Anais do Encontro Nacional de Recreação e Lazer
Resumo
Espaços escolares
em Curitiba:
relação entre o
público e o privado
Os espaços lúdicos da escola não são apenas estruturas físicas, mas estabelecem influências em seus usuários e vice-versa, fazendo seu estudo importante para um entendimento da sociedade. Sendo assim, investigamos
os espaços destinados a vivências lúdicas no ambiente escolar de uma instituição particular de Curitiba, analisando como estão estruturados, quais
relações os alunos estabelecem com os mesmos. Utilizamos como metodologia: (1) aplicação do Protocolo de Observação desenvolvido pelo GEPLEC;
(2) aplicação de 41 questionários – alunos de 6º ano do Ensino Fundamental
à 2ª série do Ensino Médio; (3) tabulação e análise dos dados; (4) observações sistemáticas das práticas lúdicas dos intervalos; (5) entrevistas com
inspetores que trabalham nestes momentos. Posteriormente, procuramos
relacionar duas realidades, uma de escola pública e outra de escola privada,
para compreender as proximidades e distanciamentos quanto aos espaços
lúdicos utilizados em tempos/espaços mais disponíveis aos alunos. Inferese a necessidade dos sistemas educacionais propiciarem aos estudantes
possibilidades diferenciadas a partir dos espaços lúdicos. Tais possibilidades poderão gerar um sentimento de pertencimento mais apurado à escola,
transformando-a em lugar dotado de sentido e significado. Assim, “o que
começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que
o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (RECHIA, 2003, p. 63).
Palavras-chave: Lúdico. Escola. Espaço.
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Introdução
Este estudo parte da pesquisa realizada em parceria pelo projeto A Escola e os Espaços Lúdicos do Programa Licenciar – UFPR e pelo projeto (Re)mapeando os
Espaços das Escolas de Curitiba, do Programa de Iniciação Científica1 da UFPR.
pretendemos apontar reflexões sobre essa relação. É preciso deixar claro que
o objetivo não é realizar uma comparação entre as escolas no sentido de apontar a melhor, mas discutir aspectos comuns e distintos referente às realidades
investigadas, levando em conta suas particularidades e especificidades, na expectativa de que possamos contribuir com ambas as realidades.
Em ambos os projetos partimos do pressuposto de que as vivências fruídas no espaço escolar (público ou privado) bem como a formação educacional, política e
social devem contribuir para o desenvolvimento de cidadãos críticos, reflexivos
e verdadeiramente transformadores. Destacamos nesta pesquisa as experiências lúdicas como possibilidades da crítica da vida cotidiana.
Dessa forma, esperamos também fornecer subsídios para que a comunidade escolar esteja mais atenta e repense, ou comece a refletir, sobre a importância dos
espaços lúdicos, no âmbito da sua estrutura e nas formas de uso, valorizando-os
como espaços de convivência, de construção de valores, de aprendizado, como
possibilidades de formação e contribuição no desenvolvimento global dos alunos.
A presente pesquisa procurou realizar um estudo no contexto de uma escola da
rede particular da região. Buscamos seguir os mesmos passos metodológicos
já realizados em pesquisas anteriores, mas sempre levando em consideração
que não se trata do mesmo local de estudo, nem são os mesmos sujeitos envolvidos, por isso foram necessárias algumas adaptações durante o processo.
Tomando como ponto de partida os espaços lúdicos da escola, percebemos que
os mesmos não são apenas estruturas físicas, pois quando apropriados estabelecem influências em seus usuários e vice-versa, estabelecendo assim uma
relação dialética e histórica, fazendo-nos notar que o estudo da sua composição
se mostra importante para um entendimento de nossa sociedade.
Investigamos os espaços físicos destinados a vivências lúdicas no ambiente escolar de uma instituição de ensino particular da cidade de Curitiba. Analisamos
como esses espaços estão estruturados, bem como entender melhor quais relações os alunos estabelecem com os mesmos, de forma a chamar a atenção
da comunidade escolar tanto aos próprios espaços quanto às manifestações
lúdicas que neles acontecem. Isto para que estes possam ser mais bem apropriados pelos alunos visando seu melhor aproveitamento e levando em conta o
contexto vivido por cada instituição.
Também nesses espaços observamos práticas que nos possibilitam uma investigação das relações que ali se estabelecem. Tais relações oportunizam, entre
outras coisas, a sociabilidade, a prática esportiva, a atividade física, a brincadeira, o desenvolvimento cultural, assim como os confrontos, embates e tensões
sociais que podem surgir na produção dessas experiências.
A apropriação da qual tratamos aqui é compreendida como o “processo psicossocial central na interação do sujeito com seu entorno por meio do qual o ser
humano se projeta no espaço e o transforma em um prolongamento de sua pessoa, criando um lugar seu” (CAVALCANTE; ELIAS, 2011), ela se faz essencial na
medida em que, quando um espaço é apropriado, se torna pleno de significado,
influenciando a relação do sujeito com o ambiente.
A partir dessas constatações, procuramos relacionar duas realidades, uma pública2 e outra privada, buscando suas proximidades e distanciamentos, no que
se refere aos espaços lúdicos das escolas. Percebemos a relevância deste estudo pois, no senso comum, as escolas particulares são consideradas de melhor qualidade em relação às escolas públicas e, a partir de nossa pesquisa,
Procedimentos metodológicos
Inicialmente, realizamos a (1) aplicação de um Protocolo de Observação desenvolvido pelo GEPLEC, para análise dos espaços. Como próximo passo, procuramos entender melhor a relação dos alunos com esses espaços, para tanto
(2) aplicamos 41 questionários com alunos do turno da manhã, de 6º ano do
Ensino Fundamental à 2ª série do Ensino Médio,3 visto que no turno da tarde são
atendidas apenas crianças da Educação Infantil. Foi efetuada a (3) tabulação e
análise dos dados, a fim de obter subsídios para estabelecer as relações entre
as duas realidades. Também foram realizadas quatro observações sistemáticas
das práticas lúdicas dos intervalos, para investigar as formas de apropriação/
utilização desses espaços, e cinco entrevistas4 com inspetores que trabalham
nos momentos de intervalo, com o intuito de verificar suas opiniões e possíveis
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sugestões para os espaços. Após esses passos, foram analisadas as aproximações e distanciamentos entre as realidades pública e privada estudadas.
Fundamentação teórica
O lúdico é uma dimensão da vida humana, que “se dá nas relações entre sujeitos e em diferentes esferas da vida” (MARINHO; PIMENTEL, 2010, p.19). O ser
humano possui uma propensão lúdica, pois é um “elemento anterior à própria
civilização, visto que o homem não é o único animal que brinca” (MARINHO;
PIMENTEL, 2010, p. 12). Entretanto, a “vivência lúdica, como o brincar/jogar/festar, não é inata e necessita de mediação cultural precisa ser aprendida, fruída,
questionada e transformada” (PINTO, 2007 apud MARINHO; PIMENTEL, 2010,
p. 13). Segundo Marinho e Pimentel (2010, p. 13), “[...] o universo lúdico é parte
indissociável da condição humana e tem participação criadora no cotidiano”,
universo este do qual fazem parte o jogo e a brincadeira.
Verificamos hoje que muitas escolas precocemente centralizam a educação de
seus alunos na racionalidade, preparando-os com conteúdos que os instrumentalizem para o mercado de trabalho. Sem o devido estímulo, é grande a chance
de as crianças também perderem gradativamente o interesse pelo jogo, pelas
brincadeiras, pela diversão, e a comunidade escolar em geral pelos aspectos
lúdicos do desenvolvimento, devido às expectativas e cobranças de rendimento.
Como afirmam Batista e Martins (2008, p. 55).
A escola vem privilegiando saberes instrumentais visando ao trabalho, no sentido produtivo. A educação que se realiza em nossas escolas, impregnada dos
pressupostos lógico-racionais, deixa em segundo plano as manifestações lúdicas – as escolas devem negar o ócio. Na educação orientada para a preparação
para o trabalho, as manifestações lúdicas, que trazem em si o prazer, a diversão,
a criação e a livre expressão, são desconsideradas.
Assim sendo, o lúdico vai perdendo espaço no cotidiano escolar, e cada vez menos as escolas pensam, se preocupam e/ou investem em espaços que propiciem essas experiências aos alunos.
No entanto, ele ainda se mantém presente por meio das brechas encontradas
pelos alunos para vivenciar esta dimensão humana no ambiente escolar. Essas
brechas estão relacionadas à:
Sabedoria, táticas, artes de fazer, maneiras de utilizar o sistema e suas imposições dogmáticas, constituindo resistências ou ao menos “manobras” entre
forças desiguais. [...] Maneiras de jogar e fazer de conta jogar o jogo do outro
(do sistema). Não se trata aqui da celebração do fim do contrato social, do cinismo, mas apontar como, na vida cotidiana, os mais fracos empreendem seus
combates – silenciosos e sem propósitos políticos bem aceitos – para virar as
regras de um contrato coercitivo favorável apenas aos fortes (SOUSA FILHO,
2002).
Nos dias de hoje verificamos uma dificuldade por parte das crianças de vivenciar a ludicidade em outros locais, pois as características pós-industriais da
sociedade levaram a transformações sociais que, por sua vez, acabaram provocando uma “[...] limitação do espaço/tempo de lazer no meio urbano para a
fruição da cultura corporal” (TSCHOKE; RECHIA, 2012, p. 264). Dessa forma,
crianças e jovens sofreram com “[...] uma redução dos espaços do brincar,
que foram aos poucos saindo das ruas e quintais e se consolidando em espaços públicos limitados e/ou pré-determinados para o lazer” (TSCHOKE; RECHIA, 2012, p. 264).
Em consequência, devido às modificações nos espaços, o aumento da violência,
insegurança, do individualismo, “a escola passou a ser, na sociedade moderna, um dos espaços privilegiados para que as crianças possam experienciar a
dimensão lúdica” (TSCHOKE; RECHIA, 2012, p. 264). O espaço da escola seria
uma das formas mais viáveis e seguras de possibilitar as experiências lúdicas.
Por isso as instituições de ensino precisam refletir melhor sobre essas práticas
e os espaços destinados a elas, uma vez que são essenciais no desenvolvimento
do ser humano.
Em relação aos estudos dos espaços das escolas, inferimos a necessidade de
propiciar ao aluno que ele se sinta pertencente a esse espaço, transformando-o
de espaço em lugar. Segundo Tuan (1983, p. 3): “O espaço permanece aberto, sugere futuro e convida à ação. O espaço fechado e humanizado é lugar.” Assim,
“o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida
que o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (RECHIA, 2003, p. 63). Por isso
é interessante fomentar nos alunos o sentimento de pertencimento, democratizando a vivência da ludicidade, criando e incentivando assim uma cultura de
uso dos espaços para experiências no âmbito do lazer, momento mais propício
para manifestações lúdicas.
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Segundo passagem de Gomes (2004, p. 144):
Para Nelson Marcellino (1990), o lúdico é um componente da cultura historicamente situada e pode significar uma experiência revolucionária, urna vez que
permite não só consumir cultura, mas também criá-la e recriá-la, vivenciando
valores e papéis externos a ela. Heloísa Bruhns (1993) afirma que é preciso redimensionar o lúdico para além da diversão ingênua ou simples entretenimento.
Isso se torna possível mediante a descoberta da dimensão humana em sua interação com o meio e através da busca do significado do lúdico na produção
social, em suas raízes históricas e culturais.
Portanto, as manifestações lúdicas apresentam um caráter formativo ao possibilitar (re) criar a cultura, valores e formas de convivência, construindo identidades e contribuindo para um desenvolvimento mais completo do ser humano.
Batista e Martins (2008, p. 59) acreditam que:
É necessário entender as manifestações lúdicas como artefatos culturais, componente formativo do homem histórico, pelo qual ele é capaz de construir e
reconstruir simbolicamente a sua realidade, com o objetivo de realizar uma
educação que esteja comprometida com a superação do atual quadro social.
Por outro lado, os espaços, as vivências lúdicas e as relações estabelecidas tanto do sujeito com o meio quanto entre os sujeitos são momentos que podem
proporcionar desenvolvimento nos diversos âmbitos da vida humana (cultural,
esportivo, da saúde, emocional). No entanto, o contato com a diversidade, com
diferentes pessoas, culturas e opiniões pode gerar da mesma forma embates e
tensões, através do enfrentamento de concepções e crenças que podem surgir
a partir dessas experiências.
Isso significa que o espaço de desenvolvimento do âmbito da ludicidade na escola
se mostra muito rico, pois possibilita que os alunos aprendam não somente a
conviver com seus pares, mas também a conhecer as diferenças e reconhecer
as individualidades dos sujeitos. É uma oportunidade para as instituições de
ensino desenvolverem e ensinarem aos alunos, além dos conteúdos contidos
nos currículos, a “busca da compreensão e superação dos conflitos e dificuldades, presentes na vida societária como um todo” (BATISTA; MARTINS, 2008, p.
48) pois mais que instrumentalizar para o mercado de trabalho, a escola tem a
obrigação de formar cidadãos.
Resultados e discussões
Foram analisados 13 espaços da instituição particular: cidade-mirim, pátio aberto,
sala de artes, pracinha, sala de psicomotricidade, sala de dança, horta, ginásio,
miniginásio, corredor infantil, sala de judô, bosque e pátio coberto.
A partir dos dados obtidos com a aplicação dos questionários constatamos que
seis espaços (pátio aberto, ginásio, bosque, pátio coberto, sala de artes, miniginásio) são utilizados por pelo menos 50% dos alunos questionados. os outros
sete espaços obtiveram um índice de utilização pelos alunos menor que 50%,
foram eles: cidade-mirim, pracinha, sala de dança, corredor infantil, sala de psicomotricidade, horta e sala de judô.
Além da utilização ou não de cada um dos 13 espaços, foram também analisadas
outras categorias, cujos resultados aqui representam o que foi respondido pela
maioria dos alunos5 somado a elementos observados com a aplicação do Protocolo de Observação.
Com relação à limpeza, apenas o bosque foi considerado sujo (53%), em razão
da grande área de terra, já que as sugestões dos alunos estão relacionadas
a replantar árvores, colocar mais grama e do lixo observado no local. Quanto
à iluminação dos espaços, o miniginásio foi o único espaço considerado não
iluminado (63%). No que se refere à manutenção, o miniginásio (53%) e o ginásio (74%) foram tidos como danificados, pelo fato de apresentarem goteiras,
alguns tacos soltos e baixa iluminação. Quanto à atratividade dos espaços, o
pátio aberto (63%), a pracinha (59%), pátio coberto (63%) e o miniginásio (53%)
foram vistos como não atrativos pelos alunos (sugestões: colocar bancos na
pracinha, redes de futebol no pátio aberto, mais bancos no pátio coberto, dentre
outras). Em relação ao controle, os espaços considerados muito controlados
foram: cidade-mirim (64%), sala de dança (45%), corredor infantil (37%), horta
(37%) / controlados: pátio aberto (45%), pracinha (42%), sala de artes (42%) /
pouco controlados: ginásio (47%), bosque (42%), pátio coberto (42%), miniginásio (44%), sala de judô (46%) / nada controlado: não houve respostas acima
de 50%. A sala de psicomotricidade dividiu as opiniões entre muito controlado
(31%) e pouco controlado (31%).
Podemos constatar que grande parte dos locais considerados mais controlados
são aqueles ditos como mais atrativos pelos alunos. No entanto, como visto, são
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os menos utilizados, justamente em razão do controle sobre eles. Já os locais
mais utilizados pelos alunos foram considerados por eles pouco controlados,
embora o período de observações sistemáticas dos intervalos tenha mostrado
que são locais acessíveis, porém supervisionados. O que podemos inferir é que
os alunos relacionaram a questão do controle com o acesso aos espaços.
Muitos espaços, apesar de bem conservados, apresentaram um esvaziamento,
sendo que os alunos apontaram fatores como o desinteresse pelo uso, em razão
da falta de atrativos, porém principalmente o acesso restrito a determinados
espaços. Outro apontamento está relacionado à falta de multidisciplinaridade
nos espaços, onde apenas algumas atividades são exercidas, sendo que o uso
fica limitado a apenas algumas ações. Os alunos sentem falta da inovação e de
ambientes que atendam à diversidade de utilizações, contemplando também
suas aspirações.
Não muito diferente, foi também levantada a questão de espaços priorizados para
as crianças de menor faixa etária, que apresentam melhor estrutura e maior
atratividade, em que os alunos das séries mais avançadas não tinham acesso,
sendo que, como visto pelas sugestões, os mesmos gostariam de utilizar esses
espaços.
Os dados obtidos por meio dos questionários, observações e entrevistas mostraram-se coerentes entre si, tanto no que se refere à estrutura e sugestões de
melhorias para os espaços quanto em relação às formas de uso desses locais,
que variavam entre lanchar e/ou conversar (na maior parte das vezes sentados
nos bancos no pátio coberto ou no bosque, em algumas ocasiões no pátio aberto), utilizar o celular, jogar futebol no ginásio e miniginásio, brincar no bosque,
andar de skate.
Aproximações e distanciamentos entre as
duas realidades
A partir dos dados obtidos, buscamos identificar alguns aspectos comuns ou
distintos acerca dos espaços lúdicos da escola privada e da escola pública.
O quadro 1 apresenta a relação dos espaços analisados nas duas instituições
pesquisadas.
Quadro 1. Relação dos espaços analisados nas duas instituições
Instituição particular
Instituição pública
Pátio aberto
Cidade-mirim
Auditório
Pátio da cantina
Sala de artes
Pracinha
Área verde com mesas
Escolinha de artes
Sala de psicomotricidade
Sala de dança
Sala de teatro
Biblioteca
Horta
Ginásio
Ginásio
Pista de atletismo, campo e
quadras externas
Miniginásio
Corredor infantil
Bosque
Piscina
Sala de judô
Bosque
Arena
Pátio coberto
A partir desta tabela notamos que não há grande disparidade entre a quantidade
de espaços disponíveis para as experiências lúdicas presentes nas duas instituições. Enquanto na particular observamos 13 espaços, na pública verificamos
11. Verificamos também que em ambas as instituições os espaços são variados
(ao ar livre, fechados, voltados para atividades artísticas, esportivas, de lazer). O
quadro 2 mostra a relação de espaços que podem ser considerados semelhantes entre as instituições.
Quadro 2. Espaços semelhantes entre as instituições
Instituição particular
Instituição pública
Pátio aberto
Arena
Sala de artes
Escolinha de artes
Pátio coberto
Pátio da cantina
Bosque
Bosque
Ginásio
Ginásio
Pracinha
Área verde com mesas
Sala de dança
Sala de teatro
Levando em consideração as características principais dos espaços, constatamos um total de sete equivalências entre as duas realidades, são espaços que
se assemelham no que se refere a função e formas de uso, e também no tipo
de estrutura e equipamentos. Isso demonstra que essas instituições possuem
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determinada linha de pensamento com relação a espaços não específicos,
aqueles destinados a todos os alunos, independentemente, da faixa etária em
que se encontram.
A não equivalência entre os demais espaços das instituições pode ser justificada
pelo fato de a faixa etária atendida por elas ser diferenciada e as necessidades
relacionadas aos espaços serem distintas. A instituição particular recebe alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio, já a pública
atende alunos apenas a partir do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. A presença de alunos da Educação Infantil e Fundamental I na instituição particular
pode ser um dos fatores que explica, por exemplo, a presença de espaços como
a cidade-mirim, corredor infantil, sala de psicomotricidade. A escola pública foi
concebida inicialmente para atender alunos do Ensino Médio, sendo o Ensino
Fundamental II integrado posteriormente.
No que se refere à manutenção dos espaços, a escola particular apresentou melhor conservação (pintura, equipamentos, etc.) em relação à escola estadual. O
fato de a escola estadual ser um patrimônio tombado pode ser um motivo para
justificar menor conservação, uma vez que podem existem mais restrições e
maior burocracia nos processos de reforma na estrutura. O número de alunos
das escolas também pode influenciar nessa questão, pois na escola estadual
estudam aproximadamente cinco mil alunos, e consequentemente os espaços
são utilizados por um número maior de alunos, o que pode contribuir para o
desgaste acelerado das estruturas. No entanto, em ambas as realidades foram
levantados possíveis ajustes na estrutura das escolas como sugestões dos alunos acerca dos espaços.
Quanto às formas de uso dos espaços, estas se diferenciam entre as instituições
dependendo do espaço considerado. Na instituição particular, por exemplo, é
permitido o uso do ginásio e do miniginásio nos momentos do intervalo, havendo inclusive um cronograma de uso das turmas, divididas por dia e por espaço.
Já na instituição pública não há permissão para o uso do ginásio e das quadras
no intervalo.
No entanto, a instituição pública, assim como a particular, também possui uma
quadra de four-square pintada em um de seus pátios, sendo que a mesma é
largamente utilizada, principalmente pelos alunos do Ensino Fundamental, ao
contrário do observado na escola particular, que também possui quadras do
jogo desenhadas no pátio aberto, mas que, durante as observações, foram pouco utilizadas pelos alunos.
Em ambas as instituições existem também espaços mais ou menos utilizados
pelos alunos, dependendo de fatores como clima, eventos no colégio etc. Na
particular, o bosque e as quadras são muito utilizados. Na pública, a arena e o
pátio da cantina são mais apropriados pelos alunos no intervalo.
Considerações finais
Existem determinadas diferenças entre a estrutura dos espaços da instituição
pública e da privada, principalmente no que se refere à conservação das estruturas. Ainda assim, de modo geral, os alunos apresentam ações parecidas em
relação aos espaços que possuem para vivenciar experiências lúdicas na escola. Os resultados apontaram que os alunos não estão sendo mais motivados
a pensar no direito que possuem sobre o que lhes é oferecido, não recebendo
abertura necessária para discutir tal assunto, embora tenham conhecimento
das facilidades e dificuldades do dia a dia na escola e das melhorias que poderiam ser realizadas.
Uma questão percebida ao longo do estudo, principalmente quando os alunos
tiveram a oportunidade de dar sugestões de transformação ou melhorias dos
espaços das escolas (sugestões estas em sua grande maioria pertinentes), está
relacionada ao fato de os estudantes fornecerem mais sugestões para os espaços que mais utilizam. Para aqueles menos utilizados com frequência sugeriram
maior acesso. Este fato mostra como a possibilidade de conhecer e frequentar
mais locais dentro do próprio ambiente escolar pode promover a diversidade de
opiniões sobre vários aspectos do cotidiano, aumentando as perspectivas de
visão dos alunos com relação a sua escola.
Ainda é necessário estudar e aprofundar os pontos que se aproximam e se distanciam dentro dessas estruturas, mas podemos marcar que o mínimo de
oportunidade sobre o pensar dos espaços elaborados para os alunos já os fizeram exercitar este momento educativo e permitir maiores contribuições para
a melhoria do ensino e da formação dos alunos a partir do momento em que
uma diversidade de experiências lhe é ofertada. Pois, como vimos, os espaços
influenciam, mas também são influenciados pelos sujeitos, por isso é preciso
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repensar a elaboração dos espaços no intuito de promovê-los, a fim de que o
cotidiano escolar seja mais significativo para os alunos, com participação mais
efetiva na dinâmica escolar.
Notas
1 A Iniciação Científica/UFPR tem como objetivos: contribuir para a formação de recursos humanos para a pesquisa;
contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a qualquer atividade profissional;
contribuir para reduzir o tempo médio de permanência dos alunos na pós-graduação.
2 Os dados sobre a escola pública foram obtidos através da realização, no ano de 2012, do projeto A escola e os
espaços lúdicos, do Programa Licenciar – UFPR. Algumas destas informações estão contidas no artigo “A escola e
os espaços lúdicos – em foco o Colégio Estadual do Paraná”, publicado na Coletânea do XIII Seminário O Lazer em
Debate, Belo Horizonte, 2012.
3 O questionário continha perguntas sobre cada espaço quanto à utilização ou não e em quais momentos, limpeza,
iluminação, manutenção, controle e atratividade, com um espaço para sugestões. O objetivo foi de verificar se o que
foi observado enquanto pesquisadores no colégio estavam de acordo com as opiniões dos alunos.
4 A entrevista continha questões como tempo de trabalho no colégio, conhece ou não os 13 espaços listados, quais
eles acreditam serem os mais utilizados, sugestões de melhorias, se possui orientação e que tipo de intervenção
realiza.
5 Adotando um parâmetro de 50% das respostas dos alunos obtidas por meio dos questionários.
Referências
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TUAN, Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São
Paulo: Difel, 1983.
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