Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios "Sentimos que fomos usados para financiar um grupo económico falido” Diogo Cavaleiro | [email protected] É com fortes críticas ao trabalho do Banco de Portugal que a associação de subscritores de papel comercial do GES pede uma solução para os investimentos feitos aos balcões do BES. Pede-se "celeridade e transparência". E numa carta aberta ao governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, que aqueles que se dizem lesados pela subscrição de papel comercial vendido pelo ex-Banco Espírito Santo pedem explicações. Descrevendo a angústia em que vivem, a associação que representa 300 pessoas quer um ponto final na dúvida sobre o reembolso do investimento. "Há quase um ano, em Março de 2014, sem sabermos o que se estava passar, o BdP reconheceu a existência de um abuso. Em consequência disto, o BdP prometeu o reembolso destes clientes. Primeiro, obrigando o BES a entregar uma garantia e mais tarde ao obrigar ao reconhecimento de uma provisão em valor suficiente para nos reembolsar. Com a resolução do BES, é dito primeiro que a provisão e intenção de reembolsar se mantém, entrando mais tarde numa zona cinzenta de indefinição, transformando-nos na 'batata quente' que todos querem sacudir", indica a carta aberta ao BdP emitida esta terça-feira, 27 de Janeiro, pela Associação Os Indignados e Enganados do Papel Comercial, inicialmente conhecida por Lesados do Novo Banco. O Novo Banco começou por referir a intenção de reembolsar os títulos mas, neste momento, a ideia é avançar com uma indemnização. E tudo será tratado "caso a caso" com aqueles que subscreveram títulos de dívida de empresas do Grupo Espírito Santo (ESI, Rioforte) aos balcões do BES em 2013 e inícios de 2014. Essa solução comercial definida especificamente com cada cliente foi a ideia que Eduardo Stock da Cunha, presidente do Novo Banco, deixou numa reportagem da TVI, esta segunda-feira, 26 de Janeiro. Já o Banco de Portugal sempre disse que a solução tem de ser avançada pelo Novo Banco - e sempre com a garantia de que não ponha em causa a sua posição de liquidez e solvabilidade. Os clientes - que recusam ser um produto tóxico - defendem que "foram vítimas de uma venda agressiva e enganosa por parte dos gestores", sublinhando que muitos continuam a trabalhar no Novo Banco. Assim, na carta ao governador, a associação indica que "tem de haver garantias por parte do regulador, que quando a regulação falha, os cidadãos são protegidos". Nesse sentido, pedem "mais celeridade e transparência na resolução do problema do reembolso do papel comercial". Regulador sabia de falhas desde Setembro Nesta missiva dirigida a Carlos Costa, a associação deixa fortes farpas a Carlos Costa: "Sentimos que fomos usados para financiar um grupo económico falido, com o conhecimento e autorização do BdP. Sobretudo, quando, como resulta de cartas do regulador, o mesmo conhecia todos os factos desde o exercício da auditoria ETTRIC 2". Foi no final deste exercício, em Novembro, que se detectaram falhas "materialmente relevantes" nas contas da ESI. Mesmo assim, o grupo continuou a vender papel comercial aos balcões do banco. Na semana passada, a associação manifestou-se à porta da sede do Novo Banco, em Lisboa, onde, relatou quem lá esteve, foi dito para se dirigirem ao BES. Nesta carta, há uma promessa de que "muito brevemente" haverá uma manifestação na sede do Banco de Portugal "para tornar visível o desespero e as histórias reais que estão por trás da frieza dos números". 2015-01-28