Instituto Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão Análise Matemática EI, EE, ERSC (D + PL) Ano letivo 2014/2015 Folha de apoio: Funções Vetoriais Definições iniciais Definição: Uma função vetorial é uma função − → r : D⊆R −→ t −→ Rn − → r (t) = (r1 (t) , ..., rn (t)) onde cada função ri é uma função real de variável real, designada por função componente. → Assim, a cada t a função − r faz corresponder um vetor de Rn . As funções vetoriais e as curvas no plano e no espaço estão diretamente relacionadas, já que podemos usar as funções vetoriais para definir curvas no plano e no espaço. Este tipo de função é útil na descrição da trajetória de uma partícula, por exemplo: Exemplo 1: 3 − → r (t) = (cos t, sin t) , t ∈ 0, π 2 t − → r (t) = sin t, cos t, 10 , t ∈ [0, 20] − → r (t) = 2t, t2 , t ∈ [0, 3] − → r (t) = ((4 + sin (20t)) cos t, (4 + sin (20t)) sin t, cos (20t)) , t ∈ [0, 2π] 1 → Definição: O domínio D da função vetorial − r é o conjunto de todos os valores de t onde a função → − → r é a interseção dos domínios das suas funções r (t) = (r1 (t) , ..., rn (t)) está definida. O domínio de − componentes r1 , ..., rn . → Definição: Seja − r (t) = (r1 (t) , ..., rn (t)), t ∈ D, uma função vetorial. → → • o limite de − r quando t tende para t0 , lim − r (t) , é o vetor dado por t→t0 → lim − r (t) = lim r1 (t) , ..., lim rn (t) , t→t0 t→t0 t→t0 assumindo que cada um dos limites das funções componentes existe. → • a função vetorial − r diz-se contínua em t0 , t0 ∈ D, se → → lim − r (t) = − r (t0 ) , t→t0 ou seja, se cada uma das funções componentes for contínua em t0, lim r1 (t) , ..., lim rn (t) t→t0 t→t0 = (r1 (t0 ) , ..., rn (t0 )) . • Uma função vetorial diz-se contínua se for contínua em todos os pontos do seu domínio D. → → r ′ (t0 ) , é o vetor dado por • a derivada de − r em t0 , − − → r ′ (t0 ) = (r1′ (t0 ) , ..., rn′ (t0 )) já que − → → r (t0 + h) − − r (t0 ) − → r ′ (t0 ) = lim = h→0 h lim h→0 r1 (t0 + h) − r1 (t0 ) rn (t0 + h) − rn (t0 ) , ..., lim h→0 h h , assumindo que cada um dos limites anteriores existe e é finito. → • chamamos integral indefinido ou primitiva de − r ao vetor − → r (t) dt = r1 (t) dt, ..., rn (t) dt . • supondo que cada uma das funções componentes é integrável no intervalo [a, b] ⊆ D, chamamos inte→ gral definido de − r em [a, b] ao vetor b a b − → r (t) dt = b r1 (t) dt, ..., a rn (t) dt . a 2 Parametrização de uma curva → → → Definição: Dada uma curva C ⊂ Rn , se − r : [a; b] −→ Rn for tal que − r ([a; b]) = C então − r diz-se uma parametrização da curva C. A orientação natural do intervalo [a; b] induz uma orientação na curva C; o sentido positivo corresponde ao aumento da variável t e o sentido negativo ao decrescimento de t. → De salientar que − r não é necessariamente injetiva, logo o mesmo ponto poderá ser obtido para diferentes valores de t. Parametrizações de curvas no plano e no espaço → Consideremos uma função vetorial − r (t) = (r1 (t) , r2 (t)) definida num intervalo I ⊆ R. Esta função vetorial define uma curva no plano dada por C = {(r1 (t) , r2 (t)) , t ∈ I} . → A função − r é uma parametrização da curva C; às equações x = r1 (t) y = r2 (t) chamamos equações paramétricas da curva C. A variável t designa-se por parâmetro. → De notar que − r (t) = (r1 (t) , r2 (t)) = r1 (t) i + r2 (t) j, sendo i e j os versores dos eixos coordenados. De forma análoga, poderemos parametrizar uma curva no espaço dada por C = {(r1 (t) , r2 (t) , r3 (t)) , t ∈ I} → recorrendo à função vetorial − r (t) = (r1 (t) , r2 (t) , r3 (t)) , t ∈ I ⊆ R. Às equações x = r1 (t) y = r2 (t) z = r3 (t) chamamos equações paramétricas da curva C. → Usando outra notação, − r (t) = (r1 (t) , r2 (t) , r3 (t)) = r1 (t) i + r2 (t) j + r3 (t) k, sendo i, j e k os versores dos eixos ordenados. Exemplo 2: Consideremos Verificamos que: x = 2t , y = t2 − 1 quando t = −1 obtemos o ponto (x, y) = (−2, 0) , quando t = 0 obtemos o ponto (x, y) = (0, −1) , quando t = 2 obtemos o ponto (x, y) = (4, 3) . Assim a representação da curva C, dada por C= 2t, t2 − 1 , t ∈ [−1, 2] , pode ser observada na figura lateral. 3 t ∈ [−1, 2] . Exemplo 3: Para identificar a curva cujas equações paramétricas são x = a cos t , a > 0, t ∈ [0, 2π] , y = a sen t (1) procede-se do seguinte modo: x2 + y 2 = a2 cos2 t + a2 sen2 t = a2 cos2 t + sen2 t = a2 . Logo as equações paramétricas dadas definem a circunferência de centro na origem e raio a, tomando t ∈ [0, 2π] . Nota: No exemplo 1, a primeira curva também é definida por equações paramétricas da forma (1), sendo 3 a = 1. No entanto, como t ∈ 0, π , obtém-se apenas parte da circunferência de centro na origem e raio 1. 2 De notar que uma curva C poderá ter diferentes parametrizações: Exemplo 4: A curva no plano representada na figura que se segue pode ser parametrizada por qualquer uma das seguintes funções vetoriais: − → r (t) = t4 , t2 , t ∈ [0, 2] ou − → s (t) = t2 , −t , t ∈ [−4, 0] . → → → As curvas − r ([0, 2]) e − s ([−4, 0]) coincidem enquanto conjunto de pontos; no entanto, − r percorre a curva → com o dobro da velocidade de − s , mas no sentido contrário. Exemplo 5: De forma análoga, a curva no espaço representada na figura lateral pode ser parametrizada por qualquer uma das seguintes parametrizações: − → r (t) = (2 cos t, 2 sin t, t) , t ∈ [−4, 4] ou − → s (t) = (2 cos (2t) , 2 sin (2t) , 2t) , t ∈ [−2, 2] . → → As curvas − r ([−4, 4]) e − s ([−2, 2]) coincidem enquanto → conjunto de pontos; no entanto, − r percorre a curva → com metade da velocidade de − s , no mesmo sentido. 4 Vetor tangente → → Definição: A função vetorial − r diz-se suave se a sua derivada − r ′ existir e for contínua e ainda se − → − → r ′ (t) = 0 , qualquer que seja o t ∈ I ⊆ R. → Definição: Seja C uma curva parametrizada pela função vetorial suave − r e P um ponto pertencente à − → → curva C tal que r (t ) = P. Designa-se por vetor tangente a C, no ponto P, o vetor dado por − r ′ (t ) . O 0 0 vetor tangente a C aponta no sentido do parâmetro crescente (sentido positivo). → → Teorema: Seja − r uma função vetorial suave e C uma curva parametrizada por − r . Então o comprimento da curva, L, de t = a a t = b é dado por b L= − → r ′ (t) dt. (2) a Movimento de uma partícula ao longo de uma curva → Definição: Seja − r uma função vetorial suave que parametriza uma determinada curva, descrevendo o movimento de uma partícula que percorre esta mesma trajetória. → • O vetor posição − r (t) indica a posição da partícula no instante t; → → • O vetor velocidade − v (t) = − r ′ (t) indica a velocidade da partícula no instante t; → → → • O vetor aceleração − a (t) = − v ′ (t) = − r ′′ (t) indica a aceleração da partícula no instante t. → → • A velocidade escalar de uma partícula no instante t é dada por − v (t) = − r ′ (t) . Exemplo 6: O vetor posição de uma partícula que se move num plano é dado por − → r (t) = t3 , t + 2 . Determine a velocidade e a aceleração da partícula no instante t = 1. − → r (t) = t3 , t + 2 − → r (1) = (1, 3) − → → v (t) = − r ′ (t) = 3t2 , 1 − → v (1) = (3, 1) − → → a (t) = − v ′ (t) = (6t, 0) − → a (1) = (6, 0) 5 → Definição: Consideremos − r uma função vetorial suave que parametriza uma determinada curva C. Se uma partícula percorre esta trajetória entre os instantes t1 e t2 : • o deslocamento da partícula entre t1 e t2 é dado por → ∆− r = t2 − → → → v (t) dt = − r (t2 ) − − r (t1 ) . t1 • a distância percorrida pela partícula entre t1 e t2 é dada por t2 L= − → v (t) dt. t1 A distância percorrida pela partícula entre os instantes t1 e t2 corresponde ao comprimento da curva C → → entre os dois pontos P1 = − r (t1 ) e P2 = − r (t2 ) . Exemplo 7: Considerando o movimento da partícula, caracterizado no exemplo 6 por − → r (t) = t3 , t + 2 , determine o deslocamento e a distância percorrida entre os instantes t = 1 e t = 2. O deslocamento entre os instantes t = 1 e t = 2 é dado por 2 → ∆− r = − → → → v (t) dt = − r (2) − − r (1) = (8, 4) − (1, 3) = (7, 1) 1 A distância percorrida entre os instantes t = 1 e t = 2 é dada por 2 L= 3t2 , 1 2 9t4 + 1 dt. dt = 1 1 6 Integrais curvilíneos Integral curvilíneo sobre um campo escalar Como integrar uma função ao longo de uma curva/linha? Definição: Um campo escalar é uma função f : D ⊆ Rn → R, ou seja, é uma função que associa a um vetor de Rn um valor real. Teorema: Seja f : D ⊆ R2 → R uma função limitada e seja C uma curva contida em D. Se f é contínua em C então f é integrável ao longo de C. Denotemos por − (C,→ r) f ds o integral curvilíneo de f ao longo de C. Comecemos por introduzir uma interpretação geométrica deste conceito: → seja − r : [a; b] → R2 uma função vetorial suave que parametriza uma determinada curva C no plano e f uma função positiva integrável ao longo de C. Neste caso, o integral curvilíneo superfície limitada: − (C,→ r) f ds representa a área da • pela curva C, contida no plano xOy; • pelo gráfico de f restrito a C; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r (a) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) ; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r (b) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) . → Exemplo 8: Consideremos − r (t) = (t cos t, t sin t), com t ∈ [0; 5] , a parametrização da espiral C no plano xOy e f (x, y) = 25 − x2 − y2 a função cujo gráfico é uma semi-superfície esférica. A área da superfície representada na figura lateral, limitada: • pela espiral C; • pelo gráfico de f restrito a C; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r (0) = (0, 0) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) = (0, 0, 5) ; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r (5) = (5 cos 5, 5 sin 5) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) = (5 cos 5, 5 sin 5, 0) ; é dada por − (C,→ r) f ds. 7 Para calcular o integral curvilíneo sobre o campo escalar f ao longo de C, seguinte resultado: − (C,→ r) f ds, usamos o → Proposição: Seja − r : [a; b] → R2 uma parametrização suave de uma curva C e f : D ⊆ R2 → R uma função integrável ao longo de C. Então o integral curvilíneo de f ao longo de C é dado por b − (C,→ r) f ds = → → f (− r (t)) − r ′ (t) dt. a De notar que o valor do integral curvilíneo − (C,→ r) → f ds não depende da parametrização − r da curva C → → r2 de C, temos considerada, ou seja, dadas duas parametrizações − r1 e − podemos denotar o integral curvilíneo de f ao longo de C apenas por − (C,→ r1 ) f ds = − (C,→ r2 ) f ds. Assim, f ds. C 3π → Exemplo 9: Seja − r (t) = (2 cos t, 2 sin t), t ∈ 0; , 2 uma parametrização da curva C contida no plano xOy e f (x, y) = 5 − x − y um campo escalar cujo gráfico é um plano. A área da superfície representada na figura lateral, limitada: • pela curva C (parte de uma circunferência); • pelo gráfico de f restrito a C; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r (0) = (2, 0) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) = (2, 0, 3) ; → • pela reta que une o ponto (x, y) = − r 3π 2 = (0, −2) do plano xOy ao ponto (x, y, f (x, y)) = (0, −2, 7) ; é dada por − (C,→ r) f ds. → → Calculemos a área desta superfície usando a parametrização − r =− r (t) da curva C definida inicialmente, b a área desta superfície é dada pelo integral curvilíneo − (C,→ r) 3 2π f ds = − (C,→ r) f ds = → → f (− r (t)) − r ′ (t) dt, ou seja, a (5 − 2 cos t − 2 sin t) (−2 sin t, 2 cos t) dt 0 3 2π = (5 − 2 cos t − 2 sin t) × 2 dt = 15π 0 8