O Mal-Estar na Cultura
Felicidade versus Civilização
Considerações gerais
• Esta palestra usa como referência o texto: O
Mal-Estar na cultura, escrito por Sigmund
Freud, em 1930
• O Mal-Estar na cultura é uma obra de
natureza ampla, envolvendo as ciências
humanas, sociais e a própria cultura em geral.
• O mal-estar a que se refere Freud é inerente à
própria cultura e nos acompanha “ab initio”,
desde a origem do que conhecemos como
cultura
Considerações gerais
• Qual a causa desse mal-estar?
– Freud pôde transmitir neste escrito dois
aspectos fundamentais:
• Uma espécie diferente, nova, de mal-estar, que
poderíamos denominar de inerente à cultura ou de
estrutura. O idioma inglês tem uma expressão para
isto:”built in”, isto é, que é feito com a coisa mesma
• Este tipo de mal-estar presente na cultura não tem
uma causa externa e por isso não se resolve com mais
cultura
Considerações gerais
• O Mal-Estar na Cultura foi escrito após O
Futuro de uma Ilusão, texto que trata
especificamente a respeito do papel da religião
na vida e na sociedade, do ponto de vista da
psicanálise.
• O Futuro de uma Ilusão recebeu críticas de
amigos de Freud, de alguns simpatizantes da
psicanálise e principalmente do amigo Romain
Rolland, para o qual a tomada de posição de
Freud sobre a religião lhe pareceu
excessivamente dura.
Considerações gerais
• O Mal-Estar na Cultura é uma obra que
aparentemente tem um caráter muito menos
específico, pois se trata da cultura em geral, e
não somente de um aspecto dela como a
religião.
• No entanto, isto é só a primeira vista, pois o
assunto do qual se ocupa é muito preciso, pois
à medida que se aprofunda na leitura da obra se
vai aclarando mais e mais a sua precisão.
O mal-Estar– a palavra chave
• Trata-se de um "Mal-estar" (esta é a palavra chave)
que acompanha a cultura desde suas origens. Há que
se destacar que a posição de Freud é muito clara, não
existe neste trabalho nenhuma nostalgia de algum
tempo passado ou época nos quais as coisas teriam
sido melhores
• Este Mal-estar a que se refere Freud é inerente à
própria cultura e nos acompanha desde o início, desde a
origem do que conhecemos como cultura. A questão
central é: o que no texto se entende como Mal-Estar?
Sentimento oceânico de união
com o “Todo”
• Freud inicia seu ensaio, O Mal-Estar na
Cultura, a partir de uma reflexão sobre o
sentimento oceânico de união com o
“Todo” que existe em todo ser humano,
segundo crê seu amigo Romain Rolland,
com quem Freud manteve uma regular
correspondência e onde este tema foi
enfocado
Fonte da religião
• Para Rolland a fonte da religião pode remontarse a um sentimento muito particular, ao qual
denominou de sentimento oceânico, não
vinculado diretamente à fé religiosa.
• Rolland define este sentimento de estar unido
ao Todo, como prova que há uma energia que
os sistemas religiosos captam e aproveitam.
Porém, para Freud a fonte da religião é outra,
trata-se do desamparo infantil e da nostalgia
pelo pai.
Estado de desamparo infantil
• É nesse estado de desamparo
profundo diz Freud que se remonta a
origem da religião e não no sentimento
de união com o Todo, como defendia
seu amigo Roland.
• No entanto, Freud chama atenção para
este sentimento oceânico como chave
para a demarcação do nosso Eu.
Desamparo e a angústia da
solidão
• O ser humano tenta fazer de tudo para
fugir do desamparo e da angústia da
solidão, daí sua necessidade constante de
construir e elaborar sistemas religiosos e
ideologias
salvadoras,
como
uma
“Weltanschauung”
Fuga do desamparo e da
angústia da solidão
• Por isso leva a cabo diversos procedimentos,
tais como:
– distrair-se em alguma atividade,
– procurar satisfações substitutivas,
– sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações
artísticas e científicas.
– ou se narcotizar com drogas, etc.,
Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a
felicidade e afastar o sofrimento.
Felicidade versus civilização
• A resposta de Freud relacionada ao Mal-estar na cultura
e a felicidade versus civilização se fez esperar bastante,
pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi sendo
publicado paulatinamente.
• Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona
uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise
conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno,
esse cavalo de Tróia que vem com a cultura.
• Não somente as armas que conta, senão também as
que a psicanálise recomenda e as que contra-indica
Felicidade versus civilização
• A resposta de Freud relacionada ao Mal-Estar na cultura
e a felicidade versus civilização se fez esperar bastante,
pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi sendo
publicado paulatinamente.
• Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona
uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise
conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno,
esse cavalo de Tróia que vem com a cultura.
• Não somente as armas que conta, senão também as
que a psicanálise recomenda e as que contra-indica
Felicidade versus civilização
• Para análise desse mal-estar na cultura Freud
parte do tema da felicidade, ou seja, o
problema do fim e propósito da vida humana,
no qual a religião tem um papel importante.
• A via que segue para chegar ao tema da
felicidade é a clássica: o livro IV da "Ética a
Nicómaco" de Aristóteles, que parte
precisamente do mesmo ponto: "o bem
supremo de nossas atividades é, segundo
consentimento geral, a felicidade."
A procura da felicidade
• Os métodos mais comuns que as
pessoas, geralmente, usam para fugir do
desprazer e conquistar a felicidade são:
– Meio químico para anular o desprazer: a
droga.
– Evitar o desprazer dominando as
necessidades: o yoga, o budismo.
– Transladar as metas da pulsão, evitando o
"não" da realidade exterior: a arte.
A procura da felicidade
– Romper, simplesmente, com a realidade: o
eremita.
– Romper com a realidade e substituí-la por
uma outra nova: a psicose.
– Afiançar a decisão do cumprimento da
felicidade, sem afastar-se da realidade e
sem evitar o desprazer, mas deslocando a
meta da libido: o amor
A procura da felicidade
• Freud em suas reflexões sobre os destinos e
caminhos particulares que cada indivíduo
procura para encontrar a felicidade faz sua a
frase de Frederico, o Grande: "Em meu domínio
cada homem pode atingir a bem-aventurança a
sua maneira.“
• Freud também recorda o que diz Kant: os piores
tiranos são aqueles que querem obrigar ao povo
a ser feliz, segundo a maneira que eles, os
tiranos, indiquem-lhes
Programa do Princípio do Prazer
Ser Feliz
• Segundo Freud é irrealizável, e, por sua
vez, é impossível também abandoná-lo.
• Cada um ensaia seu próprio caminho,
segundo três tipos de eleição:
– vínculos sentimentais.
– satisfações narcisistas.
– realizar-se mediante a ação.
O caminho da neurose
• O caminho da neurose, não é isento de criação, pois os sintomas
são satisfações substitutivas, sendo que também indicam o
caminho a sua maneira, pois cada qual inventa um pouco os
seus próprios sintomas
• A neurose é uma resposta às exigências culturais, pois a cultura
exige respeito a seus ideais. O neurótico é aquele que diz "basta!",
e o diz com seus sintomas.
• O neurótico não pode suportar a frustração que a cultura exige em
lugar de seus ideais.
Sublimação
• A sublimação é um dos destinos da pulsão e por
sua vez, exerce um grande papel na economia
psíquica individual e na própria civilização, pois
sem a sublimação pulsional não teríamos
civilização e nem cultura, conforme afirmou
Freud, ao longo de sua obra
• Sobre esta questão lembrar a importância que tem o
supereu (ideal do eu) nessa operação de sublimação
dos impulsos que geralmente são de natureza sexual e
agressiva
O supereu (superego)
• O supereu (superego), além de exercer, as
funções de auto-observação e de consciência
moral (voz da consciência), contém nossos
níveis de aspiração mais elevados, na condição
de ideal do eu.
• Classicamente, o supereu é o herdeiro do
complexo de Édipo e se forma a partir das
identificações com os pais e da interiorização
das exigências e das interdições parentais.
O conflito
• O conflito que um indivíduo enfrenta na procura da
satisfação para suas necessidades pulsionais pode não
estar diretamente ligado às forças que compõem à
repressão como a moralidade, a vergonha e a
repugnância.
• Mas ao choque entre os ideais elevados de seu supereu
e a gratificação de suas pulsões, pois um supereu com
altos níveis de exigências culturais, sociais e morais,
torna-se crítico e severo com qualquer desejo que venha
desviar a pessoa de seus ideais e de sua sublimidade.
O amor de meta inibida
• O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto o
amor sexual plenamente realizado não cria laços sociais
fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura ameaça o
amor sexual.
• A vida sexual do homem culto tem recebido grave dano,
impressiona-nos às vezes pensar que esta se encontra
em processo involutivo.
• Muitas vezes a gente crê discernir que não é só a
pressão da cultura, senão algo que está na essência da
função sexual mesma, e que nos nega a satisfação plena
e nos leva por outros caminhos.
A Solução da psicose
• Além da solução neurótica, Freud se refere à
solução radical da psicose
• A psicose, essa forma de fuga da realidade com
sua própria solução, visitou as casas de nossos
criadores mais fecundos. E não é por acaso
• O último procedimento para afastar o sofrimento
da vida que é examinado por Freud é o do amor
A solução pelo amor
• O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois,
precisamente ao amarmos é quando nos colocamos
mais a mercê do outro e consequentemente, ao alcance
dos infortúnios e das dificuldades da vida
• Há seres humanos que resolveram este problema,
transformando o amor sexual num amor sexual de meta
inibida, e assim se consegue um amor que não é
oscilante, que não sofre as vicissitudes da contingência,
nem desenganos, nem decepções, nem tormentas e
nem desilusões
Destinos e caminhos
• Claro está que todos estes destinos e
caminhos particulares dependem de uma série
de fatores que há de se levar em conta
• Os caminhos para organizar a libido e a vida
sexual do ser de linguagem que somos, e que
dá como resultado nossos modos de gozo e
nossos entraves particulares, esses caminhos
nem sempre são acessíveis e nem sempre são
fáceis, nunca é de mais dizê-lo
O amor sexual pleno
• O amor sexual pleno é mais bem algo
anti-social, e até poderia dizer-se que vive
um pouco dessa anti-socialidade. É disto
que este amor respira. Por isso Freud diz:
a cultura ameaça este amor pleno
• Além do amor de meta inibida há o
chamado amor cortês que foi um invento
do século XII, por isso que José Ortega e
Gasset diz (quiçá em seus "Estudos sobre
o Amor") que "o amor é um estilo literário"
Por que fracassa o programa do
princípio do prazer?
• Se os seres humanos querem a ausência da dor e do
desprazer e almejam vivenciar intensos sentimentos
de prazer é porque o princípio de prazer rege o
psiquismo
• Dominar as paixões, ou psicanaliticamente falando, as
pulsões é menos doloroso do que uma paixão (pulsão)
não dominada
• Freud na segunda tópica postula um algo além do
princípio do prazer que chamou de pulsão de morte e
que, por sua vez, se opõe ao princípio do prazer. É
esse além, o principal responsável pelo fracasso do
programa do princípio do prazer
POR QUE SE JOGA A CULPA
NA CULTURA?
• Jogar a culpa na cultura pelos males da
civilização, não é justo, pois a cultura, como
mesmo afirmava Freud, protege o homem da
natureza e regula suas relações sociais
•
O homem primitivo compreendeu muito
cedo que para sobreviver devia viver em
comunidade
A pulsão e sua relação com o malestar na civilização
• Definitivamente há uma relação conflituosa
entre pulsão e civilização que jamais será
ultrapassada, uma vez que ela é da ordem
estrutural e por isso produtora de
desarmonia nos laços sociais
• Em relação ao instinto pode dizer-se que
não há no ser humano este "saber" inscrito
no corpo ou nos genes, que seja utilizável
de modo imediato, como se fosse uma
caixa de ferramentas
A pulsão e sua relação com o malestar na civilização
• Para compreender o mal-estar na cultura, é
preciso compreender o limite que esta impõe à
sexualidade
humana,
pois
além
de
circunscrever a satisfação sexual, a cultura
exige outros sacrifícios, como pôr entraves à
agressividade dos homens
• Pode se dizer que a pulsão de morte é o
maior obstáculo à cultura, é uma das
causas do Mal-estar na Cultura
Eros e Thánatos e sua relação
com a civilização
• Através da mitologia das pulsões – (Eros e
Thánatos) podemos acompanhar o texto
freudiano - O Mal-estar na Cultura
• Neste texto Freud denuncia em toda extensão
o desamparo humano, retirando qualquer
garantia de superá-lo, seja por meio da arte,
da religião ou da ciência
O Mal-estar e a religião
• Freud no capítulo II faz uma breve observação a respeito da
religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos a
neurose, mas a um preço elevado
• Qual é este preço?
• Paralisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamente
•
Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação
delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos
• Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da
vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação do
religioso ante a vida que lhe toca viver
A questão de uma
Weltanschauung
• Era, pois inevitável que, no final de sua vida,
Freud voltasse, de maneira mais sistematizada,
seu interesse para os fenômenos culturais e
sociológicos
• É quando escreve O Mal-estar na cultura, O
Futuro de uma ilusão, Por que a Guerra e A
Questão de uma Weltanschauung
A questão de uma
Weltanschauung
• Freud diz que a relação mais problemática entre
as Weltanschauungen
• É a que se estabelece entre a religiosa e a
científica
• Por reconhecer que aquilo que a ciência oferece
para a humanidade é muito pouco e muito
severo
Comparado com as onipotentes ofertas
proporcionadas pelas ilusões religiosas.
A questão de uma
Weltanschauung
• Frente às dificuldades da condição humana,
com seu desamparo, sua fragilidade, seu
desconhecimento, sua perplexidade frente à
morte, a religião oferece todas as respostas e
reasseguramentos desejados
• A ciência, pelo contrário, faz-nos ter que lidar
com o desconhecido e trabalhar para chegar a
um conhecimento eficaz, não nos poupando a
visão de nossa própria finitude e limitações
O sentimento de culpa e o malestar na cultura
• A cultura está unida indissoluvelmente com uma
exaltação do sentimento de culpa, que quiçá
chegue a atingir um grau dificilmente suportável
para o indivíduo
• Existem duas origens para o sentimento de
culpa: o medo à autoridade e o temor ao
supereu. A união de ambos resulta muito efetiva
para o desenvolvimento da cultura
O sentimento de culpa e o malestar na cultura
• o preço pago pelo progresso da cultura reside na
perda de felicidade por aumento do sentimento de
culpa
• A evolução da sociedade requer o controle dos
instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de
maneira que existe uma estreita relação entre
civilização, repressão e neurose
• Quanto mais avança a primeira, mais necessária
se faz a segunda e maior é a frustração gerada
O sentimento de culpa e o malestar na cultura
• Sob a coação do processo civilizatório, a
agressividade se converte em sentimento
de culpa
• Este sentimento de culpa não se percebe
como tal, senão que permanece
inconsciente ou se expressa como um
mal-estar
O sentimento de culpa e o malestar na cultura
• O sentimento de culpa seria o mal-estar da
cultura
• o preço que pagamos por vivermos em
sociedade, reprimindo a sexualidade e a
agressividade
• Sob esta óptica, o mal-estar é estrutural,
próprio do processo civilizatório e da
organização do psiquismo humano
Pulsão destrutiva, agressiva
• Freud o segue texto do Mal-Estar na Cultura,
no qual afirma:
• Que é na pulsão destrutiva, agressiva, advinda
da pulsão de morte, que se encontra o maior
entrave para cultura
• Em função do ser humano não poder existir
plenamente fora da civilização
Civilização e o mal-estar
• A civilização torna a existência humana
problemática, por não ser mais natural, ou seja,
as leis da natureza são substituídas pelas leis
da cultura
• Em razão de que, se por um lado, a civilização
em si, provoca um mal-estar, por outro lado,
sem civilização não teria humanidade, seríamos
só outros primatas regidos pela natureza
Desigualdade provocada pela
natureza
• Se buscarmos a igualdade para todos os
homens, existirá uma objeção muito óbvia
a ser feita:
• a de que a natureza, por dotar os
indivíduos com atributos físicos e
capacidades mentais diferentes
introduziu injustiças contra as quais não
há remédio
A Sociedade do Espetáculo
• O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual,
• denominada por Debord de "sociedade do espetáculo?”
• Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua
inclinação - para perpetuar-se em sua situação de
privilégio instala o "espetáculo"
• Onde a realidade é totalmente escamoteada pela
manipulação das massas através da midia e da
propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas
vezes apenas para vender ilusões e mistificações.
A Sociedade do Espetáculo
• Nesta sociedade, a midia é pletora da informação
• na verdade desinforma sistematicamente na medida em
que não expõe, ou o faz de forma distorcida, justamente
aquilo que efetivamente interessa saber e informar
• Ambas – midia e propaganda - se empenham em
fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de
história, promovendo um eterno e autônomo presente,
Na ignorância ou na negação de um passado conectado
ao futuro
A Sociedade do Espetáculo
• Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo
permeia, a produção econômica é regida por
demandas artificialmente criadas e a única
lógica vigente é a de permanência do poder,
que usa de todos os recursos para perpetuar-se
• “O espetáculo se confunde com a realidade, ao
irradiá-la", diz Debord. Claro que tudo isso está
muito longe dos argumentos sustentados pela
Weltanschauung científica, psicanalítica, em sua
luta contra a ilusão
A Sociedade do Espetáculo
• Por dificultar o acesso à realidade, por alimentar
sistematicamente ilusões, por negar a
castração simbólica, essa "sociedade do
espetáculo" dá margem ao que muitos chamam
de novas formas de subjetivação:
• Como os novos transtornos de caráter, os
transtornos de ordem narcísica, as
personalidades bordelines, e os transtornos
alimentares que são, por sua vez, as novas
edições das histéricas dos tempos de Freud
O campo do mal-estar
contemporâneo
• As “religiosidades do espetáculo” com sua
irracionalidade mortífera
• Presa fácil dos discursos totalizantes ou
hegemônicos
• Alimentam toda sorte de fanatismos políticos e
religiosos, associados à promessa de felicidade
O mundo das patologias
narcísicas
• A midia, especialmente a toda-poderosa
televisão, bombardeia-nos ininterruptamente
com imagens de sucesso sexual e financeiro,
mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os
atuais deuses cheios de beleza, juventude,
dinheiro e fama
• Ela promete o acesso a este Olimpo, desde que
sigamos suas instruções de consumo,
insistentemente propagadas através da
publicidade
As dificuldades da conciliação
• Como conciliar Eros e Thánatos e os processos
de civilização/cultura, se ambas as forças em
seus limites máximos, representam elementos
contra o processo civilizatório?
• Ora, se o processo de civilização pressupõe e
impõe formações homogêneas em detrimento
daquilo que é heterogêneo, reforçando a
massificação que pressupõe a fascinação
amorosa e a identificação narcísica que leva à
indiferenciação e à massificação, o Mal-estar
continua
Civilização e anulação dos
espaços
• O que está em questão é a progressiva
anulação de espaços que acolham o imprevisto,
a paixão, o perturbador, a singularidade, o
estranho e a diferença
• Por outro lado, é impossível não pensar nos
interstícios dessa relação paradoxal (entre Eros
e Thánatos e os processos de
civilização/cultura) através das sutilezas que o
texto: O mal-estar na Cultura nos mostra
A questão que Freud nos
oferece
• É impossível também não deixar de perguntar: por que somos
sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da vida?
•
• Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do sofrimento
psíquico são três:
• O poder superior da natureza
• A fragilidade de nossos próprios corpos
• Inadequação das regras que procuram ajustar as relações
mútuas dos seres humanos na família, no estado e na
sociedade
A questão que Freud nos
oferece
• Em Totem e Tabu Freud já tinha defendido a
tese
que ele retoma no Mal-estar na Cultura, de que a
civilização só pode existir
porque o poder do grupo submete os indivíduos
que abrem mão de seu poder pessoal em prol
da convivência com seus semelhantes
A essa tese já fora defendida
por Hobbles
• Em 1651, no Leviatã, Hobbes descreve a
natureza humana assim:
•
• “Ao homem é impossível viver quando seus
desejos chegam ao fim, tal como quando seus
sentidos e imaginação ficam paralisados
•
• A felicidade é um contínuo progresso do desejo,
de um objeto para outro, não sendo a obtenção
do primeiro outra coisa que o caminho para
conseguir o segundo
As novas formas de subjetividade
da atualidade
• Estas novas formas estão circunscrevendo o
campo do mal-estar contemporâneo
• ao traçar um paralelo entre o mal-estar na
atualidade e o mal-estar na psicanálise
• e coloca de um modo surpreendente e
interessante, dois "emblemas da modernidade":
Marx e Freud
As novas formas de subjetividade
da atualidade
• Pondera-se que a modernidade foi construída em torno
do ideário da revolução, a ser promovida pelo sujeito
coletivo que tem em Marx o representante da
materialização teórica dessa utopia, que marcou de
forma indelével os séculos XIX e XX
• Na medida em que se acreditou na revolução como
modelo, através do qual o sujeito coletivo sempre
poderia reinventar um elemento radical e básico da
psicologia humana, o mundo marxista se fez a
representação teórica e política da potência desejante
do sujeito coletivo
As novas formas de subjetividade
da atualidade
• Freud é enunciado como o catalisador
possível das transformações da
individualidade ou seja,
• o desejo se faz o único meio através do
qual o sujeito pode reinventar seu eu e
traçar uma outra história
Os herdeiros destes ilustres
emblemas da modernidade
• sabemos que os herdeiros de Marx transformaram seu
pensamento numa ordem mecanicista e econômica
•
Os de Freud transformaram, de maneira paradoxal,
• O discurso freudiano numa modalidade de pensamento
fundado na exaltação da individualidade e no registro do
desejo, sendo que tal individualismo é a marca
registrada da sociedade moderna, denominada por
Debord de "sociedade do espetáculo” e por Verdú de
"capitalismo de ficção"
Conclusão
• Para Freud a cultura exige o sacrifício da
satisfação sexual. No mundo ocidental a
exigência cultural é seguir o preceito bíblico:
"amarás a teu próximo como a ti mesmo",
porém este quase nunca é seguido, ademais é
um amor de meta inibida
• Freud se pergunta de que meios se vale a
cultura para controlar a agressão que se opõe à
ela? Trata-se de uma formação psíquica que
Freud denominou de supereu (superego)
Conclusão
• O Mal-Estar na Cultura reexamina considerações a
respeito do sentimento de culpa, sua relação com o
supereu, as relações de ambos com a cultura e com
uma clínica possível da cultura: uma "patologia das
comunidades culturais“
• Quando Freud pesquisa psicanaliticamente a origem do
supereu, e de que se alimenta este, de que se
"engorda", resulta quiçá que este “remédio de controle é
“pior do que a doença”“. Porém é um remédio que, no
entanto, tem-se que ingerir. Melhor dito: que já foi
ingerido. Como vimos em todo este texto
O Mal-Estar na Cultura
Felicidade versus Civilização
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Mal-estar na Cultura