O LÚDICO COMO INSTRUMENTO MOTIVADOR NA PSICOPEDAGOGIA
HOSPITALAR
SANTOS, Camila dos Reis. 1
HORA, Genigleide Santos. 2
RESUMO
Este trabalho objetiva analisar os fatores motivacionais ligados à ludicidade e à forma
como ela influencia na prática terapêutica Psicopedagógica. Ressalta o papel da
motivação e a define como sendo uma força interna que incentiva o sujeito e o
predispõe a emitir certas respostas. Evidencia o fazer do Psicopedagogo ao destacar
o seu papel de buscar motivações intrínsecas para o sujeito elevar o desenvolvimento
das suas competências e habilidades. Na revisão teórica define o lúdico como traço
essencial da psicofisiologia do comportamento humano; preceitua, neste contexto, a
ludicidade como ação máxima do prazer e da alegria, além de ser experiência de
plenitude que possibilita uma vivência única e ímpar. No campo motivacional citam-se
as seguintes teorias: Humanista, que tem por base a satisfação das necessidades
fisiológicas, de segurança, pertinência, da estima e autorrealização; a Psicanalítica,
que acredita no desejo inconsciente; a Teoria da Aprendizagem Social, a qual propõe
1
Graduada em Pedagogia. Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Pós-graduada em
Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar. Instituto Superior de Educação Ocidemnte
(ISEO), chancela o Núcleo de Pós-Graduação de Itabuna (NPGI), Turma 02. Email:
[email protected].
2
Mestre em Educação; Pedagoga; Especialista em Psicopedagogia e em Metodologia do
Ensino Superior; Professora e Orientadora do Curso de Psicopedagogia do ISEO/NPGI;
Membro Titular da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) e Seção Bahia; docente
do Departamento de Ciências da Educação (DCIE), da Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC). E-mail: [email protected]
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a aprendizagem prévia de exemplos do grupo como principal fonte de motivação. Por
fim, define a Psicopedagogia como ciência que estuda os sintomas das dificuldades de
aprendizagem do sujeito e busca saná-las, e por ser transdisciplinar tem sua atuação
voltada para as áreas: Institucional, Clínica e Hospitalar. A metodologia aplicada foi
embasada em ações lúdicas realizadas com crianças em processo de internamento na
Casa do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC), a fim de obter dados sobre a
motivação e atenção no processo educacional dessas crianças. Aqui daremos ênfase
ao fazer Psicopedagógico no âmbito Hospitalar, pois consideramos ser de
fundamental recurso junto ao paciente em seu processo de internação e recuperação
da saúde aliado ao desenvolvimento cognitivo.
Palavras-Chave: Lúdico; Motivação; Psicopedagogia Hospitalar.
ABSTRACT
This paper objectifies to analyze the motivational factors related to ludicity and
how it influences the Psychopedagogic therapeutic practice. Emphasizes the role of
motivation and defines it as an internal force that encourages the subject and
predisposes to issue certain answers. Evidences the doing of the Psychopedagogist
highlighting his role of look for intrinsic motivations that raises the development of skills
and abilities of the subject. In theoretical revision defines ludic as an essential feature
of the psychophysiology of the human behavior; precepts, in this context, the ludicity as
the ultimate action of pleasure and joy, in addition to being a plenitude experience that
enable a unique and unparalleled experience. In the motivational field quote the
following theories: Humanist, which is based on the satisfaction of the physiological
needs, safety, relevance, esteem and self-realization; the Psychoanalytic, who believes
in the unconscious desire; the Social Learning Theory, which proposes the prior
learning of examples of the group as the main source of motivation. Finally, defines
Psychopedagogy as science that studies the symptoms of learning difficulties of the
subject and seeks to remedy them, and due its transdisciplinarity turns to the areas:
Institutional, Clinical and Hospital. The applied methodology was based on ludic
actions realized with children in process of admission at the house of the Grupo de
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Apoio à Criança com Câncer (GACC) in order to obtain data about the motivation and
attention in the educational process of these children. Here we will emphasize the
Psychopedagogic doing under hospital scope, because we consider being of
fundamental resource with the patient in his process of hospitalization and recovery of
health combined with cognitive development.
Keywords: Ludicity; Motivation; Hospital Psychopedagogy.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo visa abordar a ludicidade como sendo um instrumento
motivador para o campo da Psicopedagogia Transdisciplinar Hospitalar. Atualmente é
comum encontramos jovens e crianças que se encontram em estado de internamento
por causa de doenças crônicas como o câncer. Nessa situação, eles costumam passar
vários meses internados em tratamento, o que traz a perda de contato com a escola e
desmotivação para o processo de aprendizado. Esse fato torna necessária uma
parceria entre escola-família e psicopedagogos para que o paciente continue sua
formação.
Abordamos o histórico sobre o surgimento do lúdico e aspectos do
processo de motivação e atenção, contribuindo assim para afirmar a sua importância
para a sociedade atual, uma vez que teóricos como Piaget (1979), Vygotsky (1975) e
Weiss (2007) confirmam a importância da ludicidade e da motivação para desenvolver
o sistema cognitivo do sujeito.
Nesse contexto, o Psicopedagogo tem por função auxiliar a criar e manter
o elo entre os alunos-pacientes, a família e a escola. Este profissional deverá
estabelecer uma dialogia e o uso de recursos diferenciados que auxiliem e motivem o
paciente. Dessa forma, por meio da terapia Psicopedagógica, é possível usar métodos
fundamentados na ludicidade, a fim de tornar essa estada do paciente mais prazerosa
no percurso da recuperação da saúde.
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Mencionamos também o surgimento da Psicopedagogia e o seu campo de
atuação. Salientando o papel da Psicopedagogia utilizando o lúdico como recurso, que
pode promover momentos importantes e significativos para o paciente, já que,
segundo Pink (2005),
a ludicidade promove um
efeito curativo-terapêutico
extremamente importante para a vida das pessoas e principalmente no tratamento de
várias doenças crônicas.
1. A GÊNESE DO LÚDICO E A DA LUDICIDADE
A ludicidade é um assunto que tem conquistado grande espaço no
panorama nacional, principalmente no âmbito clínico, educacional e hospitalar. Por ser
o brinquedo a essência da infância, o seu uso permite realizar um trabalho que
possibilita a produção do conhecimento e da aprendizagem, além de contribuir
significativamente para o desenvolvimento social, pessoal e cultural das pessoas.
Para compreender o porquê de esse assunto estar tão em alta, é preciso
ter em primeiro lugar uma definição clara do que é lúdico. Independente do período
histórico, cultura e classe social, os jogos e brinquedos fazem parte da vida do ser
humano desde a antiguidade, pois mesmo antes de torna-se humano, o homem já
jogava (HUIZINGA, 1935), ou seja, o lúdico nesse sentido reside em nós desde a mais
terna idade. O ser humano busca naturalmente o prazer e, por intermédio do lúdico,
ele pode criar beleza, riqueza e significação, uma vez que, a ludicidade alimenta a
alma, fortalece o corpo e ilumina o intelecto, proporcionando mudanças nas nossas
práticas e a percepção de nós mesmos em relação constante com o outro.
O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo”. O
termo lúdico referia-se apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo.
Contudo, com o avanço dos estudos sobre o assunto, o lúdico passou a ser
reconhecido como traço essencial da psicofisiologia do comportamento humano, ou
seja, o lúdico passou a fazer parte da relação entre o comportamento, o corpo e a
mente. Assim, a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo, as implicações da
necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo (ALMEIDA,
2009).
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É notável a relevância da ludicidade para todos os profissionais, dessa
forma, não seria diferente para o Psicopedagogo. Mais ainda, o lúdico é relevante para
todas as pessoas e precisa ser incluso em todas as áreas do conhecimento, visto que,
sua eficácia e benefícios são comprovadamente demonstráveis tanto cientificamente
quanto nos relatos de alunos, alunos-pacientes e pacientes.
O que mais caracteriza a ludicidade é a experiência de plenitude que ela
possibilita a quem a vivencia em seus atos (LUCKESI, 1998). Essa ideia de Luckesi
vem afirmar que o lúdico se caracteriza como ação do real dentro de uma
subjetividade. A ludicidade é uma ação material que podemos ver, sentir, tocar e
mensurar, é considerado também um excelente recurso para trabalhar as questões
psicológicas das crianças, a afetividade, a criatividade, pois segundo Albert Einstein
(1879 a1955) “Os jogos são as formas mais elevadas de investigação”.
Um dos estudiosos sobre o universo lúdico é Piaget (1979) que, por meio
de suas pesquisas, deixa claro como se dá a elaboração dos jogos em distintas idades
e por meio disso podemos notar o jogo infantil. Outro estudioso da psicanálise, da
afetividade é Wittig (1981, p.97-8) mostra que é por meio do brincar que o ser humano
coloca em prática sua criatividade, tal faceta faz com que este indivíduo conheça a si
mesmo. Como dizia o filósofo Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Dessa forma,
conhecendo melhor a nós mesmos poderemos saber quais as nossas dificuldades,
nossas inquietações; reconhecendo tais características poderemos sanar algumas
dessas dificuldades.
1.1 O USO DO LÚDICO
Torna-se perceptível a importância que o lúdico vem desempenhando na
sociedade moderna. Em algumas empresas de renome são utilizadas algumas
técnicas lúdicas como o brincar com lego, jogar videogame e outros jogos, uma vez
que estudos comprovam a necessidade das pessoas praticarem atividades lúdicas,
visto que estas possuem um desempenho maior em associar fatos, detectar
alterações no ambiente, processar informações simultaneamente; além de melhorar a
concentração, os jogos também aguçam a percepção (PINK, 2005).
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Utilizar a ludicidade pode servir como prática terapêutica para o
profissional da Psicopedagogia, porque ajuda no diagnóstico, auxilia o paciente a
aprender, a lembrar de fatos e facilita o tratamento, pois o paciente passa a sentir
motivação em continuar frequentando as sessões e participando ativamente de todo o
processo.
O uso da ludicidade implica no desenvolvimento de atividades tais como
jogos ou brincadeiras, que devem ser compreendidas não apenas como forma de
lazer, mas também por favorecerem o desenvolvimento do sujeito. É possível confirma
essa tese quando Piaget (1979) afirma que, “o jogo não pode ser visto apenas como
divertimento
ou
brincadeira
para
desgastar
energia,
pois
ele
favorece
o
desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”.
O jogo é uma das atividades de maior relevância na infância, que é uma
etapa muito marcante no desenvolvimento do ser humano, é compreensível que a
criança necessita: brincar, jogar, criar e inventar. Segundo Vygotsky (1975), a
brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra, que se
fazem presentes em todos os tipos de brincadeiras, sejam elas tradicionais, faz de
conta, ou nos modernos jogos eletrônicos.
A utilização do recurso lúdico é sempre bem aceita não apenas pelas
crianças, mas também por adultos, devido ao uso de brincadeiras e jogos despertar no
indivíduo o gosto pela atividade desempenhada. Além de possibilitar inúmeras
descobertas, esse tipo de recurso está sempre desafiando o sujeito a pensar, buscar,
pesquisar, mostrando que o lúdico na nossa sociedade de mudanças aceleradas pode
ser um instrumento indispensável na vida das pessoas.
É comum separarmos o lúdico da nossa vivência, como se em um
momento precisássemos ser inteiramente sérios e em outro pudéssemos nos
descontrair. Algumas pesquisas nessa área, como a realizada pelo professor da
Universidade de Wisconsin John Paul Gee, afirmam que os jogos eletrônicos podem
ser a melhor ferramenta no aprendizado. Compreendemos que segundo as tendências
atuais nas relações afetivas, profissionais e sociais é preciso que as pessoas
consigam unir com equilíbrio o lúdico e o momento sério, para que assim conseguiam
desenvolver melhor e com qualidade as suas competências.
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1.2. HISTÓRICO DO LÚDICO NO BRASIL
O Brasil foi formado por diversas etnias, uma verdadeira miscigenação de
modelos de brinquedos e formas de brincar que compõem o cenário do lúdico no país,
oriundas das culturas: portuguesa, africana e indígena. Cada uma delas acrescentou
os seus saberes no que diz respeito ao brincar, à ludicidade. Com a ampla mistura
existente na população brasileira, é difícil deduzir com certeza qual a contribuição
específica dos brancos, negros e índios nos jogos tradicionais e infantis.
Os indígenas inseriram as brincadeiras e os jogos no seu fazer cotidiano
de forma natural, por meio dos seus instrumentos do dia-a-dia e do aprender fazendo,
com as atividades realizadas pelos mais velhos. A aprendizagem dos afazeres
cotidianos pelas crianças indígenas se deu através do lúdico, que é marcado nesse
contexto pela ligação existente entre o brincar e as práticas sociais e culturais do seu
povo.
No que diz respeito à cultura portuguesa, foi passada de geração em
geração por meio da oralidade, sendo as crianças usuárias das conhecidas lendas,
contos e superstições, aderidas inclusive ao contexto escolar e às brincadeiras
infantis. Já as brincadeiras africanas têm como uma das suas principais características
a utilização de elementos naturais para a confecção de brinquedos. Existem inúmeros
jogos e brincadeiras africanas espalhadas pelo Nordeste e Sudeste, devido ao uso de
negros escravos para o cultivo da cana-de-açúcar.
2. PROCESSO MOTIVACIONAL
Em todos os momentos da vida, as pessoas passam por diversos tipos de
aprendizagem e desenvolvimento, processo que se inicia no nascimento do sujeito e
segue até a sua morte. Entretanto, para que esse objetivo se concretize de forma
eficiente é necessário que o indivíduo esteja mobilizado para tal fim, possua interesse.
A falta de motivação representa um dos maiores desafios à eficácia do ensino.
A motivação nos leva a levantar pela manhã e nos dedicarmos às nossas
atividades. Uma vez motivado, um aluno pode aprender, mesmo que com pouca
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eficiência, sem professor, sem livros, sem escola e sem quaisquer recursos que
promovam o conhecimento. No entanto, mesmo cercado de recursos, se não existir
motivação a aprendizagem não acontece.
Quais seriam os principais elementos motivadores das pessoas? Os
fatores que levam os indivíduos a frequentar a escola, estudar, pesquisar, aprender
novos técnicas de trabalho etc.? O fator primordial para o desenvolvimento de
qualquer habilidade é a motivação, que “é uma força interna que ativa o indivíduo e o
predispõe a emitir certas respostas” (CÓRIA-SABINI, 1990, p. 83); Bock (1999),
também define motivação como sendo um processo que relaciona necessidade, objeto
e ambiente, por meio de uma mobilização do organismo para satisfazer uma
necessidade.
A motivação é associada às facilidades ou dificuldades ao realizar alguma
atividade, existindo diversos fatores que interferem na motivação do sujeito. A
atividade por ele realizada deve ter algo interessante que o estimule a fazê-la. A
pessoa deve estar disposta, com saúde, bem alimentada, com todas as suas
necessidades saciadas para que possa sentir motivado a realizar algo. Há fatores
externos que também interferem na motivação, tais como o ambiente em que é
realizada a tarefa, as pessoas que participam, os recursos utilizados, dentre outros
elementos.
Em especial podemos citar três teorias que explicam o processo
motivacional: a humanista, a psicanalítica e a aprendizagem social: A teoria Humanista
segundo a Teoria da Pirâmide de Maslow (1954) tem como base as seguintes
premissas: 1. Necessidades fisiológicas (motivos de sobrevivência); 2. Necessidades
de segurança; 3. Necessidade de pertinência (aflição e aceitação); 4. Necessidade de
estima (referente a status e realização); 5. Necessidade de autorrealização. Esses
níveis devem ser alcançados para obter a satisfação que viria a ser a meta final de
cada indivíduo.
Já na teoria Psicanalítica, Freud via a motivação em grande parte como
inconsciente e uma forma de expressar desejos agressivos ou sexuais, os quais
poderiam ser expressos abertamente ou de alguma forma simbólica.
E por fim, a teoria da Aprendizagem Social propõe a aprendizagem prévia
como a principal fonte de motivação, onde o êxito ou o fracasso de respostas
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particulares do indivíduo pode gerar consequências positivas ou negativas e estas
seriam vinculadas a um desejo de repetir os comportamentos de êxito.
Nesse
contexto,
após
compreender
como
funciona
o
processo
motivacional, o trabalho Psicopedagógico necessita que o sujeito esteja com
motivação e atenção voltadas para a sessão, as atividades sugeridas em prol do
desenvolvimento afetivo e cognitivo. Durante essa sessão o profissional da
Psicopedagogia pode utilizar vários tipos de recursos, que bem distribuídos auxiliam a
manter o sujeito estimulado a permanecer nas sessões sem perder a concentração.
Nesse momento entra o papel do lúdico nas sessões, visto que a ludicidade tem o
poder de manter a concentração, tornar as atividades prazerosas, e consegue
conquistar tanto adultos quanto crianças.
A nosso ver, o papel do psicopedagogo é o de tentar buscar motivações
intrínsecas para o sujeito melhorar no desenvolvimento das suas competências.
Muitas vezes as crianças possuem apenas motivos externos para se saírem bem na
escola. A exemplo, um aluno que se motivaria a estudar para uma prova de história,
seja para não perder de ano ou para ganhar um presente que o pai prometeu. Esse
tipo de motivação é denominada extrínseca onde a aprendizagem está focada em um
motivo externo.
É diferente da intrínseca na qual a razão para se esforçar está no interesse
de aprender história do Brasil para saber mais sobre os acontecimentos do seu país,
pelo prazer de aprender e não porque ganhará algo (ou para livra-se de uma punição).
Assim, Pozo (1992) exemplifica os aspectos da motivação intrínseca:
O que move a aprendizagem é o desejo de
aprender, seus efeitos sobre os resultados obtidos parecem ser
mais sólidos e consistentes do que quando a aprendizagem é
movida por motivos externos (p. 141).
Além disso, se faz necessário atentar, após o sujeito estar motivado para
realizar qualquer atividade é importante ativar um processo fundamental no sujeito: a
atenção, que é definida como sendo o combustível auxiliar da aprendizagem, pois sem
ela a mesma não ocorre. Durante esse processo é preciso que a pessoa foque-se em
apenas uma tarefa, visto que “só podemos prestar atenção a uma coisa de cada vez”
(WAIKER, 1997, p. 138). Para que o sujeito desenvolva suas habilidades de ampliação
do seu foco de ação.
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É importante lembrar também que “uma resposta efetiva ou um castigo,
podem favorecer, por exemplo, o nível de atenção do aprendiz” (VASCONCELOS,
PRAIA e ALMEIDA, 2003), ou seja, a atenção tem relevante valor para que o indivíduo
consiga realizar bem uma atividade.
É pela atitude, pela consciência, pelo humor e pelo entusiasmo que os
sujeitos podem ser influenciados. Contudo, “a presença da motivação do aprendiz é
fundamental para que a aprendizagem seja significativa”. (BORUCHOVITCH e
GUIMARÃES, 2001). Podemos perceber, portanto, que a motivação através de
sanções ou recompensas externas não é tão eficaz quanto à motivação interna que
leva o sujeito a aprender por prazer.
De modo geral, cabe ressaltar a necessidade de aplicar as teorias
motivacionais no âmbito Psicopedagógico para que a partir delas os profissionais da
área aprimorem suas práticas e consigam motivar, manter a atenção do aprendiz e
auxiliar de forma significativa o seu aluno-paciente a desenvolver essas competências
citadas.
Cabe assim ao Psicopedagogo investigar, pesquisar e questionar sobre
quais elementos interferem no processo de motivação e atenção do seu cliente, seja
no âmbito familiar ou escolar, a fim de descobrir quais os elementos que desmotivam
este, além de criar novas práticas para tornar o processo educativo uma tarefa
interessante.
3. A PSICOPEDAGOGIA
A Psicopedagogia surgiu no Brasil há mais de 30 anos, e tinha como
objetivo identificar os sintomas das dificuldades de aprendizagem e remediá-los. No
início ela surgiu a partir da união entre as áreas do conhecimento da Pedagogia e da
Psicologia; e após algum tempo passou a ser considerada um campo de estudo
independente, porque conseguiu conceituar a aprendizagem, as suas dificuldades,
recebendo contribuições tanto da Psicanálise, como da Psicologia, Pedagogia,
Neurologia, dentre outras áreas.
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A Psicopedagogia é caracterizada por ser um campo transdisciplinar, onde
profissionais de diversas áreas como Pedagogia, Psicologia ou Ciências da Educação
podem participar do aprendizado oferecido no curso. Essa pluralidade de formações
acaba por enriquecê-lo, uma vez que cada área acaba contribuindo para a formação
do conhecimento. A finalidade de esse curso ser transdisciplinar possibilitar
desenvolver no cliente/paciente, por meio da motivação, as habilidades cognitivas
voltadas à aprendizagem e torná-las mais ativas.
Outro fator preponderante que caracteriza o fazer Psicopedagógico é o seu
diagnóstico possuir uma visão psicogenética, com contribuições significativas de
Piaget (1979), o qual fornece material para a avaliação do nível do pensamento e o
método clínico de exploração, com o intuito de fazer-se conhecer tanto o sujeito como
o epistêmico e o epistemofílico. Dessa forma torna-se evidente que o objeto de estudo
desse campo do conhecimento é o sujeito na situação de aprendizagem. Considera-se
fundamental que o profissional da área, além do diagnóstico e tratamento, conheça os
diferentes momentos do processo de desenvolvimento humano.
De certo, com essa compreensão será possível definir os aspectos do
diagnóstico Psicopedagógico como um processo complexo, que se inicia a partir da
necessidade oriunda das dificuldades de aprendizagem, os familiares geralmente
recebem alguma queixa da escola ou ao observar o desempenho dos seus filhos,
percebem que eles podem estar tendo alguma dificuldade durante a aprendizagem. É
nesse momento que o profissional da Psicopedagogia é procurado, tendo como
função investigar o sujeito, seus processos cognitivos e suas significações,
observando as variáveis que podem existir para que a aprendizagem não esteja
ocorrendo satisfatoriamente ou se ocorre, qual a sua dificuldade. Esses fatores podem
ser: biológicos, psicológicos, pedagógicos ou sociais. Eles intervêm no problema em
questão, fornecendo assim material informativo para, a partir dele, aplicar a
intervenção apropriada para cada caso.
Segundo Weiss (2007), ao desenvolver o diagnóstico é necessário que
o sujeito manifeste sintomas de algo que não está funcionando como deveria. Nesse
contexto, para iniciar o diagnóstico é essencial que o histórico, o aqui agora e o
histórico do indivíduo sejam conhecidos, para assim conseguir descobrir em que
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modelo de aprendizagem ele está inserido, para que depois de investigar e analisar os
dados o Psicopedagogo possa levantar hipóteses e dar o retorno para a família.
O campo da Psicopedagogia Transdisciplinar divide-se em Institucional,
Clínica e Hospitalar. A Psicopedagogia Institucional visa gerar espaços que favoreçam
ou propiciem a aprendizagem, disponibilizar conhecimentos que auxiliem na
prevenção das dificuldades nos espaços sociais, afetivos e cognitivos, bem como
estimular uma postura inovadora e revolucionária para modificar o espaço escolar e
possibilitar interações no meio social dentre outros.
Assim, entendemos a Psicopedagogia Clínica, tem como função
compreender quais as causas que dificultam o processo de aprendizagem do
cliente/paciente individualmente, disponibilizar metodologias que os auxiliem a
melhorarem suas práticas de apreender conhecimentos, que se dá em dois momentos
(o diagnóstico e o acompanhamento); visa também investigar o porquê do sujeito não
aprender, como ele pode se desenvolver e o que ele pode aprender.
Já a Psicopedagogia Hospitalar tem como função realizar diagnósticos por
meio
de
uma
equipe
transdisciplinar
formada
por
pediatra,
neurologista,
fonoaudiólogo, psicólogo e outros profissionais. Na realidade, o objetivo é observar o
grau de desenvolvimento em que o indivíduo se encontra e ajudá-lo, esse processo é
realizado em três momentos: triagem, diagnóstico e o tratamento. Busca também
articular a formação de um vínculo entre a escola-família-hospital, a fim de favorecer
ao aluno-paciente nesse momento pelo qual ele está passando na vida.
3.1 CLASSE HOSPITALAR
A classe hospitalar teve início no ano de 1935, quando Henri Sellier
inaugurou uma escola nos arredores de Paris para atender crianças hospitalizadas,
chegando a ter uma frequência de até 80 crianças por mês. (VASCONCELOS, 2000).
Esse tipo de escola também surgiu na Alemanha, onde crianças impossibilitadas de
estudar, devido a vários tipos de enfermidades, receberam os ensinamentos dos
próprios médicos.
No Brasil foi regulamentada a classe hospitalar através da LDB/1994 onde
se define classe hospitalar como “um ambiente hospitalar que possibilita o
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atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de
educação especial e que estejam em tratamento hospitalar.” Propõe-se que a escola
de origem do aluno-paciente deve entrar em contato com a classe hospitalar para que
seja dada continuidade àquilo que o aluno está aprendendo. É comum nesse tipo de
classe haver multisseriação, alta rotatividade e diferentes faixas etárias.
É preciso que o profissional que deseje atender nessa área, esteja ciente
da demanda acadêmica, do perfil socioeconômico, do desenvolvimento afetivo,
psicomotor e cognitivo de cada sujeito na sua individualidade, a fim de atender essa
clientela da melhor forma.
Nota-se que frente a uma demanda tão grande é indispensável à atuação
do Psicopedagogo na área da saúde. Afinal, segundo o próprio Código de Ética da
Associação Brasileira de Psicopedagogia (1996) é preciso refletir, estudar, planejar e
avaliar o perfil particular de cada indivíduo, para que o sujeito não perca a motivação
no ato de aprender bem como busque sempre novos estímulos; para que o aluno
tenha um autoconceito elevado e se sinta capaz de se desenvolver em todas as suas
competências.
Como já foi supracitado a ludicidade torna as atividades atrativas além de
estimular e motivar o processo de atenção. É importante ressaltar que a atividade
lúdica consegue mudar o foco da criança ou adolescente com câncer da sua doença
para algo mais agradável, que é a possibilidade de ter um momento natural de
aprendizagem e que pode servir como apoio para ajudar o paciente a passar por essa
fase em que ele se encontra. Na realidade, o instrumento Psicopedagógico lúdico
favorece a elaboração dos sentimentos vividos sejam nos aspectos negativos e/ou
positivos nesse momento tão complicado, para que eles não afetem de maneira grave
o psicológico e, principalmente, o cognitivo do sujeito.
4. VIVÊNCIA ESTÁGIO PSICOPEDAGÓGICO HOSPITALAR
A pesquisa realizada para fundamentar esse artigo teve como foco a
vivência durante o Estágio Psicopedagógico Hospitalar. O nosso estágio foi realizado
na cidade de Itabuna-Ba, na Casa do Grupo de Apoio a Criança com Câncer (GACC),
uma instituição beneficente que atua com crianças e adolescentes oriundos de outras
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cidades que se encontram em Itabuna para tratamento. Essa casa atua na região há
15 anos e sobrevive através de doações da comunidade, além do apoio oferecido pela
Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Itabuna. Ela possui duas classes:
uma hospitalar que se encontra no Hospital Manoel Novaes e outra domiciliar que está
localizada na própria casa de apoio, tendo como coordenadora das classes Maria Rita
Prudente e as regentes Silvana Gomes e Hosana Alves.
A nosso ver foi uma experiência muito significativa realizar esse estágio,
uma vez que, nos possibilitou compreender mais sobre o ambiente de aprendizagem
no âmbito hospitalar/saúde. E através deste foi possível observar vários aspectos do
tratamento em que a criança com câncer é submetida.
A primeira atividade que realizamos foi à dinâmica chamada Teia das
Relações, que teve por objetivo conhecer um pouco sobre os alunos-pacientes;
espaço em que todos participaram e foi solicitado que cada um que recebesse o
novelo de lã nas mãos deveria falar o seu nome, idade, cidade de origem e o que mais
gosta de fazer. O novelo foi passando por todos que estavam ali presentes e eles
tiveram que trabalhar em equipe para não deixar o novelo cair. Apenas uma das
crianças não quis participar e percebemos que ele demonstra resistência em participar
das atividades, mas sua presença é constante na classe.
Outra atividade lúdica que foi realizada chama-se Crachá dos Desejos,
onde foi solicitado que em um dos lados do crachá eles escrevessem o nome e no
lado oposto usassem a criatividade para desenhar e pintar o que mais gostavam de
fazer. Nesse momento percebemos o discurso de alguns alunos-pacientes que
expressaram os desejos e as limitações que a doença lhes impôs. Exemplo: uma
delas gostaria de passear na praia, outra de brincar com skate e outros esportes e
uma terceira de voltar para casa.
Segundo Tapia e Garcia-Celay (1996) quando nos encontramos com
sujeitos que não se esforçam, nem parecem mostrar interesse pelo que lhes está
sendo oferecido, a pergunta que se formula é: O que fazer para motivá-los? É possível
que o Psicopedagogo consiga provocar interesse e o envolvimento dos pacientes
através de variados recursos lúdicos, tais como leitura, jogos, atividades, trabalhos
grupais, dinâmicas, dentre outros para a ampliação contextualizada do universo
criativo.
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Ao analisar essas atividades torna-se evidente a carência do lúdico no
cotidiano dessas crianças. Elas sentem grande necessidade de ter a sua vida antiga
de volta, e também se percebe que é preciso adaptar-se a essa nova condição que
lhes é imposta.
É preciso encontrar atividades que elevem a autoestima, que possam
desviar a atenção da criança ou adolescente da sua doença. Na realidade é mais fácil
permanecer focado apenas na doença e não conseguir pensar em outras coisas.
Quando isso ocorre, sofre o paciente e, também, a família por se veem
impossibilitados de fazerem algo a respeito.
Buscamos outros recursos lúdicos a fim de melhorar o autoconceito
destes, assim também como a relação entre eles, visto que esses alunos-pacientes
são oriundos de outras cidades, encontram-se com pessoas desconhecidas, além de
ser comum uma alta rotatividade na casa do GACC. Por esse motivo, estão sempre
aparecendo novas crianças e é difícil para eles se entrosarem, devido à vergonha,
timidez e outros fatores.
Baseado no pressuposto que na brincadeira do faz de conta é possível
quebrar muitas barreiras no relacionamento humano, elaboramos um jogo com dado
que usa essa premissa, e tem por finalidade executar algumas tarefas distintas
solicitadas em cada face do dado. A princípio, as crianças em geral sentem vergonha
por ter de dançar, representar, contar uma história, piada ou música, mas elas podem
solicitar a ajuda de algum colega. Nesse momento são fortalecidos os laços de
convivência, amizade e fraternidade, já que através da cooperação do grupo com o
participante este melhora sua autoestima e derruba barreiras e limitações existentes.
Figura 1
Fonte: Estágio Psicopedagógico Hospitalar, Jogo do Dado, 2011.
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Ao realizarmos as atividades Psicopedagógicas, os alunos-pacientes se
socializaram, perderam a timidez, cooperaram uns com os outros. Foi possível através
de um olhar Psicopedagógico voltado para as relações intra e interpessoal foco do
nosso estudo, avaliarmos as habilidades que aqueles alunos-pacientes possuíam, as
que estavam em desenvolvimento, e as que precisavam desenvolver.
Durante o Estágio foi observado que existem crianças que resistem aos
momentos proporcionados na “escolinha” (como eles denominam o momento de
orientação pedagógica e Psicopedagógica), e inicialmente não aceitam participar das
atividades, expressando que aqueles momentos são inúteis e que não as satisfazem.
Encontramos um caso de resistência, mas conseguimos ajudá-lo utilizando alguns
recursos lúdicos como jogos, quebra-cabeças e brincadeiras. No início ele ficou
relutante, mas depois demonstrou grande interesse em participar, sendo o primeiro a
chegar e também ajudando-nos a todo o momento.
Desse modo é compreensível que a ludicidade pode quebrar barreiras de
relacionamento, ajudar-nos a passar com mais confiança e tranquilidade por
momentos difíceis e desagradáveis. Realizamos com esse garoto uma intervenção
Psicopedagógica, identificamos o seu problema: a relação de afetividade com os que o
cercam. E por meio da ludicidade buscamos subsídios para que o indivíduo
desenvolvesse e melhorasse sua atitude em relação aos outros, passando a se
comunicar com menos timidez dentre outros aspectos.
O primeiro passo após identificar a dificuldade da criança foi fortalecer o
seu autoconceito que estava muito abalado; depois se trabalhou com a habilidade que
o menino tinha para desenho, através do qual foi possível ir construindo com ele o
processo de socialização, além da escrita e da leitura de forma lúdica.
Realizamos outras atividades no decorrer do período do estágio e uma
delas foi com dobraduras. Nesse momento, além da diversão que essa prática lúdica
promoveu, foi possível observar e auxiliá-los no desenvolvimento da coordenação
motora fina e grossa, criatividade, originalidade, organização de ideias. A nosso ver,
tais situações lúdicas favorecem vida ao ser humano, pois cada dia é torna-se
humano, o homem que joga (HUIZINGA, 1935).
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Com as dobraduras eles construíram um lugar para cada animalzinho e
capricharam bastante. O menino que demonstrou resistência em realizar as
atividades, dessa vez resolveu participar, mas recusou-se a sentar-se à mesa com os
colegas, fazendo a atividade no sofá.
Desse modo compreende-se que a atividade lúdica, além de ter a
função terapêutica, serve como forma de diagnosticar o desenvolvimento dos alunospacientes e serve como recurso para intervir e alavancar as competências e
habilidades cognitivas.
Alguns passos foram imprescindíveis à realização do ludodiagnóstico, isto
é, ter um espaço para brincar e assim extrair premissas que possam auxiliar no
diagnóstico Psicopedagógico do sujeito. Para isso, se fez necessário um
enquadramento diagnóstico com materiais Psicopedagógicos adequados para tal fim,
observação e avaliação de atividades lúdicas, percebendo-se assim o modo da
criança ou do adolescente brincar, ver como o indivíduo se comporta e age;
estabelecer uma boa relação com o terapeuta e realizar algumas sessões.
Utilizamos outro recurso lúdico para seguirmos com as nossas
atividades: primeiro a Criação de uma Banda com instrumentos musicais feitos de
material reciclável, onde foi possível analisar as relações afetivas estabelecidas entre
eles, à criatividade e a habilidade musical.
A outra tarefa da prática Psicopedagógica Hospitalar foi à contação da
história “Medo do escuro”, a qual aborda sobre uma estrela que tinha medo do escuro
e como ela superou esse medo com a ajuda de seus amigos. Após a contação
confeccionamos um mosaico sobre a história; naquele momento se encontravam na
“escolinha” apenas sete alunos-pacientes (normalmente a escola tem de 10 a 15
crianças) e uma delas ficou dormindo no sofá, pois estava se sentindo mal - mas não
queria ir para o quarto para não perder as próximas atividades quando acordasse.
Elas capricharam bastante nas duas atividades, mostrando a sensibilidade
e inteligência, e quando não conseguem realizar algo não desistem, tentam sempre
fazer de novo e cada vez melhor. As atividades práticas Psicopedagógicas Hospitalar
daquele dia levaram um tempo maior, mas não menos proveitoso, visto que eles
adoram realizar trabalhos lúdicos e gostam de caprichar no que fazem.
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4.1 OLHAR COM OS FAMILIARES
Ao conversarmos com as crianças e seus familiares, conhecemos um
pouco sobre a história de vida delas e como elas vêm lutando bravamente para vencer
essa doença. Há crianças e adolescentes em vários estágios de tratamento, havendo
pacientes no início e também alguns fazendo apenas as revisões de rotina após
regressarem às suas residências.
A casa do GACC é habitada pelos pacientes e seus acompanhantes,
sendo comum eles participarem ou apenas observarem o desenvolvimento de
algumas atividades. Sempre que possível aproveitávamos o momento para também
entrevistar as crianças e os seus cuidadores, e descobrimos que algumas mães saem
sempre juntas às compras de mantimentos e artigos pessoais, enquanto outras
cuidam das tarefas diárias para manter a casa funcionando.
Durante alguns momentos nos foi possibilitado dialogar com uma das
mães das alunas-pacientes que frequentam o estabelecimento. A mãe da adolescente
S. de 14 anos acha válido esse trabalho realizado pelos Psicopedagogos e Pedagogos
na instituição, porque, segundo ela, “ajuda a aprender, e a elevar a inteligência de
cada um”. Ela continuou: “S. já está mocinha e não gosta mais de brincar de boneca,
então fica esperando o horário da escolinha, quando não tem, fica triste. Ela adora
dançar, viu uma roupa de dança do ventre e ficou com vontade, aí na mesma semana
as voluntárias da contação de história contaram a História do Aladim. Ela vestiu a
roupa e tirou várias fotos, ficando muito feliz”.
S. teve o diagnóstico de leucemia com três anos, passou por quatro anos
de tratamento. Teve uma época em que ela ficou sem andar porque sentia muitas
dores nas pernas, então a mãe precisou colocá-la em um lençol e junto com outra
pessoa a carregava, pois a aluna-paciente não aguentava que pegassem nas suas
pernas. Ela se curou e fez os exames de revisão até 2005; depois de 2005, só voltou
em 2011 para fazer avaliações. Afirma a mãe: “Ela é uma menina alegre, prestativa e
que tem ajudado as outras crianças a se soltarem e a frequentarem a escola/classe
hospitalar. Muitas são tímidas e minha filha as ajudou a perder a timidez e vir para a
escolinha”.
Por fim, percebemos a imprescindibilidade da prática Psicopedagógica
Hospitalar utilizando como recurso as atividades lúdicas que podem auxiliar o sujeito a
compreender a fase da vida em que ele se encontra, descobrir motivações para
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continuar buscando sua recuperação física e também fortalecer o elo da família –
alunos-pacientes. É mister notar que a Psicopedagogia é um quesito muito importante
na recuperação dos alunos-pacientes, uma vez que existem pesquisas que
comprovam a eficiência da alegria, jogos e das brincadeiras nas curas de doenças
crônicas. O papel do psicopedagogo nesse local é buscar métodos e recursos
variados capazes de incentivar o sujeito a utilizar as habilidades que ele já possui;
desse modo ajudando-o da melhor forma a desenvolver todas as suas potencialidades
físicas, psíquicas e cognitivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aqui ratificamos o fazer Psicopedagógico Hospitalar revisando os aspectos
teóricos e práticos, apresentarmos um histórico sobre a ludicidade e explicitarmos a
relevância da mesma para a motivação e desenvolvimento de pacientes com câncer,
com o intuito de que o Psicopedagogo compreenda a importância da ludicidade e seu
papel crucial na terapia desses alunos-pacientes.
De certo, o Psicopedagogo pode proporcionar contribuições realmente
significativas ao trazer a ludicidade para a vida desses alunos-pacientes, uma vez que
auxilia no diagnosticar as dificuldades destes, perceber como funciona o processo de
aprendizagem dos mesmos e pode servir como instrumento de intervenção entre
escola-família. Além de elevar a motivação, o autoconceito e fortalecer de forma
significativa a recuperação dos alunos-pacientes, pois, o indivíduo encontra-se
motivado, ele volta à sua atenção para algo que pode ser útil a ele, deixando a
questão da doença um pouco de lado.
Percebemos assim que junto com a Psicopedagogia, o lúdico vem
traçando um longo caminho desde que surgiu no Brasil e é preciso que os
profissionais que atuam na área (não apenas da educação como também da saúde),
mantenham-se atualizados sobre as novas tendências a fim de melhor auxiliar a sua
clientela.
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como instrumento facilitador no ensino aprendizagem
Disponível em: <http://www.soartigos.com/artigo/1994/Aprender-Brincando:-A-Historiado-Ludico-como-instrumento-facilitador-no-ensino-aprendizagem/> Acesso em: 10 jan
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indispensáveis para realização profissional e pessoal. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005. p. 167-185.
POZO, Juan Ignácio. Outros processos auxiliares da aprendizagem. In: Aprendizes e
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TAPIA, Jesús Alonso; GARCIA-CELAY, Ignácio Monteiro. Motivação e aprendizagem
escolar. In: Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação/
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organizado por César Coll, Jesús PALÁCIOS e Álvaro Marchesi; trad. Angélica Mello
Alves. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 161-173
VASCONCELOS, Clara; PRAIA, João Felix; ALMEIDA, Leandro S. Teorias de
aprendizagem e o ensino/ aprendizagem das ciências: da instrução à
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
WAIKER, Stephen. Reforçadores primários e secundários. In: Aprendizagem e
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WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica, uma visão diagnóstica dos
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WITTIG, Arno. Motivação. In: Psicologia Geral, 618 problemas resolvidos. São Paulo:
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