IDENTIDADES SOCIAIS DE RAÇA E CLASSE NOS LIVROS DIDÁTICOS DE INGLÊS DO
ENSINO MÉDIO
Lilian Paula Dambrós1
RESUMO
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O presente artigo pretende demonstrar como os livros didáticos auxiliam na construção das identidades
sociais de raça e classe. A análise feita teve por objetivo analisar quatro livros de três diferentes editoras
do 1º ano do ensino médio, com o intuito de entender como as identidades sociais de raça e classe são
tratadas no livro didático. Ao analisar os livros didáticos tentarei responder as seguintes perguntas de
pesquisa: Há referência de raça e etnias no conteúdo e nas imagens dos livros didáticos analisados e
como ela é feita? As imagens e os conteúdos, questão do letramento e multiletramento, estão em
conformidade com o que pede a lei 10.639/03? Qual a posição do PNLD quanto ao que diz a lei
10.639/03? Em relação ao referencial teórico, utilizarei Silva (1995), Bittencourt (2010), Gomes (2005)
Hall (2003), Lopes (2003), Muranga (2006), Silva (2006). Os aportes teóricos que servem de
fundamentação teórico-metodológica para esta pesquisa estão respaldados em uma revisão de
literatura dos estudos que vêm sendo realizados com os livros didáticos. A pesquisa também pretende
refletir sobre as políticas linguísticas e educacionais, tais como PCN-LE (BRASIL, 1998), OCEM-LE (2006),
DCE-LE (PARANÁ, 2008) o que diz o PNLD (BRASIL, 2012) e a Lei Federal 10.639/03 (BRASIL, 2004). A
metodologia utilizada foi de analise documental das políticas linguística e educacionais, dos discursos
produzidos nos Livros didáticos e análise de imagens que utilizam os estudos dos multiletramentos de
acordo com Rojo (2009 e 2012). Espero, com este trabalho, que mais professores do Ensino Médio
possam perceber os discursos veiculados aos Livros didáticos e refletir criticamente sobre as políticas do
livro didático.
Palavras-chave: Livro didático. Preconceito racial. Identidades.
ABSTRACT
This article seeks to demonstrate how the textbooks assist in the construction of social identities of race
and class. The analysis aimed to examine four books of three different publishers in the 1st year of high
school, in order to understand how social identities of race and class are treated in the textbook. By
analyzing the textbooks try to answer the following research questions: Is there reference to race and
ethnicity in the content and the images of the textbooks examined and how it is made? The images and
contents, issue of literacy and multiletramento, are in accordance with the law 10.639/03 asking? What
position PNLD as to what the law 10.639/03? In relation to the theoretical framework, I will use Silva
(1995), Bittencourt (2010), Gomes (2005) Hall (2003), Lopes (2003), Muranga (2006) and Silva (2006).
The research also aims to reflect on the linguistic and educational policies such as PCN-LE (BRAZIL,
1998), OCEM-LE (2006), DCE-LE (Parana 2008) says the PNLD (BRAZIL, 2012) and the Federal law
10.639/03 (BRAZIL, 2004). The methodology used was documentary analysis of linguistic and
educational policies, discourses produced in Textbooks and image analysis using the studies of
1
Professora de Inglês do Ensino Fundamental e médio, atualmente atuando na escola Municipal
Professora Theresa Gaertner Seifarth, no município de Carambeí, Pr. Graduada pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa especialista em Linguas pelo ESAP. Email: [email protected]
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multiliteracies according Rojo (2009 and 2012). I hope more teachers to realize the discourses conveyed
to Textbooks and critically reflect on their policies and the textbook.
Keywords: Textbook. Racial prejudice. Identities.
O livro Didático utilizado nas escolas pode auxiliar na construção e (re)construção
das identidades de alunos negros, pois de acordo com Bittencourt (2010) ele ainda é o
principal instrumento utilizado nas escolas por alunos e professores. Segundo ela, seu
papel na vida escolar pode ser o de instrumento de reprodução de ideologias e do
saber oficial imposto por determinados setores. Podendo assim, gerar discriminação e
preconceito, que poderão se tornar impasses na construção das identidades de nossos
alunos. Por esse motivo vejo a necessidade de entender sobre os discursos produzidos
acerca de raça e etnias nas imagens dos livros didáticos de Língua inglesa do ensino
médio, através dos multiletramentos; principalmente verificar se as práticas sociais dos
alunos estão evidenciadas nestes livros didáticos.
Para Silva (2006), apesar de haver intensa movimentação no campo da análise de
produção do livro didático, o tema racismo sempre aparece tanto na agenda das
políticas educacionais- como por exemplo nos Parâmetros curriculares nacionais
(BRASIL, 1998), nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua Estrangeira
Moderna (PARANÁ, 2008), nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL
2012) e na Lei 10639/03 (BRASIL, 2003)- quanto nas avaliações promovidas pelo
Ministério da Educação e pelo MEC e mesmo assim, de acordo com Silva (2006) o livro
didático continua produzindo e veiculando discursos racistas.
De acordo com Bittencourt (2010), o livro didático constitui um instrumento no
processo de socialização e de humanização, ele é um veículo condutor de linguagem
simbólica e tem o professor como mediador. Por essa razão, é importantíssimo que o
Livro Didático traga inserções de discuções sobre questões relevantes à identidade
social e à diversidade étnico-racial, que venham de encontro com a implantação das
Diretrizes Curriculares da Educação Básica de língua Estrangeira moderna, da
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secretaria da educação do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008), e a publicação da Lei
10.639/03 (BRASIL, 2003), a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino básico a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira”.
Circe Bittencourt (2010, p. 72) argumenta que, […] “o livro didático é um
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importante veículo portador de um sistema de valores, ideologia e cultura e que várias
pesquisas vêm demonstrando como os textos e as ilustrações de obras didáticas
transmitem valores dos povos dominantes, o que vem de encontro com os
preconceitos da sociedade branca burguesa.”. Também, de acordo com Silva (2006, p
57) “a classe dominante na busca do poder utiliza-se da ideologia para convencer a
“massa” de que é superior e um grande exemplo disso é quando, em livros didáticos
destinados a crianças e adolescentes, se veicula a imagem do negro a estereótipos,
que expandem uma representação negativa deste e uma representação positiva do
daquele”.
Outro fator tão agressivo quanto o estereótipo é a invisibilidade, pois não ser
visível nas ilustrações dos livros didáticos, ou então, aparecer desempenhando papéis
subalternos, pode contribuir para a pessoa negra desenvolver um processo de autorejeição e de rejeição ao seu grupo étnico/racial (SILVA, 2006). Para Silva (2003),
mesmo os livros didáticos passando por periódicas vistorias, continuam produzindo e
veiculando um discurso racista, apenas ajustado à época atual. Lopes (2003)
acrescenta ainda que, o preconceito racial não nasce com o ser humano, pelo
contrário, ele é socialmente construído. Desta maneira, este mesmo autor afirma que
entre as diversas formas de se produzir desigualdade entre negros e brancos uma
delas é o Livro Didático quando utilizado sem criticidade e ainda mais, que o livro
didático pode ser parte do discurso de construção social de inferioridade e pode
introjetar no indivíduo negro o sentimento de baixa autoestima, e de exclusão do
ambiente escolar.
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Silva (1995), relata que desde a década de 1950, vêm sendo realizadas pesquisas
em relação à discriminação e o preconceito racial contidos nos livros didáticos e de
literatura infantil, porém o livro de Silva é do final do século XX e ainda se constata que
o livro didático continua evidenciando esta prática, como descreve Silva (1995)
fazendo referência ao que identificou Rosemberg.
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O QUE DIZEM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E OS DOCUMENTOS OFICIAIS? UMA
PEQUENA REFLEXÃO A RESPEITO DE CADA UM DESSES DOCUMENTOS
Ao refletir sobre os limites, desafios e possibilidades das políticas educacionais e
linguísticas nos livros didáticos de língua inglesa, é perceptível que os PCN’s, por
exemplo, sugerem que temas transversais sejam propostos nas salas de aula, para
promover a construção da cidadania, no entanto o próprio documento demonstra que
há incoerência entre o livro didático e o mundo real, quando afirma que “[...] os livros
didáticos, em geral, não cumprem esse objetivo, pois os textos que neles se encontram
são, na maioria das vezes, elaborados ou selecionados tendo em vista o ensino do
componente sistêmico”. (BRASIL, PCNs, 1998, p. 93).
Quanto às DCEs-LE, destacam a facilidade que o livro didático traz para o professor
ao planejar e organizar suas aulas e para o aluno ao possibilitá-lo a consultar o material
sempre que houver necessidade. Por outro lado, o documento também destaca que o
livro Didático não deve ser a única fonte de informação a ser trazida para a sala de
aula, pois deve se valorizar a relação entre o espaço escolar e o cotidiano do aluno.
Desta forma o documento exalta a importância do desenvolvimento das “[...]
atividades significativas, as quais explorem diferentes recursos e fontes, a fim de que o
aluno vincule o que é estudado com o que o cerca.” (PARANÁ, DCEs, 2008, p. 64).
Sendo assim, para os documentos oficiais, o Livro Didático é destacado como uma
ferramenta dentre outras, como vídeos, DVDs, internet e etc..
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Porém, se tratando do posicionamento em relação à raça e etnia, acredito que as
diretrizes curriculares da educação básica de língua estrangeira moderna, assim como
outros documentos oficiais, deveriam propiciar uma abertura maior para a discussão
étnico racial no corpo do documento, tendo em vista que estamos em um momento
onde presa-se sempre pela contextualização sócio histórica.
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Em relação às OCEM de língua estrangeira e o livro didático, também orientam a
usá-lo apenas como uma das ferramentas que auxiliam o professor em sua prática,
portanto sua vantagem estaria em ser “[...] um recurso a mais, entre tantos, de que o
professor dispõe para estruturar e desenvolver seu curso e suas aulas.” (OCEM-LE,
2006, p. 154). O documento também alerta para uma desvantagem, que diz respeito à
dependência do professor em relação ao Livro Didático, quando o utiliza como seu
único material de trabalho, esquecendo-se de tantos outros recursos inclusive
áudio/visuais que nos rodeiam e podem tornar a prática pedagógica mais interessante
para o aluno.
Há algumas semelhanças no discurso dos documentos DCE’s, PCN’s e OCEM em
relação ao sujeito, pois todos referem-se ao sujeito como fruto de seu tempo histórico
e presam pelas relações sociais em que o sujeito está inserido. Porém, em relação a
raças e etnias, o documento menciona apenas algo sobre “pertencimento étnico”
(BRASIL, DCE’s, 2008, p.15) e de forma bastante ampla. O que pode demonstrar, a meu
ver, pouco comprometimento com a questão étnico racial.
Esse fato nos leva a refletir a relação que os documentos oficiais apresentam entre
si. Por exemplo, a lei 10.639/03 (caderno de relações étnico raciais) que é de 2008,
como é possível o PNLD 2012 não fazer menção ao conteúdo expresso nela no
momento de considerar os critérios para avaliação dos livros didáticos? E mais, não
exigir que os livros selecionados trouxessem questionamentos e discuções em torno
deste tema? Ao analisar as resenhas contidas no PNLD/ 2012, a questão racial me
pareceu praticamente invisível nas resenhas dos livros didáticos de língua Inglesa.
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Mesmo os objetivos contidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais dizem que:
[...] “conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem
como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra
qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças,
de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais”. (BRASIL, PCN’s,1998,
p. 7), tendo em vista este recorte, o PNLD considerou este documento em parte, pois
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de fato não há discriminação nas resenhas presentes no PNLD, porém está longe de
haver “pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro” e posicionamento contrário
a “discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social” (BRASIL,
PCN’s,1998, p. 7), de cor e de raça.
Ao analisar os documentos educacionais mencionados, é perceptível que todos
concordam em um mesmo ponto, o de que o Livro Didático não precisa ser o único
recurso do trabalho do professor e que há outras fontes que podem contribuir para
que as aulas sejam percebidas como momentos de discussão e reflexão com os alunos.
O QUE SERIA A IDENTIDADE E QUAL SERIA SUA FORÇA NA FORMAÇÃO DO SER
HUMANO?
Segundo Gomes (2005, p.41), [...] “a identidade não é algo inato, mas sim um
modo de ser no mundo e com os outros”. De acordo com a autora, identidade indica
traços culturais que se expressam através de práticas linguísticas, festivas, rituais,
comportamentos alimentares e tradições populares. Sendo assim, para Nilma Gomes
(2005) identidade não se prende apenas ao nível da cultura, ela envolve níveis sóciopolítico e histórico em cada sociedade. Ainda de acordo com a autora, a identidade
não é construída no isolamento, mas tanto a identidade individual como a social é
“negociada” a vida toda, por meio do diálogo parcialmente interior e parcialmente
exterior.
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Gomes (2005), afirma que a construção da identidade negra, assim como
qualquer outra identidade se dá socialmente e para ela tanto o âmbito da cultura,
como o da história definem as identidades sociais. De acordo com a autora não temos
identidade e sim identidades, e são as múltiplas identidades que constituem os
sujeitos na medida em que esses são interpelados em diferentes situações ou
agrupamentos sociais.
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Segundo a autora, a identidade negra se constrói gradativamente, num
movimento que envolve inúmeras causas e efeitos, desde as primeiras relações
estabelecidas em um grupo social mais íntimo, como o da família.
Para Gomes (2005 p. 43), [...] “a identidade negra é uma construção cultural,
histórica, social e plural, que implica na construção do olhar de um grupo étnico/racial
ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial, sobre si mesmos, a
partir da relação com o outro” [...].
Ainda em relação à identidade negra a autora salienta que, construir uma
identidade positiva do negro em uma sociedade como a nossa que, historicamente
ensina aos negros que para serem aceitos é preciso negar-se a si mesmo, não é tarefa
nada fácil para os negros e negras brasileiras enfrentarem.
De acordo com Nilma (apud MURANGA,1994 p.187), [...] “para entender a
construção da identidade negra no Brasil, é preciso considerar seu sentido político,
afinal o segmento étnico-racial contribuiu muito para a construção de nosso país,
tanto culturamente, quanto economicamente, com trabalho escravo e mesmo assim
permanece sendo excluído da participação na sociedade”.
Gomes argumenta ainda (2005 p. 44) que [...] “a identidade negra é construída
na trajetória escolar e por isso a escola também tem responsabilidade social e
educativa de compreendê-la na sua complexidade, respeitá-la, como às outras
identidades construídas pelos sujeitos que atuam no processo educativo escolar”.
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De acordo com o próprio Muranga (2006, p.20), a construção social da
identidade se produz em contextos de relações de força, o autor afirma que essas
relações de força podem ser divididas de três formas diferentes para criar as
identidades, sendo assim, pode-se criar as identidades: “ legitimadoras, de resistência
e de projeto”. Para Muranga (2006, p.25), a identidade humana é diversificada, ou
como diriam outros autores, ela é múltipla, devido à subjetividade humana.
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O autor também discorre sobre a formação de identidade de raça e etnia no
contexto da globalização (MURANGA, p. 33), pois a globalização nos faz interagir com o
mundo e para isso faz-se necessário assumirmos nossas diferentes identidades, nos
diferentes momentos em que necessitarmos.
Hall, em seu livro Diáspora, provoca o leitor com a pergunta “Que negro é esse
na cultura negra?” Para mim, a questão seria qual a identidade desses negros que nós,
enquanto professores, estamos ajudando a formar para sua vivência dentro da sua
própria cultura negra. Muitos de nossos alunos negros não se vêm, ou não querem se
ver negros, pois a escola, juntamente com o livro didático e todos com outros artefatos
que possam haver, os ensina a gostar e achar bom o branco e o que é da cultura do
branco (pele clara, olhos e cabelos claros, bem como cabelos muito lisos e longos), e
ignorar sua própria cultura e seus costumes, bem como seu traços físicos
característicos.
Hall (2003) cita West quando faz referência aos três eixos que ditam cultura, o
primeiro é o deslocamento dos modelos europeus de alta cultura, na sequência a
cultura dos Estados Unidos por ser uma potência mundial e o terceiro a descolonização
do terceiro mundo. Quanto a esse terceiro eixo, seria o lugar da cultura negra,
inferiorizada e excluída, tratada como cultura de massa, levando-nos (a todos, negros
e não negros) a crer que tudo que é do negro é de fato inferior.
Dessa forma, como se criar uma identidade positiva do negro em meio a tantas
tentativas de inferiorização? Essa “cultura” é internalizada e reproduzida pelos meio
de comunicação, pela escola e também por ele: o livro didático. É importante que o
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professor esteja preparado para ver essa deturpação da cultura do negro, bem como o
preconceito racial velado existente a sua volta para conduzir seu aluno, enquanto
mediador, a perceber toda essa manipulação e armar-se para combater o preconceito
racial.
É por meio da leitura, dos multiletramentos, que os alunos poderão se libertar,
Página
estarão preparados para lutar contra a discriminação. É somente com um olhar crítico
que os alunos negros poderão se identificar e se fortalecer, com embasamento para
argumentar diante das imposições racistas e preconceituosas, ao em vez de aceitá-las.
Quanto ao aluno não negro aprenderá a respeitar o Outro.
De acordo com Rojo (2009, p.100), o letramento e multiletramento colaborariam
para o resgate da autoestima, para a construção de identidades fortes e para o
“empoderamento” dos agentes sociais.
DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS
Foram analisados quatro livros aprovados pelo PNLD 2012, de três editoras
diferentes, ambos os quatro são do 1º ano do ensino médio. São eles: Freeway e
Upgrade, editora: Richmond ; Take over, editora: Lafont; On Stage, editora: Ática.
Mesmo estando em um momento histórico onde se busca o respeito pela
diversidade, é possível perceber a ideologia contida nos livros didáticos ao demonstrar
estereótipos, subalternidade, assim como uma representação que não com diz com a
realidade de nossas escolas, levando a certa invisibilidade da imagem do negro nessas
edições de livro didático analisados.
Nos quatro livros analisados, percebi a invisibilidade quase que total em todos os
quatro, bem como estereótipo, e representação de subalternidade.
Quando se trata de estereótipo, percebi que foi desde estereótipo físico, lábios
grossos e nariz achatado e grande, até os estereótipos de negro esportista, dançarino e
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“festeiro”, representando como se o negro é quem sabe sambar e jogar, mas é só isso
que ele sabe fazer na vida? Como ele se alimenta, por exemplo.
Em relação à invisibilidade, foram pouquíssimas as imagens de negros nos livros
didáticos, se compararmos com as imagens dos brancos.
Dessa forma, há de se pensar que se as identidades sociais de raça e classe são
tratadas dessa forma nos livros didáticos, como está sendo trabalhada a formação da
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identidade dos alunos?
AS IMAGENS COM SEUS RESPECTIVOS COMENTÁRIOS
Freeway
Página 27 e 28: Percebe-se uma espécie de segregação, a página 27
apresenta uma turma somente de negros, enquanto que a página 28 apresenta uma
turma somente de brancos. Qual seria a conclusão a que poderíamos chegar? Por que
sala só de negros e sala só de brancos? Será que nossas salas de aula reais são
separadas desta forma? Então por que o livro didático apresenta esta separação? Qual
seria a ideologia que podemos destacar dessas imagens? E o pior, qual é a aquisição
que os alunos negros e não negros irão angariar dessa leitura de imagens?
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Página 133: Podemos observar nesta imagem a subalternidade do negro
em relação à figura do branco, pois quem é professor? O mais estudado, mais instruído
e que conduz os alunos ao conhecimento é o Homem branco (que além de branco é
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homem) e os alunos, os que precisam da aprendizagem e que entre aspas dependem
de alguém, são os jovens negros.
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Take over
Página 51: Aqui, o estereótipo físico facial está explicitamente
representado, a negra, de lábios grossos, cabelos curtíssimos, para não apresentar
“rebeldia” dos cabelos e com traços nada delicados se compararmos com a imagem ao
lado, da mulher loira.
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Página 113: Nesta imagem, o esporte como transformador, como uma
salvação para aqueles meninos negros e pobres “Uma inspiração internacional”. Foi
essa a imagem que apresentou mais negros no livro todo.
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Upgrade
Página 31: Esta imagem é um quadro de Heitor dos prazeres, de 1964,
que representa festa, alegria, diversão, que já associamos ao samba e daí para o
essencialismo é um pulinho. Por que é negro, tem que dançar, tocar, cantar e ouvir
samba, ou qualquer outro tipo de música. O que se questiona aqui é, qual seriam as
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outras habilidades das pessoas negras? Elas só saberiam então dançar e divertir-se?
Negro, nesta linha de raciocínio seria então “tudo vagabundo”, que só gosta de festa?
Porque no restante do livro o negro não aparece sendo representado de nenhuma
outra forma, com imagens de negros fazendo outras atividades além da música e da
dança.
Página 82: Novamente o estereótipo físico, facial do negro com lábios
grossos e de nariz largo e quase escondido sob o boné. O que pode
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incutir no adolescente é que se ele é negro, é parecido com aquela
imagem feia e disforme apresentada pelo livro didático. Sem falar no
estereótipo das outras “tribos”.
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On Stage
Página 73: A invisibilidade é praticamente total, uma das imagens em
que aparece um negro ilustre (Nelson Mandela), aparecem 11 brancos ilustres. Como
pensará uma pessoa que estudou com este livro de inglês? Respondo: os brancos são
mais inteligentes, muito mais corajosos, veja só quantos brancos ilustres e nego é um
ou outro que se sobressai. Como fica o respeito à diversidade? Em quem nossos alunos
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negros vão se inspirar se só é bom quem é branco?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante frisar que apesar do importante papel do PNLD em relação à ajuda ao
professor na escolha dos livros didáticos, ele “peca” ao não fazer referência direta às
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relações étnico raciais. Seja observando as imagens contidas nesses livros, ou até
mesmo os questionamentos levantados pelos livros em relação a essas imagens.
Em nenhuma das coleções de livros pertencentes nos conjuntos descritos nas
resenhas do guia do ano de 2012 há referência direta, ou exigência de se incluir o
negro, e não deixá-lo invisível, assim como colocar imagens dele que não sejam
estereotipadas e nem em posições subalternas aos brancos.
Também, que fique claro que essas imagens utilizadas para este artigo foram todas
as que havia a representação do negro nos quatro livros selecionados, eram
simplesmente essas e nada mais.
A representação do negro nos livros didáticos em maior número deveria ser uma
das exigências do PNLD, tendo em vista que perante o último senso, brancos e negros
representaram o mesmo percentual da população. (IBGE, 2010)
Respondendo às questões que originaram essa pesquisa, concluo que nos quatro
livros analisados, não houve referência/ representação de raça e etnias nas imagens,
pois em nenhum deles se fala sobre a história e a cultura do negro, como pede a Lei
10.639/03, muito menos inclusão da diversidade como pedem alguns dos documentos
oficiais. Em relação há presença de imagens de negros e negras, há pouquíssimas
imagens e na sua maioria estereotipada.
Quanto à questão dos letramentos e multiletramentos, os livros não contemplam a
diversidade, não instigam o senso crítico dos alunos e quanto à questão étnico racial,
especificamente, não foi possível encontrar referência.
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As imagens não estão de forma alguma em conformidade com o que pede a lei
10.639/03, pois não tem nada em nenhum dos quatro livros que ressalte a cultura
negra, nem a historicidade do povo negro e também não há registro de nada que
enalteça a raça negra nos livros didáticos analisados por mim.
Em relação à posição do PNLD quanto ao que diz a lei 10.639/03, é algo bastante
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complicado, pois ao analisar o PNLD, não encontrei no decorrer de seu texto nada que
proibisse o estereótipos, as representações subalternas e muito menos que exigisse
uma presença igualitária de imagens de negros e brancos nas páginas dos livros por ele
aprovado, tudo é muito velado.
Sendo assim, concluo este artigo afirmando que após esta pequena pesquisa, o
que me resta é pedir mais do PNLD, em suas próximas edições, em relação à cobrança
para com as editoras que põe à disposição seus livros para análise e finalizo afirmando
que os livros didáticos precisam mudar, pois são praticamente a base da formação dos
alunos durante seus doze anos de escolaridade e a influência destes é crucial para a
formação da identidade de nossos alunos.
Sugiro também, formação continuada para professores baseada nas reflexões
étnico raciais, para que esses possam identificar todo tipo de preconceito e
discriminação nas páginas dos livros didáticos e assim lutar contra todo tipo de
preconceito juntamente com seus alunos, para juntos formarem suas identidades.
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®Artigo aceito em jul./ 2014.
Revista de Educação Dom Alberto, n. 5, v. 1, jan./jul. 2014.
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166
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Identidades Sociais de Raça e Classe nos Livros