do Campus I (Tabela IV)
apresentou contaminação por este micro-organismo antes do processo de higienização.
No Campus II, o ponto 2 apresentou contaminação por P. aeruginosa depois do
processo de higienização (Tabela VIII). A preocupação com a presença deste microorganismo vem do fato de muitas espécies serem resistentes a antibióticos. Contribuem
para agravar esse fato: estarem amplamente distribuídas no meio ambiente, sendo
capazes de resistir por longos períodos, pela sua alta capacidade de multiplicação em
água, mesmo com conteúdo reduzido de nutrientes e por serem patógenos oportunistas,
representando uma ameaça para indivíduos imunocomprometidos. Além disso, a P.
aeruginosa pode alterar a cor, turbidez e sabor da água(18, 35,39). Trabalhos revelam que a
P. aeruginosa pode estar ou não presente em fontes, dependendo da época de
amostragem e que, ocasionalmente, mesmo não tendo contaminação na fonte a água se
apresentava contaminada por este micro-organismo depois do processamento (18). Desta
forma a P. aeruginosa contamina a água tanto por ser autóctone e estar presente no
ambiente, como por falha no processo de envase(40). Podemos assim utilizar este microorganismo como indicador de boas praticas no que se refere à limpeza e sanitização.
Esta contaminação durante o envase pode ser decorrente da colonização do
equipamento devido a defeitos nas vedações de borracha, por exemplo. Este microorganismo é capsulado, sendo assim apresenta capacidade para formação do biofilme
nos equipamentos (18,40). Na embalagem da água mineral, rachaduras presentes na face
interna podem ser locais adequados para desenvolvimento de biofilmes e
consequentemente a contaminação da água. Essa aderência pode explicar a longa
sobrevivência deste micro-organismo, podendo sobreviver em águas envasadas por
vários anos (40).
Conforme já exposto, a água mineral apresenta micro-organismos em sua
própria microbiota, existentes nesta antes mesmo de qualquer tratamento ou
processamento. Em sua fonte de captação, a água apresenta-se com baixa contagem
bacteriana, pois ao atravessar superfícies de rocha a água tem suas moléculas orgânicas
filtradas, resultando em uma água com baixo conteúdo de nutriente orgânico necessário
para multiplicação de micro-organismos (41). O nível de micro-organismo permanece
baixo enquanto a água está em seu ambiente natural, porém após o envase este número
muda, podendo apresentar significativo aumento. Isso porque o processo de
engarrafamento muda as condições do ambiente, favorecendo a multiplicação dos
micro-organismos(26, 41, 42). Essa multiplicação pode ser devida ao contato com
compostos orgânicos presentes na embalagem, porque as bactérias se aderem a
superfícies das garrafas. Os nutrientes presentes em baixas concentrações são
adsorvidos e concentrados na superfície interna, formando assim o biofilme, que é uma
película biológica formada por uma matriz polimérica, aderida a uma superfície sólida,
constituída por micro-organismos, pelas substâncias poliméricas extracelulares que
estes excretam e por água (43,44). A rugosidade da superfície do frasco, principalmente de
frascos plásticos, aumentam essa aderência, o que pode explicar o longo tempo de
sobrevivência dos micro-organismo na água mineral.
Além disso, podemos ter presentes na água organismos contaminantes que são
aqueles não provenientes das fontes, sendo resultados de uma contaminação que pode,
por exemplo, ser de origem fecal. A preocupação maior é com aqueles microorganismos considerados patógenos. A reutilização de garrafas sem a limpeza e
desinfecção adequada é considerada como possível fonte de contaminação, já que este
“agregado bacteriano” não é facilmente removível (41, 45). O mesmo pode ocorrer com as
tubulações dos bebedouros, isso porque o biofilme também se forma nos pequenos
tubos flexíveis, aderência essa que é facilitada por imperfeições microscópicas presentes
na superfície interna dos ductos (45).
Todos os pontos analisados tiveram seus resultados comparados com o laudo de
análise da empresa engarrafadora da água. Este laudo é referente a análises efetuadas na
fonte, o que demonstrou que a contaminação ocorreu posteriormente à abertura do
galão.
Para evitar a formação de biofilmes nas tubulações de bebedouros, o processo de
higienização precisa ser mais eficaz. Uma forma de garantir a eficácia dessa
higienização e, consequentemente, a segurança na utilização dos bebedouros que
utilizam galões, é realizar mensalmente a higienização com hipoclorito de sódio a 0,5%.
Esta deve ser realizada no momento da troca do galão, imergindo toda a superfície das
tubulações pela solução de hipoclorito, deixando em contato durante 15 minutos. Após
esse período, a parte interna do bebedouro (tubulações) deve ser amplamente enxaguada
com água potável.
5. CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, pudemos observar que 100% dos pontos
analisados apresentaram-se não conformes com base na legislação vigente, seja pela alta
incidência de bactérias heterotróficas, seja pela presença de coliformes totais.
Devido a essa incidência, fica claro que a origem da contaminação ocorreu após
a abertura do galão da água, no próprio bebedouro, o que configura a formação de
biofilme.
Outro ponto evidente é a não eficiência do procedimento de higienização
habitualmente realizado, sendo necessária urgente modificação nesse processo.
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Avaliação da qualidade microbiológica da água mineral