ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA WANDERLEY MONTEAGUDO RASGA JUNIOR ASSUNTOS CIVIS: Realidade, desafios e perspectivas Rio de Janeiro 2012 WANDERLEY MONTEAGUDO RASGA JUNIOR ASSUNTOS CIVIS: Realidade, desafios e perspectivas Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. ORIENTADOR: Prof Adj José Amaral Argolo Rio de Janeiro 2012 C2012 ESG Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. ________________________________ Wanderley Monteagudo Rasga Junior Biblioteca General Cordeiro de Farias Rasga Junior, Wanderley Monteagudo Assuntos Civis: Realidade, desafios e perspectivas / Wanderley Monteagudo Rasga Junior. - Rio de Janeiro : ESG, 2012. 64 f.: il. Orientador: Prof Adj José Amaral Argolo Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), ano. 1. Operações de Assuntos Civis. 2. Defesa Civil. 3. Forças Armadas. I.Título. A minha família, que contribuiu com incentivos durante as minhas atividades desenvolvidas na ESG, e, em especial, a minha esposa Bianca, pela compreensão nos momentos de minha ausência. AGRADECIMENTOS Ao Corpo Permanente da ESG e aos demais professores e palestrantes do CAEPE 2012, pela contribuição valiosa no meu aprendizado, permitindo-me compreender a realidade e fazer uma avaliação mais profunda da conjuntura de nosso país. Aos colegas da Turma PROANTAR (CAEPE 2012), pela amizade e pelo convívio harmonioso durante todos os momentos. Ao meu orientador, Prof Adj José Amaral Argolo, pelas orientações objetivas na elaboração deste trabalho. É preciso conhecer o passado, para entendermos o presente e projetarmos o futuro. Prof. Expedito Bastos RESUMO As atividades de Assuntos Civis são todas aquelas atividades referentes ao relacionamento do comandante e dos demais componentes da força legal com as autoridades civis e a população da área ou território sob controle da força. Países como os Estados Unidos têm uma doutrina sobre Assuntos Civis bem desenvolvida, que pode servir de modelo para outros países. A participação da Força Terrestre na garantia da lei da ordem tem se intensificado nos últimos anos, devido à situação sócio-econômica do País e pela crise dos órgãos de segurança pública. Essa participação tem sido feita, na maioria das vezes, para auxiliar a Defesa Civil no gerenciamento de crises provocadas por desastres naturais no País e também nas missões de paz das Nações Unidas, como no Haiti. O emprego da tropa federal está amparado pela Constituição do Brasil de 1988 e por vasta legislação em vigor. Nessas participações têm-se notado a necessidade de utilização de especialistas sobre Assuntos Civis. No presente trabalho o autor disserta sobre o emprego das atividades de Assuntos Civis nas operações de guerra e não guerra. Descrevem-se o desenvolvimento das atividades de Assuntos Civis realizadas por Caxias, nas revoltas internas do século XIX, as experiências sobre Assuntos Civis dos Estados Unidos, os fatores que poderão gerar possíveis crises com os diversos públicos envolvidos e como está organizada a doutrina brasileira sobre o assunto. Por fim, conclui-se propondo algumas sugestões sobre as atividades de Assuntos Civis das Forças Armadas por ocasião do emprego dual da tropa em todo espectro de possibilidades. Palavras-chave: Assuntos Civis; Operações Militares. ABSTRACT The activities of Civil Affairs are all those activities regarding the commander's relationship and of the other components of the government force with the civil authorities and the population of the area or territory under control of the force. Countries as the United States have a Civil Affairs doctrine well developed, that can serve as a model for other countries. The participation of the Terrestrial Force in the guarantee of the law and order, has intensified in the last years, due to the socioeconomic situation of the Country and for the crisis of the public security organs. That participation has been made, most of the time, to augment the civil defense during natural disasters and during United Nations Peaces Missions in Haiti. The job of the federal troop is aided by the Constitution of Brazil 1988 and for vast legislation in energy. In those participations they have been noticing the need of specialists' use on civil affairs. In the present work the author lectures on the job of the civil affairs activities in the operations to guarantee the law and order. They are described the development of the activities of Civil Affairs accomplished by Caxias, in the internal revolts, the experiences on Civil Affairs of the United States, the factors that can generate possible crises with the several involved publics and as the Brazilian doctrine is organized on the subject. Finally, was concluded proposing some suggestions about the activities of Civil Affairs of the Armed Forces for occasion of the job of the troop in multiple purpose employment. Keywords: Civil Affairs; Military Operations. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Comandos continentais norte-americanos.......................................... 35 Figura 2 – Situações emergenciais sazonais....................................................... 40 Figura 3 – Comandos Militares de Área do Exército Brasileiro............................ 41 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACISO Ações Cívico Sociais ACM Ação Civil Militar Adj Adjunto Agpt Agrupamento AJP-9 Manual de CIMIC ANA Agência Nacional de Águas Ap Log Apoio Logístico ARE Área de Reunião de Evacuados Art Artigo As Civ Assuntos Civis Bda Brigada BE Boletim do Exército BRABATT Brazilian Battalion BRAENGCOY Companhia de Engenharia de Força de Paz Haiti CA Civil Affairs CACOM Civil Affairs Command CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia CAT Civil Affairs Team CCE Centro de Controle de Evacuados CF Constituição Federal CFN Corpo de Fuzileiros Navais CGCFN Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais CIMIC Civil-Military Cooperation CMA Comando Militar da Amazônia CMilA Comando Militar de Área CML Comando Militar do Leste CMNE Comando Militar do Oeste CMO Civil Military Operation CMO Comando Militar do Oeste CMOC Civil-Military Operations Center CMP Comando Militar do Planalto CMS Comando Militar do Sul CMSE Comando Militar do Sudeste COAC Centro de Operações de Assuntos Civis Com Soc Comunicação Social COTER Comando de Operações Terrestres CPTEC Aviso Meteorológico CS Conselho de Segurança Ct Op Controle Operacional DE Divisão de Exército DIRDN Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais DN Distrito Naval DPKO Departamento de Operações de Manutenção de Paz DSH Department of Homeland Security EB Exército Brasileiro ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EGN Escola de Guerra Naval Elm Anf Elemento Anfíbio EMD Estado-Maior de Defesa EMCFA Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa Eqp Equipe ESF Emergency Support Functions ESG Escola Superior de Guerra EUA Estados Unidos da América FA Força(s) Armada(s) FAB Força Aérea Brasileira FAC Força Aérea Componente FCO Federal Coordinating Officer FEMA Federal Emergency Management Agency FNC Força Naval Componente FT Força Tarefa FTC Força Terrestre Componente F Ter Força Terrestre FUNCAP Fundo Especial para Calamidades Públicas G9 Oficial/Seção de Assuntos Civis GCDA Programa de Gestão e Controle da Distribuição de Água GCmdoOpFTer Grande Comando Operacional da Força Terrestre GEACAP Grupo Especial para Assuntos de Calamidades Públicas GLO Garanta da Lei e da Ordem GptOpFuzNav Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais GSI Gabinete de Segurança Institucional da Presidência República IEM Informações Estratégicas Militares IG Instruções Gerais IP Instrução Provisória ISF Forças de Segurança do Iraque Intlg Inteligência HE Hipótese de Emprego IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis MB Marinha do Brasil MC Manual de Campanha MCDU Unidade de Defesa Civil Militar MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MD Ministério da Defesa ME Manual Escolar MIF Força Multinacional Interina MF Ministério da Fazenda MIN Ministério da Integração Nacional MINUSTAH Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti MJ Ministério da Justiça MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão MRE Ministério das Relações Exteriores OCHA Gabinete da ONU para coordenação de ajuda humanitária OEA Organização dos Estados Americanos OG Organizações Governamentais OM Organização Militar ONG Organizações Não Governamentais ONU Organização das Nações Unidas Op Psc Operações Psicológicas OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PDN Política de Defesa Nacional Pel Pelotão PKF Força de Manutenção de Paz PNDC Política Nacional de Defesa Civil PNDEC Política Nacional de Proteção e Defesa Civil PNGR Planejamento Nacional para Gestão de Riscos PPCDAM Programa de Prevenção Controle ao Desmatamento na Amazônia Legal PROANTAR Programa Antártico Brasileiro QCP Quadro de Cargos Previstos REDEC Coordenadorias Regionais de Defesa Civil SEDEC Secretaria Nacional de Defesa Civil SINPDEC Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil RM Região Militar SE Seção de Emprego SIPLEX Sistema de Planejamento Estratégico do Exército SU Subunidade TO Teatro de Operações TOT Teatro de Operações Terrestres TOM Teatro de Operações Marítimo TV Televisão UNDP Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas UNITAF Força-Tarefa Unificada USACAPOC United States Army Civil Affairs and Psychological Operations Command USASOC United States Army Special Operations Command USAFRICOM The United States Africa Command USAR The United States Army Reserve USCENTCOM The United States Central Command USEUCOM The United States European Command USMCA The United States Marine Corps USPACOM The United States Pacific Command USSOUTHCOM The United States Southern Command WHINSEC Western Hemisphere Institute for Security Cooperation SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 16 2 OPERAÇÕES DE ASSUNTOS CIVIS NAS FORÇAS ARMADAS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.............................................. 20 2.1 HISTÓRICO........................................................................................... 20 2.2 DOUTRINA............................................................................................ 21 2.3 TAREFAS FUNDAMENTAIS........................................................... 22 2.3.1 Controle de População e Recursos................................................... 22 2.3.2 Ajuda Humanitária no Estrangeiro........................................... 22 2.3.3 Administração da Informação Civil............................................... 22 2.3.4 Assistência à Nação....................................................................... 23 2.3.5 Apoio à Administração Civil.......................................................... 23 2.4 APOIO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS............................................. 24 2.5 ORGANIZAÇÃO, FUNÇÕES E CAPACIDADES............................... 24 2.5.1 Força de Assuntos Civis................................................................ 25 2.5.2 Centro de Operações Civil-Militar................................................. 25 2.6 DEFESA CIVIL................................................................................. 26 2.6.1 Histórico......................................................................................... 26 2.6.2 Forma de Emprego......................................................................... 27 2.6.3 Estrutura......................................................................................... 28 2.6.4 Furacão Katrina.............................................................................. 30 2.7 CASOS REAIS................................................................................. 30 2.7.1 Operação Fúria Urgente em Granada............................................ 31 2.7.2 Operação no Panamá..................................................................... 32 2.7.3 Operação na Somália..................................................................... 32 2.7.4 Operação no Haiti........................................................................... 33 2.7.5 Operação em Kosovo..................................................................... 36 2.7.6 Operação no Afeganistão.............................................................. 36 2.7.7 Operação no Iraque....................................................................... 37 2.7.8 Considerações Finais.................................................................... 38 3 CONTEXTO BRASILEIRO.................................................................... 40 3.1 HISTÓRICO........................................................................................... 40 3.2 DOUTRINA............................................................................................ 42 3.3 ORGANIZAÇÃO.................................................................................... 44 3.3.1 Comando de Assuntos Civis.............................................................. 44 3.3.2 Organizações de Assuntos Civis....................................................... 45 3.3.2.1 Batalhão de Assuntos Civis................................................................... 45 3.3.2.2 Companhia de Assuntos Civis............................................................... 45 3.3.2.3 Pelotão de Assuntos Civis..................................................................... 46 3.3.2.4 Equipes de Assuntos Civis..................................................................... 46 3.4 SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL (SINPDEC). 46 3.5 OPERAÇÕES SUBSIDIÁRIAS E CASOS REAIS................................. 49 3.5.1 Socorro e Assistência a Desabrigados.............................................. 50 3.5.2 Operação Pipa...................................................................................... 3.5.3 Combate a Incêndios Florestais......................................................... 51 3.5.4 Apoio no Combate a Delitos Ambientais........................................... 52 3.5.5 Ações Sociais...................................................................................... 3.5.6 Campanhas de Saúde e Controle de Epidemias............................... 52 3.5.7 Operação Serrana 2011....................................................................... 53 3.5.8 Participação Brasileira do Haiti.......................................................... 54 3.5.9 Estrutura Atual de Coordenação das Atividades Subsidiárias no 51 52 Exército Brasileiro............................................................................... 55 3.6 POSSIBILIDADES FUTURAS............................................................... 57 4 CONCLUSÃO....................................................................................... 59 REFERÊNCIAS..................................................................................... 62 16 1 INTRODUÇÃO As Operações de Assuntos Civis são um conjunto de atividades referentes ao relacionamento do comandante e dos demais componentes de uma organização ou força militar com as autoridades civis e a população da área ou território, sob a responsabilidade ou jurisdição do comandante desta organização ou força. Compreendem comunicação social, ação comunitária e assuntos de governo. (BRASIL, 2007) No Brasil, o primeiro chefe militar a sistematizar esse tipo de operação foi Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. A partir do século XIX, durante as guerras externas e nas revoltas internas, o Patrono do Exército Brasileiro notabilizou-se como estrategista e exemplo de soldado, atuando, principalmente, nos campos político e diplomático. A atuação de Caxias foi decisiva em , pelo menos, dois momentos da história, com enfoque nos Assuntos Civis, por ocasião do sufocamento das rebeliões regenciais no Maranhão e no Rio Grande do Sul. Desde então, não faltaram oportunidades para desenvolvimento da doutrina brasileira. As Forças Armadas foram empregadas na Guerra de Canudos e na do Contestado, na 2ª Guerra Mundial, além do emprego sob a égide de Organismos Internacionais, no caso de Suez (Egito) e de São Domingos (República Dominicana). Entretanto, por diversos motivos, os Assuntos Civis ficaram relegados a um papel secundário no contexto militar brasileiro e perdeu-se a chance de consolidar adequadamente a doutrina. Recentemente, com o reposicionamento internacional do Brasil, determinando novas posturas governamentais em diversos setores, detectou-se a necessidade de se aperfeiçoar a doutrina brasileira para não só empregá-la em operações de guerra, mas também em operações de não guerra, como nos caso do Timor Leste e do Haiti. Também no território nacional, têm crescido as missões cumpridas com este enfoque. Seja em ações subsidiárias de apoio ao desenvolvimento do País; na linha de fronteira, impedindo que traficantes invadam o território do País; em operações de garantia da lei da ordem em todo o território brasileiro; de forma preventiva e operativa, realizando o apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução aos órgãos do governo envolvidos em missão de garantia da lei e da 17 ordem; e no restabelecimento da ordem pública ou da paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional. Um modelo que deve ser apreciado e, com as devidas adaptações, considerado como base para reorganizar o núcleo de Assuntos Civis nas Forças Armadas Brasileira é o adotado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos da América. O principal ator mundial desenvolve a sua doutrina de Operações de Assuntos Civis desde a guerra contra o México, ocorrida entre 1846 e 1848. Nesta ocasião, foi prestada, de forma inédita até então, assistência humanitária às populações civis envolvidas no conflito. O Exército dos Estados Unidos considera que esta é a origem desse tipo de operação militar. O emprego sistemático foi sendo aperfeiçoado através dos tempos. Para isso, serviram de laboratório para o desenvolvimento da doutrina todas as operações em que as Forças Militares norte-americanas foram empregadas ao redor do mundo. Uma importante diferença entre o emprego norte-americano e o brasileiro é que o Governo dos Estados Unidos da América só considera a utilização do aparato militar das Forças Armadas em seu próprio território em casos excepcionais, motivados por calamidades naturais de grandes proporções e que excedam a capacidade de emprego de sua estrutura de Defesa Civil. No Brasil, no atual status-quo, qualquer proposta de estruturação de Forças militares vocacionadas para as Operações de Assuntos Civis deverá considerar o emprego dual, ou seja, tanto no Brasil quanto no exterior, em operações de guerra e não guerra. Essas constatações levam a refletir e a realizar o presente trabalho que versa sobre um estudo acerca da situação atual das Operações de Assuntos Civis, identificando suas possibilidades de atender, total ou parcialmente, às necessidades estratégicas do Governo brasileiro e das Força Armadas. Buscou-se, portanto, responder ao seguinte questionamento: Como estruturar e sistematizar as Operações de Assuntos Civis a fim de atender às necessidades estratégicas das Forças Armadas? Para tanto, foram identificados os aspectos mais relevantes referenciados na legislação e nos documentos reunidos, que justificassem a importância de se possuir uma tropa vocacionada para emprego dual. 18 Além disso, foi identificado como modelo o caso norte-americano, notoriamente consagrado em termos mundiais. Com o conhecimento adquirido em Curso realizado no Exército dos Estados Unidos da América e com o entendimento do modelo praticado no Brasil, bem como das causas de seus sucessos e insucessos, tornou-se possível a formulação de uma sugestão de um modelo de estrutura que possa atender às necessidades estratégicas das Forças Armadas. A sugestão de um modelo, focado no atendimento das necessidades estratégicas das Forças Armadas, objeto final deste trabalho, pode vir a servir de fonte de reflexões aos estudos ora realizados no que se refere ao reorganização e, particularmente, à revitalização da doutrina de Assuntos Civis. A metodologia empregada na realização do trabalho teve por base uma investigação descritiva sustentada por pesquisas bibliográfica e documental. As pesquisas, bibliográfica e documental, foram realizadas por meio de consultas na Biblioteca da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, nos livros, revistas, periódicos e monografias, e nas organizações civis e militares, onde foram obtidas fontes como relatórios e documentos institucionais A fim de atingir os objetivos mencionados e melhor compreender a pesquisa realizada, além do presente capítulo, o trabalho é composto pelos: Capítulo 2, onde é apresentado um breve histórico das Operações de Assuntos Civis no Exército dos Estados Unidos da América, além de identificar a estrutura militar e de Defesa Civil existente, doutrina, formas de emprego e apresentações de caso reais, ao longo dos tempos. Capítulo 3, onde são apresentadas as características dos Assuntos Civis desenvolvidas pelas Forças Armadas Brasileiras. São identificados o histórico, a doutrina, o emprego, a base legal, a estrutura de Defesa Civil e militar, além de exemplos de casos reais. É apresentado um diagnóstico de possibilidades futuras a partir da nova realidade brasileira. As conclusões finais, apresentadas no capítulo 4, visam à consolidação das idéias desenvolvidas no decorrer do trabalho, bem como apresentar sugestões para continuidade da pesquisa científica realizada. Apresenta-se uma estrutura básica para desenvolvimento a partir de uma comparação com o modelo norte-americano. Considerou-se para isso, as diferenças existentes entre as duas Forças 19 Armadas, bem como as áreas alvo dos interesses geopolíticos de cada governo. 20 2 OPERAÇÕES DE ASSUNTOS CIVIS NAS FORÇAS ARMADAS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Será apresentado, a seguir, um breve relato sobre como está estruturado o sistema Assuntos Civis nas Forças Armadas dos Estados Unidos da América, particularmente no Exército norte-americano, protagonista deste sistema. As observações foram obtidas, basicamente, durante o curso de operações de Assuntos Civis realizado em 2010 no WHINSEC, Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, localizado em Fort Benning - estado da Georgia, uma das escolas responsáveis pela difusão da doutrina de Assuntos Civis no Exército. Embora o curso tenha sido de natureza militar e sua aplicação voltada para operações de guerra e não guerra, acessoriamente, foi realizado um exercício de aplicação dos conhecimentos adquiridos voltados para uma situação de calamidade pública, a fim de que o aspecto dual do sistema fosse explorado. 2.1 HISTÓRICO Pode-se afirmar que o segundo quartil do século XIX marcou o início efetivo das operações de Assuntos Civis no âmbito do Exército dos Estados Unidos. Por ocasião da guerra com o México, em 1846, o General Scott, considerado o Patrono dos Assuntos Civis, pioneiramente, estruturou um sistema a partir da análise do ambiente operacional, identificando padrões de comportamento da população civil e buscando obter vantagem militar a partir das conclusões elaboradas nos campos psicossocial e econômico. Desde então, os soldados de Assuntos Civis têm participado de todos os conflitos militares protagonizados pelos Estados Unidos da América, com destaques para a guerra hispano-americana de 1890, a 2ª Guerra Mundial, a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnam, a Operação Fúria Urgente no Panamá, a Guerra das Filipinas e recentemente nos conflitos no Iraque e no Afeganistão. ESTADOS UNIDOS (2004), o Escritório de História do USASOC relata em “os Assuntos Civis durante a Operação Liberdade do Iraque” que [...] Quando o regime Taliban entrou em colapso no Afeganistão, o transtorno da economia e infraestruturas afegãs requereu um esforço concentrado em Assuntos Civis. A equipe de Assuntos Civis A32 (CAT-A32) estabeleceu suas operações em dois hangares abandonados no aeroporto de Bagram. Deste lugar, a equipe contatou várias organizações não governamentais na área, trabalhando para coordenar esforços das operações civil-militares 21 com o fluxo da ajuda humanitária na região. A evacuação de 40 crianças lesionadas para a Alemanha a fim serem hospitalizadas é uma de tantas tarefas que foi executada. A equipe facilitou a chegada da primeira aeronave de socorro a Bagram e a distribuição de 945 cestas básicas e 1440 cobertores para a população local. A rápida resposta ao esforço de socorro humanitário foi fundamental no estabelecimento de uma primeira impressão positiva da população local para o esforço militar norte-americano. (EUA, 2004). 2.2 DOUTRINA Os Assuntos Civis emprestam ao Comandante Militar a experiência do componente civil do ambiente operacional. O Comandante utiliza as capacidades dos Assuntos Civis para analisar e influenciar o terreno humano por meio de processos específicos, recursos e pessoal dedicado. Conduzem operações enquadradas dentro da missão e intenção geral das operações civil-militares (CMO). Ajudam consideravelmente na garantia da legitimidade e credibilidade da missão, sugerindo a melhor forma de satisfazer as obrigações morais e legais para com as populações afetadas pelas operações militares (ESTADOS UNIDOS, 2006). A missão das Forças é colaborar ativamente com população civil mediante o planejamento, execução e na transferência final de responsabilidade dos Assuntos Civis para o público alvo em operações do Exército, Conjuntas, Interagencias e Multinacionais. Deve assessorar, ainda, os Comandantes na participação do componente civil do ambiente operacional, apoiando as operações civil-militares antes, durante e depois do conflito (ESTADOS UNIDOS, 2006). As operações civil-militares são atividades de um Comandante que estabelecem, influem ou exploram as relações entre forças militares, organizações e autoridades governamentais, não governamentais e a população civil em uma área amiga, neutra ou hostil, com a finalidade de facilitar as operações militares e atingir os objetivos propostos (ESTADOS UNIDOS, 2006). A Organização do Tratado do Atlântico Norte e a Organização das Nações Unidas referem-se a estas operações como Civil-Military Cooperation (CIMIC). As tropas de Assuntos Civis apoiam o Comandante durante as operações civil-militares, dentro do contexto de espectro total, executando Operações de Assuntos Civis. A doutrina norte-americana prevê o emprego de Assuntos Civis, obrigatoriamente, em conjunto com outros sistemas militares, tais como Operações Psicológicas, Inteligência e Comunicação Social, a fim de multiplicar o poder de 22 combate das Forças Militares. Assim, não se concebe o emprego singular dos Assuntos Civis em nenhum tipo de operação. A integração de todo sistema é imperativa e necessária. 2.3 TAREFAS FUNDAMENTAIS As tarefas fundamentas de Assuntos Civis são as cinco atividades que as Forças de Assuntos Civis estão em condições de planejar, apoiar e executar: Controle de População e Recursos, Ajuda Humanitária no Estrangeiro, Administração da Informação Civil, Assistência à Nação e Apoio à Administração Civil. Todas as referidas tarefas apoiam uma operação civil-militar. 2.3.1 Controle de População e Recursos O Controle de População e Recursos engloba as ações que levam a cabo um governo para prover a segurança à população em casos de emergência civil ou militar, livrando a sociedade da subversão, da anarquia e da insurgência. Os tipos de medidas são: o Controle da População, o Controle de Recursos, a Operação com Civis Deslocados (civis que se encontram involuntariamente fora de seus limites nacionais) e Operação de Evacuação de Não combatentes. 2.3.2 Ajuda Humanitária no Estrangeiro A Ajuda Humanitária no Estrangeiro é o conjunto de programas que se executam para aliviar ou reduzir os resultados dos desastres naturais ou provocados pelo homem, outras condições endêmicas como o sofrimento humano, a enfermidade, a fome e a privação que possa se considerar ameaça séria à vida ou causar danos graves e perdas de propriedade. A característica principal deste tipo de tarefa é que a mesma tem duração limitada e não é conduzida no território dos Estados Unidos. São ocasiões para desencadeamento deste tipo de tarefa: terremotos, inundações, derramamento de petróleo, conflitos civis, furacões e incidentes terroristas. 2.3.3 Administração da Informação Civil A Administração da Informação Civil é um levantamento de dados 23 relacionados com uma determinada região. Envolve dados sobre a área de operações, as estruturas e organizações existentes, as capacidades disponíveis, o povo que habita e os eventos civis previstos. Esses dados são processados e asseguram a disponibilidade oportuna da informação, bem como uma análise adequada para utilização das Forças. ESTADOS UNIDOS (2004), o 425º Batalhão de Assuntos Civis relata em “Problemas de administração da informação de Assuntos Civis durante a Operação Liberdade do Iraque” que [...] A informação civil foi um problema para quem tinha que tomar decisões financeiras de projeto para o trabalho de apoio ao governo e à inteligência. Em Bagdá, as unidades de Assuntos Civis tiveram ferramentas e procedimentos não eficazes para a execução do apoio ao governo e à administração deste projeto. Parte do problema se deveu a incapacidade do software para facilitar a administração de contatos comunitários. A supervisão e a administração são praticamente impossíveis quando os níveis de visibilidade e de retroinformação em projetos, eventos e ações são deficientes (EUA, 2004). 2.3.4 Assistência à Nação É uma assistência civil ou militar que as Forças militares dos Estados Unidos prestam a uma nação dentro de seu território durante tempos de paz, guerra, crise ou emergência em base de acordos efetuados mutuamente entre os Estados Unidos e a referida nação. A característica principal desta tarefa é a sua longa duração firmada por intermédio de contrato entre os dois governos. A estratégia de emprego é baseada em Ações Cívico-Militares (ACISO) com o objetivo de ganhar o apoio da população local para o atendimento dos objetivos do Governo local e das Forças militares. Consiste em projetos que beneficiam o país anfitrião nas áreas de educação, saúde e outras. 2.3.5 Apoio à Administração Civil São as operações militares que ajudam a estabilizar ou dar continuidade nas operações do órgão ou estrutura civil de um país estrangeiro, seja participando de um governo estabelecido ou estabelecendo uma autoridade militar sobre a área ocupada. 24 2.4 APOIO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS Além das tarefas fundamentais, os Assuntos Civis podem ser empregados, excepcionalmente, em apoio às seguintes situações: Defesa Civil, Guerra Não Convencional, Combate ao terrorismo, Operações de Manutenção de Paz e Operaçõe Anti-drogas. 2.5 ORGANIZAÇÃO, FUNÇÕES E CAPACIDADES A função principal das unidades de Assuntos Civis do Exército é proporcionar ao Comandante apoiado, a partir do nível estratégico, a capacidade de empregar o componente civil existente no ambiente operacional. Para atingir este requisito, as referidas unidades estão organizadas para apoiar as Forças aliadas, as agências integrantes do Governo, as agências de Governos de outros países e as organizações não governamentais. A prioridade da missão do Comandante do nível estratégico remete a um enfoque regional, baseado em cinco Comandos continentais norte-americanos: Comando do Sul (USSOUTHCOM), Comando do Pacífico (USPACOM), Comando Central (USCENTCOM) e Comando Europeu (USEUCOM) e Comando Africano (USAFRICOM). Figura 1: Comandos Continentais Norte-americanos Fonte: US Government (2011) 25 A unidades de Assuntos Civis apoiam tanto as Forças Especiais quanto as Forças Convencionais desde o planejamento no nível estratégico até o emprego efetivo no nível tático. 2.5.1 Força de Assuntos Civis A maior parte do efetivo da Força de Assuntos Civis compõe a reserva mobilizável do Exército (USAR). Esta Força é composta de cinco Comandos de Assuntos Civis (CACOM) vocacionados para apoiar cada um dos cinco Comandos continentais. No Exército regular, há uma Brigada de Assuntos Civis (95th Civil Affairs Brigade - Fort Bragg) com cinco Batalhões vocacionados para pronto emprego em cada um dos cinco Comandos continentais. Estar vocacionado significa possuir conhecer a região e estar ambientado com os assuntos culturais, linguísticos e políticos das diversas áreas continentais. Essa capacidade satisfaz os requisitos iniciais de apoio de Assuntos Civis durante uma determinada operação de contingência. A passagem de funções subsequente à Força de Assuntos Civis da USAR inicia-se logo que esta Força possa ser mobilizada e empregada na respectiva área. A Marinha norte-americana possui um Grupo de Assuntos Civis que é convocado em caso de emprego. Encontra-se em fase final de planejamento, a criação de uma segunda Brigada de Assuntos Civis (85th Civil Affairs Brigade - Fort Hood) na ativa. Esta demanda foi observada devido ao crescimento do emprego da capacidade de Assuntos Civis na atualidade em todo o mundo e sinaliza um novo viés de emprego das Forças Armadas dos Estados Unidos. 2.5.2 Centro de Operações Civil-Militar Os planejadores de Assuntos Civis, nos diversos níveis, têm como missão principal conceber o planejamento, a coordenação, as políticas e programas de Assuntos Civis para a área considerada em apoio aos esforços de estabilização, reconstrução e desenvolvimento. Para isso, conta em sua estrutura de um Centro de Operações Civil-Militar (CMOC) que é uma capacidade permanente existente em todas as unidades de Assuntos Civis do nível subunidade até o nível Comando continental. 26 É considerado o coração das operações de Assuntos Civis O CMOC é um elemento operacional e de apoio às unidades de Assuntos Civis, como também, um mecanismo de coordenação de uma operação civil-militar. As atividades principais de um CMOC são: coordenar o trabalho de socorro com as organizações não governamentais, nações amigas e pessoal local; ser o elemento principal das operações de substituição; monitorar as atividades de Assuntos Civis na área de operação; manter um banco de dados com todos os recursos disponíveis; facilitar a criação e organização de um sistema logístico de distribuição de alimentos, água e remédios; coordenar os pedidos de escolta de veículos, segurança de campo de refugiados e centros de distribuição de alimentos e contribuir com o planejamento de Assuntos Civis do respectivo Comando. 2.6 DEFESA CIVIL Nos Estados Unidos da América, a Defesa Civil é uma responsabiliadde governamental em todos os níveis. A Federal Emergency Management (FEMA), fundada em 1979, é a agência responsável por proporcionar e coordenar os serviços de emergência em áreas declaradas pelo Presidente como áreas de desastre. A FEMA trabalha em parceria com diferentes partes do governo federais, estaduais e municipais e organizações voluntárias. Embora grande parte das últimas notícias sobre a FEMA tenha sido negativa, a agência vem ajudando intensamente os norte-americanos a se preparar, lidar e se recuperar de alguns dos piores desastres da história. De furacões e terremotos a explosões em usinas de energia nuclear e contaminação tóxica, a FEMA existe para ajudar as pessoas em situações de risco. 2.6.1 Histórico Antes de 1979, o gerenciamento de desastres nos Estados Unidos era composto por um conglomerado de agências federais, estaduais e locais com legislação específica e grupos voluntários. As U.S. Army Corps of Engineers (Divisões de Engenharia das Forças Armadas dos EUA) controlavam alguns aspectos da minimização dos desastres, enquanto diferentes agências do governo forneciam o seguro contra os danos. Às vezes, havia mais de 100 agências para 27 lidar com essas situações e muitas delas duplicavam os esforços de outras sem a menor necessidade. O presidente Jimmy Carter criou a FEMA por meio de uma ordem executiva, em 1979, e a nova agência absorveu muitas outras que existiam. A FEMA assumiu uma ampla gama de responsabilidades, que incluiu desastres naturais e planos de defesa civil em caso de guerra. Em 2003, a FEMA passou a fazer parte do Departamento de Segurança Nacional. A FEMA tem a incumbência de lidar com todos os desastres possíveis. Isso inclui desastres naturais, como furacões e terremotos, além de outros causados pelo homem, como derramamentos de substâncias perigosas, atentados a bomba e guerras. Embora a maioria das pessoas associe a FEMA a desastres, a agência dedica grande parte dos seus esforços à preparação contra eles. Essas preparações incluem casas à prova de furacões e proteção de construções para torná-las mais seguras no caso de um terremoto. O terremoto de Nisqually, que ocorreu em 2001, no estado de Washington, poderia ter causado uma destruição ainda maior se as construções na área não tivessem sido protegidas por meio do Projeto Impacto da FEMA. Durante a Guerra Fria, boa parte do empenho da FEMA se voltou para a preparação contra um ataque nuclear. Hoje, amenizar os danos do terrorismo é parte fundamental das obrigações da FEMA. 2.6.2 Forma de Emprego Após a ocorrência de um desastre, as pessoas sofrem danos ou suas casas ficam destruídas, não há lugar para trabalhar nem transporte e as propriedades são arrasadas ou se perdem. Muitas famílias também têm que lidar com uma das maiores tragédias de todas: entes queridos feridos, desaparecidos ou mortos. Normalmente, a FEMA pode fornecer auxílio em todas essas áreas em conjunto com a Cruz Vermelha e outras organizações voluntárias. A primeira etapa do auxílio em um desastre é providenciar centros de ajuda para fornecer condições básicas às vítimas: comida, água, abrigo e assistência médica. Em geral, as informações sobre os lugares dos centros de ajuda são transmitidas pelas estações locais de TV e de rádio. 28 Depois que as necessidades básicas são atendidas, a FEMA pode ajudar as pessoas a se restabelecer, encontrar um lugar para morar e começar a reconstrução. Quando o presidente declara um grande desastre em uma área, programas de ajuda especiais são disponibilizados. As vítimas podem se inscrever online ou por telefone. A FEMA fornece três tipos diferentes de assistência: habitacional, médica e de infraestrutura. 2.6.3 Estrutura Antes da formação do Departamento de Segurança Nacional, era a FEMA quem desempenhava muitas das funções que hoje são do DSH. Na década de 90, a FEMA era composta por uma agência de nível de gabinete e sua meta de atender a todos os riscos estava de acordo com as funções gerais da segurança nacional. Entretanto, os ataques terroristas de 2001 expuseram a necessidade da existência de uma agência mais abrangente, que também coordenasse a segurança nas fronteiras, agências de inteligência e agências legais. Hoje, a FEMA é apenas uma parte do Departamento de Segurança Nacional. A FEMA está dividida em dez escritórios regionais. Esses escritórios trabalham com os estados em suas regiões para coordenar a ação e minimização aos desastres. A agência emprega cerca de 2600 pessoas no país todo, com uma reserva de mais 4 mil que permanecem na retaguarda até que ocorra um desastre. Quando ocorre um desastre, ou antes que ele aconteça, se houver algum tipo de advertência, a FEMA começa a trabalhar com o Responsável Federal pela Coordenação (FCO - Federal Coordinating Officer). Essa pessoa é recomendada pela FEMA e indicada pelo presidente. Um Escritório do Campo do Desastre é estabelecido próximo ao local da ocorrência. A partir daí, o FCO coordena os esforços de mitigação e trabalha para manter um fluxo de informações para resgatar líderes de equipes e líderes políticos. Grupos federais e estaduais trabalham juntos para realizar os esforços de mitigação necessários. O trabalho de mitigação de desastres federais é dividido em 12 Funções de Suporte de Emergência (ESF, Emergency Support Functions), cada uma delas providenciada por uma ou mais agências diferentes. 29 No passado, houve problemas com relação às ações emergenciais da FEMA aos desastres e eles ficaram mais evidenciados quando o furacão Katrina ocorreu. Os críticos afirmam que um dos maiores problemas da FEMA é a burocracia. Há muitos funcionários administrativos que se sobrepõem às agências estaduais e federais e às prioridades políticas. Parece uma ironia porque originalmente a FEMA foi formada para eliminar as redundâncias e as ineficiências dos esforços de gerenciamento de desastres do passado. A agência pode atuar com muita rapidez, pois o presidente pode dar uma declaração sobre um desastre em poucas horas. Entretanto, solicitações têm sido negadas ou devolvidas porque formulários corretos não são preenchidos de forma adequada ou falta uma assinatura. Às vezes, os responsáveis devolvem as solicitações por correio, atrasando em dias a resposta da FEMA ao desastre. Talvez alguns dos problemas tenham se originado com as recentes mudanças na organização da FEMA relacionadas à absorção da agência pelo Departamento de Segurança Nacional. Antes dessa mudança, os responsáveis estaduais e federais respondiam, planejavam e reagiam juntos aos desastres. A FEMA foi reconhecida por sua resposta a desastres como o atentado à bomba de Oklahoma e o terremoto de Los Angeles, em 1994. O governo Bush está trabalhando para transferir a responsabilidade do gerenciamento de desastres das agências federais para as agências estaduais e locais. O governo também cortou boa parte da subvenção da FEMA. Em Louisiana, os recursos para estudos e esforços de prevenção contra enchentes na área do Lago Pontchartrain foram cortados em mais de US$40 milhões e as Divisões de Engenharia das Forças Armadas tiveram seu orçamento diminuído em US$71 milhões. A FEMA foi criticada pelo tempo de resposta insuficiente aos desastres anteriores ao governo Bush, como o furacão Andrew, em 1992, e o furacão Hugo, em 1990. Alguns críticos creem que a qualidade da liderança na agência continua baixa devido à desigualdade do registro de respostas. Os presidentes indicaram amigos para altos cargos na FEMA, mas muitas das pessoas indicadas tinham pouca ou nenhuma experiência no gerenciamento de desastres. O presidente George W. Bush foi acusado de ter feito isso quando nomeou Michael Brown como o responsável pela FEMA. 30 2.6.4 Furacão Katrina Após a passagem do furacão Katrina, em 2005, ficou difícil apontar um culpado pela resposta lenta e inadequada à catástrofe da Costa do Golfo do México. Ray Nagin, prefeito de New Orleans e Kathleen Blanco, governadora da Louisiana, culparam a FEMA e o governo federal. Michael Brown, responsável pela FEMA, na época do desastre, culpou o estado "despreparado" da Louisiana. Pouco depois, Brown se demitiu. Mais tarde foi revelado que ele planejava se demitir antes do furacão Katrina, o que a senadora Susan M. Collins afirma que "em parte, pode explicar sua indiferença durante a catástrofe ". Em última instância, nenhuma agência pode se eximir da culpa. Os cortes no orçamento federal deixaram a cidade de Nova Orleans vulnerável a uma tempestade que todos sabiam que poderia ocorrer um dia. Os responsáveis locais poderiam ter feito mais para ajudar a evacuar as pessoas que não conseguiram se deslocar sozinhas, como as pessoas idosas, doentes e pobres. A FEMA poderia ter sido mais rápida na resposta. Contatado na noite em que ocorreu o furacão pela governadora Blanco, o presidente Bush não respondeu com um auxílio imediato. De acordo com a Newsweek: "há uma série de providências que Bush poderia ter tomado, assumindo o controle federal em grande escala, como determinar que o exército assumisse o sistema de comunicações de emergência deplorável e (agora) interrompido na região. Mas o presidente, que estava em San Diego se preparando para fazer um pronunciamento no dia seguinte sobre a guerra no Iraque, foi dormir". A FEMA poderia ter permitido que as agências externas fornecessem ajuda mais rápido. Há vários casos de funcionários públicos, departamentos de polícia e grupos de voluntários que estavam preparados e aguardando para ir à Nova Orleans e fornecer auxílio imediato, mas foram recusados pelos responsáveis da FEMA devido a motivos burocráticos. Realmente, não há um culpado: os esforços para minimizar o desastre parecem ter falhado em todas as esferas, começando de cima. 2.7 CASOS REAIS A partir da II Guerra Mundial, o emprego de equipes de Assuntos Civis pelos EUA vem crescendo a cada conflito, fruto da necessidade de se confirmar a vitória 31 na fase pós-conflito. Estas atividades têm sido empregadas em todo o tipo de operação, seja ofensiva, defensiva, de estabilidade ou de apoio. A seguir, serão abordadas as principais atuações dos EUA desde o final do século XX até o início do século XXI. 2.7.1 Operação Fúria Urgente em Granada Em outubro de 1983, uma luta de poder dentro do governo marxista da nação da ilha de Granada teve como resultado a apreensão e assassinato subsequente do Primeiro-ministro marxista Maurice Bishop e de vários membros do seu Gabinete, por elementos do Exército Revolucionário Popular. Atendendo ao pedido de socorro do Governador Geral de Granada à Organização de Estados Caribenhos Orientais, forças norte-americanas, juntamente com contingentes de forças de segurança de vários países vizinhos do Caribe invadiram a ilha, no dia 25 de outubro, com a missão de expulsar o Governo Revolucionário Popular, proteger os cidadãos norte-americanos e restabelecer o Governo legal. Estes objetivos foram alcançados em três dias. Nesta operação, elementos do 96º Batalhão de Assuntos Civis acompanharam a força invasora, sem, no entanto, terem um papel definido durante os combates iniciais. O Estado-Maior do 96º Batalhão de Assuntos Civis, sediado no Comando do Atlântico, planejou o emprego das equipes, todavia, o Comandante do Comando do Atlântico Sul dos Estados Unidos e o seu Estado-Maior não deram a devida importância a estas atividades. Nenhum especialista em Assuntos Civis esteve presente nas operações de combate durante a invasão. Uma semana após o sucesso da invasão, equipes do 96º Batalhão de Assuntos Civis e do 4º Grupo de Operações Psicológicas chegaram a Granada e foi constituído o Centro de Operações Civis-Militares (CMOC), que passou a realizar o controle dos danos e estabelecer o apoio à população. No mês seguinte a invasão, o 358º Batalhão de Assuntos Civis foi empregado em Granada na reconstrução às comunicações públicas, na reconstrução da infraestrutura econômica do país. Os EUA mantiveram as operações de Assuntos Civis, em Granada, nesta fase pós-conflito, até agosto de 1985, quando as mesmas foram encerradas. 32 2.7.2 Operação no Panamá No Panamá, em 1989, os Estados Unidos da América conduziram operações militares contra o regime do General Manuel Noriega, após as revelações das atrocidades cometidas no país, como a anulação das eleições de maio de 1989 e o envio de grupo de paramilitares para caçar os candidatos de oposição, que culminaram com a operação “Justa Causa”. O Comando do Atlântico Sul dos Estados Unidos (USSOUTHCOM), mais uma vez, não previu o emprego de especialistas de Assuntos Civis, julgando que o restabelecimento da ordem na fase pós-conflito, poderia ser realizado por tropa de polícia do exército. As operações de manutenção da lei e da ordem pós-conflito ficaram inicialmente a cargo de um Batalhão de Polícia do Exército (Military Police) que foi incapaz de absorver todas as missões, particularmente com o fim da Força de defesa panamenha, que desencadeou uma onda de saques e vandalismos no país. Nenhuma equipe de Assuntos Civis ou de engenheiros foi empregada, o que dificultou o processo de estabilização e de reconstrução do Panamá. Os chefes da missão admitiram mais tarde, que a não utilização destas equipes de Assuntos Civis pelas forças norte-americanas dificultaram a consolidação da vitória na fase de estabilização e apoio pós-conflito. Posteriormente, o 350º Comando de Assuntos Civis foi desdobrado no Panamá para facilitar a realização do Simpósio das Relações Civis-Militares entre o os governos dos Estados Unidos e do Panamá, constituindo-se num multiplicador da diplomacia norte-americana. 2.7.3 Operação na Somália O Presidente e ditador de Somália, desde 1969, Mohamed Siad Barer, fugiu do país em janeiro de 1991, levando com ele todo ouro e moeda corrente estrangeira do Banco Central, num total de cerca de 27 milhões de dólares americanos. A disputa amarga pela condução do país teve como resultado uma sangrenta guerra civil. As intensas violências criaram uma crise humanitária de grandes proporções ao longo da porção Sul da Somália. A ONU enviou um grupo de observadores militares com base em Mogadishu e proporcionou transporte aéreo de comida para as áreas importantes e periféricas. 33 A violência crescente e bandos de milícias armadas confinaram os observadores no Aeroporto de Mogadishu e impediram os esforços de ajuda humanitária internacional. Em dezembro de 1992, os Estados Unidos, junto com vários outros países da ONU, enviaram uma Força-Tarefa Unificada (UNITAF) para garantir a segurança da ajuda humanitária internacional e proporcionar condições para a retomada da paz na Somália. A força tarefa combinada norte-americana foi composta com base no Comando Central dos Estados Unidos (USCENTCOM). As atividades de Assuntos Civis tiveram início com a chegada Companhia “C” do 96º Batalhão de Assuntos Civis, que tinha a missão de promover a ligação entre os comandantes militares e os representantes dos setores civis da Somália. A 321ª Brigada de Assuntos Civis foi empregada numa 2ª fase com a missão de ajudar na reconstrução do país realizando o confisco de armamento da população, coordenado as atividades de saúde e projetos civis, promovendo a ligação entre líderes locais e representantes de entidades civis internacionais, promovendo a identificação e registro da população civil, treinando elementos das forças de coalizão para o planejamento e condução de operações civis-militares (CMO), entre outras atividades. 2.7.4 Operação no Haiti No Haiti, a crise política vem desde o século XIX. Desde então, até o início do Século XX, 20 governantes sucederam-se no poder. Desses, 16 foram depostos ou assassinados. Tropas dos Estados Unidos da América (EUA) ocuparam o Haiti entre 1915 e 1934, sob o pretexto de proteger os interesses norte-americanos no país. Em 1946, foi eleito um presidente negro, Dusmarsais Estimé. Após a derrubada de mais duas administrações governamentais, o médico François Duvalier foi eleito presidente em 1957. François Duvalier, conhecido como Papa Doc, instaurou feroz ditadura, baseada no terror policial dos “tontons macoutes” (bichos-papões), sua guarda pessoal, e na exploração do vodu. Presidente vitalício, a partir de 1964, Duvalier exterminou a oposição e perseguiu a Igreja Católica. Papa Doc morreu em 1971 e foi substituído por seu filho, Jean-Claude Duvalier - o Baby Doc. 34 Em 1986, Baby Doc decretou estado de sítio. Os protestos populares se intensificaram e ele fugiu com a família para a França, deixando em seu lugar o General Henri Namphy. Eleições foram convocadas e Leslie Manigat foi eleito, em pleito caracterizado por grande abstenção. Manigat governou de fevereiro a junho de 1988, quando foi deposto por Namphy. Três meses depois, outro golpe pôs no poder o chefe da guarda presidencial, General Prosper Avril. Depois de mais um período de grande conturbação política, foram realizadas eleições presidenciais livres em dezembro de 1990, vencidas pelo padre esquerdista Jean-Bertrand Aristide. Em setembro de 1991, Aristide foi deposto num golpe de Estado liderado pelo General Raul Cedras e se exilou nos EUA. A Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e os EUA impuseram sanções econômicas ao país para forçar os militares a permitirem a volta de Aristide ao poder. Em julho de 1993, Cedras e Aristide assinaram pacto em Nova York, acordando o retorno do governo constitucional e a reforma das Forças Armadas. Em outubro de 1993, porém, grupos paramilitares impediram o desembarque de soldados norte-americanos, integrantes de uma Força de Paz da ONU. O elevado número de refugiados haitianos que tentavam ingressar nos EUA fez aumentar a pressão americana pela volta de Aristide. Em maio de 1994, o Conselho de Segurança da ONU decretou bloqueio total ao país. A junta militar empossou um civil, Émile Jonassaint, para exercer a presidência até as eleições marcadas para fevereiro de 1995. Os EUA denunciaram o ato como ilegal. Em julho, a ONU autorizou uma intervenção militar, liderada pelos EUA. Jonaissant decretou estado de sítio em 1º de agosto. Em setembro de 1994, força multinacional, liderada pelos EUA, entrou no Haiti para reempossar Aristide, restabelecendo a administração pública. As unidades militares treinaram a polícia local e assumiram naquele momento a responsabilidade primária pela segurança do Haiti. Os chefes militares haitianos renunciaram a seus postos e foram anistiados. Jonaissant deixou a presidência em outubro e Aristide reassumiu o País com a economia destroçada pelas convulsões internas. A 358ª Brigada de Assuntos Civis atuou no Haiti, por ocasião da intervenção norte-americana. Com base que a democracia não pode viver sem a justiça, a principal missão dos especialistas da 358ª Brigada de Assuntos Civis foi a de avaliar e organizar o sistema jurídico haitiano. Soldados com experiência civil como juízes e 35 em organizações policiais examinaram os três esferas do sistema jurídico do Haiti, a polícia, os tribunais e as prisões. Eles verificaram a penetração da justiça nas áreas rurais e detectaram que a corrupção impedia que a justiça funcionasse no país. A elite rica do país oferecia enorme soma de dinheiro aos juízes, que eram mal pagos, para eles decidirem a seu favor. A partir de então. Os juízes passaram a ter um salário adequado às condições do país e receberam proteção. Em 1996, uma equipe de Assuntos Civis da 358ª Brigada de Assuntos Civis esteve em Trinidad e Tobago para realizar o diagnóstico da epidemia de raiva sobre a população. Nesta operação foi verificado que os morcegos infectaram o gado. Essa missão estendeu-se para Granada. Saint Vincent, salvando vidas de muitos habitantes locais e de turistas norte-americanos. A experiência no Haiti foi o primeiro esforço norte-americano de implementar uma administração desde a Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos da América, no período de 1992 a 1995, gastaram cerca de 1,6 bilhões de dólares nas operações dentro do Haiti. Desde a saída das últimas tropas americanas da ilha, em 1996, a situação política se deteriorou, regredindo para as condições anteriores à intervenção. No período de 1994-2000, apesar de avanços como a eleição democrática de dois presidentes, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade, reformas políticas profundas não puderam ser implementadas. A eleição parlamentar e presidencial de 2000 foi marcada pela suspeita de manipulação por Aristide e seu partido. O diálogo entre oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela renúncia de Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Européia, França, Organização dos Estados Americanos e EUA, apresentaram-se como mediadores. Entretanto, a oposição refutou as propostas de mediação, aprofundando a crise. Em fevereiro de 2004, conflitos armados eclodiram em Gonaives, espalhando-se por outras cidades nos dias subseqüentes. Gradualmente, os insurgentes assumiram o controle do norte do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a oposição armada ameaçou marchar sobre Porto Príncipe. Aristide deixou o País em 29 de fevereiro e asilou-se na África do Sul. De acordo com as regras de sucessão constitucional, o presidente da Suprema Corte, Bonifácio Alexandre, assumiu a presidência, interinamente. Bonifácio requisitou, de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e 36 constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF) que, prontamente, iniciou seu desdobramento, liderada pelos EUA. Considerando que a situação no Haiti ainda constitui-se ameaça para a paz internacional e a segurança na região, o CS decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), que assumiu a autoridade exercida pela MIF em 01 de junho de 2004. Para o comando do componente militar da MINUSTAH foi designado o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, do Exército Brasileiro. 2.7.5 Operação em Kosovo Em 1999, os Estados Unidos da América participaram em um esforço internacional para promover ajuda para os refugiados albaneses, aliviando a tensão na Macedônia, que tinha cerca de 140.000 refugiados, os quais com medo das atrocidades e morte, fugiram do país vizinho - Kosovo. De 5 maio a 31 de julho de 1999, o Forte Dix, na Nova Jersey, tornou-se um centro de recepção e processamento de cerca de 3.547 albaneses que foram para os Estados Unidos da América. A Operação “PROVIDE REFUGE” constituiu-se numa verdadeira operação civil-miltar (CMO), com o emprego do Departamento de Saúde e de Recursos Humanos realizando o alojamento, a inspeção média e o processamento dos albaneses para estabelecimento no país. Outras agências federais também participaram deste processo. Merecem destaque o Serviço de Naturalização, o Departamento de Estado, o Departamento de Defesa, a Imigração, o Serviço de Refugiados e agências internacionais, como a Anistia Internacional e a Cruz Vermelha. Especialistas militares da 358º Brigada de Assuntos Civis, mobiliaram o Centro de Operações Civis-Militares (CMOC) e assessoram o comando da operação nas atividades envolvendo a população. 2.7.6 Operação no Afeganistão Os Estados Unidos e o Reino Unido iniciaram uma fase militar da guerra global contra terrorismo, no dia 7 de outubro de 2001, em resposta aos ataques terroristas nos Estados Unidos da América, no dia 11 de setembro de 2001. A operação “JUSTIÇA INFINITA”, depois renomeada de operação “LIBERDADE 37 DURADOURA” tinha como objetivos a identificação da organização terrorista Al Qaeda e a deposição do governo Taliban no Afeganistão, evitando o uso de áreas afegãs por terroristas. No período de dois meses, forças de oposição, apoiaram a coalizão internacional, depondo o governo Taliban e enfraquecendo as forças do Al Qaeda. Todavia, estas forças, mesmo espalhadas e enfraquecidas, continuam a realizar atos terroristas pelo mundo, particularmente nos países orientais. A operação “ANACONDA” desenvolveu como parte do esforço contínuo para desentocar das cavernas e esconderijos nas montanhas do Afeganistão, as forças Talibans e do Al Qaeda. A operação aconteceu em março de 2002, envolvendo inicialmente forças dos Estados Unidos da América e do Afeganistão e mais tarde uma coalizão com tropas das Austrália, Canadá, Alemanha, Dinamarca, França e Noruega. Equipes do 96º Batalhão de Assuntos Civis estiveram presentes com a missão de apoiar as operações militares em 17(dezessete) províncias no Afeganistão, criando um relacionamento amistoso com os líderes locais, contribuindo para o cumprimento da missão, realizando ações civis-militares e de apoio a administração civil. A atuação das equipes do 96º Batalhão de Assuntos Civis em alguns momentos, por motivo de segurança, deixaram de operar em alguma das províncias. 2.7.7 Operação no Iraque O conflito no Iraque teve início em março de 2003, quando o país foi atacado por uma coalizão de países liderada pelos Estados Unidos (EUA) e ocupado militarmente desde então. O mês de novembro de 2004 foi o que apresentou até então o maior número de baixas de soldados norte-americanos no Iraque desde o início da guerra: 136 mortes. As tropas de ocupação têm de fazer frente a uma complicada insurreição iraquiana. Além de enfrentar baixas de iraquianos e de soldados da coalizão, o governo Bush não encontrou no Iraque as armas de destruição em massa usadas pela Casa Branca como justificativa para a iniciar a guerra. Um relatório divulgado em outubro de 2004 por Charles Duelfer, inspetor de armas norte-americano no Iraque, afirma que as armas de destruição em massa dos iraquianos haviam sido eliminadas mais 38 de dez anos atrás. O mesmo relatório chega à conclusão de que os iraquianos abandonaram o programa de armas biológicas em 1995. O escândalo da prisão de Abu Ghraib, onde soldados norte-americanos cometeram abusos e tortura contra prisioneiros iraquianos, contribuiu ainda mais para a perda de credibilidade da política de Bush no Iraque. Sob intensa pressão, o governo norte-americano se viu levado a negociar na Organização das Nações Unidas (ONU) a transferência de poder para um governo interino iraquiano. Mas nem a posse dos novos governantes, em junho de 2004, trouxe estabilidade. O governo provisório iraquiano, sustentado pelos EUA, tenta equilibrar o complexo mosaico étnico religioso do Iraque, composto de uma maioria xiita, uma minoria sunita – que sempre governou o país – e pelos curdos, que vivem no norte do Iraque. Seja em cidades de maioria sunita, como em Samarra, seja nas de maioria xiita, como Najaf, as tropas deparam com forte resistência, muito maior do que os EUA esperavam no início da ocupação. Entre as táticas usadas pelos insurgentes estão os seqüestros e a escalada de atentados. Imagens de seqüestrados degolados correm o mundo pela TV e pela internet e a violência não cessa. A tremenda dificuldade em estabilizar a situação causaram desgastes na coalizão de países com tropas no Iraque. A retirada dessas tropas teve inicio em meados de 2011. 2.7.8 Considerações Finais Após esta passagem por algumas das intervenções norte-americanas nos últimos anos, percebe-se a necessidade de elementos no Estado-Maior dos diversos escalões de comando, com conhecimento sobre os aspectos de preparação e execução de operações civis-militares (CMO), bem como, a importância do entendimento da intenção do comandante para a condução destas operações. Na ocupação do Iraque, percebe-se que algumas especialidades dentro do exército norte-americano, como Assuntos Civis, polícia do exército, engenharia e logística têm sido mais requisitadas na fase de estabilização e reconstrução do país pósguerra. As diversas equipes de Assuntos Civis têm sido largamente empregadas, nos diversos escalões, pelos diversos comandantes, aumentando o poder relativo de combate das forças da coalizão, contribuindo assim, para o sucesso da missão. 39 No Iraque, os Estados Unidos colocou em prática e aprimorou as lições apreendidas de Assuntos Civis desenvolvidas, em Kosovo, na Península Balcânica, consolidando essa atividade, que desde o final da segunda guerra mundial vem crescendo em importância. No âmbito interno, a passagem do furacão Katrina demonstrou a necessidade da Defesa Civil dispor de procedimentos ágeis e desburocratizados para mitigar as consequências advindas de desastres naturais. Mesmo a superpotência mundial tem demonstrado que o aprimoramento constante dos processos é fundamental para o sucesso da missão. 40 3 CONTEXTO BRASILEIRO As atividades de Assuntos Civis, no Brasil, são divididas em quatro categorias - governo, economia, serviços públicos e atividades especiais, que abrangem toda a estrutura típica dos setores civis de um governo. Os principais objetivos dessas atividades são auxiliar as operações militares e promover a política interna e externa do Brasil, na área considerada. O desiderato das ações é o de apressar a transferência da responsabilidade das funções civis, eventualmente a cargo do comando militar, para representantes do governo civil. Portanto, essas atividades são realizadas por especialistas estruturados em equipes funcionais, pertencentes às organizações de assuntos civis do Teatro de Operações (TO) (BRASIL, 1987). Na atual organização Ministério da Defesa, não existe nenhuma estrutura nos níveis estratégicos, operacional e tático capazes de levar a efeito a coordenação dessas atividades e/ou assumir as diversas tarefas de administração civil do TO, a fim de facilitar as operações militares e minimizar os efeitos colaterais com a população civil da área. No entanto, cabe destacar que, em tempo de paz, as ações subsidiárias desenvolvidas pela Força Terrestre são coordenadas pelo Comando de Operações Terrestres (COTER), mostrando a adaptabilidade e criatividade do soldado em cumprir essas atividades com outras agências governamentais. Necessário se faz, portanto, organizar e disseminar as lições aprendidas, organizar um banco de dados sobre os atores civis envolvidos e capacitar os recursos humanos. Neste capítulo, será elaborado um diagnóstico das atividades de Assuntos Civis realizadas no âmbito brasileiro, procurando-se destacar as fortalezas e as fraquezas das referidas atividades desencadeadas na atualidade. 3.1 HISTÓRICO Pode-se considerar como a origem da atividade no Brasil a atuação do Duque de Caxias na pacificação das revoltas internas, durante o século XIX. Na Província do Maranhão, tão logo Caxias assumiu a função de Presidente da Província e Comandante das Armas, tomou ciência da situação e deu início ao restabelecimento da ordem, realizando, de forma pioneira, atividades de Assuntos Civis, como: manter a população informada, promover o bem-estar da população, 41 restabelecer a economia da região, manter o patrimônio histórico e recuperar a agricultura. Com o fim do levante, Caxias garantiu sobrevida ao período monárquico e passou a prestar atenção às ações diplomáticas e de relações públicas em nome do Imperador e da Igreja, garantindo uma transição sem sobressaltos para o novo Presidente da Província. Merece destaque na Província do Maranhão a recuperação do moral da tropa, a contenção dos gastos públicos, o incentivo a navegação nos principais rios da região, o incentivo a agricultura e manutenção da ordem pública. O movimento dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, chegou ao fim, em 1845, em Ponche Verde. Assim como no Maranhão, Caxias acumulou as funções de Presidente e de comandante militar da então Província, que a partir de 1846, o elegeu senador vitalício por cerca de 30 anos. Na Província do Rio Grande do Sul, tão logo assumiu o Comando, tomou ciência do da situação geral e deu início a diversas atividades, como a recuperação do moral da tropa e de Assuntos Civis, como justiça, segurança pública, bem-estar da população e defesa civil. Ao final da revolta Caxias tornou-se o pioneiro abolicionista ao assegurar a liberdade para os escravos que lutaram com os farrapos, incorporando-os à Cavalaria Ligeira do Exército. Merece destaque a administração de Caxias, a preocupação com a população, com a assistência religiosa, o incentivo ao crescimento econômico, a preocupação pioneira na região Sul com a poluição do rio Guaíba, a preocupação com o ensino, em particular dos mais necessitados, com a manutenção da ordem pública e com a manutenção das obras públicas. A partir deste marco inicial, o desenvolvimento da atividade sofreu várias soluções de continuidade, sendo retomado sempre que uma necessidade militar surgia. Foi assim na Campanha de Canudos e do Contestado, na 2ª Guerra Mundial, e mais recentemente, em apoio aos Organismos Internacionais. Paralelamente às necessidades militares, as Forças Armadas têm aplicado a doutrina de Assuntos Civis em conjunto como os órgãos da Defesa Civil nas nomeadas Ações Subsidiárias em apoio às populações atingidas por catástrofes naturais. 42 Nos últimos 10 anos, cerca de 80% das missões reais cumpridas pelas Forças Armadas foram relativas a ações subsidiárias (SALVADOR, 2012), executando o trabalho que a Defesa Civil deveria realizar de forma protagonista. 3.2 DOUTRINA A doutrina brasileira encontra-se espraiada em vários documentos que abordam o assunto. O principal manual do Exército é um anteprojeto escolar da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), de 1987. O Ministério da Defesa baseou-se em um Manual do Corpo de Fuzileiros Navais de 2004 para sistematizar a evacuação de Não combatentes, em uma operação de não guerra, a Força Aérea apoia as diversas atividades de acordo com a demanda e suas possibilidades. Observa-se, assim, a necessidade de uniformização da doutrina e dos procedimentos no âmbito das Forças, e de sua atualização com a tendência mundial, adaptando-a às peculiaridades da realidade brasileira. Podem-se encontrar as principais definições sobre Assuntos Civis nos seguintes manuais: C41-6 Assuntos de Governo (anteprojeto) -1987, CGCFN-2300Manual de Evacuação de Não-Combatentes por Gpt Op Fuz Nav- 2004, ME C 29-2 Apoio Logístico nos G Cmdo Op F Ter - 1995, C 100-5 Operações - 1997 e C 101-5 Estado-Maior e Ordens 2003; e Manual Escolar ECEME 320-5. O manual de campanha C 100-5 – Operações, no Artigo IV, que trata sobre as operações de Assuntos Civis, comenta no seu parágrafo 8-7 o seguinte: - O campo dos Assuntos Civis engloba as atividades de comunicação social, ação comunitária e assuntos de governo. - Nos estados-maiores de Grandes Comandos e de Grandes Unidades, competem às 5ª Seções o assessoramento, o planejamento e a condução das atividades de Assuntos Civis. As 5ª Seções podem ser reforçadas por equipes de especialistas em Assuntos Civis ou em comunicação social. - O comandante emprega as operações de Assuntos Civis para obter a cooperação e o apoio essenciais dos civis, ou para reduzir sua interferência no cumprimento da missão. Tais operações envolvem as relações entre as forças militares e as autoridades civis e a população do país ou da área em que as forças são empregadas. As operações de Assuntos Civis podem incluir a execução, pelas forças militares, de algumas ou de todas as funções, normalmente, desempenhadas 43 pelo governo civil. Essas operações destinam-se a utilizar os recursos disponíveis nas comunidades e reduzir os problemas advindos do movimento de refugiados, das baixas maciças entre a população civil e das exigências legais no sentido de prover a população civil com um mínimo de apoio em suprimentos, proteção e assistência hospitalar. O parágrafo 8-8 do mesmo manual define o seguinte: as operações de Assuntos Civis são empregadas para assegurar a utilização máxima dos recursos locais, inclusive material, instalações e mão de obra, dentro dos limites estabelecidos pela política nacional, pelo teatro de operações, pelos acordos internacionais ou pelas leis de guerra. Elas contribuem para a proteção do pessoal, das instalações e das atividades, com o emprego mínimo de forças de combate, por meio de relações amistosas com as autoridades e populações locais, para reduzir a subversão, a espionagem, a sabotagem e a ação de forças irregulares. Tais atividades hostis representam uma ameaça ou um problema importante para as forças legais, quando são apoiadas, ativa ou passivamente, por uma porção significativa da população local. As operações de Assuntos Civis, por si só, não podem alcançar todos esses objetivos, pois dependem do êxito que tenham as atividades de inteligência e contra-inteligência, das medidas tomadas para a segurança da área de retaguarda e da atitude e do comportamento do pessoal militar, inclusive aliados, em relação à população civil. O Manual de Campanha C 101-5 – Estado-Maior e Ordens, no seu artigo VI, do volume II, no parágrafo A-59, define o seguinte sobre os Assuntos Civis: - As ações de comunicação social e de Assuntos Civis apoiam a missão político-militar de um comandante e, assim, afetam, direta ou indiretamente, outras operações militares. Coordenação contínua é essencial entre os Assuntos Civis, a comunicação social e outros planos militares, instrução e operações. - O Batalhão de Assuntos Civis ou organização equivalente é necessário como órgão de execução das operações de Assuntos Civis. Unidades de Assuntos Civis são unidades típicas de organização celular não previstas em quadro, mas a serem constituídas e organizadas de acordo com as necessidades. O manual escolar ME 320-5 - Vocabulário da ECEME define Assuntos Civis e Ação Cívico-Social como: 44 - Assuntos Civis são o conjunto de atividades referentes ao relacionamento do comandante e dos demais componentes de uma organização ou força militar com as autoridades civis e a população da área ou território sob a responsabilidade ou jurisdição do comandante dessa organização ou força. - Ação-Cívico-Social (ACISO) é o conjunto de atividades de caráter episódico ou programado de assistência e auxílio a comunidades, desenvolvendo o espírito cívico e comunitário dos cidadãos, no país ou no exterior, para resolver problemas imediatos e prementes (além da natureza assistencial e, às vezes, de socorro às populações, a Ação-Cívico-Social também se insere como Assuntos Civis e colabora nas Operações Psicológicas - Op Psc). Visto os conceitos de Assuntos Civis acima expostos, nota-se que não há diferença entre os manuais e, sim uma complementaridade dos mesmos. As definições de Assuntos Civis e Ação Cívico Social podem gerar dúvida, mas a diferença está na abrangência. Os Assuntos Civis atuam nas ramificações da estrutura sócio-político-administrativa da área ou território sob a responsabilidade do Comandante da Força, abrangendo as atividades de governo, de serviços públicos e especiais. Os objetivos gerais das atividades de Assuntos Civis são cumprir as obrigações impostas por leis e tratados firmados, promover uma política interna e externa no País, na área considerada e promover uma rápida transferência de responsabilidade das funções civis, que porventura esteja sob o controle da administração militar, para o governo civil e, principalmente, auxiliar as operações militares. 3.3 ORGANIZAÇÃO As Organizações Militares de Assuntos Civis da Força Terrestre podem ser: Comando de Assuntos Civis (COAC), Unidades de Assuntos Civis e Equipes de Assuntos Civis. 3.3.1 Comando de Assuntos Civis É o comando responsável pela execução das atividades de Assuntos Civis em apoio a Força Terrestre Componente (FTC) de um Teatro de Operações Terrestre (TOT). Tem o encargo de atribuir as áreas de responsabilidade às unidades de Assuntos Civis, de acordo com a densidade da população, das 45 características da área e da peculiaridade do governo local. Um COAC pode enquadrar de 2 (dois) a 6 (seis) Batalhões de Assuntos Civis. 3.3.2 Organizações de Assuntos Civis As organizações de Assuntos Civis são os Batalhões, as Companhias e os Pelotões de Assuntos Civis. Estas organizações são próprias de uma estrutura celular que não é prevista na composição atual do Exército Brasileiro, mas, que podem vir a ser organizadas a partir de um quadro de necessidade. A seguir, veremos cada uma dessas organizações. 3.3.2.1 BATALHÃO DE ASSUNTOS CIVIS Os Batalhões de Assuntos Civis são compostos por uma equipe de comando e de 2 (duas) a 6 (seis) Companhias. Têm a missão de exercer o controle da população e, se necessário, o governo militar de uma área ou zona de ação, além de executar operações psicológicas. O emprego mais comum dos Batalhões é o apoio à FTC ou ao Exército de Campanha. Pode ainda prestar o apoio em um Estado ou numa cidade de grande porte. O 96º Batalhão de Assuntos Civis dos EUA, que tem sua estrutura ativada, mesmo em tempo de paz, tem sua composição muito parecida com a prevista pelo Exército Brasileiro . A diferença é que a estrutura brasileira prevê equipes funcionais, que poderão ser agregadas à organização para o cumprimento de determinada missão, subordinadas diretamente ao Comando da Unidade. Na estrutura do 96º Batalhão de Assuntos Civis, o acréscimo de equipes funcionais, se vierem ocorrer, será junto a uma das suas cinco subunidades de Assuntos Civis. 3.3.2.2 COMPANHIA DE ASSUNTOS CIVIS A Companhia de Assuntos Civis é formada por uma equipe de comando e de 2 (dois) a 6 (seis) equipes de Assuntos Civis. Têm a missão de prestar o apoio nesta área, em situações eventuais, a uma Divisão de Exército (DE). Pode também receber a missão de prestar o apoio a uma cidade grande ou a uma área de um Estado. Pode, ainda, integrar um Batalhão de Assuntos Civis. Assim, como outras 46 unidades de mesmo escalão, a companhia é o menor elemento de Assuntos Civis com encargo administrativo. A estrutura da Companhia de Assuntos Civis é um pouco diferente da norteamericana. A brasileira não possui o Pelotão de Administração e possui um organograma mais simples, todavia, com as funções de Comandante e de Subcomandante. 3.3.2.3 PELOTÃO DE ASSUNTOS CIVIS Os Pelotões de Assuntos Civis são constituídos por uma equipe de comando e equipes funcionais, que variam de 2 (duas) a 10 (dez). Têm a missão de executar o controle da população e, se necessário, o governo, militar de uma área ou zona de ação. O Pelotão é o menor comando de Assuntos Civis. Não dispõe de especialistas, no entanto, recebe tantas equipes funcionais quanto forem necessárias para o cumprimento das missões. A principal missão é prestar o apoio a Divisão de Exército e a Brigada. A organização do Pelotão brasileiro é mais simples que a do norte-americano e atende nas mesmas condições todas as atividades de emprego de Assuntos Civis. 3.3.2.4 EQUIPES DE ASSUNTOS CIVIS As equipes funcionais são organizações celulares destinadas ao cumprimento de missões específicas. Normalmente integram os Pelotões e possuem efetivo variável. Estas equipes atuam enquadradas nos Batalhões, Companhias ou Pelotões de Assuntos Civis ou ainda, sob o controle operacional de uma Organização militar apoiada. As equipes utilizadas em Brigadas ou escalões superiores podem ser empregadas no planejamento, no assessoramento e na supervisão. Já as equipes dos Batalhões e Companhias são empregadas diretamente nas operações de Assuntos Civis. 3.4 SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL (SINPDEC) No Brasil, o tema defesa Civil começou a ser tratado em 1942, após o afundamento dos navios militares Baependi, Araraquara e Aníbal Benévolo no litoral de Sergipe e do vapor Itagiba torpedeado pelo submarino alemão U-507, no litoral do estado da Bahia. Na tarde de 17 de agosto, as vitimas do vapor Itagiba são resgatadas pelo cargueiro Arará que também é torpedeado pelo submarino alemão 47 U-507 e vem à pique causando a morte de 36 passageiros civis, entre eles mulheres e crianças, e 20 tripulantes.A notícia dos afundamentos fez com que a população brasileira fosse às ruas exigindo do governo uma resposta imediata aos ataques, que culminou com a declaração de guerra do Brasil contra a Alemanha nazista e a Itália fascista, no dia 22 de agosto. O governo federal preocupado com a segurança da população cria em 1942, o Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, a obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares, existentes no país. Em 1943, a denominação de Defesa Passiva Antiaérea é alterada para Serviço de Defesa Civil, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço da Defesa Civil, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Este órgão é extinto em 1946, bem como, suas Diretorias Regionais criadas nos Estados, Territórios e no Distrito Federal.Hoje, em todo o mundo, a Defesa Civil, se organiza em sistemas abertos com a participação dos governos locais e da população no desencadeamento das ações preventivas e de resposta aos desastres, seguindo o princípio da Defesa Comunitária. O Brasil começou a se estruturar em função de fortes chuvas que assolaram a região Sudeste entre 1966 e 1967, provocando enchentes no Estado da Guanabara e deslizamentos na Serra das Araras, no Rio de Janeiro e Caraguatatuba em São Paulo. Foi constituiu um Grupo de Trabalho, no âmbito do Estado da Guanabara, com a finalidade de estudar a mobilização dos diversos órgãos estaduais em casos de catástrofes. Este grupo elaborou o Plano Diretor de Defesa Civil do Estado da Guanabara, criando as Coordenadorias Regionais de Defesa Civil – REDEC no Brasil e definindo atribuições para cada órgão componente do Sistema Estadual de Defesa Civil. Em dezembro de 1966 é organizada no Estado da Guanabara, a primeira Defesa Civil Estadual do Brasil. Ainda, em consequência desses eventos foi criado, em 1967, o Ministério do Interior com a competência, entre outras, de assistir as populações atingidas por calamidade pública em todo território nacional. No final da década de 60, foram instituídos no Ministério do Interior, o Fundo Especial para Calamidades Públicas (FUNCAP) e o Grupo Especial para Assuntos 48 de Calamidades Públicas - GEACAP (embrião da Secretaria Nacional de Defesa Civil) com incumbência de prestar assistência a defesa permanente contra as calamidades públicas. A proposta de pensar a Defesa Civil como instituição estratégica para redução de riscos de desastres veio com a organização do Sistema Nacional de Defesa Civil, no Decreto nº 97.274, de 16.12.1988. Um ano depois a Assembleia Geral da ONU realizada em 22 de dezembro, aprovou a Resolução 44/236, que estabelecia o ano de 1990 como início da Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais (DIRDN). O objetivo central da campanha era a redução de perdas de vidas, danos e transtornos sócio-econômicos, especialmente nos países em desenvolvimento, provocados por desastres naturais como escorregamentos, terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, inundações, vendavais, seca e desertificação, incêndios, pragas, além de outras calamidades de origem natural. Para atender o compromisso firmado na Resolução 44/236, o Brasil elaborou um plano nacional de redução de desastres para a década de 90 que estabelecia metas e programas a serem alcançados até o ano 2.000 conhecido como Política Nacional de Defesa Civil (PNDC) estruturada em quatro pilares: prevenção, preparação, resposta e reconstrução. Além das metas contidas na PNDC o plano previa ainda: a reestruturação da SEDEC como Secretaria Especial de Defesa Civil; a classificação, tipificação e codificação de desastres, ameaças e riscos, embasados na realidade brasileira (O Codar codificou e caracterizou 154 desastres possíveis de ocorrer no Brasil); a organização dos Manuais de Planejamento em Defesa Civil; e, a criação de um programa de capacitação em desastres, com o enfoque na preparação de gestores nacionais, estaduais, municipais e de áreas setoriais para atuarem em todo o território nacional. Na década de 2.000, o foco de atuação da SEDEC foi o gerenciamento dos desastres e a capacitação de agentes locais de defesa civil. Em 2009, foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária cujos 1.500 delegados representantes dos Estados, Distrito Federal e Municípios brasileiros, destacaram a importância do fortalecimento das instituições de Defesa Civil municipais. Ao final da etapa nacional foram aprovadas 104 diretrizes. 49 A segunda dezena do século XXI caracteriza-se pela retomada dos princípios de redução de desastres, com a implantação do Planejamento Nacional para Gestão de Riscos - PNGR, a construção do Banco de Dados de Registros de Desastres e do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, a criação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNDEC), a organização do Sistema Nacional de Proteção Civil (SINPDEC), entre outras ações de gerenciamento de riscos e desastres. 3.5 OPERAÇÕES SUBSIDIÁRIAS E CASOS REAIS Operações Subsidiárias são aquelas desenvolvidas pelas Forças Armadas com o intuito de contribuir para o desenvolvimento nacional, o apoio à defesa civil em situações de emergência, ações de cunho social e repressão a delitos ambientais e transnacionais, sem comprometer suas atividades fim. Importante fator de projeção da imagem das Instituições junto à sociedade civil, as atividades caracterizadas como atribuições subsidiárias são previstas no ordenamento jurídico nacional brasileiro pela lei complementar Nr 97, de 9 de junho de 1999, alterada pela lei complementar Nr 117, de 2 de setembro de 2004, que dispõe sobre a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas ficando estabelecido que: Art. 16. Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo Presidente da República. Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, integra as referidas ações de caráter geral a participação em campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) Art. 17A. Cabe ao Exército, além de outras ações pertinentes, como atribuições subsidiárias particulares: (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) I – contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam respeito ao Poder Militar Terrestre; (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) II – cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante; (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) III – cooperar com órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, no território nacional, na forma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução; (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) 50 IV – atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de: (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) a) patrulhamento; b) revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e c) prisões em flagrante delito. Baseado nesses pressupostos legais, o Exército Brasileiro vêm atendendo a diversas demandas de órgãos civis governamentais e do terceiro setor, sendo latente a percepção do incremento anual das solicitações de apoio das mais diversas origens e finalidades. No Brasil, verifica-se que cada Comando Militar de Área (CMilA) é acometido sazonalmente por situações emergenciais que acabam por demandar o apoio de Organizações Militares, sendo mais comuns as situações constantes da Figura 2. C Mil A Comando Militar da Amazônia Tipos de apoio e período do ano - Chuvas e inundações: Dezembro a Março - Incêndios: Julho a Novembro - Epidemias de dengue: Julho a Novembro Comando Militar do Sul - Chuvas e inundações: Dezembro a Março - Epidemias de dengue: Janeiro a Março Comando Militar do Leste - Chuvas e inundações: Dezembro a Março - Epidemias de dengue: Janeiro a Março Comando Militar do Nordeste - Estiagem: Agosto a Março - Chuvas e inundações:Maio a Julho - Epidemias de dengue Janeiro a Março Comando Militar do Oeste - Chuvas e inundações: dezembro a Março - Epidemias de dengue: Abril a julho Figura 2: Situações emergenciais sazonais Fonte: O autor (2011) 3.5.1 Socorro e Assistência a Desabrigados As operações de socorro e assistência a desabrigados por desastres naturais (chuvas, desabamentos, tornados) geralmente seguem o inverso dos padrões de acionamento por se tratarem de situações emergenciais. Geralmente as Organizações Militares iniciam o emprego de seus meios imediatamente após a solicitação dos Órgãos de Defesa Civil local. 51 Suas ações compreendem em uma primeira fase a remoção de famílias de áreas de risco, confecção, transporte e distribuição de cestas de alimentos e donativos, fornecimento de alimentos, água potável e alojamento. Pode ainda ser acionado, em uma segunda fase, para participar do processo de reconstrução de cenários atingidos pelo desastre, sendo grande parceiro nesse caso da Secretaria Nacional de Defesa Civil. As regiões que mais tem solicitado o apoio do Exército por ocasião do acometimento de desastres naturais são: Norte (Estados do Amazonas e Pará), Nordeste (Estados de Pernambuco, Piauí, Sergipe, Alagoas e Maranhão), Sudeste (Rio de Janeiro) e Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina). 3.5.2 Operação Pipa O Programa Emergencial de Distribuição de Água Potável no Semiárido Brasileiro (Operação Pipa), é uma das principais operações conduzidas pelo Exército Brasileiro. Iniciada em 1998, a Operação Pipa é fruto de uma parceria entre o Ministério da Defesa e o Ministério da Integração Nacional no sentido de amenizar o sofrimento do povo nordestino atingido pelas sucessivas estiagens que ocorrem naquela região. O Exército Brasileiro, em apoio à Secretaria Nacional de Defesa Civil, promove a coordenação das atividades constantes do processo de distribuição de água potável por carros pipa, sendo responsável pela organização administrativa do processo, contratação de pipeiros, verificação da qualidade da água, fiscalização e pagamento dos prestadores de serviço. Devido a sua complexidade administrativa e logística, foi desenvolvido um programa destinado a gerenciar todas as atividades centralizando em uma única ferramenta todo o processo de distribuição de água via on line - GCDA (Programa de Gestão e Controle da Distribuição de Água), possibilitando dessa forma a todos os gestores da operação o acesso ilimitado , vinte e quatro horas por dia de todos os dados que podem ser gerados pela Operação. 3.5.3 Combate a Incêndios Florestais Esporadicamente as Forças Armadas são acionadas para auxiliar os governos estaduais e federal para combater incêndios florestais de grandes proporções, como ocorrido por duas vezes no Estado de Roraima (1998 e 2005), 52 sendo alocados recursos humanos e materiais para complementar as ações das equipes dos corpos de bombeiros militares. 3.5.4 Apoio no Combate a Delitos Ambientais O Brasil e sua grandes reservas naturais é constantemente atingido pela ação de indivíduos e empresas perpetradores de graves delitos ambientais, que colocam em risco a imensa biodiversidade do país. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), iniciou em 2004 um ambicioso plano de combate a tais delitos - PPCDAM (Programa de Prevenção Controle ao Desmatamento na Amazônia Legal) solicitando ao Exército apoio logístico às ações empreendidas desde então, sendo firmado em 2004 uma parceria técnica formalizada pela portaria interministerial Nr 702, de 13 de julho de 2004, onde ficam estabelecidos os termos da cooperação. Com a maior parte das ações centralizadas nos Estados de Rondônia, Acre, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, diversas Organizações Militares do Comando Militar da Amazônia e do Comando Militar do Oeste são anualmente empregadas para atender as demandas logísticas das operações do IBAMA, sendo constatado quedas consideráveis nos índices de desmatamento dessas regiões. 3.5.5 Ações Sociais O Exército apóia o Ministério do Esporte e da Educação com projetos de educação cívica e de incentivo à prática de esportes, Programa Forças no Esporte, além de possuir em diversas Organizações Militares, projetos de assistência a menores carentes em situação de risco. Apoia ainda o Projeto Rondon, que promove assistência médica e social no locais mais pobres do país, deslocando estudantes universitários a essas áreas de risco social. Promove ainda as Ações Cívico Sociais (ACISO) que são realizadas nas áreas de responsabilidade das diversas organizações militares espalhadas pelo território brasileiro. 3.5.6 Campanhas de Saúde e Controle de Epidemias As Forças Armadas têm disponibilizado equipes de saúde para apoiar os governos federal, estadual e municipal em situações de emergência médica, além de fornecer pessoal para as campanhas de combate aos focos dos mosquitos da 53 dengue, febre amarela, leishmaniose e malária, além de controle de pandemias de vírus (Gripe A) e combate a doenças animais (Febre Aftosa). 3.5.7 Operação Serrana 2011 Um forte temporal atingiu a região serrana do Estado do Rio de Janeiro entre a noite de 11 de janeiro e a manhã do dia seguinte. Choveu em um 24 horas o esperado para o mês inteiro e o resultado foi a maior tragédia climática registrada no país, segundo especialistas de várias áreas. Deslizamentos de terra e enchentes mataram mais de 900 pessoas e deixaram quase 400 desaparecidas. Cerca de 30 mil sobreviventes ficaram desalojados ou desabrigados. Escolas, ginásios esportivos e igrejas viraram abrigos. Hospitais ficaram cheios de feridos na primeira semana. Cerca de 15 dias depois da catástrofe, doenças como leptospirose começaram a assolar a população. Autoridades então passaram a monitorar casos confirmados e pacientes suspeitos, além de educar o povo em relação à prevenção. As cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim e Areal foram as mais afetadas e decretaram estado de calamidade pública. Serviços como água, luz e telefone foram interrompidos, estradas foram interditadas, pontes caíram e bairros ficaram isolados durante alguns dias. As três esferas de governo se uniram para ajudar as vítimas e reconstruir as cidades. No dia 14 de janeiro, a presidenta Dilma Rousseff liberou R$ 100 milhões para ações de socorro e assistência. Além disso, o governo federal anunciou a antecipação do Bolsa Família para os 20 mil inscritos no programa em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. No dia 27 do mesmo mês, a presidente esteve no Rio e anunciou a entrega de 8.000 casas para desabrigados. A ajuda também veio através de doações. Pessoas de diversos estados e países se comoveram com a tragédia e enviaram principalmente dinheiro, roupas, alimentos, remédios, água e colchões. Em fevereiro, as maiores necessidades, de acordo com as prefeituras dos municípios afetados, são material de limpeza, material de higiene pessoal e material descartável. 54 O Ministério da Defesa empregou cerca de 1000 militares, 06 helicópteros, 93 viaturas militares, 04 pontes móveis e Hospitais de Campanha para participar do esforço de apoio às vítimas. Foram realizadas as seguintes ações: Operação de Postos de Distribuição de donativos, carregamento e descarregamento de caminhões de transporte de donativos, segurança de instalações sensíveis, controle de trânsito, remoção de escombros, transporte de desabrigados, distribuição de água potável, controle do espaço aéreo, operações de busca e resgate de pessoas, transporte aéreo de pessoal e material de socorro, resgate de corpos, lançamento de pontes móveis. Percebe-se pelo rol de missões, a prevalência daquelas previstas na doutrina de Assuntos Civis. 3.5.8 Participação Brasileira no Haiti A participação brasileira na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) tem como marco inicial a aprovação, por unanimidade, pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), da Resolução de nº 1542, de 30 de abril de 2004. A participação das Forças Armadas do Brasil foi uma decisão de governo, após consulta realizada pela ONU ao Brasil, sobre a possibilidade de participação de tropas brasileiras no contingente militar multinacional da referida missão. Após a Exposição de Motivos Nº 91, de 07 de Maio de 2004, do Presidente da República ao Congresso Nacional, foi aprovado o Decreto Legislativo nº 207, de 19 de Maio de 2004, que oficializou o compromisso assumido pelo Governo brasileiro com a ONU. Inserido nesse contexto e, conforme preconizam as normas estabelecidas pela ONU, constantes da “Diretriz para os Países que Contribuem com Tropas para a MINUSTAH”, o Brasil, a cada seis meses, substitui todo o contingente brasileiros que faz parte da MINUSTAH. O Conselho de Segurança da ONU, através da Resolução de 13 de outubro de 2009, estendeu o mandato da MINUSTAH até 13 de outubro de 2010. A autorização dada pelo Congresso brasileiro para a participação das tropas do País no Haiti não fixou prazo determinado para o encerramento da missão. 55 O contingente das Forças Armadas mantido pelo Brasil no Haiti é o maior efetivo enviado para fora do País desde a Segunda Guerra Mundial. Os militares brasileiros formam o maior contingente militar da missão, dentre os mais de sete mil militares, de 16 países que atuam no Haiti. Nesse contexto, os dois Batalhões brasileiros (BRABATT) que integram a MINUSTAH possuem em seu estado-maior o oficial de Assuntos Civis (G9), responsável por realizar o planejamento das atividades a serem realizadas. Não conta com tropa especialista em Assuntos Civis para emprego no terreno. No âmbito da ONU, as operações de assuntos civis são denominadas de CIMIC (Civil Military Cooperation). As principais atribuições do G9 são apoiar o comandante na relação com as autoridades civis e a população, fomentar a legitimidade da missão e aumentar a eficiência das operações militares e apoiar as atividades de gerenciamento de crises. Para isso, gerenciam as Ações Cívico Sociais (ACISO), promovem reuniões com organizações não governamentais e participam de atividades de assistência humanitária, distribuição de água e distribuição de recursos. 3.5.9 Estrutura Atual de Coordenação das Atividades Subsidiárias no Exército Brasileiro Criada inicialmente como Seção de Emprego Nr 5 – SE 5 (1997-1999) e posteriormente como seção de ações complementares (2000 a 2005), a Divisão de Ações Subsidiárias (denominação atual) do Comando de Operações Terrestres (COTER), conta com um efetivo de 3 militares (dois oficiais superiores e uma praça) e é a Divisão responsável pela coordenação do emprego da Força Terrestre em atividades subsidiárias, não estando abrangidos neste rol de responsabilidades as obras de engenharia de construção, as operações de garantia da lei e da ordem e as ações na faixa de fronteira. Cabe a ela representar o Exército junto aos órgãos solicitantes de apoio, formular as diretrizes de emprego, gerenciar os recursos financeiros recebidos, acompanhar a execução das atividades em operação, apresentar os resultados das ações realizadas assim como a prestação de contas dos recursos financeiros 56 recebidos e participar de grupos de trabalho junto a Secretaria Nacional de Defesa Civil e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência República entre outros. No ano de 2011, foram realizadas trinta e três operações caracterizadas como subsidiárias, envolvendo três mil oitocentos e setenta militares de mais de cento e trinta organizações militares de todos os Comandos Militares de Área, exigindo grande capacidade de coordenação e articulação, uma vez que grande parte das solicitações são inopinadas e de caráter emergencial. Figura 3 - Comandos Militares de Área do Exército Brasileiro Fonte: Sistema de Planejamento Estratégico do Exército (SIPLEX) (2004) Como os Comandos Militares de Área não possuem estrutura semelhante a do COTER ou específica para tratar de temas ligados às atividades subsidiárias, um mesmo assunto é tratado em seções diferentes nos diversos Grandes Comandos, não existindo uma forma padrão de tratamento da questão, fato que dificulta o gerenciamento das informações, inviabiliza a existência de um banco de dados centralizado e muitas vezes exige que o COTER busque informações sobre a execução do apoio diretamente com a Organização Militar empregada, exigindo uma demanda maior de tempo e de meios. 57 Cabe ressaltar ainda que a falta de uma seção ou assessoria dedicada exclusivamente a atividades subsidiárias/Assuntos Civis no MD, Forças singulares e, mesmo nos Grandes Comandos mais acionados, impede muitas vezes que Organizações Militares empregadas em situações emergenciais, sejam beneficiadas com o aporte de recursos financeiros que poderiam maximizar suas possibilidades de apoio. 3.6 POSSIBILIDADES FUTURAS Com o objetivo de realizar o planejamento integrado de ações de Defesa Civil, visando minimizar as consequências danosas a população atingida por desastres naturais, o Governo brasileiro lançou dois Planos especialmente voltados para essas atividades: o Plano Nacional de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais de agosto de 2012 e o Plano Emergencial de Emprego das Forças Armadas em caso de Desastres Naturais 2011/2012. O primeiro prevê recursos para a expansão da rede de observação com a aquisição de nove radares, 4100 pluviômetros, 286 estações hidrológicas, 100 estações agro meteorológicas, 286 conjuntos geotécnicos e 500 sensores de umidade de solo, além de implementar salas de situação em todos os estados para monitoramento hidrológico pela Agência Nacional de Águas (ANA). Também serão executadas obras de prevenção de inundações e deslizamentos, como drenagem e contenção de encostas e cheias em 154 municípios de 15 regiões metropolitanas e bacias hidrográficas prioritárias. O Plano Emergencial de Emprego das Forças Armadas em caso de Desastres Naturais 2011/2012 prevê, sem comprometimento de sua missão constitucional, a atuação das Forças Armadas em cooperação com os órgãos e entidades do SINPDEC responsáveis pela defesa civil, na coordenação de ações e/ou operações de Defesa Civil, a fim de contribuir com o socorro às situações de desastres, atenuando os seus efeitos, preservando o moral da população e restabelecendo a normalidade social. Embora sejam iniciativas governamentais reativas, os planos revelam a preocupação do segmento político em dar uma resposta coerente às aspirações da população atingida por catástrofes naturais em território nacional. 58 Muitas dessas catástrofes podem ser mapeadas com antecedência e mitigada em seus efeitos caso os governantes formulem políticas adequadas e realizem gestões responsáveis dos recursos públicos. O emprego de pessoal e material especializado em determinadas emergências pode significar a diferença entre a vida e a morte. Neste contexto, o combatente de Assuntos Civis devidamente preparado e adestrado poderá fazer a diferença no assessoramento dos planejadores de todos os níveis, bem como na orientação do emprego dos meios existentes. “…Entendo que as ações CIMIC são uma forma de operar psicologicamente o ambiente e que estas ações necessitam ser planejadas no mais alto nível… hoje o prestígio e a credibilidade da missão se encontram nas mãos dos militares CIMIC... (SANTOS CRUZ, 2007). 59 4 CONCLUSÃO Os Assuntos Civis compõem um vetor importante nas operações modernas, aumentando o poder relativo de combate e auxiliando o comandante da operação. A cooperação civil-militar apresenta-se como uma das maiores necessidades e, ao mesmo tempo, um dos maiores desafios no contexto dos conflitos armados da atualidade. Tais conflitos caracterizam-se cada vez mais por um cenário multidimensional e complexo, em que diversos atores buscam objetivos muitas vezes comuns, mas por vezes diversos ou até divergentes, e realizam atividades que, se mal coordenadas, podem se contrapor ou até mesmo se anular. Neste contexto, observou-se o aprimoramento das coordenação e cooperação entre civis e militares ao longo da História, especialmente a partir da década de 1990, o que pode se entender ter ocorrido por diversos motivos, dentre os quais a maior preocupação a nível mundial com o destino de refugiados, deslocados e vítimas civis dos conflitos, além do surgimento de um número cada vez maior de agências civis, sejam internacionais, governamentais ou não governamentais. Cada uma destas novas células vai exigir atenção específica para que suas atividades se tornem sinérgicas com o todo, o que certamente implicará na coordenação de seu trabalho com os demais atores civis e militares presentes. Além disso, vale ressaltar, ainda, sendo o ambiente operacional parte do território brasileiro, o normal é que as atividades de Assuntos Civis sejam desenvolvidas pelos órgãos civis nacionais responsáveis, cabendo às Forças Armadas a missão e de apoio e coordenação das atividades. Ao final deste trabalho de pesquisa sobre este tema ainda pouco explorado em âmbito nacional, porém de grande importância nas operações nos dias atuais, chega-se a algumas conclusões. Já existem, nas Forças Armadas, recursos humanos capazes de conduzir Operações de Assuntos Civis. São oficiais e praças que participaram da Força de Paz da ONU enviada ao Haiti, além de outros tantos que realizaram cursos no exterior, particularmente nos Estados Unidos. No que se refere especificamente aos Estados Unidos da América, o assunto em pauta também apresenta significativa importância ao país, pois além de serem os pioneiros na abordagem do tema, têm organizações militares com a missão específica de Civil Affairs, permitindo constante capacitação de militares e 60 atualização da doutrina. Sua participação constante em combate permite inferir que seu modelo de aplicação da coordenação civil-militar deve ser considerado para a evolução nacional no assunto, além de ser aconselhável a busca de ensinamentos úteis que possam ser aproveitados. O Brasil necessita de certo aprimoramento da doutrina, tanto no que se refere aos Assuntos Civis quanto ao que se refere à cooperação civil-militar. É fato que as atividades realizadas pela tropa brasileira no Haiti têm proporcionado progressos no assunto, mas a CIMIC se ressente de maior regulamentação. Normalmente, a cooperação é feita na prática, e o jeito de ser do povo brasileiro é um fator que traz grande sucesso nessas atividades, mas talvez pequenas modificações pudessem trazer resultados mais expressivos. Nesse contexto, a análise de lições aprendidas por outros países é fator primordial para que a doutrina brasileira esteja eixada com as melhores práticas no assunto, possibilitando que objetivos dentro da CIMIC sejam atingidos com muito mais eficiência e facilidade. Esses recursos humanos, já existentes nas Forças, poderiam ser reunidos em um núcleo operacional para estudar a problemática militar brasileira. Assim, o conhecimento adquirido na prática e a doutrina moderna assimilada no exterior, temperada com as características nacionais serviriam de base para a criação de uma Unidade Conjunta de Assuntos Civis, no nível tático, tão necessária nos dias de hoje. Nos níveis operacional e estratégico, um outro núcleo poderia ser formado no Ministério da Defesa para adequar a doutrina, que hoje encontra-se defasada, com a parte tática. Nesse nível seria idealizado o processo de ligação com as demais agências do Governo para potencializar os meios existentes. O modelo de sugerido seria que a Unidade Conjunta de Assuntos Civis a ser criada seria subordinada ao Exército Brasileiro para fins de preparo e vinculada ao Ministério da Defesa para fins de emprego. A realização de temas escolares nas Escolas de Comando e Estado-Maior e nas Escolas de Aperfeiçoamento de Oficiais das Forças, contando inicialmente com o assessoramento desses núcleos, contribuirá para o rápido desenvolvimento da doutrina e da mentalidade de Assuntos Civis. No nível político, a criação de uma Assessoria especializada em Assuntos Civis ligada diretamente ao Ministro da Defesa e com trânsito político nos outros ministérios facilitará a tomada de decisão e agilizará os procedimentos burocráticos 61 existentes em caso de emprego emergencial em território nacional, caracterizando, assim, o aspecto dual da atividade Ao Governo caberá, também, a cobrança de planos e procedimentos das esferas estaduais e municipais para o caso de acionamento em emergências, engajando toda esfera política para a solução de problemas históricos ou não. Para a confecção desse planos, o núcleo conjunto a ser criado poderá sugerir os procedimentos necessário, integrando todos os atores envolvidos. Depois de estabelecida a base necessária ao início dos trabalhos, com o objetivo de aumentar o efetivo de pessoal dedicado, seriam criados cursos e estágios de Assuntos Civis, sob a tutela do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas a serem realizados no âmbito da Unidade Conjunta de Assuntos Civis. Essa organização militar deverá possuir equipamentos próprios, que garantam sua autonomia de emprego nas operações, particularmente de comando e controle. Nesse aspecto, é desejável fomentar a Base Industrial de Defesa para possuir plenas capacidades para o desenvolvimento e a fabricação de meios dedicados a este mister. Entende-se que os ensinamentos abordados neste trabalho podem ficar como memória, e o incremento desse banco de dados com informações colhidas em outros conflitos ou das próprias evoluções da doutrina estrangeira, se disponibilizadas, podem ser a base de possíveis trabalhos futuros que aprimorem a doutrina brasileira, talvez com a compilação de um manual ou nota doutrinária Desta forma, busca-se que o Brasil, e mais especificamente as Forças Armadas, procurem acompanhar essa realidade, pois o cenário que atualmente se configura, pela análise dos conflitos atuais, torna lícito supor que atividades como os Assuntos Civis, apesar de por si só não levarem à vitória, trariam prejuízos tais às operações, caso indevidamente realizadas ou inexistentes, que contribuiriam sobremaneira para a derrota. Com relação ao aspecto dual do caso brasileiro, vale dizer que as atividades de Assuntos Civis, se corretamente conduzidas vão promover a integração das atividades militares e civis, corroborando com as Forças Armadas no cumprimento de sua missão e garantindo menor transtorno à população civil, por potencializar os recursos existentes em todas as esferas do poder. 62 REFERÊNCIAS BENTO, Cláudio Moreira. Recortes históricos sobre Caxias. A DEFESA NACIONAL. Rio de Janeiro, v. 796, 2003. ______. Caxias e a unidade nacional. Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Porto Alegre: Gênesis, 2003. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1998, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 28/2000 e pelas Emendas Constitucionais de revisão nº 1 a 6/94. Brasília, DF: Senado Federal, 2000a. ______. Decreto nº 667. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares (R 200). 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