Revista
Faculdade Castelo Branco
científica
ISSN 2316-4255
LUDICIDADE NA PRÁTICA ESCOLAR
Darilha Feron¹
Falar sobre Ludicidade é poder sentir-se mais humano e talvez se lamentar
sobre a incapacidade do HOMO RATIO perceber sua importância. Nesse
trabalho tentamos discutir a necessidade do lúdico estar presente nas salas
de aula e nas aulas de Educação Física. Para tal discorremos sobre um
problema enfrentado pelos professores para que isso aconteça. Tecemos
uma análise sobre as perspectivas da Educação lúdica e sobre sua prática
pedagógica, bem como discorremos de modo sucinto sobre a história da
educação física desde sua origem até nossos dias. O fato de ser o lúdico
algo imaterial o torna mais difícil de ser trabalhado numa sociedade onde
o que importa é o poder. O HOMO FABER não cede espaço para o HOMO
LUDENS. Acreditamos ser responsabilidade dos profissionais de Educação buscar de todas as formas a Humanização do Homem e aí a ludicidade
tem seu ENCONTRO MARCADO.
Palavras-chave: ludicidade – prática pedagógica – humanização.
1 INTRODUÇÃO
A Educação lúdica na escola busca desenvolver pedagogicamente temas relacionados à cultura corporal do movimento, ou seja, esportes, lutas, ginásticas,
danças e jogos, porém muitas vezes tem encontrado no seu dia-a-dia, problemas que levam a pensar sobre esta importante disciplina do currículo escolar.
¹Aluna Graduanda do 8º Período de Pedagogia, da Faculdade Castelo Branco.
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A Educação que buscamos deve possibilitar autoconhecimento, compreensão de si mesmo e de seu mundo, prazerosidade, contato com o lúdico e
desenvolvimento de uma consciência crítica, favorecendo e incentivando
o aluno a manifestar suas ideias através de um agir pedagógico coerente.
Porém muitos fatores concorrem para a desvalorização da Educação Física ou Educação lúdica como componente curricular, dentre eles podemos
destacar: a má formação e competência individual do professor (Falar de
formação é mesmo complicado, já que por falta de profissionais qualificados, as escolas admitem para trabalhar com a Educação Física, professores
que fizeram algum “cursinho” de verão ou quem sabe até de final de semana. Esses “professores” perduram nas escolas, não por competência, mas
por tempo de serviço, impedindo assim que outros agora já com formação
acadêmica possam entrar no mercado de trabalho, além da falta de concursos públicos na área da educação); Falta de recursos nas escolas (Outro
grande problema é o sucateamento de nossas escolas. O que se observa é
a ausência de estrutura física adequada, na maioria dos estabelecimentos
de ensino. Faltam quadras, áreas livres, pista de atletismo, além de bola,
arcos, cordas, bastões, colchonetes etc. Faltam principalmente verbas, para
que as escolas sejam estruturadas adequadamente, e, os poucos recursos
que são destinados à educação na maioria das vezes são desviados para
outros fins); Baixo salário (a realidade do salário do professor hoje é vergonhosa. Os professores não tem reajuste salarial adequado. Não há interesse por parte das instituições governamentais responsáveis em melhorar
a remuneração do seu professor. Para um bom trabalho, com certeza, um
bom salário é mais que necessário); Carga horária reduzida (Muitas vezes,
um professor para preencher seu horário precisa trabalhar em diferentes
escolas e nos três horários. Isto traz muita dificuldade para o professor e
também para a escola, já que a dedicação fica dividida e o resultado será
bem menor, isto é, inferior ao desejado.
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Atualmente, a Educação Física e Lúdica nas escolas de 1° grau não atende
a todos os objetivos a ela propostos. Sabe-se que a disciplina é de extrema
importância no desenvolvimento da criança, porém muitas vezes as atividades na escola são as mesmas que a criança faz fora dela, mesmo sabendo
que existe um rico e vasto mundo de atividades desde a fantasia, brincadeiras até jogos que podem e devem ser trabalhados, porém esses aspectos/
conteúdos não são trabalhados pelos professores.
A Educação Física deveria dar ênfase a atividades lúdicas e à cultura infantil, pois o trabalho a partir da ludicidade lhes proporciona um maior
envolvimento, tornando as suas experiências mais significativas, o que por
sua vez, leva-as a superarem os problemas e dificuldades que normalmente
não superaria em outras atividades.
A atividade lúdica, nesse sentido é um componente fundamental no trabalho
com as crianças em fase de escolarização. Sendo assim, este artigo busca compreender como a ludicidade tem sido trabalhada nas aulas de Educação Física.
1 CONTEXTUALlZAÇÃO DO PROBLEMA
Historicamente, o homem serviu-se das atividades lúdicas como forma de
sobrevivência, de humanização, de aprendizagem e integração com o meio
social. Aos poucos, ele procurou utilizá-las como forma de difusão de suas
ideias e costumes, desde as festas religiosas aos mais simples momentos de
puro prazer e até as competições por prêmios.
Assim, o homem buscava satisfazer suas necessidades, atingindo plenamente e ou em parte suas intenções.
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1.1 LUDICIDADE: INTERFACES DE UM CONCEITO
A ludicidade sempre fez parte dos diversos contextos sócio-culturais, sendo que seu estudo despertou interesse em diversos pesquisadores, constituindo atualmente um amplo conhecimento no campo da educação, da
psicologia, fisiologia, como nas demais áreas de conhecimento. A educação lúdica, além de explicar as relações múltiplas do ser humano no seu
contexto histórico, social, cultural, psicológico, enfatiza a libertação das
relações reflexivas, criadoras e socializadoras. Educa sem perder o caráter
do prazer, da satisfação pessoal e modificador da sociedade.
Considerando a importância das atividades lúdicas no processo de desenvolvimento humano, faz-se necessário compreender a relação que a ludicidade estabelece com os diversos contextos sociais onde esteja presente a
atividade humana. O homem em busca de sua humanização precisa buscar
no seu passado histórico, suas origens, seus valores culturais, suas utopias.
O retorno ao passado, nos diz Santin (1996, p.12) “[...] não é para ver o que
o homem fez, mas para encontrar as fontes de inspiração e de energia que
levaram o homem a projetar e a criar um mundo para si mesmo”.
Busca-se então a força que levou o homem a sonhar com uma ordem social
e com a plenitude do seu ser. A inauguração da humanidade do homem está
ligada à história dos gregos. E novamente, é Santin (1996, p. 12) que afirma:
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Foi em nome deste Iogos ou razão que chegamos à situação atual
que nos obrigou a pensar outras explicações alternativas do início
primordial do processo de humanização. Entre essas alternativas
encontra-se a ideia da ludicidade ou homo ludens.
Nessa perspectiva estudar o fenômeno lúdico, não é uma tarefa assim tão
fácil, isto porque, para muitos, ele é encarado simplesmente como diversão e entretenimento ou apenas uma atividade banal ou até infantil. Para
Bruhns (1993, p. 20),
[...] procurar a essência da atividade lúdica é tentar redimensionar o
fenômeno muito além do simples entretenimento. É tentar descobrir
sua dimensão humana sem nunca perder de vista a integração do
homem dentro do seu meio.
Essa busca das raízes históricas e culturais torna-se cada vez mais importante, porque ultrapassa as aparências, por que vêm carregadas de significados e enriquecidas pelas experiências do homem em busca de sua realização como ser racional, e sensível acima de tudo. Lembra-nos ainda
Santin (1996, p. 13):
Se as atividades lúdicas, ainda que praticadas, não encontraram lugar
na vida racional do homem, fica mais evidente que a ludicidade jamais mereceu ser formulada como um tema digno da sisudez dos filósofos e muito menos dos atarefados e compenetrados cientistas. Brincar continuou sendo permitido em certos momentos e lugares, mas
jamais conseguiu merecer a atenção do pensamento lógico racional.
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Infelizmente, os Educadores ainda não perceberam a grande importância
da ludicidade em qualquer tipo de aprendizagem. O que nos dá prazer é
muito mais fácil de ser compreendido, aceito e incorporado.
Hoje, depois de grandes e inconsequentes gestos e ações cometidos em
nome da racionalidade, aos poucos a questão do lúdico está encontrando
seu espaço. Esta ludicidade que permeia as brincadeiras de correr, de saltar, de dançar, de esconder, de fazer e não-fazer é uma caixa de surpresas.
E se este fazer e não-fazer é realizado de forma prazerosa, começa-se aí a
“construir” a pessoa integral. A Educação Física no ensino Fundamental
deve, portanto, constituir-se em uma atividade prazerosa que venha contribuir para o desenvolvimento cognitivo, social e corporal, proporcionando
a aprendizagem das capacidades mentais e ou físicas.
A compreensão da ludicidade nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental é a princípio utilizar uma ferramenta importante a ser trabalhada
como prática educativa. Assim atividades lúdicas passam a desempenhar um
papel essencial na vida da criança, pois favorece a progressão e a construção
do conhecimento. O ato lúdico gera prazer e leva à liberdade, torna a criança
mais ativa e responsável, permitindo descobrir novas maneiras de explorar
seu corpo e o espaço que a cerca. Compete ao professor perceber até onde a
criança realiza com prazer determinada atividade. E assim ele pode permitir
que a criança intervenha na atividade com sua capacidade criadora.
Compreendemos que o lúdico é algo imaterial que perpassa as relações
interpessoais num determinado momento histórico social. É, podermos dizer, a “alma” das relações, dos movimentos, dos jogos, das brincadeiras,
das dramatizações, etc. somente o educador com uma postura especial po6
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derá fazer com que suas aulas de Educação Física sejam lúdicas.
Qualquer movimento ou não-movimento, o estudar, o estar a postos, o correr, o relaxar, o dançar, o jogar, pode transformar-se em movimentos de
liberdade e criação onde a criança sente-se feliz e valorizada. Aí ela se vê
livre. Isto é o lúdico.
O jogo realmente perdeu espaço na cultura de nossa sociedade, apesar dos
valores, implícitos. Cabe a nós, educadores, se é que acreditamos nesses
valores, recuperá-los. O espaço fundamental para que isso ocorra é a educação em todos os níveis, paralela e conjuntamente ao desenvolvimento de
movimentos e propostas emergidas no âmbito cultural da população.
Deve-se, porém, estar atento, pois muitas vezes essa mesma educação vem
tentando domesticar o lúdico, e através dessa atitude domesticar os próprios educandos. A educação deveria estar mais atenta nessa capacidade
lúdica de exercitar o simbólico.
O jogo no contexto escolar é um fator importante para romper a
dualidade entre “ensino-trabalho-controle-qualidade” e “recreio-jogo-liberdade-espontaneidade”. A vivência lúdica pode auxiliar na
quebra dessa barreira, conduzindo ao alcance da unidade por meio
da “recreação” (BRUHNS, 1993, p. 105).
A ludicidade se constitui por uma atmosfera de total liberdade e autonomia, tanto que Schiler (apud SANTIN, 1996, p. 15) diz, “o impulso lúdico
mais livre desprende--se por completo das amarras de privação, e o belo
torna-se, por si mesmo, objeto de seu empenho”.
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1.2 COMO E QUANDO O LÚDICO ACONTECE?
A resposta a essa questão é tão importante quanto contraditória, porém
diversos autores apresentam suas ideias buscando uma resposta possível,
ou que se aproxime da necessidade implícita que o homem tem de jogar/
brincar. Algumas das respostas são:
“Multiplicidade de jogos praticados constitui-se em diferentes formas de
manifestação da ludicidade” (SANTIN, 1996, p. 16).
Eugem Fink (apud SANTIN, 1996, p. 17), “estende a ação lúdica à própria
evolução do universo”.
“O impulso lúdico humano distancia-se das brincadeiras dos animais porque é capaz de atuar com a aparência” (SANTIN, 1996, p. 18).
Para Huizinga (2000, p. 53), “a cultura surge sob a forma de jogo”.
Para Lorenz (apud SANTIN, 1996, p. 18) “os processos criativos que se
passam no homem, e somente no homem, constitui um jogo, uma brincadeira”.
A partir desses autores, fica bem claro dizer, que o espírito criativo do homem segue a dinâmica da ludicidade, o que faz com que a pesquisa, a arte
e as ciências sejam, tributárias das invenções da imaginação lúdica.
Definir ou conceituar a ludicidade é praticamente inviável, porque não
existem atividades específicas de brincar, não há o mundo de brinquedo
como algo definitivamente dado.
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“Brincar significa gerar a ludicidade para criar o universo do brinquedo. Portanto, o mundo lúdico não está em algum lugar, não é uma instituição, não é
uma atividade e não é real” (SANTIN, 1996, p. 28). É ainda o mesmo autor
que nos afirma ser “a ludicidade uma tecitura simbólica fecundada, gestada e
gerada pela criatividade simbolizadora da imaginação de cada um”.
Para nós, nesse momento, é importante descobrir a relação que existe entre
a capacidade simbolizadora e as manifestações lúdicas.
A partir do momento em que os professores perceberem que a atividade lúdica está vinculada à criatividade simbólica, poderão incentivar esse
potencial criativo que pode se manifestar nos gestos, no movimento, no
manuseio de objetos, na criação das coreografias, etc.
É importante perceber que o caráter fundamental da ludicidade consiste
em que o brinquedo não tem outro sentido que ele mesmo, ao contrário
do trabalho e do esporte de rendimento que se sustentam pelos resultados
e, exclusivamente, pelos resultados. Para brincar não é necessário treinar.
Brincar é simplesmente brincar e nada mais.
Assim, incorporar a ludicidade à educação Física seria um esforço para
resgatar a infância na criança, a alegria na juventude e o humano no homem, numa sociedade industrializada e cada vez mais desumanizada.
A partir de estudos e observações constata-se que a relação entre o lúdico e a
Educação Física é uma relação conflituosa e em muitos aspectos antagônica.
Este conflito se revela cada vez maior quando submetido, aos objetivos
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eleitos pela Educação Física e/ou associados ao esporte. Não se coadunam
com objetivos da ludicidade como, por exemplo:
O aspecto da conservação da juventude a qualquer preço.
O aspecto da beleza física X obesidade.
O aspecto da garantia do melhor rendimento - “formação do atleta”.
O aspecto da exacerbação nas competições - “o adversário é inimigo”.
A busca sem escrúpulos para atingir o apogeu.
A busca desenfreada do “poder”.
1.3 O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DIANTE DO LÚDICO
Educar ludicamente tem um significado muito profundo que escapa às malhas do controle dos métodos científicos quantificados. Apesar disso a ludicidade encontra--se presente em todos os segmentos da vida.
A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo,
brincadeira vulgar, diversão superficial. Ela é uma ação inerente na
criança, no adolescente, no jovem e no adulto e aparece sempre como
uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se
redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo (ALMEIDA, 2000, p. 14).
Daí a necessidade, do professor estar ciente das características da ludicidade na
preparação, e organização de suas aulas. A ludicidade somente será contemplada se o educador estiver preparado para isso. Nada será feito se ele não tiver
um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais da ação lúdica.
Além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente,
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a educação lúdica possibilita um crescimento sadio, um enriquecimento
permanente. Sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica,
promovendo a interação social e tendo em vista o compromisso de transformação e modificação do meio.
Os jogos, enquanto manifestações lúdicas aproximam-se da estética e da
abundância. Uma atividade lúdica é originada da abundância, não da necessidade, porque está vinculada a um ideal de beleza. Segundo pensamento de Schiller (apud SANTIN, p. 15), a ludicidade se constrói por uma
atmosfera de total liberdade e autonomia, tanto que, diz ele, “o impulso
lúdico mais livre desprende-se por completo das amarras da privação; e o
belo torna-se, por si mesmo objeto de seu empenho”.
A multiplicidade de jogos praticados constitui-se em diferentes formas de
manifestações da ludicidade; entretanto, para sabermos se tais atividades
mantêm a fidelidade ao dinamismo lúdico, é preciso apreender o ato que
deu origem ao fenômeno lúdico. É indispensável que se aprenda o impulso
lúdico que levou o homem a brincar.
Percebe-se, porém que entre os professores de Educação Física, há uma
restrição ao lúdico, isto é, uma falta de conhecimento e compreensão de
seu verdadeiro sentido.
As atividades lúdicas, além de proporcionar ações individuais de criatividade e de prazer, possibilitam também princípios éticos de solidariedade e
companheirismo. Atividades como jogos de mesa, dama, xadrez, gincana,
pingue-pongue etc., podem ser grandes atrativos para os alunos e meios
para canalização de suas energias. O importante dessas práticas é que se-
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jam coordenadas e dirigidas por professores conscientes e preparados a fim
de preservar o verdadeiro significado do lúdico.
Na educação lúdica, não pode faltar interesse, prazer, motivação e participação total do aluno. O professor de Educação Física deve estar consciente de que jogos e brincadeiras podem ocorrer em qualquer momento, em
qualquer lugar, em qualquer classe social e em qualquer idade. Trevisan e
Gomes (apud PINTO, 2003, p. 126) ressaltam que:
Os jogos e brincadeiras são elementos que se inserem no chamado
universo lúdico, composto por atividades caracterizadas por serem
espontâneas, não obrigatórias, com fim em si mesmas e que trazem
sempre uma promessa de prazer.
Cabe ao professor, em sua prática, priorizar atividades lúdicas, valorizando a criatividade e o sentido pessoal que cada aluno apresenta em relação
a elas. Por, outro lado, a Educação Física escolar tem como conteúdos o
jogo, o esporte, a ginástica, dança e a luta. Quando jogamos somos inteiros, por isso, o teor dos jogos que trazemos para nossas aulas é que faz a
diferença. Crianças que só praticam jogos onde a competição é o fator motivador crescerão com valores baseados na competição. Entre eles, vencer
a qualquer preço é encarar o parceiro de jogo como inimigo.
Nesse aspecto, mata-se a ludicidade, o prazer do jogo, pelo jogo, o gosto
de correr, chutar, driblar, etc. Acreditamos que o principal objetivo da Educação Física necessita ser repensado. Acima de tudo devemos pensar que a
Educação Física é a educação de corpo inteiro. Antes de formarmos atletas,
que é o objetivo do esporte de rendimento, temos que nos preocupar em
formar cidadãos.
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A Educação Física Escolar é um espaço para praticarmos a vida com prazer e alegria, para respeitarmos todos os tipos de alunos que por ventura
venham ao nosso encontro, quer sejam eles hábeis ou não.
Por que não utilizar todas as formas da criança brincar, como amarelinha,
pegador, futebol, bolinha de gude, esconde-esconde, corridas, saltos, risadas, cantos, danças, etc. e fazer disto tudo matéria-prima para a educação
física? Garantir um crescimento espontâneo e um enriquecimento de conhecimentos que garanta aos alunos uma vida de participação social satisfatória, de dignidade, de justiça, de felicidade, deve ser nos compromisso.
É de vital importância que nossas crianças brinquem, pois como afirma
Santin (1996, p. 22), “brincar é amar e viver a plenitude do corpo em todas
as nuances que compõem a melodia da vida” e ainda “a corporeidade da
atividade lúdica é como a sonoridade de um instrumento musical”.
Se entendermos o brinquedo como uma construção simbólica, pode-se entender plenamente o alcance do pensamento de Winnicott (apud SANTIN,
1996, p. 29) quando ele diz “é no brincar e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral”. Impedir o lúdico nas aulas de Educação Física é antecipar a servidão
do homem a um sistema opressor.
2 A CONCEPÇÃO LÚDICA NOS JOGOS E DEMAIS
ATIVIDADES FÍSICAS
Na concepção de Terry Orlick (apud GRILO, 2004, p. 9):
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Os jogos e os esportes são reflexos da sociedade em que vivemos,
mas também servem para criar o que é refletido. Muitos valores importantes e modos de comportamento são aprendidos por meio das
brincadeiras e dos jogos esportivos.
Etimologicamente, segundo a Enciclopédia Mirador Universal, (1975, p.
6500), o adjetivo porto LÚDICO, do século XX, deriva do vocábulo português LUDO, eruditismo arcaizado do século XVI, cuja origem é o latim,
LUDUS, “jogo, divertimento, passatempo”, sinônimo do latim, JOCUS.
De acordo com a mesma enciclopédia, o conceito da palavra jogo “é mais
antigo que o trabalho e tudo ou quase tudo provém dele”. Importante processo na socialização do indivíduo e, até na formação do eu, segundo George Herbert Mead (1863-1931) donde a natural associação criança-jogo, a
atividade lúdica seria, também, a fonte principal da cultura.
Segundo Huizinga e Caillois (apud ENCICLOPÉDIA MIRADOR, 1975, p.
6501), o jogo é uma atividade livre e gratuita, embora disciplinada por regas,
sentida como fictícia, social se bem que alheia às atividades comuns, improdutivas mesmo quando admite deslocamento de riqueza dentro do círculo
fechado dos jogadores, e de resultado incerto. Para Santin (1996, p. 87),
O lúdico é um destes valores que escapam às malhas do controle
de métodos científicos quantificados. O lúdico se aproxima mais do
comportamento do gosto, do valor estético, da dinâmica da sensibilidade, da inconstância das emoções. Assim, parece claro que o lúdico e a ludicidade não se submetem ao controle das lógicas racionais.
A ludicidade pode estar presente em todos os segmentos da vida com um
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significado muito profundo. Uma criança pulando corda, jogando bolinha
de gude, brincando de boneca, etc., não está simplesmente brincando, está
desenvolvendo e operando inúmeras funções cognitivas e sociais. Aí estão
combinados, o prazer e a interiorização de conhecimentos.
Os jogos sempre constituíram uma forma de atividade própria do ser humano. Entre os primitivos, dançar, caçar, pescar, lutar eram necessários
para sobreviver, ultrapassando até o caráter de divertimento.
Para Platão (apud MOREIRA, 2000, p. 19) “os primeiros anos da criança
deveriam ser ocupados com jogos educativos”. Entre os Egípcios, Romanos, Maias, os jogos serviam de meio para a geração mais jovem aprender
com os mais velhos valores e conhecimentos, bem como normas dos padrões de vida social.
Segundo Froebel (apud MOREIRA, 2000, p. 23) “a educação mais eficiente é aquela que proporciona atividade, auto-expressão e participação social
às crianças”. Para Claparède (apud MOREIRA, 2000, p. 24) “a criança à
qual se propõe um trabalho em continuidade com o jogo é naturalmente
levada a mobilizar todas as suas energias”.
Desde Claparède e Dewey, Wallon, Leif e Piaget (apud MOREIRA, 2000,
p. 26) “a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais
e sociais superiores, por isso, indispensáveis à prática educativa”.
Para Dewey (apud ALMEIDA, 2000, p. 24), “O jogo faz o ambiente natural da criança, ao passo que as referências abstratas e remotas não corresCastelo Branco Científica - Ano I - Nº 01 - janeiro/junho de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br
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pondem ao interesse da criança”.
Percebemos então que, o que faz a grande diferença é a filosofia de quem trabalha com a Educação Física, de quem trabalha com a Educação. Ou educamos para a libertação ou seremos responsáveis pela domesticação de nossos
alunos tornando-os massa de manobra de uma sociedade sem escrúpulos.
O professor de Educação Física é um dos profissionais que tem a possibilidade de compartilhar com as crianças, dentro de seu próprio meio. Observá-las em movimento e através das características motoras que refletirem,
descobrir seus estados internos.
O corpo é um emissor de mensagem e, através do movimento, pode-se perceber o que sucede dentro do mundo da criança. A sensibilidade vai perceber
o quanto, determinados jogos, são lúdicos para as crianças e de que forma se
pode fazer um trabalho comprometido com o seu desenvolvimento integral.
Diante do exposto, reafirmamos o pensamento de Gallardo (apud STEINER, 1986, p. 27), “a ausência de um professor de Educação Física nos
primeiros anos de escolaridade é uma forma de agressão, que na lei é considerada delito por omissão”, É preciso entender que as habilidades motoras, desenvolvidas num contexto de jogo, de brinquedo, no universo da
cultura infantil, poderão se desenvolver sem a monotonia dos exercícios
prescritos por alguns autores.
Os jogos, como pega-pega, amarelinha, cantigas de roda, morto-vivo etc.,
têm exercido, ao longo da história importante papel no desenvolvimento
das crianças, porque todos eles são frutos da experiência humana e chegam
até nós carregados de sabedoria.
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É lamentável, pelo que vivenciamos que esses jogos não tenham sido incorporados ao conteúdo pedagógico das aulas de Educação Física. Parece que
há certo medo de perceber o lúdico, transparecendo de forma clara e descontraída, garantindo o bom desenvolvimento das habilidades físicas (motoras,
afetivas e cognitivas), permitindo que nossas crianças sejam elas mesmas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após analisar a importância da educação física e a educação lúdica e comparando opiniões de autores sobre Ludicidade e a Educação Física Escolar,
chegamos a algumas conclusões.
Brincar é nossa primeira forma de cultura. A cultura é algo que pertence a
todos nós. É a forma como as pessoas vivem e se expressam. E por meio
do brincar que a criança tem oportunidades de raciocinar, de descobrir,
de persistir e de perseverar. Ela é capaz de aprender a perder, percebendo que haverá novas oportunidades para vencer. Aprender a esforçar-se
e• a esperar não desistindo facilmente das várias situações encontradas.
O brincar proporciona à criança a possibilidade de criar sua identidade. É
uma oportunidade de desenvolvimento, porque faz com que ela libere sua
imaginação e desenvolva a criatividade, possibilitando exercícios de concentração, de atenção e de engajamento, através dele que a criança experimenta, desenvolve, inventa, exercita e confere habilidades. Esse brincar
que ensina a lidar com as emoções e as descobertas do mundo é a melhor
forma de expressar a ludicidade.
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Outro fator importante para a criança ter chance de vivenciar o lúdico é a
sua relação com as pessoas, das quais depende para a satisfação das suas
necessidades vitais afetivas.
A Educação Física como área interessada primordialmente com a atividade lúdica vem se colocando muitas vezes em função de um pragmatismo
valorizando o produto, ao invés de se dar conta da importância do processo, não considerando que, através desse último, efetivamente as mudanças
mais profundas se estruturam nos indivíduos.
A questão da ludicidade, apesar de fazer parte da vida humana, ainda encontra
barreiras por parte de profissionais da Educação física.
Boa parte dos Educadores incluindo os Professores de Educação Física, ainda
não optou por uma educação onde se contemple o Lúdico, o Prazer, a Vida.
Mesmo conhecendo os limites do artigo, para nós foi uma aprendizagem
muito importante. Crescemos durante a pesquisa para o artigo e esperamos
que sirva também para outros futuros profissionais que buscam dar o melhor de si, no desempenho de sua profissão. A Ludicidade quer que o esporte tenha a inspiração do brinquedo e conduza o atleta ao pódio da vida.
Para isso precisamos acrescentar que a sensibilidade é a fonte inspiradora
que nos ensina a sermos viventes e não usuários da vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 10a. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
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Revista
Faculdade Castelo Branco
científica
ISSN 2316-4255
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